François Ozon leva o thriller erótico ao limite ginecológico no Festival de Cannes
Um dos filmes mais esperados pela crítica francesa no Festival de Cannes, o thriller erótico “L’Amant Double”, novo longa de François Ozon (“Frantz”), dividiu opiniões, chegando a chocar o público normalmente blasé. Arrancando arroubos de “genial” e “lixo”, no mínimo deixou uma impressão forte. Não foi por acaso que a primeira foto divulgada pela produção trazia seus atores nus. Aquela era uma cena tímida do filme, como demonstrou o primeiríssimo take da produção: um close-up ginecológico da protagonista, a corajosa Marine Vacht, que o próprio Ozon lançou em Cannes em 2013, no drama “Jovem e Bela”. Assim como naquele filme, “L’Amant Double” também aborda perturbações da mente feminina. Na trama, Vacht procura um psicólogo para deixar de somatizar suas angústias, que lhe causam dores constantes. As sessões são tão boas que ela se apaixona e planeja se casar com o médico, vivido pelo belga Jérémie Renier, presença constante nos filmes dos irmãos Dardenne. Mas ele esconde a existência de um irmão gêmeo sedutor, também terapeuta. E a descoberta precipita na jovem uma obsessão. Na entrevista coletiva, Ozon disse que se divertiu testando até onde poderia levar o gênero do thriller erótico, que ele já tinha visitado em “A Piscina” (2003). “Eu vinha de uma experiência com uma narrativa mais tradicional (o drama de época ‘Frantz’), então foi natural me voltar para o filme de gênero, o thriller erótico, e brincar com os seus códigos. Sempre procuro não me repetir”, explicou o diretor. Sobre a cena inesquecível que abre o longa, o diretor assumiu que quis mostrar algo diferente e provocador de imediato, uma imagem que não tinha visto com tanto destaque numa tela grande de cinema. “Como menino, eu não fui a clínicas ginecológicas. E ainda sou um menino curioso”, comentou. Na tela, a imagem explícita rapidamente se funde com outro close, do olho lacrimejante da protagonista. O efeito desconcertou o público, rendendo aplausos e gargalhadas nervosas. “É uma forma de estabelecer de cara as intenções do filme, que fala de uma mulher curiosa e cheia de emoções aprisionadas dentro de si”, explicou pacientemente Ozon. “Ao mostrar a genitália e os olhos da personagem, estamos abrindo o jogo desde o início sobre o caminho que estamos seguindo, que é descobrir o que acontece com o corpo e a mente dessa mulher”. E que viagem revela este caminho, repleta de perversões sexuais que o presidente do júri do festival deste ano, Pedro Almodóvar aprovaria – como demonstram filmes como “Kika” (1993) e “A Pele que Habito” (2011). Mas as principais influ~encias são thrillers de Brian De Palma (“Vestida para Matar”) e Peter Cronenberg (“Gêmeos – Mórbida Semelhança”). O próprio Ozon assumiu suas influências. “Eu amo a forma como De Palma desconstrói o thriller e como ele se diverte brincando com os códigos do gênero”, disse Ozon, acrescentando: “Cronenberg também”. “Eu sou um cineasta cinéfilo, então eu acho que não são necessariamente coisas específicas que me influenciam, mas um conjunto de elementos do meu inconsciente”, acrescentou. Mesmo assim, a semelhança com “Gêmeos – Mórbida Semelhança” é a mais óbvia da trama. Ozon confessou que quis rever o filme de Cronenberg para se distanciar dele, antes de começar a filmar. “Eu me vi forçado a rever o filme de Cronenberg. A diferença é que em ‘Gêmeos’, a história é contada do ponto de vista dos irmãos. A minha é contada da perspectiva da vítima deles”, adiantou, quase dando spoiler.
