Vida do médium Divaldo Franco vai virar filme
A vida do médium Divaldo Franco está virando filme. Conhecido como o maior médium espírita brasileiro vivo, sua trajetória já começou a ser filmada na semana passada, numa coprodução da Fox Filmes do Brasil, que realizou o filme espírita mais caro do país, “Nosso Lar” (2010). Segundo o colunista Ricardo Feltrin, do UOL, a trama é uma adaptação do livro “Divaldo Franco: A Trajetória de um dos Maiores Médiuns de Todos os Tempos”, escrito por Ana Landi, que será consultora da obra cinematográfica. Com direção de Clóvis Mello, as primeiras filmagens do longa-metragem — sem título divulgado — foram feitas no Teatro Municipal do Rio, durante palestra que lotou os 2,1 mil lugares da casa de espetáculo, e também irão registrar as comemorações do aniversário de 90 anos de Divaldo Franco, que acontece no próximo dia 5. Não está claro, portanto, se a produção é uma obra com atores ou um documentário. Clóvis Mello tem uma carreira premiada em publicidade e já produziu os documentários “Coração Vagabundo” (premiado nos festivais de Roma e Barcelona), e “jair 30”, em parceria com a gravadora Som Livre (Grupo Globo). Ele também dirigiu a comédia “Ninguém Ama Ninguém por Mais de Dois Anos”. A expectativa é de um lançamento ainda para o segundo semestre desse ano, com um diferencial: 15% de sua arrecadação será destinada à Mansão do Caminho, projeto social do médium em Salvador.
Ninguém Ama Ninguém resgata o universo atrevido e sensual de Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues é um dramaturgo e contista tão interessante que adaptá-lo para as telas (ou para os palcos) é quase certeza de sucesso. Então, por que diminuíram a quantidade de suas obras adaptadas para o cinema? A última havia sido “Bonitinha, Mas Ordinária”, em versão de 2013, que continha uma sucessão de equívocos que só mesmo um diretor como Moacyr Góes (“Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida”) seria capaz de perpetrar. Pelo menos, trouxe à luz a beleza de Letícia Colin, além de sempre consistente Leandra Leal, claro. Mas é um trabalho que passa longe da antológica versão feita por Braz Chediak em 1981. A adaptação de “Ninguém Ama Ninguém… Por Mais de Dois Anos”, dirigida por Clovis Mello, acerta bem mais, embora esteja longe de ser perfeita. A começar pelos belos e provocadores cartazes, que emulam o estilo dos desenhos da virada das décadas de 1950 e 60, que é justamente o tempo em que se passam as histórias presentes no longa. Como se trata de uma adaptação de várias histórias curtas, amarradas numa única narrativa, difícil não lembrar de “A Vida Como Ela É…”, a série de pequenos e deliciosos episódios produzida por Daniel Filho para o “Fantástico”. Perceber que aqueles episódios são ainda muito mais ousados e picantes que o novo filme não deixa de ser um pouco desanimador, mas pelo menos o lançamento devolve ao cinema o universo rodrigueano, de mulheres safadas (no bom sentido) ou mandonas e de homens cornos ou cafajestes. Nesse universo atrevido, algumas histórias se destacam e ficam mais vivas na memória, enquanto outras se resolvem de maneira tão rápida que caberiam num curta de dez minutos, como o caso da mulher que tem o desejo de transar com o melhor amigo do marido. Aliás, há duas situações desse tipo: uma termina em tragédia, enquanto a outra é levada para o território do humor. Trata-se da história interpretada por Gabriela Duarte, que no filme aparece bem ousada e cheia de sex appeal. Mas a melhor história é mesmo a estrelada por Marcelo Faria. Ele interpreta um sujeito pobre que se casa com uma garota rica, que com o tempo passa a mandar demais na vida dele. Há dois momentos em especial que provocam boas gargalhadas, quando o personagem chuta o balde. No meio disso tudo, ainda há um caso com a bela empregada doméstica. Por sinal, o filme é bem generoso com a sensualidade feminina, em constraste com as produções mais recentes do país, que mesmo ao tratar de sexo se mostram muito comportadas. Já vai longe o tempo em que o cinema brasileiro era considerado um dos mais sensuais do mundo. O que houve desde então? Perdemos a ginga? Ficamos mais hipócritas? Copiamos demais o modelo americano? Ou os produtores assumiram que sexo era um defeito que precisava ser extirpado do nosso cinema? Será por isso que não se filma mais Nelson Rodrigues? Seja por qual motivo, o cinema brasileiro perdeu o tesão. Por isso, sopros de sensualidade e sem-vergonhice, ainda que relativamente tímidos como os de “Ninguém Ama Ninguém”, são sempre bem-vindos.

