Claudia Cardinale, símbolo do cinema italiano, morre aos 87 anos.
Atriz de “O Leopardo”, “8 1/2” e “Era uma Vez no Oeste” marcou época com sua presença em grandes clássicos do cinema europeu
Festival de Veneza começa quente com grandes astros e sexo
A 81ª edição do Festival de Veneza destaca estrelas de Hollywood, erotismo e estreias de "Coringa 2" e "Beetlejuice 2"
Anouk Aimée, estrela de “Um Homem, uma Mulher” e “La Dolce Vita”, morre aos 92 anos
Atriz francesa brilhou em filmes famosos de grandes mestres do cinema europeu como Lelouch, Demy, Fellini e Bertolucci.
Jean-Louis Trintignant (1930–2022)
O ator Jean-Louis Trintignant, um dos maiores intérpretes do cinema francês, morreu nesta sexta-feira (17/6) aos 91 anos. Ele tinha câncer e sua mulher, Mariane Hoepfner Trintignant, informou que ele morreu “pacificamente, de velhice, esta manhã em casa no Gard, cercado por seus entes queridos”, de acordo com o jornal Le Monde. Ao longo de quase 70 anos de carreira e mais de 130 filmes – sem contar dezenas de peças de teatro – , ele foi dirigido pelos principais mestres do cinema europeu, demonstrando enorme versatilidade ao encarar de dramas artísticos da nouvelle vague a comédias comerciais, épicos históricos e até western spaghetti. Originalmente, Trintignant queria ser diretor. Mas para pagar o curso na escola de cinema IDHEC em Paris começou a assumir pequenos papéis na tela. Até que chamou atenção em 1956 como um dos três homens envolvidos com Brigitte Bardot no famoso filme “E Deus Criou a Mulher” (1956), de Roger Vadim. O cineasta ficou com ele mente, mesmo que Trintignant ainda não levasse a carreira de ator à sério, especialmente pelas condições da época – após filmar o clássico de Vadim, ele foi convocado pelo serviço militar e levado a lutar na Guerra da Argélia. Após três anos, Vadim o reencontrou para integrar o elenco de sua adaptação de 1959 de “Ligações Perigosas”, de Choderlos de Laclos – lançada no Brasil como “Ligações Amorosas” – , onde contracenou com Jeanne Moreau e Boris Vian. E a partir daí Trintignant não parou mais. No mesmo ano, fez seu primeiro papel de protagonista naquele que também foi seu primeiro trabalho estrangeiro: o drama de guerra “Verão Violento”, filmado na Itália por Valerio Zurlini. E em seguida foi integrar o elenco internacional de seu primeiro épico, um filme de Napoleão com o especialista Abel Gance, “Com Sangue se Escreve a História” (Austerliz, 1960), ao lado de estrelas de Hollywood (Jack Palance, Orson Welles, Leslie Caron), da Cinecittà (Claudia Cardinale, Vittorio de Sica) e compatriotas (Jean Marais, Pierre Mondy, Martine Carol). O sucesso dos dois longas o tornou requisitado tanto na França quanto na Itália, fazendo sua filmografia inflar. Nos cinco anos seguintes, fez nada menos que 20 filmes, incluindo “Paixões e Duelo” (1962), de Alain Cavallier, como um terrorista casado com Romy Schneider, e duas comédias muito populares com Vittorio Gassman: “Aquele Que Sabe Viver” (1962), de Dino Risi, e “Minha Esposa é um Sucesso” (1963), de Mauro Morassi. Também estrelou coproduções entre França e Itália, como “Castelos na Suécia” (1963), dirigido por Roger Vadim e coestrelado por Monica Vitti, e a aventura romântica “Maravilhosa Angélica” (1964), de Bernard Borderie. Trintignant ainda estrelou o primeiro de seus filmes com Costa Gavras, “Crime no Carro Dormitório” (1965), antes de embarcar no papel que o projetou como nenhum outro, “Um Homem, uma Mulher” (1966), de Claude Lelouch. Considerado um dos filmes românticos mais famosos de todos os tempos, a história de amor vivida pelo ator e Anouk Aimée venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes e dois Oscars – Melhor Filme em Língua Estrangeira e Melhor Roteiro. O filme foi tão marcante que resultou num reencontro entre o casal e o diretor na continuação “Um Homem, uma Mulher: 20 Anos Depois”, lançada em 1986. Seu alcance mundial também transformou Trintignant num dos maiores astros do cinema francês. Por isso, mesmo aumentando a pilha de projetos, ele passou a aparecer em filmes cada vez mais importantes. A lista é enorme, destacando o drama de guerra “Paris Está em Chamas?” (1966), de René Clement, que disputou dois Oscars, o célebre filme lésbico “As Corças” (1968), de Claude Chabrol, premiado no Festival de Berlim, o politizado “Z” (1969), de Costa Gavras, vencedor do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, o romântico “Minha Noite com Ela” (1969), de Éric Rohmer, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, o icônico “O Conformista” (1970), de Bernardo Bertolucci, também indicado ao Oscar e responsável por um dos melhores desempenhos de