Filme sobre Rodin é a maior decepção do Festival de Cannes
“Rodin”, de Jacques Doillon, era um dos filmes franceses mais aguardados do Festival de Cannes. E isto dá a dimensão da decepção com que sua projeção foi recebida. Um crítico chegou a vociferar “É um filme antigo”, tão logo as luzes se acenderam. Mas muitos outros foram embora bem antes disso. No extremo oposto de “Le Redoutable”, de Michel Hazanavicius, que tomou liberdades para transformar o cineasta Jean-Luc Godard em personagem de comédia, “Rodin” tentou ser reverente demais. E se tornou convencional como um teledrama. Para piorar, transformou as mulheres importantes da vida do escultor em meras coadjuvantes, inclusive relevando sua rejeição à assistente Camile Claudel (vivida por Izïa Higelin, de “Um Belo Verão”) como causa do colapso mental da artista. Neste sentido, é quase um anti-“Camille Claudel”, o clássico de 1988 que contou essa história por outro ponto de vista. Estrelado por Vincent Lindon, que já foi premiado em Cannes por “O Valor de um Homem” (2015), o filme acompanha o escultor aos 40 anos, quando ele recebe sua primeira encomenda do Estado, criando a famosa obra “Porta do Inferno”. Há especial atenção para detalhar seu processo criativo, mas os recursos utilizados para isso são antiquados, com leituras de cartas, narrações e personagens que conversam consigo mesmo em voz alta. O mais incômodo, porém, é a forma como as mulheres de sua vida são retratadas como histéricas. Ele usa e abusa de cada uma delas, mas é um artista. Elas querem definição de relacionamento e são loucas. “As esculturas de Rodin são muito sensuais, e ele também era um homem muito sensual. Rodin amava o corpo feminino. Eu o teria traído se deixasse de lado esse aspecto de sua personalidade” justificou-se o diretor Jacques Doillon (“O Casamento a Três”), durante a entrevista coletiva do festival. O cineasta defende que Rodin era um homem irresistível e que suas palavras e atos no filme são baseados em pesquisa intensa. “Tudo o que Rodin diz no filme é resultado de muita pesquisa, ainda que também de muita fantasia minha. Ele, que não gostava de escrever, não deixou muito material escrito. Mas aqueles que conviveram com ele na época deixaram referências sobre o que ele disse e pensava. Então, posso afirmar que aquilo que o personagem diz no filme é o que o próprio Rodin teria dito em vida”, garantiu Doillon no encontro com a imprensa. Talvez a crítica esperasse que um filme sobre um artista genial fosse contaminado pelo talento retratado. Mas a reverência acadêmica de Doillon revela-se pouco adequada para integrar um festival, especialmente o Festival de Cannes.
Michael Haneke filma burguesia para falar de crise humanitária em Cannes
Apresentado como um drama sobre a crise da imigração na Europa, o novo filme de Michael Heneke (“Amor”), que compete no Festival de Cannes, foca o tema apenas de forma ambígua, como um elemento secundário. Na verdade, “Happy End” é um drama sobre uma família burguesa de Calais, no Norte da França, onde existiu um dos maiores campos de refugiados europeus. Mas, segundo o diretor, o que não se vê destacado na tela é que é importante. E ele explicou porquê, durante a entrevista coletiva do festival. Em “Happy End”, a atriz Isabelle Huppert (“Elle”), que realiza seu quarto filme com o diretor, vive a chefe da família Laurent, administrando a empresa construtora do pai (Jean-Louis Trintignant, de “Amor”), um viúvo octogenário que não quer mais viver. Uma curiosidade da trama é que