Lewis Gilbert (1920 – 2018)
Morreu o diretor Lewis Gilbert, lendário cineasta britânico, responsável por mais de 40 filmes, entre eles três longas de James Bond e três dos melhores dramas já feitos no cinema mundial. Ele tinha 97 anos. Nascido em Londres em 1920, Gilbert começou a carreira como ator infantil em “Dick Turpin” (1934) e chegou a ter um papel não creditado ao lado de Laurence Olivier em “O Divórcio de Lady X” (1938). Mas, ao final da adolescência, decidiu mudar seu foco para a direção, conseguindo trabalho na equipe do clássico “A Estalagem Maldita” (1939), de Alfred Hitchcock. Ele desenvolveu sua aptidão pelo registro cinematográfico em plena 2ª Guerra Mundial, durante a qual trabalhou para a unidade de filmes da Royal Air Force, realizando documentários. Esta experiência lhe abriu as portas da indústria do cinema britânico, lançando sua carreira de diretor com uma série de filmes noir nos anos 1950. Mas após dirigir clássicos do gênero, como “Os Bons Morrem Cedo” (1954) e “A Sombra do Pecado” (1955), demonstrou vocação para cenas de ação vertiginosas, ao levar para as telas a guerra que presenciou de verdade. O diretor virou um expert em filmes de combate. Ele dominou o gênero por meio de clássicos como “O Céu ao Seu Alcance” (1956), “Amanhã Sorrirei Outra Vez” (1958) e o incomparável “Afundem o Bismarck” (1960). Este filme se tornou um dos maiores sucessos do cinema britânico da época e o levou a outro blockbuster marítimo, “Revolta em Alto Mar” (1962). Ao atingir seu auge no cinema de ação, resolveu diversificar com o romance “Fruto de Verão” (1961). Mas a grande virada veio com um dos maiores clássicos do cinema britânico, “Alfie” (1966), que ganhou no Brasil o título de “Como Conquistar as Mulheres”. Revolucionário para a época, o filme em preto e branco trazia o jovem Michael Caine como um gigolô cínico que, no processo de explorar mulheres ricas, acabava se compadecendo de uma jovem pobre que decide abortar. Esta história forte era narrada com sensibilidade e humor, além de trazer elementos marcantes, como o visual e a vibração da era mod da Swinging London, ao mesmo tempo que se filiava ao “kitchen sink realism”, um movimento do cinema britânico que focava os dramas da classe baixa do país. Entretanto, também se diferenciava de tudo o que existia no cinema da época por incluir um artifício até então inusitado, em que o protagonista abandonava a trama por alguns minutos para se dirigir ao público com comentários mordazes sobre seu comportamento ou o que acontecia na história. No jargão teatral, isso se chama “quebrar a quarta parede”, com o detalhe de que, o que hoje parece normal num filme de Deadpool, era uma grande novidade em 1966. “Alfie” venceu o Prêmio Especial do Júri em Cannes e recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. A repercussão do longa fez Gilbert ser procurado pelos produtores Harry Saltzman e Albert R. Broccoli para dirigir o quinto filme de James Bond, “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes” (1967), em que Sean Connery enfrentou o grande vilão da franquia, Ernst Stavro Blofeld (vivido por Donald Pleasence). Ele filmaria mais dois títulos do agente secreto, retornando em “007 – O Espião Que Me Amava” (1977), o melhor dos longas estrelados por Roger Moore, e sua continuação imediata, “007 Contra o Foguete da Morte” (1979), passado no espaço. No intervalo desses filmes, ainda filmou o sucesso de guerra “Alvorada Sangrenta” (1975). Sua carreira entrou em nova fase nos anos 1980, quando se concentrou em produções “menores”, pelo menos em termos de orçamento. O impacto, porém, foi dos maiores. Ao voltar a se reunir com Michael Caine em “O Despertar de Rita” (1983), criou um dos marcos do chamado “novo cinema britânico”, mesmo sendo um diretor da “velha guarda”. “O Despertar de Rita” girava em torno da dona de casa do título, vivida por Julie Walters, que decidia completar sua educação antes de ter filhos. Mas conforme aprendia e tinha contato com cultura, mais se distanciava do marido, até se separar. Caine viveu seu professor e os dois atores foram indicados ao Oscar – venceram o Globo de Ouro. O filme, por sua vez, conquistou o BAFTA, o prêmio da Academia britânica. O cineasta voltou a abordar uma mulher em crise de meia idade em outro filme marcante, “Shirley Valentine” (1989). Vendo a vida estagnada, a protagonista interpretada por Pauline Collins tinha uma mudança de perspectiva ao viajar com amigos para a Grécia e, no processo, resolve acordar para o que deseja de verdade. O longa rendeu indicação ao Oscar para Collins – que venceu o BAFTA – e nova história de lição de vida eternizada pelo cinema. Gilbert ainda fez três filmes antes de encerrar a carreira: o musical “O Despertar do Sucesso” (1991), estrelado por Liza Minnelli, o terror “Ilusões Perigosas” (1995), com Aidan Quinn e Kate Beckinsale, e a comédia dramática “Antes de Você nos Deixar” (2002). A evocação de sua carreira ajuda a lembrar que, embora Hollywood sugira o contrário, são na verdade raras as vezes em que o cinema produz filmes relevantes de fato, que exprimem as mudanças de suas épocas com precisão, servindo de guia e exemplo. Lewis Gilbert fez esta raridade acontecer três vezes em sua vida, abordando personagens contemporâneos da classe baixa e não os aristocratas de antigamente, que predominam até hoje no cinema britânico. Ao educar Rita, Alfie e Shirley Valentine, ele presenteou o público com personagens engraçados, dramáticos e reais, que poucas vezes se materializaram de forma tão envolvente nas telas. E isto não aconteceu por mero acaso. Lewis Gilbert foi um dos grandes mestres do cinema.