Trintignant, entre muitos, muitos outros. Com tantos trabalhos marcantes, o próprio ator começou a receber prêmios, a partir de “O Homem que Mente” (1968), de Alain Robbe-Grillet, que lhe rendeu o Urso de Prata no Festival de Berlim. No ano seguinte, foi a vez do Festival de Cannes saudá-lo por “Z”. Mas o César, considerado o Oscar francês, só passou a considerá-lo numa fase mais madura de sua carreira. Na década de 1970, embarcou em novos projetos artísticos do diretor Robbe-Grillet (os cultuados “Deslizamentos Progressivos do Prazer” e “O Jogo com o Fogo”), retomou sua química com Romy Schneider em outros romances (“O Último Trem”, “Escalada ao Poder”), fez mais uma colaboração sensacional com o diretor Valerio Zurlini (“O Deserto dos Tártaros”) e até estreou em Hollywood, contracenando com Burt Reynolds e a conterrânea Catherine Deneuve em “Crime e Paixão” (1975), de Robert Aldrich. Depois de consagrado e rico, o grande astro ficou ainda mais exigente, o que compactuou com sua longevidade artística. Escolhendo a dedo seus projetos, ele só não viveu um renascimento nas décadas seguintes porque sua carreira nunca decaiu. Vieram três parcerias consecutivas com Ettore Scola: “O Terraço” (1980), premiado no Festival de Cannes, “Paixão de Amor” (1981) e “Casanova e a Revolução” (1982), vencedores de vários prêmios David di Donatello (o Oscar italiano). Veio seu melhor filme americano: “Sob Fogo Cerrado” (1983), de Roger Spottiswoode, indicado ao Oscar e vencedor da categoria de Melhor Filme Estrangeiro no David di Donatello. Veio a protelada colaboração com o mestre François Truffaut: “De Repente num Domingo” (1983), indicado ao César e ao BAFTA (o Oscar britânico). E, principalmente, veio a primeira indicação ao César de Trintignant, como Ator Coadjuvante em “A Mulher de Minha Vida” (1986), de Régis Wargnier. Mas ele ainda estava só começando. Com mais de 60 anos, passou a acumular indicações ao César como Melhor Ator: por “A Fraternidade é Vermelha” (1994), de Krzysztof Kieslowski, “Fiesta” (1995), de Pierre Boutron, e “Os que Me Amam Tomarão o Trem” (1998), de Patrice Chéreau. Mostrando-se disposto a se revigorar, passou a trabalhar com uma nova geração de cineastas de visões originais, com destaque para Enki Bilal, um artista de quadrinhos transformado em diretor de ficção científica, com quem filmou três filmes: “Bunker Palace Hotel” (1989), “Tykho Moon” (1996) e “Immortal” (2004). Também fez dobradinha com Jacques Audiard (“O Declínio dos Homens” e “Um Herói Muito Discreto”) e participou de uma das melhores fantasias de Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet, dublando um cérebro falante em “Ladrão de Sonhos” (1995). Essa dedicação ao cinema foi recompensada com outro papel importante no fôlego final de sua carreira. Trintignant viveu o marido octogenário e solitário, que opta pela morte misericordiosa de sua esposa (Emmanuelle Riva), após ela sofrer derrame em “Amor” (2012). O filme do austríaco Michael Haneke venceu a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. E rendeu ao astro veterano o César de Melhor Ator, que tantas vezes escapou de seu alcance. Sobre o filme, o ator disse ao Le Journal du Dimanche: “O personagem me emocionou enormemente. Como ele, estou no fim da minha vida. E como ele, penso muito em suicídio. Qualquer que seja o papel que Haneke queira me escalar a seguir, eu vou aceitar.” De fato, ele voltou a atuar para Haneke em “Happy End” (2014), antes de se despedir das telas com um último drama. O ator foi casado com a atriz Stéphane Audran, que o trocou pelo diretor Claude Chabrol – e depois os três filmaram juntos “A Corsas”. Sua segunda esposa, Nadine Marquand, também foi atriz, roteirista e diretora – e dirigiu o marido em alguns filmes. Eles tiveram três filhos: o diretor Vincent Trintignant, Pauline (que morreu no berço em 1969) e Marie Trintignant, que se tornou uma atriz de sucesso, antes de ser assassinada pelo namorado em 2003, aos 41 anos. Em 2018, Trintignant anunciou que tinha sido diagnosticado com câncer de próstata e não procuraria tratamento. Seu velho amigo, Claude Lelouch, o procurou na ocasião para fazer um filme-homenagem, “Os Melhores Anos de Uma Vida”, título perfeito para o reencontro final de um homem, uma mulher e um diretor. Em sua despedida das telas, Trintignant voltou a contracenar com Ainouk Aimée como um idoso tentando lembrar o grande amor de sua vida, com direito a flashbacks de cenas em que todos eram jovens encantados. “Envelhecer é apenas uma série de problemas”, disse ele em entrevista recente. “Mas, no final, foi bom eu ter permanecido vivo por tanto tempo. Eu pude conhecer muitas pessoas interessantes.”
