Linda Haynes, atriz de “A Outra Face da Violência”, morre aos 75 anos
Linda Lee Sylvander, conhecida durante sua carreira de atriz como Linda Haynes, faleceu em 17 de julho em Summerville, Carolina do Sul (EUA), aos 75 anos. A notícia de sua morte só chegou ao conhecimento público na sexta (11/8). A família não divulgou a causa, mas afirmou que ela morreu “pacificamente”. Monstros, blaxploitation e vingança Nascida em 4 de novembro de 1947, em Miami, Flórida, Linda Haynes mergulhou no mundo do entretenimento de forma não convencional, estreando no cinema em 1969 como uma médica de minissaia no filme de monstro japonês “Latitude Zero”, do mestre dos kaijus Ishirô Honda, diretor do “Godzilla” original. Em seguida, ela integrou o elenco do clássico da blaxploitation “Coffy – Em Busca de Vingança” (1973), lutando contra Pam Grier, antes de chamar atenção dos diretores da Nova Hollywood. Ela se destacou nos policiais “Jogos de Azar” (1974), de Robert Mulligan, e “A Piscina Mortal” (1975), de Stuart Rosenberg – filme estrelado por Paul Newman – , antes de fazer seu trabalho mais conhecido, como uma garçonete cansada do mundo no thriller de vingança “A Outra Face da Violência” (1977), escrito por Paul Schrader após “Taxi Driver” (1972), de Martin Scorsese, e “Trágica Obsessão” (1976), de Brian De Palma. Elogios de Quentin Tarantino Quentin Tarantino, que tem “A Outra Face da Violência” entre seus filmes favoritos, elogiou o trabalho de Haynes no longa, declarando: “A atuação do filme para mim é Linda Haynes como Linda Forchet! Ela estava em um dos filmes menos conhecidos do primeiro festival QT [que ele organiza], ‘Jogos de Azar’, ela estava em ‘Coffy’ de Pam Grier… ela era a garota que alcança o afro de Grier quando ela tem as navalhas ali e ‘aaaahhhh’. Mas Linda Forchet é minha personagem feminina favorita em um filme de Paul Schrader… Ela tem aquele olhar que Ava Gardner conseguiu, sabe, desleixada, mas levou anos para Ava fazer isso, e Linda Haynes fez isso naturalmente. E eu digo isso de uma maneira positiva.” Apesar dos elogios de Tarantino, a carreira da atriz foi curta. Ela só fez mais três trabalhos após “A Outra Face da Violência”, incluindo várias cenas de nudez no exploitation de prisão feminina “Experiências Humanas” (1979) e o papel de prostituta num novo policial de Stuart Rosenberg, “Brubaker” (1980), com Robert Redford, despedindo-se com o telefilme premiado “Jim Jones: A Tragédia da Guyana” (1980), cansada de personagens degradadas. Final da vida Após encerrar sua carreira de atriz, Haynes passou a trabalhar como secretária jurídica em um escritório de advocacia na Flórida. Seu filho único, Greg Sylvander, acrescentou no Facebook: “Encontro paz em saber que minha mãe estava em paz e teve uma vida linda nesses últimos anos junto com seus netos. Vamos sentir muita falta da minha mãe.”
Sid Haig (1939 – 2019)
O ator Sid Haig, lenda do cinema B americano, morreu no sábado (21/9), aos 80 anos. A morte foi anunciada por sua esposa, Susan L. Oberg, no Instagram: “Isto veio como um choque para todos nós. Como família, nós pedimos privacidade e tempo para que nosso luto seja respeitado”. Segundo a Variety, Haig faleceu de uma infecção pulmonar, após complicações respiratórias causadas por uma queda, sofrida semanas atrás. A vasta filmografia do ator tem quase 150 títulos, a maioria de temática violenta. Mas antes de encarar as telas, ele tentou a música. Na adolescência, foi baterista da banda T-Birds e chegou a gravar um hit, “Full House”, que atingiu o 4º lugar na parada de sucessos em 1958. Graças a essa experiência, conseguiu um de seus primeiros papéis no cinema, aparecendo como baterista dos Righteous Brothers no filme “Farra Musical” (1965). A tendência de viver monstros, psicopatas, assassinos e degenerados teve início no mesmo ano num episódio da sitcom “The Lucy Show”, de Lucille Ball, em que encarnou uma múmia. Mas foi por diversão, assim como sua passagem pelos quadrinhos, como capanga do Rei Tut (Victor Buono) na série clássica “Batman” (em 1966), e pela sci-fi, como alienígena na 1ª temporada de “Jornada nas Estrelas” (em 1967). Os primeiros papéis aproveitavam-se de seu visual exótico. Descendente de armênios, ele tinha um ar de estrangeiro perigoso. Ao decidir raspar a cabeça, também adquiriu uma aparência demente. Mas sua transformação definitiva em astro de filmes sanguinários se deu pelas mãos do cineasta Jack Hill. O primeiríssimo trabalho de Haig como ator foi num curta universitário de