Liga da Justiça se esforça, mas é batalha perdida na luta contra a Marvel
“Liga da Justiça” é um monstro fabricado pela indústria cultural com duas cabeças. Seu corpo quer ir na direção conduzida por Zack Snyder, o principal diretor dos filmes da DC, mas sua boca fala com a voz de Joss Whedon, artífice do estilo cinematográfico da Marvel. O resultado junta o pior de um com o pior do outro. E tem tudo para desagradar aos fãs de ambos. Produzido em meio à pressão das críticas negativas de “Batman vs Superman” (2016) e o sucesso de “Mulher-Maravilha” (2017), o lançamento que deveria ser o ponto alto da DC no cinema se tornou um fiasco. E aconteceu por vontade da própria Warner. Embora planejado com grande antecedência por Zack Snyder, desde o lançamento de “O Homem de Aço” (2013), “Liga da Justiça” perdeu o diretor na reta final. Ele abriu mão do controle da obra devido à morte de sua filha, no começo de 2017, o que permitiu a Warner fazer o que secretamente sempre quis desde o sucesso de “Os Vingadores”: convocar o diretor daquele filme para transformar “Liga da Justiça” num filme da Marvel. Só que, ao contrário de “Os Vingadores”, Whedon não criou um filme do nada, ainda que seu ego tenha forçado a Warner a abrir a carteira para bancar muitas refilmagens de cenas importantes. Há claramente mais humor em cena, marca de Whedon, que contrasta com as tramas de paisagens sombrias, cores esmaecidas e carga solene que caracterizam metade do filme – e todos os lançamentos de super-heróis da Warner até então. As trevas são fruto da passagem de Christopher Nolan por três filmes bem-sucedidos de Batman. Nolan também produziu “O Homem de Aço” e apadrinhou Snyder, que desde “Watchmen” (2009) vem sepultando sob cinzas o mundo impresso a quatro cores dos quadrinhos. Não há dúvidas de que sua estética definiu o universo DC, especialmente após o fracasso de “Lanterna Verde” (2011) – que chegou a inspirar rumores de um memorando proibindo piadas nos filmes de super-heróis da companhia. Toda essa seriedade entrou em cheque diante do sucesso da Marvel com obras cada vez mais cômicas. A estratégia mostrou-se insustentável após “Batman vs. Superman” e “Esquadrão Suicida” serem destruídos pelos críticos e renderem bem menos que as produções rivais. A repercussão do mais leve e divertido “Mulher-Maravilha” confirmou a necessidade de mudança de paradigma. Mesmo assim, “Liga da Justiça” tinha começado sua produção antes da estreia da heroína, de modo que foi necessária uma intervenção, tragicamente, para mudar a condução do filme em sua reta final. Mas o contraste entre as visões díspares de Snyder e Whedon gera atritos, e principalmente exageros de um lado e do outro. Assim, o humor da “Liga da Justiça” traz cenas constrangedoras, como uma queda de Mulher-Maravilha sobre o Flash, que é uma piada machista pouco condizente com a personagem. Mesmo assim, há paralelos entre “Liga da Justiça” e “Os Vingadores”, especialmente em relação à estrutura do roteiro, em que um grupo de heróis precisa se unir para impedir a invasão de um exército alienígena. Mas se “Os Vingadores” tinha Loki, “Liga da Justiça” apresenta Lobo da Estepe, um vilão genérico escalado pelo roteiro original de Chris Terrio, que nem a computação gráfica do século 21 diferencia da criatura encarnada por Tim Curry na fábula juvenil “A Lenda”, de 32 anos atrás. Eis o ponto mais negativo da produção: apesar do orçamento estimado em US$ 300 milhões, grande parte dos efeitos visuais parecem amadores. Algumas situações foram forçadas por Snyder, como a decisão de criar o uniforme do Ciborgue por computação gráfica – já tinha dado “tão certo” em “Lanterna Verde”, que o ator Ryan Reynolds fez piada disso em “Deadpool”… Mas para ficar ainda pior, as refilmagens ainda tiveram que apagar digitalmente umo bigode do intérprete de Superman. Como Henry Cavill estava filmando “Missão Impossível 6”, reapareceu com um bigode quando foi reconvocado por Whedon. Impedido contratualmente de cortá-lo enquanto não terminasse “MI6”, Cavill precisou ter os pelos faciais cobertos por efeitos visuais, que se transformaram num novo problema – e meme. Os retoques deformaram a boca do ator. E isso não foi escondido por Whedon, que lhe deu inúmeros closes. O fato da boca digital ser vista de forma tão proeminente também serve para quantificar o tamanho das refilmagens comandadas pelo segundo diretor. Aparentemente, Superman não deveria aparecer muito no filme que Snyder estava fazendo. O que ajuda a explicar o marketing autista da Warner, que tratou a participação do personagem como spoiler. Mesmo diante das inúmeras entrevistas de Cavill sobre o papel, o herói não apareceu em nenhum trailer oficial. Em compensação, Gal Gadot voltou a demonstrar porque deu tão certo em “Mulher-Maravilha”. A atriz israelense, que luta para falar inglês durante suas entrevistas, não tem a