Paterson eleva o cotidiano com poesia cinematográfica
Quantas vezes deixamos passar momentos preciosos de nossas vidas só porque eles não parecem dignos de serem lembrados – por não serem, por assim dizer, extraordinários? E quantas vezes deixamos de perceber que estamos, sim, diante de momentos extraordinários, apesar de ordinários? É tudo uma questão de perspectiva, de olhar a vida como poeta, de perceber a beleza nos detalhes, como a posição dos sapatos de uma dupla de pessoas que conversam no ônibus ou uma simples caixa de fósforos. Isso pode ser alimento para a poesia. “Paterson”, o novo trabalho de Jim Jarmusch, serve para lembrar disso. E o faz com uma beleza e uma humanidade tão delicada que combina muito bem com seu personagem-título, vivido por Adam Driver. Trata-se, aliás, do melhor papel de sua carreira até o momento, superando e contrastando com o intenso Adam, seu personagem em “Girls”, a série recém-encerrada de Lena Dunham. Paterson, ao contrário de Adam, tem uma sobriedade e uma serenidade para lidar com a vida que dá até vontade de tomar como exemplo. Quando um colega de trabalho pergunta sobre sua vida, ele diz que está tudo bem, enquanto o tal colega está sempre reclamando de algumas coisas (várias, na verdade). Mas, de fato, Paterson é um homem de sorte: é casado com uma mulher amável e que ele ama (lindas as cenas do amanhecer, com os dois na cama), tem uma rotina tranquila em um bairro tranquilo e consegue tempo para transformar os seus pensamentos em poemas, os quais guarda em um caderninho. Sua esposa Laura (a iraniana Golshifteh Farahani, de “Procurando Elly”, de Asghar Farhadi) tenta fazer com que Paterson faça uma cópia de seus escritos e mostre ao mundo seus belos poemas. Ele, porém, hesita. O filme não diz, mas talvez a fama ou uma possível e indesejada mudança de rotina atrapalhasse o modo como ele vê a vida. Esse talvez seja um dos motivos também de ele não querer um telefone celular ou mesmo um computador. A vida de motorista de ônibus, para ele, lhe basta, provavelmente. A esposa gosta de pintar coisas em sua casa e planeja ser cantora de música country, além de cozinheira de cup cakes e outras novidades, geralmente com uma obsessão pelo contraste entre o preto e o branco. Quanto a Paterson, sua poesia se nutre do cotidiano, que se faz necessário na rotina de uma pessoa comum – no caso, alguém que é motorista de ônibus, é casado, tem um cachorro que leva para passear e que também gosta de tomar uma cerveja no mesmo bar todos os dias. Além do mais, no ônibus, ele aprecia ouvir as conversas dos passageiros. Tudo é combustível para sua poesia. Por outro lado, a opção narrativa de Jarmusch, de apresentar os eventos separados em dias da semana, parece antecipar algo de muito extraordinário ou mesmo perigoso. Afinal, isso é comum em filmes que abordam motoristas. Mas se há algo que vai mexer com o equilíbrio de Paterson no desenrolar da trama – e também afetar o telespectador – , não é nenhum fim do mundo. O sentimento despertado pelo filme não é apenas um modo de envolver o público com o personagem, mas também uma forma de encontrar afinidade no que se refere à valorização da arte como meio de expressar de forma transcendental a vida. A arte nos eleva. E de vez em quando é bom sair de um filme que consegue passar uma mensagem sobre a linguagem lírica utilizando a força da palavra sensível, falada e escrita, mas também extraindo poesia do próprio fazer cinematográfico.
Série clássica The Honeymooners deve ganhar remake
De olho no sucesso das produções de apelo nostálgico, a rede CBS está planejando o remake da série “The Honeymooners”, grande sucesso da década de 1950. Criada e estrelada pelo genial Jackie Gleason, a série de 1955 acompanhava dois melhores amigos da classe trabalhadora, um motorista de ônibus e um limpador de fossas, que tentavam encontrar uma forma de ganhar dinheiro enquanto testavam a paciência de suas esposas. A série só teve oficialmente uma temporada de 39 episódios, mas acabou retomada com outro nome, “The Jackie Gleason Show”, que durou até os anos 1970. Sua trama clássica inspirou até a premissa de “Os Flintstones” (1960). Segundo o site The Hollywood Reporter, a versão modernizada deve girar em torno de dois casais, vizinhos e melhores amigos, assim como na original. Mas a amizade adquire uma nova dinâmica quando um dos casais casa-se outra vez e um novo cônjuge é introduzidos na amizade. O remake está sendo desenvolvido por Bob Kushell, responsável por outro recente reboot, “Os Muppets”, que por sinal fracassou. Seu roteiro precisará ser aprovado para ser transformado em piloto, segunda etapa na busca por agradar aos executivos da TV e virar série.