Jean-Paul Belmondo (1933–2021)
Jean-Paul Belmondo, um dos atores mais icônicos da França, morreu nesta segunda-feira (6/9) em sua casa de Paris, aos 88 anos. O sorriso inimitável, os cabelos sempre desarrumados e um perfil único, com um nariz quebrado que o impedia de ser mais belo que Alain Delon – resultado de uma juventude esportiva como goleiro e boxeador – , iluminaram dezenas de filmes, muitos deles clássicos e quase todos grandes sucessos de bilheteria. Filho de um escultor renomado e educado nas melhores escolas, ele era considerado o ator mais charmoso da França, eternizado na imaginação dos fãs como alguém tão irresistível quanto o bandido sedutor de “Acossado” (1960), personagem que marcou sua carreira e a chegada da nouvelle vague no mundo. Belmondo decidiu se tornar ator aos 16 anos, formando-se em 1956 no prestigioso Conservatório de Drama de Paris, mas teve sua entrada negada na Comédie-Française depois que o júri do Conservatório se recusou a premiá-lo com honras. Sua reação teria sido lhes mostrar o dedo indicador. Ele estreou no cinema em 1958, fazendo nada menos que quatro filmes consecutivos, entre eles “Os Trapaceiros”, de Marcel Carné, antes de se ver no centro da revolução filmada pela nova geração de cineastas rebeldes. Seu primeiro papel de protagonista veio em “Quem Matou Leda?” (1959), de Claude Chabrol. Mas foi outro enfant terrible quem melhor soube aproveitar seu charme desgrenhado. Jean-Luc Godard viu imediatamente o potencial do jovem e tratou de filmá-lo no curta “Charlotte e Seu Namorado” (1960) e finalmente em seu primeiro longa-metragem, o clássico “Acossado”. Escalado ao lado de Jean Seberg, Belmondo interpretou o gângster romântico Michel Poiccard, que se inspirava nos filmes de Humphrey Bogart. Fumando um cigarro atrás do outro e falando diretamente para a câmera, Belmondo materializou uma atuação animada, divertida e bastante visual, que ajudaria a transformar “Acossado” num dos filmes mais influentes da História do Cinema, consagrando também Godard, premiado em sua estreia no Festival de Berlim, e dando à nouvelle vague uma visibilidade inescapável. Ator e diretor reforçaram a parceria em novos sucessos, como “Uma Mulher É uma Mulher” (1961) e o cultuadíssimo “O Demônio das Onze Horas” (1965). Sua atuação neste último – como um pai de família que se apaixona por uma velha e perigosa paixão (Anna Karina) e logo perde o juízo – está entre as mais emblemáticas de sua carreira. Mas na altura deste longa, Belmondo já não era mais o mesmo jovem com potencial de “Acossado”. Ele disputava com o galã Alain Delon a condição de astro mais popular de todo o cinema francês. Entre 1960 e 1965, Belmondo estrelou mais de 30 filmes. Alguns seguiram a vertente prestigiosa de seus primeiros trabalhos, como “Duas Almas em Suplício” (1960), adaptação de Marguerite Duras em que atuou com outra musa da nouvelle vague, Jeanne Moreau, e “Duas Mulheres” (1960), de Vittorio de Sica, em que contracenou com Sofia Loren. Mas logo a tendência mudaria. Ele estourou como ator dramático em “Léon Morin – O Padre” (1961), mostrou que sabia fazer comédia com “Macaco no Inverno” (1962) e provou-se em papel de durão com “Um Homem Chamado Rocca” (1961), mas foi a produção de época “Cartouche” (1962) que revelou de vez seu enorme apelo comercial, como herói romântico de blockbusters de ação. Sua mudança de status, de cult para comercial, teve grande influência do diretor de “Cartouche”, Philippe de Broca, que o comandou em outras aventuras mirabolantes, como “O Homem do Rio” (1964), em que Belmondo veio ao Brasil salvar sua namorada (Françoise Dorléac) sequestrada por criminosos, e principalmente “Fabulosas Aventuras de um Playboy” (1965). Na comédia aventureira que inspiraria muitas cópias, o astro vivia um bilionário infeliz que, após várias tentativas frustradas de suicídio, contratava assassinos profissionais para matá-lo, apenas para se arrepender em seguida ao se apaixonar por Ursula Andress (a primeira Bond Girl). A química foi além das telas, e acabou com o casamento do ator na vida real. Belmondo era casado com a dançarina Elodie Constantin, com quem teve três