menor dificuldade em incorporar a heroína. Seu carisma é impressionante e consegue personificar o que o inconsciente coletivo imagina sobre a personagem. Jason Momoa também apela para o carisma para dar vida a Aquaman, enquanto o Flash de Ezra Miller se destaca por ser o alívio cômico da equipe. A mudança de tom nas cenas do velocista é tão brusca que até o Batman de Ben Affleck rende piadas. Curiosamente, o que mais destoa desse conjunto é Ciborgue, interpretado pelo ator de teatro Ray Fisher. Seja por conta de seu traje criado por computador, seja por culpa do roteiro ou da edição à fórceps de Whedon, o personagem parece estar em cena apenas por cota racial. Não tem praticamente nenhuma cena importante. Como em “Batman vs. Superman”, “Liga da Justiça” também é repleto de coadjuvantes de luxo sub-aproveitados. Amy Adams, Jeremy Irons, Diane Lane, Connie Nielsen e J.K. Simmons também não fazem quase nada na produção, além de cumprir obrigação contratual. Não por acaso, o longa parece mesmo produto feito por obrigação, mais que uma oferta de diversão. Seus bastidores tumultuados – provavelmente ainda mais tumultuados do que se sabe – refletem como a Warner se vê acuada diante do sucesso da Marvel. Tendo um catálogo de super-heróis mais populares que os da rival, deveria poder realizar filmes tão ou mais bem-sucedidos. Mas é confrontada pelo fato de até um herói B como Thor se sair melhor que sua coleção de heróis classe A. Entre Snyder e Whedon há um abismo de possibilidades. Lógico que o esforço de juntar suas visões conflitantes jamais daria liga. Salvam-se algumas boas sequências (provavelmente de Snyder!) numa produção que, bem antes da estreia, já se configurava como um esforço de contabilidade – para fechar as contas fora do vermelho. O fato de haver uma cena pós-créditos – algo comum nas produções da Marvel, mas raro nos lançamentos da DC – reitera que o estúdio insistirá para tentar acertar seus super-heróis, quem sabe desde o começo da próxima vez. Afinal, não é possível errar tanto, tantas vezes, com o segmento que mais dá certo em Hollywood.
Exotismo de A Noiva desanda em clichês banais de terror
Ver um filme de horror de gosto duvidoso é uma arte que pode ser cultivada. Até os hoje cultuados terrores italianos dos anos 1970 e 1980 já foram mal recebidos: ou com pedradas ou com ignorância pela maior parte da crítica. Daí, assistir numa sala de cinema brasileira um terror russo dublado em inglês é algo quase inusitado. A diversão já começa pela dublagem em inglês, tão vagabunda que permite vazar as diferentes fontes de áudio em diálogos entre personagens pelos ruídos de fundo. Mas apesar desse detalhe trash, o terceiro longa-metragem de Svyatoslav Podgaevskiy, “A Noiva”, jamais será confundido com um cult perdido, mesmo partindo de uma premissa perturbadora: o fato de que certas famílias pintam olhos nas pálpebras fechadas de seus entes queridos mortos para fotografá-los – uma tradição do século 19. Não é o primeiro filme europeu que mostra fotografias de mortos. O excelente “Os Outros”, do espanhol Alejandro Amenábar, também destacou esse costume mórbido. Mas “A Noiva” é mais inventivo, ao embutir na ideia de pintar os olhos uma superstição. Fotografar mortos poderia fazer com que suas almas os abandonassem. Assim, no prólogo do filme, que acontece no final do século 19, há o registro de uma tentativa de transferir o espírito de uma morta para o corpo de uma mulher jovem, que é arrancada à força de seu lar e enterrada viva, vestida de noiva. Esse prólogo poderia ser melhor explorado como uma boa história gótica de horror. Em vez disso, o filme prefere dar um salto para o mundo contemporâneo. Na trama principal, uma moça é convidada a finalmente conhecer a família de seu noivo, que até então evitara o seu contato com seus pais. O encontro com a família acontece em um vilarejo afastado e longe de tudo, e logo fica claro que essa família guarda segredos bem peculiares, como uma pessoa que nunca sai de um quarto fechado. A situação se torna mais incômoda quando o noivo desaparece e ela não sabe o seu paradeiro. Um dos destaques positivos do filme é a forma como é explorada a casa, cheia de paredes falsas, que supostamente seriam dutos de ventilação, mas que nos apresentam a um lugar maior e mais curioso. Outro momento positivo acontece quando a moça segue uma das familiares do noivo e acaba descobrindo o que não devia. O movimento de câmera, na evocação da sensação de medo, poderia muito bem caber em um filme de melhor qualidade, até pela boa fotografia e direção de arte. Infelizmente, após o começo animador, tudo desanda com sustos fáceis, inspirados em clichês do horror ocidental, que dilapidam o suposto exotismo de “A Noiva” para transformá-lo num filme tão comum e vulgar quanto algumas das piores produções recentes do terror americano. Talvez por isso venha aí o remake.