os personagens de ambos parecem ser os mesmos de “Amor”. Mas o tom, entretanto, é de ódio. As tensões entre os membros da família se tornam cada vez mais evidentes, envolvidos com negócios, divórcios, filhos negligenciados, ao mesmo tempo em que o filme ressalta seus privilégios de classe. Já a crise humanitária é sugerida apenas levemente, pela presença dos serviçais da família e os imigrantes que perambulam pelas ruas da cidade. Segundo o diretor, isso é proposital e reflete a forma como os personagens veem o mundo. “Essa história poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, não é sobre a situação em Calais, especificamente. O que o ambiente do filme pode fornecer é a ideia do quanto nos tornamos alheios à realidade à nossa volta”, apontou Haneke, na entrevista coletiva do festival. “Não é tão óbvio quanto parece, porque na realidade não há grandes surpresas nem artifícios em ‘Happy End’. Mas, sim, queria que ficassem claras as linhas que sobrevoam o argumento. Minha aposta é mostrar o menos possível para que seja a imaginação do espectador que complete o filme”. Mesmo assim, ele não reforça nenhum ponto com esclarecimentos necessários. “Não quero responder sobre os imigrantes, porque é você quem tem que responder a essa pergunta. Eu coloco pistas para o espectador e ele tem que encontrar suas respostas”, disparou, diante da tentativa de se criar um esboço mais claro de suas intenções. Mas Haneke não quer deixar nada claro. Ele busca provocar a imaginação desde as primeiras cenas de “Happy End”, que são perturbadoras, criadas pelo diretor de 75 anos com imagens de aplicativos de telefone. A opção também visou ressaltar que o excesso de informação da vida moderna não ensina nada sobre como se deve viver. “Há uma certa amargura no tipo de vida que levamos”, ele observou. “Somos constantemente inundados por informações, mas continuamos sem aprender nada com elas. A única coisa que conhecemos vem das nossas experiências pessoais.” Diante disso, torna-se inevitável questionar o título. Afinal, qual é o final feliz da história? Assim como todo o filme, Jean-Louis Trintignant explicou que o desfecho é propositalmente ambíguo. “Michael decidiu que seria assim, e, por isso, eu também estou contente”.
Greta Gerwig e Mia Wasikowska filmarão na ilha em que morou Ingmar Bergman
A francesa Mia Hansen-Love, premiada como Melhor Diretora no Festival de Berlim deste ano por “O Que Está Por Vir?”, vai filmar seu primeiro longa falado em inglês, após dez anos de carreira. Intitulado “Bergman Island”, a produção será estrelada por Greta Gerwig (“Francis Ha”), Mia Wasikowska (“Alice Através do Espelho”) e John Turturro (“Transformers”). Escrito pela própria diretora, o filme vai se passar nas Ilhas Faroe, onde o cineasta sueco Ingmar Bergman (“O Sétimo Selo”, “Morangos Silvestres”) viveu os últimos anos de sua vida. A trama gira em torno de um jovem casal de cineastas americanos, que prepara os roteiros dos próximos filmes de suas carreira, buscando se inspirar no local em que viveu um dos maiores mestres da sétima arte. Segundo a sinopse, na medida em que o tempo avança, as linhas entre ficção e realidade começam a se confundir. O detalhe é que a metalinguagem que parece existir no projeto também pode incluir entrelinhas autobiográficas. Não se sabe até que ponto o romance entre Mia Hansen-Love e o cineasta francês Olivier Assayas (“Personal Shopper”), possa ter servido de inspiração para o projeto. A estreia de “Bergman Island” só deve acontecer em 2019.