filhos, de 1959 até o divórcio de 1966, precipitado por seu envolvimento escandaloso com Andress, também casada na época (com o diretor John Derek). Seu segundo casamento aconteceu em 2002 com a bailarina Natty Tardiel, após um namoro iniciado em 1989 e o nascimento de sua filha mais nova. De forma notável, enquanto acumulava seus primeiros êxitos de bilheteria, Belmondo ainda conseguiu manter laços com a nouvelle vague, estrelando “O Ladrão Aventureiro” (1967), de Louis Malle, “A Sereia do Mississipi” (1969), de François Truffaut, “O Homem que Eu Amo” (1969), de Claude Lelouch, e “Stavisky…” (1974), de Alain Resnais. Em 1970, ele finalmente fez a parceria que o público francês mais queria ver, estrelando “Borsalino” ao lado de Alain Delon. O filme de gângsteres dos anos 1930 lotou cinemas, mas suas filmagens acabaram com qualquer chance dos dois astros se tornarem amigos. Belmondo processou Delon por descumprir a promessa de créditos iguais, ao destacar seu nome como produtor antes do letreiro dos atores. Só voltaram a trabalhar juntos décadas depois, em 1998, na comédia criminal “1 Chance Sur 2”, de Patrice Leconte, quando riram muito da competição que mantinham na juventude. Alheio à essa briga, o diretor de “Borsalino”, Jacques Deray, foi outro dos grandes parceiros de Belmondo, especialmente na fase mais comercial do ator. Os filmes do astro começaram a ficar parecidos e cada vez mais descartáveis a partir dos anos 1970. Títulos como “O Magnífico” (1973) e “O Incorrigível” (1975), ambos de Philippe de Broca, “Os Ladrões” (1971) e “Medo Sobre a Cidade” (1975), ambos de Henri Verneuil, “Animal” (1976), em que contracenou com Rachel Welch, ou mais adiante, “O Profissional” (1981), de Georges Lautner, “O Marginal” (1983) e “O Solitário” (1987), dirigidos por Jacques Deray, eram sucessões de cenas de ação que exploravam feitos físicos. Assim como Tom Cruise hoje em dia, Belmondo dispensava dublês e fazia as cenas arriscadas por conta própria, o que o levou a se ferir várias vezes durante as filmagens. Um de seus desempenhos mais arriscados foi em “Medo Sobre a Cidade”, em que se pendurou num helicóptero a vários metros de altura e precisou se equilibrar no alto de um trem de metrô em movimento. Mas o estilo de herói de ação charmoso de Belmondo não demorou a ficar ultrapassado, diante da brutalidade dos filmes americanos com Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. E um grave ferimento no set da comédia policial “Hold-Up”, de Alexandre Arcady em 1985, ajudou a pôr fim ao reinado do ator no gênero. Após quase 50 filmes com mais de milhão de ingressos vendidos em duas décadas, “O Solitário” (1987) marcou sua despedida das produções agitadas. “Não quero virar o avô voador do cinema francês”, disse ele na época. Nos anos que se seguiram, Belmondo desacelerou. Ele voltou aos palcos, interpretando Cyrano de Bergerac em 1989, e passou a se dedicar a dramas e adaptações de clássicos da literatura. A nova fase lhe permitiu reencontrar o mestre da nouvelle vague Claude Lelouch em dois filmes, “Itinerário de um Aventureiro” (1988) e na adaptação de “Os Miseráveis” (1995). O primeiro lhe rendeu o único César (o Oscar francês) de sua carreira. E para surpresa de todos, Belmondo simplesmente se recusou a receber o troféu. Sua trajetória sofreu outro baque em 2001, quando teve um derrame. Ele só voltou ao trabalho em 2008 para um último longa-metragem, “Un Homme et Son Chien” (Um homem e seu cachorro), sobre um idoso rejeitado pela sociedade. Defensor apaixonado do cinema francês, Belmondo recusou vários convites para filmar em Hollywood e usou sua popularidade para denunciar o impacto negativo do monopólio de distribuição dos filmes americanos em seu país, que ele considerava culpado por estrangular a produção francesa ao ocupar todas as telas disponíveis. Em 2011, foi homenageado duplamente pelos festivais de Cannes e Veneza, respectivamente com uma Palma de Ouro e um Leão de Ouro honorários por todas as suas realizações como ator. Mas a maior homenagem de sua carreira foi conferida pelos fãs, que transformaram seus filmes nos maiores sucessos do cinema de seu país.