O Outro Lado da Esperança aborda questão dos refugiados de forma sutil e tocante
O cinema do finlandês Aki Kaurismäki é feito de excluídos e de párias com pouco dinheiro nos bolsos mas muita nobreza no caráter. São solidários, sempre que aparece um personagem com mais dificuldades, cercam o sujeito de calor humano, comida, bebida e boa música (um rock tocado por uma banda finlandesa do underground), porque, no fundo, isso é o mais digno que se pode ter na vida. “O Outro Lado da Esperança”, o novo filme de Kaurismäki, não foge desse mundo marginal cheio de ternura. A diferença é que, desta vez, ele toca numa questão política delicada, o afluxo de refugiados sírios e iraquianos na Europa, e como a invasão dessa imensa multidão pressupõe a chegada de outros sinais de “modernidade” e de outros valores incompreensíveis e inaceitáveis. Não há dúvida sobre a posição moral do cineasta. Quando os personagens principais encontram o refugiado sírio Khaled (Sherwan Haji) morando, como clandestino, ao lado de uma caçamba de lixo, lhe oferecem emprego e falsificam seus documentos para ele não ser expulso do país. Apesar do tema pesado, Kaurismäki tem um dom muito especial para o equilíbrio. Seu filme oscila entre a crônica social, a comédia seca e o drama agridoce. E ele nunca perde a chance de dar um arremate cínico e ferino às cenas. Mais irônico de tudo é a ilusão de Khaled de imaginar que escolheu o refúgio no país certo. Sabe-se que a Finlândia tem uma boa reputação no tratamento dos direitos civis. Mas esse “avanço” funciona nos guias turísticos. Na real, o sistema se afunda em contradições. Khaled se apresenta no guichê da imigração de Helsinque cheio de esperança e se depara com a burocracia do setor. É fotografado e catalogado como se fosse um inseto e isolado por dias num quartinho da alfândega, para depois ser comunicado que seu pedido de asilo foi rejeitado e ele será deportado. Imediatamente após o veredicto, Kaurismäki mostra, numa cena irônica, um agente tentando conformar Khaled, dizendo que recebeu notícias que as coisas melhoraram na Síria, enquanto atrás, na TV, o telejornal exibe um relatório evidenciando as atrocidades que estão acontecendo em Aleppo. O personagem fica impassível diante do contraste, mas a emoção, mesmo nos momentos mais cruciais, sempre é contida. Aliás, essa postura estática, cara de pedra, se estende ao resto do elenco. É uma das marcas de Kaurismäki. As reações são minimamente esboçadas, o que acrescenta uma dimensão extra à mensagem. O refugiado não reclama, seus protetores não discutem, os fascistas, violentos, não explicam. E tudo acontece. O roteiro tem uma estrutura especial: o espectador está assistindo duas histórias separadas. Uma delas diz respeito a Khaled, mas a outra é sobre Walter Wikström (Sakari Kuosmanen, que trabalhou com o diretor em “O Homem Sem Passado”), o comerciante entediado que larga a esposa, o lar, para se aventurar no mundo dos jogos de pôquer, mas termina assentado num novo negócio, um restaurante, o Golden Lit, ao qual não tem a mínima noção de como comandar. As vidas de Wikström e Khaled se cruzam no beco atrás do restaurante e nasce um relacionamento estranho. Tão econômico em seu estilo visual como em seus diálogos, Kaurismäki atesta que num mundo feito de rotina, ou de tentativa de estabelecer uma rotina, existe muita tensão. De fato, ele faz um filme sutil e muito especial, já que, em seu minimalismo, nunca alimenta o público com comentários evidentes ou uma crítica fácil. Ao contrário, ele permite que o espectador imagine e descubra este filme por conta própria. Se um personagem chega a abstração de limpar minuciosamente uma janela que não existe ou se outro deles esmera-se para preparar um sushi, sem ter a menor ideia de como é a receita, o resultado não se fecha apenas na chave cômica, mas é profundamente tocante. Dada a situação atual de tantos refugiados do Oriente Médio e o surgimento do sentimento anti-imigrante e islamofóbico, este também é um filme oportuno por abordar uma questão global crítica. “O Outro Lado da Esperança” venceu o Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim, foi eleito o Melhor Filme do Festival de San Sebastian e sua merecida carreira de prêmios prossegue.