Diretor de O Artista ousa fazer Festival de Cannes rir de Godard
Além de Netflix, o Festival de Cannes também teve cinema neste domingo (21/5). Um filme sobre cinema, para deixar bem claro: o francês “Le Redoutable”, de Michel Hazanavicius (diretor de “O Artista”), sobre o lendário cineasta Jean-Luc Godard. Abordar um personagem tão complexo como Godard, que continua ativo aos 86 anos, foi considerado um desafio, que Hazanavicius transformou em comédia. “Algumas pessoas provavelmente pensam que contar a história de Godard é blasfêmia”, disse o diretor à imprensa. “Meus amigos estavam preocupados. Mas ele não é meu herói ou meu Deus. Godard é como o líder de uma seita e eu sou um agnóstico”. Mesmo assim, Hazanavicius não vê problema em crucificar Godard. Seu filme encontra o cineasta em crise, renegando sua filmografia em meio ao contexto das rebeliões de maio de 1968 na França, logo após filmar “A Chinesa” (1967) sobre uma estudante marxista-maoista, vivida por Anne Wiazemsky, sua musa e esposa. O que atraiu Hazanavicius ao projeto foi o livro de memórias de Wiazemsky, a francesa de origem alemã que cativou os diretores da nouvelle vague. Em 1966, com 18 anos, ela estrelou o filme de Robert Bresson “A Grande Testemunha”, e, durante a filmagem, conheceu Godard, com quem se casou um ano depois. Segundo o diretor, o livro explica como a ainda adolescente ficou apaixonada pelo cineasta de meia-idade, que se mantinha espirituoso, charmoso e rebelde numa época em que a juventude não confiava em ninguém com mais de 30 anos. “Todo mundo já ouviu falar que ele era um cara difícil. Para mim, isso não poderia ter sido toda a história. Havia claramente algo muito sedutor sobre ele”. “É por isso que eu queria que Louis Garrel vivesse Godard”, completou, referindo-se à fama de sex symbol do ator francês, que na tela contracena com a jovem Stacy Martin (revelação de “Ninfomaníaca”). A própria Anne Wiazemsky elogiou a transformação de Garrel, algo que chamou atenção de toda a crítica. “Fiquei hipnotizada com a semelhança alucinante entre Louis Garrel e Jean-Luc. Fala como ele”, declarou a atriz de 69 anos. O que Godard exprime no filme da Hazanavicius, porém, é pura amargura, resultado da impossibilidade de ser jovem para sempre, da dificuldade de revolucionar a sociedade e o cinema como desejaria, e da insustentabilidade de seu casamento. A personalidade difícil não perdoa nem seus fãs, porque gostam de filmes que ele já considerava antigos e ultrapassados em 1968. O mau humor permanente gera frases impagáveis, mas também conduz à situações de pastelão, em que o protagonista sempre quebra seus óculos no final das piadas. Hazanavicius retoma os truques de “O Artista”, ao transformar as características da nouvelle vague em clichês, que ajudam a informar as cenas, ao mesmo tempo em que cutuca Godard e a geração de 1968, ao insinuar que era uma loucura o cineasta desdenhar de seus melhores filmes, especialmente porque ele não sabia nada sobre a luta de classes dos proletários que supostamente abraçava com “A Chinesa”. É realmente uma heresia para os cinéfilos que ainda acreditam que Godard é Deus. E são muitos, como se viu pela quantidade de críticos que considerou seu último filme experimental como um dos melhores do ano passado. “Estou preparado para o pior, mas espero o melhor”, completou o diretor, ciente do que fez.
Festival de Cannes completa 70 anos de relevância cinematográfica
O Festival de Cannes começa nesta quarta-feira (17/5) sua 70ª edição, repleto de estrelas e provocações, mas também em clima de medo por ataques terroristas e em meio a uma polêmica de mercado. Em seu aniversário de 70 anos, o evento promete uma disputa acirrada pela Palma de Ouro, já que privilegiou cineastas veteranos. São todos nomes de peso. Mesmo assim, entre os diretores da mostra competitiva, apenas o austríaco Michael Haneke já foi premiado. E ele venceu duas vezes: por “A Fita Branca” (2009) e “Amor” (2012). Seu novo filme é “Happy End”, sobre a crise dos refugiados na Europa, em que volta a trabalhar com Isabelle Huppert após “Amor”. A