Robert Hossein (1927 – 2020)
O ator e diretor francês Robert Hossein morreu na quinta-feira (31/12), aos 93 anos após sofrer um “problema respiratório”, afirmou sua esposa, a atriz Candice Patou. Filho de um famoso compositor iraniano, André Hossein, Robert começou a atuar no cinema francês ainda na adolescência, como figurante de “Encontro com o Destino” (1948) e “Maya, A Desejável” (1949). A carreira, que abrange oito décadas, embalou a partir de 1955, quando apareceu no clássico “Rififi”, de Jules Dassin, e estreou precocemente como diretor em “Os Malvados Vão para o Inferno”. A partir daí, passou a se alternar nas duas funções. Entre os destaques de sua filmografia nos anos 1950, ele apareceu ainda em “Crime e Castigo” (1956), ao lado de Jean Gabin, em “Aconteceu em Veneza” (1957), de Roger Vadim, e passou a ser considerado protagonista com “Os Assassinos Também Amam” (1957). Em seguida, tornou-se o intérprete principal de filmes como “Vampiros do Sexo” (1959), “Rififi Entre Mulheres” (1959) e “A Sentença” (1959), especializando-se em viver vilões ou personagens dúbios do cinema noir francês – gênero que também seguiu como diretor, ao filmar “Pardonnez nos Offenses” (1956), “Você, O Veneno” (1958), etc. Ele nem sempre estrelava os filmes que dirigia, mas convocava o pai para trabalhar nas trilhas sonoras e reservava o papel principal para sua então esposa, a atriz Marina Vlady, que aos 17 anos, época de seu casamento, rivalizava com Brigitte Bardot pelo título de adolescente mais bela do cinema francês. A parceria e o casamento, no entanto, foram curtos. Após ele conquistar reconhecimento internacional como diretor, por “A Noite dos Espiões” (1959), um drama passado na 2ª Guerra Mundial, estrelado por Vlady e selecionado para o Festival de Veneza, o casal se separou durante a última atuação conjunta, em “Os Canalhas” (1960), de Maurice Labro. Divorciada, Vlady foi considerada a Melhor Atriz do Festival de Cannes três anos depois, por “Leito Conjugal” (1963), de Ugo Tognazzi, atingindo um reconhecimento que Houssein nunca conseguiu. Por outro lado, quando lançou seu western francês, “O Gosto da Violência” (1961), Houssein foi saudado como um dos diretores mais ousados de sua época, por usar os elementos dos filmes de cowboy de Hollywood para aludir aos movimentos revolucionários dos guerrilheiros da América Latina. Em reconhecimento, Sergio Leone fez questão de inclui-lo numa pequena cena de flashback de seu épico “Era uma Vez no Oeste” (1968), como uma homenagem simbólica – e sem créditos. Mas Houssein logo voltou ao mundo do crime em seus filmes seguintes, “A Morte de um Matador” (1964) e “O Diabólico Vampiro de Düsseldorf” (1965), em que viveu dois criminosos famosos. Como ator, ainda estrelou o noir “O Elevador da Morte” (1962), com Lea Massari, e fez mais dois filmes para Roger Vadim, abusando de Brigitte Bardot em “O Repouso do Guerreiro” (1962) e de Catherine Deneuve em “Vício e Virtude” (1963), ambos de temática sadomasoquista – o último inspirado diretamente em “Justine”, do Marquês de Sade. Mas foi uma produção popular, “Angelica, Marquesa dos Anjos” (1964), que o transformou em ídolo das matinés. Sua interpretação ardente do Conde Peyrac, visto sem camisa em várias cenas, arrancou suspiros de uma geração de jovens apaixonadas, dando origem a uma longa franquia romântica de época, passada no século 17, que ele estrelou ao lado de Michèle Mercier. Curiosamente, os dois também formaram par em dois dramas criminais e antirromânticos, “A Amante Infiel” (1966) e “Cemitério Sem Cruzes” (1969). Houssein ignorou o auge da nouvelle vague, especializando-se, nos anos 1960, em produções de apelo mais, digamos, sedutor. Num período em que o cinema francês era considerado um dos mais sexy do mundo, ele participou de “Lamiel, a Mulher Insaciável” (1967), “Sempre Tua… Mas Infiel” (1968), “Lição Particular… de Amor” (1968) e “Se Don Juan Fosse Mulher” (1973), derradeira parceria com Bardot. Mas sua presença cinematográfica diminuiu drasticamente nos anos seguintes. Por ironia, isso aconteceu logo após suas primeiras experiências com um mestre da nouvelle vague, Claude Lelouch, com “Retratos da Vida” (1981) e “Um Homem, uma Mulher: 20 Anos Depois” (1986), em que interpretou a si mesmo. O astro também dirigiu seus últimos filmes nesse período, uma adaptação de “Os Miseráveis” (1982) e o thriller de espionagem “Le Caviar Rouge” (1985). Nos últimos anos, ele dedicou sua energia a grandes produções teatrais destinadas a levar o grande público aos teatros. “Teatro como se pode ver apenas no cinema”, era como anunciava seus grandiosos espetáculos, geralmente de temas épicos, como a trama de gladiadores “Ben-Hur”. Entre suas trabalhos finais nas telas estão “Instituto de Beleza Vênus” (1999), “O Sumiço do Presidente” (2004), com Gérard Depardieu, “La Disparue de Deauville” (2007), dirigido pela atriz Sophie Marceau, e “Noni – Le Fruit de l’Espoir” (2020), lançado em fevereiro passado na França. Após se separar de Marina Vlady em 1959, ele se casou por dois anos com a roteirista Caroline Eliacheff (“Cópia Fiel”) e viveu de 1976 ao resto de sua vida com a atriz Candice Patou (“Edith e Marcel”), que ele escalou como Eponine em sua versão de “Os Miseráveis”.