Ben Stiller entra em crise e faz um de seus melhores filmes em O Estado das Coisas
Não deixa de ser interessante a virada atual na carreira de Ben Stiller, de astro de comédias escrachadas para papéis mais tragicômicos. Ele tem feito, em geral, tipos inseguros, que funcionam como uma evolução da persona que construiu em suas comédias mais populares. É provável que este potencial já estivesse presente desde “Caindo na Real” (1994), “Os Excêntricos Tenenbaums” (2001) e “O Solteirão” (2010), sua primeira parceria com Noah Baumbach, mas se acentuou após o fracasso de “Zoolander 2” (2016), que ele próprio dirigiu, estimulando-o a se aventurar mais no cinema indie, o que resultou num novo filme de Baumbach, “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe”, e neste “O Estado das Coisas”, de Mike White. “O Estado das Coisas” é, como “O Solteirão” e “Enquanto Somos Jovens” (2014), ambos de Baumbach, mais um filme em que Stiller interpreta alguém em crise de meia-idade. Na verdade, não há nada de errado com a vida de Brad Sloan (Stiller). Ele trabalha em uma empresa sem fins lucrativos, é casado com uma mulher encantadora (Jenna Fisher, da série “The Office”) e agora está ajudando o filho inteligente e educado (Austin Abrams, de “Cidades de Papel”) a entrar em um novo e excitante momento de sua vida: a universidade. O problema de Brad é que ele tem a mania de ficar comparando suas realizações com as de seus colegas de escola, que se tornaram milionários e famosos. Segundo filme dirigido por Mike White, que tem uma carreira extensa como roteirista (“Escola do Rock”, “Emoji: O Filme”, etc), “O Estado das Coisas” agradou em cheio a crítica americana (81% de aprovação no Rotten Tomatoes), mas não deve ser visto com muita expectativa, por ser mesmo uma obra pequena e sutil no tratamento de seu tema. Dito isto, é também um filme bem engraçado, por mais que os pensamentos do protagonista sejam quase doentios. Isto porque é muito fácil se identificar de alguma forma com a situação de Brad. Um dos destaques do filme – e que pode incomodar alguns – é o uso intensivo do voice-over pelo protagonista, em um trabalho muito bom do fluxo de consciência, apresentando monólogos ora divertidos ora amargos sobre a vida. Um dos acertos do roteiro de White, que inclusive concorre ao troféu Gotham (premiação do cinema indie americano), é sua extrema honestidade, que não deixa de explicitar as falhas de seu herói. Essas falhas estão bem à sua frente, como se houvesse um véu cobrindo seu olhar. E que se revelam numa resposta muito boa de uma jovem garota universitária, que resumem o personagem como um egocêntrico que não sabe a sorte que tem. A personalidade bipolar de Brad fica clara em momentos inesperados, como na visualização de um sonho, em que vê o filho aceito na Universidade de Harvard. Mas o que seria um momento de celebração em família logo lhe induz pensamentos sombrios, que voltam a deprimi-lo, diante da possibilidade de ele ter inveja do próprio filho, que poderia se tornar melhor do que ele jamais foi na vida. As cenas de Brad desejando mulheres mais jovens também são hilárias, bem como o modo como ele imagina um amigo de escola, que hoje vive aposentado e morando com duas garotas em uma praia havaiana. Curioso, aliás, como a praia – e mulheres jovens -sempre aparecem como status de sucesso na vida. Entre os coadjuvantes, o destaque é para Michael Sheen (série “Masters of Sex”), no papel de um antigo colega de escola que virou um famoso e arrogante apresentador de televisão. O ator funciona muito bem em tipos assim, vide o recente “De Volta para Casa”, com Reese Witherspoon. Se há um problema no filme talvez seja a timidez com que o diretor utiliza cenas dramáticas, talvez com medo de transformar sua trama inteligente em um dramalhão, especialmente nos momentos de emoção intensa do personagem de Stiller. Mesmo com esta ressalva, “O Estado das Coisas” é um prazer do início ao fim, algo cada vez mais difícil de se dizer sobre os filmes em cartaz.
A Comédia Divina impressiona de tão ruim que é
Quem achou fraco “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” pode ficar impressionado com “A Comédia Divina”, de Toni Venturi. Mas impressionado no pior sentido, já que o que o filme chega a ser constrangedor, inclusive na forma. Uma pena, pois Monica Iozzi (“Superpai”), com seu carisma e simpatia, merecia uma estreia melhor como protagonista de cinema. Na trama, supostamente inspirada – não em “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, mas em outra obra literária – no conto “A Igreja do Diabo”, de Machado de Assis, o “coisa-ruim” em pessoa resolve vir à Terra para fundar a sua própria igreja, vendo que está totalmente desacreditado pela humanidade. O que parece ser uma premissa ok se revela uma bobagem sem tamanho em questão de poucos minutos. E Murilo Rosa (“Área Q”) como o diabo é um horror. Primeira comédia de Toni Venturi, que até então tinha feito só filmes sérios como “Cabra-Cega” (2004) e “Estamos Juntos” (2011), além de documentários premiados, “A Comédia Divina” consegue uma façanha: não tem uma sequência boa sequer. Quando mais se pensa sobre o filme, pior fica.
Mesmo com tática de choque, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é tolo e pudico
“Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” decepciona quem acredita que Danilo Gentilli, com sua crítica ao politicamente correto, possa fazer um bom filme inspirado nas comédias clássicas de colegial dos anos 1980. Sua comédia é imensamente tola e, ainda por cima, pudica, com medo de mostrar nudez e coisas do tipo. Entretanto, não se refreia no vocabulário, no bullying escatológico e nem diante de uma sugestão pedófila, numa cena perigosa envolvendo o personagem de Fábio Porchat. Menos que ousadia, parece tática deliberada de choque. Curioso é que os meninos protagonistas (Bruno Munhoz e Daniel Pimentel) vão bem no filme, mas são atrapalhados justamente pela entrada em cena do personagem do Gentilli. O autor-ator leva a trama para o precipício, até uma conclusão tão besta que nem dá para acreditar. Mesmo assim, “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” tem os seus momentos divertidos, com um elenco assumidamente trash, com Joana Fomm (após pedir emprego na internet), o músico Rogério Skylab, o cantor Moacyr Franco e o mexicano Carlos Villagrán (o Quico do seriado “Chaves”), dirigidos por Fabrício Bittar (do MTV Sports). É só ter a mentalidade do público alvo e não exigir demais.