abertura do evento está a cargo de “Les Fantômes d’Ismael”, do francês Arnaud Desplechin (“Três Lembranças da Minha Juventude”), com Marion Cotillard. “Talvez eu não devesse dizer isto, mas não é fácil ser um diretor francês em Cannes”, afirmou o cineasta na entrevista coletiva de seu filme. “Há uma tensão, uma pressão com a imprensa, os espectadores… Há menos indulgência com os cineastas do país”. Apesar dessa declaração, há mais franceses que nunca no festival deste ano. A seleção reúne alguns dos cineastas mais famosos da nova geração do país. A lista inclui “L’Amant Double”, do sempre excelente François Ozon (“Dentro da Casa”), “Le Redoutable”, filme sobre Godard de Michel Hazanavicius (“O Artista”), “Rodin”, a cinebiografia do mestre da escultura com direção de Jacques Doillon (“O Casamento a Três”), e “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo, responsável por “Eles Voltaram” (2004), que deu origem à série “Les Revenants”. Por sua vez, os americanos se destacam com “Wonderstruck”, novo filme feminino de Todd Haynes (“Carol”), estrelado por Julianne Moore e Michelle Williams, “Good Time”, dos irmãos Ben e Joshua Safdie (“Amor, Drogas e Nova York”), com Jennifer Jason Leigh e Robert Pattinson, “The Meyerowitz Stories”, do cineasta indie Noah Baumbach (“Frances Ha”), que junta Adam Sandler e Ben Stiller, e o western feminista “The Beguiled”, de Sofia Coppola (“Bling Ring”), remake de “O Estranho que Nós Amamos” (1971), com Nicole Kidman, Colin Farrell, Kirsten Dunst e Elle Fanning. Outros destaques incluem “You Were Never Really Here”, da escocesa Lynne Ramsay (“Precisamos Falar Sobre o Kevin”), em que Joaquin Phoenix luta contra o tráfico sexual, “The Killing of a Sacred Deer”, segundo filme do grego Yorgos Lanthimos estrelado por Colin Farrell, após o sucesso de “O Lagosta” (2015), e o retorno de cineastas sempre apreciados no circuito dos festivais, como Sergei Loznitsa (“Na Neblina”), Hong Sangsoo (“A Visitante Francesa”), Bong Joon-Ho (“Expresso do Amanhã”), Naomi Kawase (“Sabor da Vida”), Fatih Akin (“Soul Kitchen”), Andrey Zvyagintsev (“Leviatã”) e Kornél Mandruczó (“White Dog”). Apenas três filmes são dirigidos por mulheres (Coppola, Kawase e Ramsay), mesmo número da seleção do ano passado. Mas o que tem mais se discutido na véspera do festival é a representação da Netflix na competição. Os exibidores franceses fizeram pressão contra os organizadores por terem selecionado dois filmes que não serão exibidos nos cinemas: “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach, e “Okja”, de Bong Joon-Ho. Ambos serão disponibilizados apenas via streaming na França, pois os exibidores não abrem mão de uma janela de 36 meses de exclusividade, antes que um filme possa ser disponibilizado por via digital no país. Por conta da controvérsia, o festival acabou se comprometendo a não selecionar mais filmes com distribuição exclusiva em streaming. Mas a questão é bem mais complexa que simplesmente barrar longas produzidos pela Netflix. No ano passado, o filme vencedor da Câmera de Ouro, o francês “Divines”, foi adquirido pela Netflix após passar no festival e não respeitou a janela de 36 meses para entrar no catálogo da plataforma de streaming. O presidente do júri deste ano, o espanhol Pedro Almodóvar, já se posicionou a respeito da polêmica, afirmando que seria um paradoxo que um filme premiado em Cannes não pudesse ser visto nos cinemas. “Seria um enorme paradoxo que uma Palma de Ouro (…) ou qualquer outro filme premiado não pudesse ser visto em salas” de cinema, disse Almodóvar, convocando as plataformas de streaming a “aceitar as regras do jogo”. A discussão ainda vai longe, conforme o mercado evolui com as novas tecnologias, como a digitalização que as próprias salas de cinema atualmente usufruem. E vale lembrar que até cartaz do festival (foto acima) foi acusado de retocar digitalmente as curvas clássicas de Claudia Cardinale. Maladies du 21ème siècle. Mas o simples fato de Cannes estar no centro da polêmica comprova a relevância duradoura do evento, 70 anos após seu primeiro tapete vermelho.