Hill, feito em 1960 como parte do currículo da UCLA. Assim, quando conseguiu financiamento do rei dos filmes B, Roger Corman, o diretor o convocou para participar de seu primeiro longa oficial, “O Rastro do Vampiro” (1966), cujo título original era mais explícito em relação ao tom da produção – “Blood Bath”, literalmente “banho de sangue”. De todo modo, foi o filme seguinte de Hill, “Spider Baby” (1967), que transformou ambos, diretor e ator, em ícones do cinema B americano. Lançado sem fanfarra, “Spider Baby” saiu da obscuridade para se tornar um dos filmes mais cultuados dos anos 1960, ao ser redescoberto pelas novas gerações. A história girava em torno do personagem vivido pelo veterano astro de terror Lon Chaney (“O Lobisomem”), um cuidador de três irmãos mentalmente perturbados, que tenta proteger os jovens de primos gananciosos. De olho na velha mansão da família em que eles vivem, os parentes resolvem trazer advogados para despejá-los da propriedade. Mas a situação sai do controle, com violência generalizada, culminando na explosão da residência por parte do cuidador, numa mistura de ato de desespero, misericórdia e suicídio. Haig viveu o único irmão homem, incapaz de falar, mas capaz de atos terríveis, como o estupro de sua prima. Ator e diretor continuaram a pareceria em outros gêneros de filmes B, como o cultuado filme de prisão feminina “As Condenadas da Prisão do Inferno” (1971) e dois dos maiores clássicos da era blaxploitation “Coffy: Em Busca da Vingança” (1973) e “Foxy Brown” (1974), todos estrelados por Pam Grier. Essa conexão, por sinal, fez com que Haig fosse lembrado por Quentin Tarantino em sua homenagem ao gênero, “Jackie Brown” (1997), protagonizado pela mesma atriz. Sem abandonar violência, Haig também apareceu em clássicos do cinemão classe A, como “À Queima-Roupa” (1967), de John Boorman, “007 – Os Diamantes São Eternos” (1971), de Guy Hamilton, “O Imperador do Norte” (1973), de Robert Aldritch, e até “THX 1138” (1971), primeira sci-fi de um jovem visionário chamado George Lucas (sim, o criador de “Star Wars”). Mas as produções que costumavam escalá-lo com frequência eram mesmo de baixo orçamento, e elas entraram em crise com o fim das sessões duplas noturnas e dos drive-ins na metade final dos anos 1970. Por conta disso, o ator passou boa parte desse período fazendo séries. Chegou a viver nove vilões diferentes em “Missão Impossível”, quatro em “Duro na Queda”, três em “A Ilha da Fantasia”, dois em “MacGyver”, além de enfrentar “As Panteras”, “Police Woman”, “Buck Rogers”, “Os Gatões”, “Esquadrão Classe A”, “O Casal 20″m etc. Ele anunciou oficialmente sua aposentadoria em 1992, dizendo-se cansado de viver sempre o vilão que morria no episódio da semana. Assim, quando Tarantino o procurou para viver Marcellus Wallace em “Pulp Fiction” (1994), ele se recusou. O papel acabou consagrando Ving Rhames. Mas Tarantino não desistiu de tirar Haig da aposentadoria. Ele escreveu o personagem do juiz de “Jackie Brown” pensando especificamente no ator. E ao insistir foi bem-sucedido em convencê-lo a atuar novamente. Após aparecer em “Jackie Brown”, Haig foi convidado a participar de um clipe do roqueiro Rob Zombie, “Feel So Numb” (2001). E a colaboração deu início a uma nova fase na carreira de ambos. Zombie resolveu virar diretor de cinema e escalou Haig em seu papel mais lembrado, como o Capitão Spaulding, guia turístico de “A Casa dos 1000 Corpos” (2003), filme francamente inspirado em “Spider Baby”, entre outras referências de terror ultraviolento. O nome Capitão Spaulding também era citação a outro personagem famoso, o grande contador de “lorotas” vivido por Groucho Marx na célebre comédia “Os Galhofeiros” (1930). Spaulding voltou a matar, acompanhado por seus parentes dementes, na continuação “Rejeitados pelo Diabo” (2005), melhor filme da carreira de Rob Zombie. E Haig seguiu participando dos filmes do roqueiro cineasta, como “Halloween: O Início” (2007), “The Haunted World of El Superbeasto” (2009) e “As Senhoras de Salem” (2012). Ele ainda trabalhou em “Kill Bill: Volume 2” (2004), de Tarantino, no cultuado western de terror “Rastro de Maldade” (2015), de S. Craig Zahler, e em dezenas de títulos de horror lançados diretamente em vídeo na fase final de sua carreira. Para completar sua prodigiosa filmografia, vai se despedir das telas com o personagem que mais viveu, retomando o Capitão Spaulding em “Os 3 Infernais”, final da trilogia de Rob Zombie, que tem estreia prevista para outubro.