Dona Flor e Seus Dois Maridos é tão distinto do filme original quanto uma telenovela
É difícil, diante desta nova adaptação do clássico romance de Jorge Amado, não se lembrar da primeira versão de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, a de Bruno Barreto, lançada nos cinemas em 1976. Ambas são reflexos e produtos de seu tempo. O filme de Bruno Barreto foi produzido em um momento em que o erotismo no cinema brasileiro já estava se encaminhando para o seu auge da ousadia, que ocorreria na primeira metade dos anos 1980. É também um filme que tenta ser um pouco mais livre do texto do escritor baiano e talvez por isso flua melhor. Ter Sônia Braga como Flor e José Wilker como Vadinho também ajudou bastante. A nova versão, dirigida por Pedro Vasconcelos, que tem no currículo vários trabalhos para a televisão, inclusive a última telenovela das nove da Rede Globo, é também produto de nosso tempo, muito mais comportado no quesito sexo e nudez – em parte, devido a maior consciência sobre a chamada objetificação do corpo da mulher, mas também porque diminuiu bastante o impacto de se ir ao cinema para ver a estrela da novela nua nas telas – , embora Juliana Paes apareça sim sem roupa, de maneira tímida. Outra questão atual que o filme recoloca em pauta é a violência contra a mulher, vista em uma sequência rápida, mas bastante incômoda de Vadinho (Marcelo Faria), que agride a esposa para conseguir dinheiro para o jogo. É apenas um aspecto mais sombrio da personalidade do personagem, mas que depõe muito contra a figura outrora simpática do malandro brasileiro. O personagem recupera sua simpatia em outras passagens posteriores, mas não deixa de parecer uma espécie de encosto depois de morto: ao mesmo tempo em que traz prazer físico e sexual para Flor, também a escraviza, de certo modo. É uma abordagem um pouco mais pesada do que a dos anos 1970, nesse aspecto. As diferenças também se estendem aos aspectos formais, onde o “remake” se mostra mais parecido com uma novela. Pedro Vasconcelos e seu diretor de fotografia até procuram disfarçar as deficiências, mas sem conseguir convencer. O jogo de luz e sombras usado para compor os interiores, assim como um ou outro ângulo que tenta distanciar a obra de uma telenovela, parecem um tanto forçados. Mas mesmo estes esforços caem por terra diante de alguns cacoetes, como a repetição de temas musicais, algo próprio de programa televisivo. A produção não buscou nem mesmo escolher canções menos manjadas. O roteiro também opta por dar a Flor um protagonismo tão forte que torna seus dois maridos bastante secundários. Não que isso seja um problema em si, mas talvez o personagem do segundo marido, Teodoro (Leandro Hassum), merecesse ser mais do que um paspalhão, longe da nobreza que perpassava o personagem quando vivido por Mauro Mendonça. Leandro Hassum, com seu humor físico típico, parece ter perdido muito da graça depois da cirurgia bariátrica, mas continua apostando no que costumava fazer. O foco do filme passa a ser, então, o esforço de Flor de se distanciar do espírito de Vadinho, ao mesmo tempo que não consegue se livrar da tentação do desejo que a consome, e que não é nem de longe satisfeito por Teodoro. Porém, o modo como o filme estica os diálogos entre os dois também faz com a adaptação pareça – não exatamente uma novela, mas – um antigo teleteatro. O próprio Marcelo Faria fez o Vadinho na montagem teatral por alguns anos e está acostumado com o personagem. Isso poderia ser bom, mas no filme não parece resultar em algo positivo, mesmo com o esforço do ator e de Juliana Paes. Se o primeiro filme marcou o cinema brasileiro com impacto de blockbuster, o segundo chega de mansinho, sem fazer alarde, com uma abertura limitada ao Nordeste, antes de se estender para o resto do Brasil.