Francis Lai (1932 – 2018)
Morreu o célebre compositor Francis Lai, autor de várias trilhas de cinema, entre elas a de “Love Story”, que lhe rendeu um Oscar em 1971. Ele tinha 86 anos e faleceu na quarta (7/11) na cidade francesa de Nice, de causa desconhecida. Nascido em Nice, Francis Lai foi para Paris com pouco mais de 20 anos para tocar acordeon e integrar a vibrante cena musical do bairro de Montmartre. Em 1965, conheceu o jovem cineasta Claude Lelouch, que o convidou a desenvolver a trilha do filme “Um Homem, uma Mulher”, lançado no ano seguinte. O resultado da primeira trilha de Lai se tornou um marco do cinema. Com seu corinho “da-ba-da-ba-da”, a música-tema virou fenômeno internacional — e uma das gravações mais parodiadas de sua época. A trilha foi indicada ao Globo de Ouro, assim como a parceria seguinte de Lai e Lelouch, “Viver por Viver” (1967). Foi o começo de uma relação duradoura e bem-sucedida entre o cineasta e o compositor, que resultou numa profusão de trilhas que acompanharam a filmografia quase completa de Lelouch. “Francis Lai era o homem da minha vida, um anjo disfarçado de acordeonista”, disse na quarta Lelouch, em entrevista à rádio RTL. “Fizemos 35 filmes juntos e tivemos uma história de amor que durou 50 anos”. O alcance da trilha de “Um Homem, uma Mulher” também abriu as portas de Hollywood para o compositor francês, que no ano seguinte musicou seu primeiro filme falado em inglês, a comédia “Toureiro sem Sorte” (1967), com Peter Sellers e Britt Ekland. Seguiram-se mais comédias, filmes de guerra, suspenses e em pouco tempo Lai passou a dominar o mercado, assinando trilhas de nada menos que dez filmes apenas no ano de 1970 – entre eles, os clássicos “Passageiro da Chuva”, de René Clement, e “Love Story”, de Arthur Hiller, que o consagrou de vez. Ele seguiu em ritmo alucinado durante a década de 1970, bisando suas parcerias com Lelouch, Clement, mas também expandido sua conta bancária até com filmes eróticos, como “Emmanuelle 2” (1975) e o controvertido “Bilitis” (1977) – que ironicamente lhe rendeu a primeira de suas quatro indicações ao César (o Oscar francês). As parcerias com Lelouch foram pontos altos de sua filmografia nas décadas seguintes, rendendo clássicos como “Retratos da Vida” (1981), a continuação “Um Homem, uma Mulher: 20 Anos Depois” (1986), “Itinerário de um Aventureiro” (1988) e “Os Miseráveis” (1995), entre outros, mas também merece destaque o excelente “Olhos Negros (1987), de Nikita Mikhalkov. Ao morrer, Lai trabalhava na trilha de “Les Plus Belles Années”, a derradeira colaboração com seu primeiro e último parceiro de cinema, que Lelouch pretende lançar em 2019. Relembre abaixo alguns dos primeiros e mais famosos trabalhos do compositor.
Charles Aznavour (1924–2018)
Morreu Charles Aznavour, o último dos grandes nomes da canção francesa do século 20. O cantor e compositor faleceu na madrugada desta segunda-feira (1/10), aos 94 anos em sua casa em Apilles, no sul da França. Filho de imigrantes armênios, seu verdadeiro nome era Shahnour Varinag Aznavourian. Mas também era chamado de o Frank Sinatra da França. A carreira deslanchou após a 2ª Guerra Mundial, quando Edith Piaf foi conferir seus shows de cabaré. Encantada, ela o consagrou ao convidá-lo para abrir o seu show no famoso Moulin Rouge e o levou em uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá. Assim, Aznavour passou a compor alguns dos sucessos mais populares da cantora, tornando-se também conhecido por conta de seu talento. A carreira durou oito décadas, vendeu mais de 100 milhões de discos e rendeu canções mundialmente conhecidas como “La Bohème”, “La Mamma” e “Emmenez-moi”. Além de sucessos próprios, ele também compôs para artistas como Maurice Chevalier e Charles Trenet. Aznavour também teve uma carreira paralela muito bem-sucedida como ator, que a maioria dos talentos de Hollywood não consegue igualar. Foram cerca de 80 filmes, a princípio em pequenas participações vivendo a si mesmo, como em “Até Logo, Querida!” (1946). Mas a atuação se tornou uma atividade séria a partir de “Os Libertinos” (1959), de Jean-Pierre Mocky. O cantor logo virou protagonista de clássicos franceses, como “A Passagem do Reno (1960), do mestre André Cayatte, e o famoso nouvelle-noir “Atirem no Pianista” (1960), dirigido simplesmente por François Truffaut. Estes filmes o lançaram de vez como astro de cinema, levando-o a multiplicar sua presença nas telas, a ponto de fazer três filmes por ano na década de 1960. A safra incluiu “As Virgens” (1963), de Mocky, “Breve