Louis Garrel vive Jean-Luc Godard em novo teaser de cinebiografia
O filme francês “Le Redoutable”, em que o ator Louis Garrel (“Dois Amigos”) vive o cineasta Jean-Luc Godard, ganhou cinco fotos e um novo teaser. Com legendas em inglês, a prévia registra Godard em meio a uma passeata, possivelmente durante a primavera de Paris. O diálogo desdenha do Festival de Cannes, que em 1968, pela única vez em sua história, foi interrompido em função dos protestos sociais que agitaram a França no período. Além de Garrel, que está irreconhecível com as entradas de calvice de Godard, o elenco também destaca Stacy Martin, revelação de “Ninfomaníaca” (2013), como a atriz alemã Anne Wiazemsky. O filme vai contar o romance entre Godard e Wiazemsky, iniciado nos bastidores de “A Chinesa”, em 1967. Ela tinha apenas 19 anos na época, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década. A trama é baseada no livro autobiográfico “Un An Après”, de Wiazemsky, e tem direção de Michel Hazanavicius, que retorna ao tema dos bastidores cinematográficos de “O Artista”, seu filme mais conhecido – e que lhe rendeu do Oscar de Melhor Direção em 2012. “Le Redoutable” terá sua première no Festival de Cannes 2017 e fará sua estreia comercial em setembro na França. Ainda não há previsão para seu lançamento no Brasil.
Victor Lanoux (1936 – 2017)
Morreu o ator francês Victor Lanoux, que estrelou a bem-sucedida comédia romântica “Primo, Prima” (1975), indicada a três Oscars. Ele faleceu na quinta (4/5), após sofrer um derrame, aos 80 anos. Em “Primo, Prima”, o personagem de Lanoux encontra sua prima, vivida por Marie-Christine Barrault, em um casamento da família, enquanto sua mulher têm um affair com o marido dela. Os dois se tornam amigos, mas logo percebem que uma relação platônica não faz sentido e se deixam apaixonar. Em sua crítica, o célebre Roger Ebert escreveu que Lanoux e Barrault deram ao público “um dos casais mais atraentes e agradáveis em filmes recentes… Eles dançam, compartilham pequenas coisas sobre si mesmos e permitem nascer uma súbita, saudável e sensual afeição”. A comédia foi indicada ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, Atriz (Barrault) e Roteiro Original (Jean-Charles Tacchella, que também dirigiu). E acabou ganhando um remake americano, “Um Toque de Infidellidade” (1989), com Ted Danson e Isabella Rossellini. O papel rendeu a Lanoux sua única indicação como Melhor Ator no César (o Oscar francês). Mas, curiosamente, no mesmo ano ele também concorreu como coadjuvante pelo thriller policial “Adeus, Bruto” (1975). Sua filmografia, por sinal, é repleta de sucessos, mas nenhum foi tão grande quanto “Primo, Prima”. Entre os destaques, incluem-se “O Doce Perfume do Adultério” (1976) e sua sequência, “Vamos Todos para o Paraíso” (1977), ambos dirigidos por Yves Robert. Mas o público da Sessão da Tarde pode lembrá-lo melhor como o ladrão na agência de viagens romana de “Férias Frustradas II” (1985), que dá para a família Griswold as chaves de um carro com um refém no porta-malas. Ele acabou se afastando dos cinemas ao estrelar a série de sucesso “Louis la Brocante”, entre 1998 e 2013, como o antiquário Louis Roman, que trabalha com detetive nas horas de folga, além de intercalar outro papel-título na série policial “Commissaire Laviolette”, cujo último episódio foi ao ar no ano passado. Seus problemas de saúde começaram em 2007, quando um aneurisma o levou a ser operado, mas um erro médico, durante a cirurgia, deixou-o paraplégico. Isto não o impediu de continuar atuando, muito menos de se casar com a diretora Véronique Langlois, que o comandou em “Louis la Brocante” e foi seu apoio nas horas mais difíceis. Os médicos lhe tinham dito que ele nunca mais andaria, mas a mulher o convenceu do contrário, e ele conseguiu seu milagre, voltando a atuar e a sobreviver a novas cirurgias cardíacas, aproveitando, ao final, uma década de vida de casado.