Mindhunter é a melhor série da Netflix em 2017
“Mindhunter” chama atenção inicialmente por ter produção executiva do cineasta David Fincher (“Seven”, “Clube da Luta”, “Zodíaco”, “Garota Exemplar”), que ainda dirige quatro dos dez episódios de sua 1ª temporada. E conquista o espectador mais exigente logo em seus primeiros minutos, embora consiga ficar ainda mais envolvente à medida que se aproxima de seu final. Que não é bem um final (ainda bem), mas vale dizer que a season finale é de dar taquicardia. A série é baseado no livro “Mindhunter – O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano”, de John E. Douglas e Mark Olshaker, disponível no Brasil, e a 1ª temporada dá conta de metade da obra. Desenvolvida por Joe Penhall, roteirista do drama pós-apocalíptico “A Estrada” (2009), a trama não tem cenas de violência, perseguição ou outros clichês de thriller americano, apensar da premissa. Traz basicamente investigação e psicologia. E um texto tão bem trabalhado que dá gosto. Os personagens são tão ou mais envolventes que a história, que aborda o início do estudo dos casos de assassinos em série pelo FBI. Baseada na vida real de John E. Douglas, “Mindhunter” relata encontros e entrevistas com assassinos famosos, como Ed Kemper (Cameron Britton, da série “Stitchers”), o sujeito que matou a própria mãe e fez sexo com sua cabeça decepada, e Jerry Brudos (Happy Anderson, de “Quarry”), o assassino do fetiche de sapatos. E a interpretação dos atores que dão vida a esses dois criminosos é admirável. A atmosfera de medo e tensão nas conversas com esses dois, em especial, é de deixar o espectador prendendo a respiração. Mas há outros casos resolvidos pelo protagonista e seu parceiro que também empolgam e instigam. O grupo de investigações é formado aos poucos e sem pressa dentro da narrativa. Antes da união de Holden Ford (Jonathan Groff, de “Glee”) e Bill Tench (Holt McCallany, de “Clube da Luta”), acompanhamos o certinho Ford conhecendo a ousada Debbie (Hannah Gross, de “Quando Eu Era Sombrio”), a mulher que o iniciará no sexo oral e outras delícias da vida. Além de tudo, ela ainda ouve as preocupações que ele faz questão de compartilhar sobre sua profissão. Mais à frente, Bill se une a Holden para dar aula sobre assassinos seriais em diversas cidades dos Estados Unidos. A presença da terceira integrante, Wendy Carr (Anna Torv, de “Fringe”), chega para enriquecer ainda mais o grupo. O fato de a série também apresentar a vida privada de seus personagens principais os aproxima bastante do público. Faz com que o espectador se importe com esses personagens, que sinta e tema verdadeiramente por seus destinos. Um dos melhores exemplos acontece no episódio de número oito, que trata de um diretor de escola infantil que tem o costume de dar cócegas nos alunos. O que parecia um episódio mais fraco diante dos demais acaba sendo um dos mais marcantes, pelo mal estar que provoca, diante das decisões que Holden resolve tomar, seguindo seus instintos, ainda que com muitas dúvidas. É tão marcante que é o único capítulo que termina sem música nos créditos finais. Além de bem escrita, dirigida e interpretada, “Mindhunter” ainda destaca uma direção de arte linda, que recria os anos 1970 e a elegância das roupas, dos carros, dos prédios e casas, e uma fotografia que transmite detalhes importantes, seja para passar uma sensação de bem estar em cenas diurnas com um belo dia de sol, seja para acentuar cenas tensas em interiores sombrios. Na verdade, há tantas qualidades em “Mindhunter” que fica difícil pensar que possa ter qualquer problema. De longe, a melhor produção da Netflix em 2017.
Jogo Perigoso prende a atenção até perder o foco
Já tem algum tempo que Mike Flanagan é considerado candidato à entrar no clube dos mestres do terror do século 21. Embora seus filmes não se enquadrem no que atualmente se chama de pós-horror, sendo até um pouco tradicionais na forma, possuem uma sofisticação visual admirável. Assim, mesmo quando pega um projeto já em andamento, como foi o caso de “Ouija – Origem do Mal” (2016), o cineasta transforma o que seria um filme convencional em uma história aterrorizante, sabendo muito bem aproveitar os clichês dos filmes de fantasmas e casas assombradas. Seu melhor filme é “O Espelho” (2013), mas também chamou atenção o eletrizante “Hush – A Morte Ouve”, distribuído pela Netflix no ano passado. A plataforma agora bisa a parceria com “Jogo Perigoso”, adaptação de um livro Stephen King que até então era considerado infilmável. Na trama, Carla Gugino e Bruce Greenwood são um casal que, para apimentar um pouco a relação, após anos de casamento, resolve brincar de sadomasoquismo em uma casa afastada. A ideia dele seria algemar a esposa na cama durante o sexo. Quando a coisa começa a parecer um estupro, ela fica um bocado incomodada. Mas antes que possa interromper, o marido tem um ataque cardíaco e morre, deixando-a confinada na cama. Ela entra em desespero, impotente e imobilizada. A única coisa que consegue fazer é conversar com o fantasma do marido, que a ajuda a pensar friamente na situação, fazendo-a perceber como a casa está distante de qualquer outra e que ninguém a ouviria gritar. Mesmo que um cachorro faminto a devorasse viva. Como escapar dessa situação? Ainda que não se compare a outras obras de Flanagan, “Jogo Perigoso” acaba prendendo a atenção. A premissa inusitada e a tensão são motivos mais do que suficientes para assisti-lo. Mas o filme sofre uma queda de ritmo quando embarca num flashback pela infância da personagem, em que ela lembra um momento desagradável com o pai, vivido por Henry Thomas (até hoje lembrado como o menino de “E.T”). Ao mesmo tempo, por tratar de um assunto tão espinhoso quanto o abuso infantil, Mike Flanagan retoma uma das características de sua obra, repleta de histórias dolorosas de famílias, elementos que marcam sua filmografia desde pelo menos “Absentia” (2011). De certa forma, o flashback ajuda a enriquecer um filme que, centrado num impasse, poderia se encaminhar para lugar nenhum. E quando seu foco – ou perde de vez – , assume uma natureza sobrenatural, que pode ou não ser alucinação da personagem – com direito até à participação do gigante Carel Struycken (presença marcante/delirante da série “Twin Peaks”).