Encontro em Paris” (1966), de Pierre Granier-Deferre, e seu primeiro filme falado em inglês, o psicodélico “Candy” (1968), de Christian Marquand. A estreia em Hollywood propriamente dita veio logo em seguida, como par romântico de Candice Bergen em “O Mundo dos Aventureiros” (1970), de Lewis Gilbert. Ele também se aventurou pelo cinema inglês, com “Os Jogos” (1970), de Michael Winner, pelo cinema policial italiano, estrelando “Tempo de Lobos” (1970) e “O Belo Monstro” (1971), ambos dirigidos por Sergio Gobbi, e até pelo suspense alemão em “O Último dos Dez” (1974), uma adaptação de “E Não Sobrou Nenhum” (mais conhecido como “O Caso dos Dez Negrinhos”), de Agatha Chistie. Tornou-se um astro de cinema internacional. E embora fizesse filmes dispensáveis em Hollywood, como o thriller “Fortaleza Proibida” (1976), acabou aparecendo em clássicos que marcaram época, como “O Tambor” (1979), do alemão Volker Schlöndorff, “Os Fantasmas do Chapeleiro” (1982), do conterrâneo Claude Chabrol, e “Viva la Vie (1984), do também francês Claude Lelouch. A partir dos anos 1990, passou a fazer mais séries e telefilmes, diminuindo sua presença no cinema. Mesmo assim, estrelou algumas produções recentes, como “Ararat” (2002), do egípcio Atom Egoyan, sobre um tema que lhe interessava em particular, o genocídio armênio. Também contracenou com Henry Cavill (o Superman) em “Laguna” (2001). E estava finalizando um último longa, “Une Revanche à Prendre”, do francês Kader Ayd, com quem tinha trabalhado em 2005 em “Ennemis Publics”. Mesmo quando não era visto, Aznavour também era lembrado pelo cinema em suas trilhas sonoras. Ele é o compositor, por exemplo, de “She”, a canção tema do filme “Um Lugar Chamado Notting Hill”, estrelado por Julia Roberts. Lançada em 1974, a música liderou as paradas britânicas por 14 semanas e ficou entre as mais tocadas em diversos países. E voltou a demonstrar sua atualidade como parte da trilha do filme de 1999, na voz de Elvis Costello. Nos últimos 40 anos, ele ainda teve suas composições gravadas por cantores tão diferentes quanto Elton John, Sting, Bob Dylan, Placido Domingo, Céline Dion, Julio Iglesias, Liza Minnelli e Ray Charles.
Johnny Hallyday (1943 – 2017)
O cantor e ator Johnny Hallyday, considerado o “Elvis Presley francês”, faleceu aos 74 anos de um câncer no pulmão, na madrugada desta quarta-feira (6/12). “Johnny Hallyday partiu. Escrevo estas palavras incrédula, mas foi assim. Meu marido já não está mais aqui. Nos deixou esta noite como viveu sua vida: com valentia e dignidade”, escreveu sua mulher Laeticia. “Até o último momento, se manteve firme diante desta doença que o corroía há meses, dando a todos lições de vida extraordinárias”. Jean-Philippe Léo Smet, seu verdadeiro nome, nasceu em 1943. Filho da modelo Huguette Clerc e do cantor belga Léon Smet, viveu em Londres com o tio, um artista de variedades de quem “roubou” o nome artístico para lançar seu primeiro álbum em 1960, “Hello Johnny”. O sucesso veio no ano seguinte, com o lançamento da música “Viens Danser le Twist”, uma versão de “Let’s Twist Again”, de Chubby Checker, que o estabeleceu como o roqueiro mais bem-sucedido da França. Em 50 anos de carreira, ele entusiasmou três gerações francesas, gravando cerca de 40 álbuns, mais de mil músicas, e vendeu mais de 100 milhões de discos. Tornou-se um fenômeno desde jovem, a ponto de não poder sair de casa sem correr de multidões de fãs enlouquecidos, como numa cena da Beatlemania. Cidades da França proibiram seus shows, acusando-o de corromper a juventude. Foi chamado de belga infiltrado na França. Pior: quinta-coluna imperialista, responsável por contaminar a cultura francesa com o rock, nas palavras do presidente francês Charles de Gaulle, que o odiava. Mas nem o maior hit, “Noir c’est Noir” (1966), conseguiu ser ouvido fora da França, apesar das aparições no célebre programa de variedades “The Ed Sullivan Show”, que estourou as carreiras de Elvis e dos Beatles nos EUA. Isto o tornou uma figura cult nos mercados internacionais, marcando-o com o apelido de “a maior estrela do rock que você nunca ouviu falar”, maldosamente conferido pelo jornal USA Today. No Brasil, por sinal, poucos sabem que “Noir c’est Noir” é a versão original do sucesso “Quem Não Quer”, música gravada por Jerry Adriani no auge da Jovem Guarda. A comparação com Elvis Presley não se resumia ao rock. Assim como o cantor americano, ele se lançou no cinema numa série de comédias musicais, como “As Parisienses” (1962), em que cantou uma balada romântica para