O Formidável tira sarro da seriedade de Godard
Michel Hazanavicius procurou saber de Jean-Luc Godard se ele havia visto o seu “O Formidável”, se havia gostado ou desgostado do modo como foi caracterizado nesta comédia autobiográfica baseada no livro de uma das ex-esposas do cineasta, a alemã Anne Wiazemsky. Até onde se sabe, o jovem diretor não recebeu nenhuma resposta de seu “homenageado”. Apesar das aspas, podemos dizer que o filme de Hazanavicius consegue ser ao mesmo tempo uma homenagem a Godard, emulando e trazendo à tona momentos importantes de uma fase da vida e da obra do homem, como também um filme que tira sarro de Godard, vivido por Louis Garrel. O diretor do oscarizado “O Artista” (2011) novamente fala sobre cinema e seus bastidores, mas o foco agora é o cinema francês do final dos anos 1960, quando muita coisa estava mudando no mundo. Em um ano em que tivemos uma comédia que também brinca com os bastidores do cinema francês, a divertida “Rock’n’Roll – Por Trás da Fama”, de Guillaume Canet, é bom ver outro trabalho inteligente e espirituoso sobre o tema. E “O Formidável” talvez exija menos do espectador pouco habituado a ver filmes franceses, mesmo que cinéfilos se divirtam mais com as referências a Godard. A trama ecoa os protestos da primavera de Paris e a radicalização política da época, e se concentra numa tentativa de revolução num cinema que já era considerado revolucionário. Ao final da década de 1960, Godard encontrava-se num momento tão radical de sua vida que rejeitava até mesmo os seus próprios filmes, colocando os marcos da nouvelle vague na categoria de lixo burguês ou arte ultrapassada. Sua intenção era criar algo totalmente novo na forma e no conteúdo e ainda trazer muito da política que ele abraçava naquele momento, o maoismo. Uma das partes mais engraçadas do filme, aliás, é quando Godard fica sabendo que seu filme “A Chinesa” (1967) não foi apreciado pelos chineses. Segundo algumas fontes, os revolucionários chineses acharam que o diretor francês não entendeu nada da ideologia de Mao. Outras passagens bem engraçadas giram em torno das participações de Godard nas manifestações acirradas de 1968, quando havia briga entre a polícia e os estudantes. Além de perder muitos óculos, o diretor sempre se saía mal quando ia para as discussões entre os estudantes comunistas. Uma das melhores coisas do filme merece ser mencionada como destaque: Stacy Martin, a jovem francesa que encantou o mundo em “Ninfomaníaca” (2013), de Lars Von Trier, faz o papel da jovem esposa de Godard, Anne, que atura, com amor e paciência, as bobagens e os arroubos de arrogância daquele homem que se achava melhor do que todos. Com uma mulher tão doce quanto Anne, difícil não pensar no quanto Godard foi vacilão em ter deixado passar alguém tão especial na vida dele. E para acentuar ainda mais essa impressão, o filme a apresenta sem roupa diversas vezes, uma vez, inclusive, evocando uma cena do clássico “O Desprezo” (1963), em que a câmera de Godard passeia pelo corpo nu de Brigitte Bardot. O elenco ainda destaca Bérénice Bejo, esposa de Hazanavicius, que entretanto aparece pouco, em papel de coadjuvante, como uma das amigas de Godard. É um papel pequeno, mas o diretor faz bem em tê-la presente, já que Bejo tem feito uma série de trabalhos muito bons e é uma atriz talentosa.