Catherine Deneuve, “D’où viens-tu… Johnny?” (1963), como par da cantora Sylvie Vartan, com quem formou um dos casais mais poderosos do rock francês, “Cherchez l’idole” (1964) e o psicodélico “Les Poneyttes” (1967). Também como o ídolo, optou por estrelar westerns como alternativa aos filmes em que vivia versões de si mesmo. Assim, virou o personagem-título de “O Especialista – O Vingador de Tombstone” (1969) no spaghetti-western de um especialista, o cineasta Sergio Corbucci, criador de “Django” (1966). Mas acabou se destacando em outro gênero: os filmes de crime. Ele surpreendeu a crítica ao estrelar “Point de Chute” (1970), do ator-diretor Robert Hossein, e “Détective” (1985), de ninguém menos que Jean-Luc Godard. Contudo, os melhores papéis vieram na fase final de sua carreira, quando grandes cineastas recorreram à sua presença icônica para humanizar personagens sinistros, como o ladrão de “Uma Passagem para a Vida” (2002), de Patrice Leconte, o suspeito de “Rios Vermelhos 2 – Anjos do Apocalipse” (2004), de Olivier Dahan, e o assassino de “Vingança” (2009), um dos melhores filmes do mestre do cinema criminal chinês Johnny To. Ele também chegou a filmar nos Estados Unidos, participando da comédia “Procurados” (2003), como um dos ladrões de uma gangue francesa em Chicago, além de “A Pantera Cor de Rosa 2” (2009). Enquanto rodava a continuação estrelada por Steve Martin, seus problemas de saúde se tornaram evidentes, levando-o a ser hospitalizado em Boston. Ele chegou a entrar em coma devido a um grave problema respiratório. Mesmo com o diagnóstico de câncer confirmado, ele continuou fazendo filmes. Suas últimas aparições no cinema foram nas comédias “Rock’n Roll: Por Trás da Fama”, de Guillaume Canet, e “Chacun sa Vie”, de Claude Lelouch, ambas lançadas neste ano. É tão difícil imaginar a França sem Johnny Hallyday que um cineasta, fã assumido, tentou visualizar exatamente isso, num filme em que Jean-Philippe Léo Smet nunca se tornou um roqueiro famoso. Intitulado “Jean-Philippe” (2006), o longa de Laurent Tuel deixa claro a influência colossal de Hallyday na cultura francesa do século 20. “Nós todos temos algo de Johnny. Nós não esqueceremos nem o nome, nem o rosto, nem a voz, sobretudo, nem as interpretações que, com um lirismo seco e sensível, pertencem hoje à história da música francesa. Ele fez entrar uma parte da América em nosso panteão nacional”, declarou o presidente da França, Emmanuel Macron.
Pierre Barouh (1934 – 2016)
Morreu o ator, diretor, cantor e compositor francês Pierre Barouh, que ficou conhecido mundialmente ao cantar a música tema do filme “Um Homem, uma Mulher” (1966). Ele também tinha profunda ligação com a música brasileira. Barouh esteve internado em um hospital de Paris por cinco dias e morreu de insuficiência cardíaca na quarta-feira (28/12), aos 82 anos. Criado nos subúrbios parisienses em uma família judia, ele foi jornalista e atleta, chegando a participar da seleção francesa de vôlei antes de vir pela primeira vez para o Brasil, onde fez amizade com os principais cantores e compositores da bossa nova. O cantor foi considerado uma espécie de embaixador da música brasileira na Europa e chegou a gravar “Noite dos Mascarados”, num dueto com Elis Regina, além de ter feito, em parceria com Baden Powell, o célebre “Samba da Benção”, ou “Samba Saravah” como é conhecido na França, cuja letra homenageia gênios musicais do país, de Pixinguinha a Vinicius de Moraes. “Saravah” também foi título de um documentário que Barouh dirigiu em 1972, sobre os primórdios da bossa nova. Ele comandou outros três filmes, dois deles de ficção, e ainda atuou como ator em 20 produções, inclusive no clássico “Um Homem, uma Mulher”, de Claude Lelouch, e em “Arrastão” (1967), no qual contracenou com brasileiros como Cécil Thiré, Jardel Filho e Grande Otelo. Ele ainda manteve a colaboração com Lelouch (e com o parceiro compositor Francis Lai) ao longo dos anos, seja escrevendo temas de filmes como “A Nós Dois” (1979), “Retratos da Vida” (1981) e “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois”, seja como ator, em “Outro Homem, Outra Mulher” (1977) e “Tem Dias de Lua Cheia” (1990). Às vezes, até as duas coisas, como em “A Coragem de Amar” (2005). Mas apesar dos múltiplos talentos, fez muito mais sucesso como compositor. Suas músicas foram interpretadas por estrelas francesas que marcaram época, como Yves Montand e Francoise Hardy. Confira abaixo cinco gravações clássicas, ressaltando que apenas “Noite dos Mascarados” não é de sua autoria.