Thor Ragnarok é uma piada – no bom sentido
Elementos cômicos caracterizam os filmes da Marvel desde o primeiro “Homem de Ferro” (2008), mas após “Guardiões da Galáxia” (2014) vêm assumindo proporções cada vez maiores, a ponto de “Homem-Formiga” (2015) ser quase uma comédia. A evolução dessa linha narrativa rendeu “Thor: Ragnarok”, a primeira comédia assumida da Marvel. O filme é basicamente uma paródia de super-herói. Isto fica clara nas semelhanças em relação ao primeiro “Thor” (2011). Se o tom contrasta de forma radical com o clima de tragédia épica shakespeareana conjurado pelo diretor Kenneth Branagh há seis anos, a história parte exatamente da mesma premissa: Thor perde seu martelo místico, é exilado e precisava voltar a Asgard para salvar a cidade dos deuses de um inimigo mortal. Mas, como se trata de uma comédia, o caminho de volta é uma sucessão de piadas e não uma jornada de herói. Isto é, ele não precisa aprender humildade, como em “Thor”, apenas fazer gracejos, enquanto abre seu caminho à base de porradas. Ao mesmo tempo, “Thor: Ragnarok” é também o filme mais autoral de toda a linha industrial-cinematográfica da Marvel. Méritos do diretor neozelandês Taika Waititi, que tem comédias insanas e engraçadíssimas no currículo, entre elas o hilário documentário fake sobre vampiros “O Que Nós Fazemos Nas Sombras” (2014), que conseguiu a façanha de vencer a mostra Midnight do Festival de Toronto, dedicada a filmes extremos e assustadores. Se James Gunn abriu as portas com seus “Guardiões”, Taika Waititi derrubou as paredes. O novo “Thor” é um filme típico de Waititi, para rir do começo ao fim. E ele encontrou um aliado importante para realizar seu projeto: o próprio Thor. Ou melhor, o australiano Chris Hemsworth, que já tinha mostrado talento cômico anteriormente – em “Férias Frustradas” (2015) e “Caça-Fantasmas” (2016) – , e que entrega seu melhor desempenho como ator. Até Mark Ruffalo, que incorporava um Hulk atormentado, virou piadista. Pela primeira vez, o Hulk fala num filme da Marvel, apenas para contar piadas. O tom cômico agradou em cheio a maioria do público e até aos críticos de cinema, que consideravam os filmes de “Thor” como os mais fracos de todo o universo “cinemático” da Marvel. Mas irritou ferozmente os blogueiros nerds. Quem procurar por críticas de “Thor: Ragnarok” fora do Rotten Tomatoes pode se assustar com as notas baixas conquistadas pela produção na nerdosfera. Se a grande imprensa achou que o filme vale um 9, geeks irritados não dão nem 2. Isto porque o filme ridiculariza sem dó o gênero das adaptações de quadrinhos, e faz isso de forma consciente, com piadas sobre Tony Stark e outros personagens da Marvel. Mesmo assim, fãs dos quadrinhos não deveriam reclamar da paleta colorida e da extravagância visual dos novos personagens, pois remetem aos desenhos clássicos de Jack Kirby. E há inúmeras referências à tramas famosas da Marvel, de “Planeta Hulk” ao próprio “Ragnarok”. Por outro lado, a destruição de Asgard nas mãos de Hela, uma Cate Blanchett divina, causa tanto impacto quando a quarta explosão da Enterprise nos filmes de “Star Trek”. As piadinhas também fazem com que mortes de personagens conhecidos da franquia não sejam sentidas. E isto num filme intitulado “Ragnarok”, o apocalipse nórdico. A dramaticidade sucumbe sob o peso dos excessos. As nuances não funcionam. O destino dos personagens se torna irrelevante, já que o ritmo leva o público a esperar gags e não tragédias. E ironicamente, mesmo assim, as cenas de ação são muito bem realizadas. Mas o grande fato incontornável é que, sem as piadas, “Thor: Ragnarok” não valeria o ingresso de cinema. Isto porque a produção parte de um roteiro extremamente simplório, apesar de escrito por quatro roteiristas diferentes, e se resume a uma história de transição, criada para anunciar que vem outro filme da Marvel a seguir. Waititi conseguiu um milagre, ao tornar esse comercial gigante de “Vingadores: Guerra Infinita” num passatempo divertido. Para quem não espera nada de um terceiro filme do deus do trovão, “Thor: Ragnarok” pode se revelar uma boa surpresa. Já quem espera muito de qualquer filme da Marvel, a surpresa pode ser descobrir que o estúdio finalmente fez o filme que sempre ensaiou fazer: uma homenagem ao Batman da TV dos anos 1960.
Star Trek: Discovery é renovada para a 2ª temporada
A CBS renovou “Star Trek: Discovery” para sua 2ª temporada. O anúncio foi feito após a exibição do sexto capítulo da temporada inaugural, e após os produtores revelarem que precisariam de pelo menos um ano para produzir novos episódios, considerando a quantidade de efeitos visuais que utilizam. O processo é tão demorado que a 1ª temporada foi dividida em duas partes. A primeira metade se encerra em 13 de novembro, e os episódios finais serão exibidos a partir de janeiro. Em comunicado, a CBS destacou o sucesso da atração junto à crítica e ao público, e elogiou a equipe e o elenco, que têm “demonstrado talento em dar continuidade ao legado de ‘Star Trek’”. Apenas o episódio duplo de estreia foi exibido na TV aberta americana e tem índice de audiência. Assistido por 9,6 milhões de telespectadores ao vivo, foi o programa não esportivo mais visto do dia 24 de setembro, segundo a empresa Nielsen. Como se não bastasse, ainda foi elogiada por 90% da crítica norte-americana, na média do site Rotten Tomatoes. Os efeitos visuais, a performance de Sonequa Martin-Green e o ritmo intenso foram os elementos mais destacados. Segundo o site Deadline, a exibição rendeu um número recorde de inscrições num único dia ao serviço CBS All Access, que irá mostrar com exclusividade o resto da série por streaming nos Estados Unidos. No resto do mundo, inclusive no Brasil, “Star Trek: Discovery” é exibido pela Netflix. Não foi definida a quantidade de episódios da 2ª temporada, nem a data de lançamento ou se ela será divida em duas partes como o primeiro ano.