Além da Ilusão traz Natalie Portman em premissa intrigante, mas mal explorada
Há bons motivos para se ver “Além da Ilusão”. O primeiro deles está no fato de a diretora Rebecca Zlotowski ser roteirista do excepcional “Apesar da Noite”, de Philippe Grandrieux. O segundo está na presença de Natalie Portman como protagonista. E há também a jovem filha de Johnny Depp, Lily-Rose, na história de duas irmãs que têm o dom de se comunicar com os mortos e que atraem a atenção de um produtor de cinema francês que deseja registrar com câmeras o fenômeno. De fato, o espectador é fisgado no início com uma história intrigante, com as duas irmãs se apresentando em um teatro de vaudeville para um número considerável de pessoas. O espetáculo mostra a comunicação com uma pessoa falecida. Igualmente curioso é o convite que recebem para mostrar seus dons no cinema, já que, mesmo àquela altura, havia efeitos especiais que poderiam enganar as plateias facilmente, seja por meio de truques de edição, seja mexendo no próprio negativo, como quer fazer um dos amigos do produtor, vivido por Emmanuel Salinger, que resolve acolher as duas irmãs americanas em sua casa. O tal produtor é um homem que vive recluso. Não é casado e diz que quer se comunicar com o irmão falecido. Acontece que a presença que aparece na sessão mediúnica não é do irmão, mas de outra pessoa desconhecida. Mas ainda assim a sessão mediúnica se torna muito interessante para o homem, pois o conduz a uma sensação de prazer erótico totalmente inesperada. A fotografia e outros aspectos técnicos são agradáveis de ver. E mesmo com tudo isso a seu favor, a diretora Rebecca Zlotowski, em seu terceiro trabalho na direção, após “Grand Central” (2016) e “Belle Épine” (2010) com Léa Seydoux, perde-se na condução da trama. Tudo surge em cena muito solto e vago, mal explorado. Por mais que haja algo de intrigante nas personagens femininas e em sua relação com o produtor de cinema, as motivações ficam no ar. “Além da Ilusão” carece de uma atmosfera de sonho ou de maior intriga diante do que se propõe. De todo modo, há algo de charmoso neste filme torto de Rebecca Zlotowski.
Dane DeHaan, Cara Delevingne e Rihanna ilustram coleção de pôsteres de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
A STX Entertainment divulgou oito pôsteres de personagens de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”, sci-fi do francês Luc Besson (“Lucy”, “O Quinto Elemento”). Além dos protagonistas Valérian (Dane DeHaan, de “O Espetacular Homem-Aranha 2”) e Laureline (Cara Delevingne, de “Esquadrão Suicida”), as artes destacam Bubble, a personagem da cantora Rihanna (série “Bates Motel”), e robôs e alienígenas da trama, baseada nos cultuados quadrinhos criados por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières em 1967. O filme acompanha os exploradores espaciais Valérian e Laureline em uma missão no planeta Sirte, para descobrir se seus habitantes representam um risco para a Terra. O elenco também inclui Clive Owen (série “The Knick”), Ethan Hawke (“Boyhood”), Rutger Hauer (“Blade Runner”) e o jazzista Herbie Hancock (“Por Volta da Meia-Noite”). A volta do cineasta francês à ficção científica espacial vai chegar aos cinemas duas décadas após “O Quinto Elemento”, com estreia marcada para 10 de agosto no Brasil – três semanas após o lançamento nos EUA.
Quadrinhos clássicos de Valerian serão relançados no Brasil antes da estreia do filme
Antecipando a estreia de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” nos cinemas, os quadrinhos clássicos que inspiraram o filme vão ganhar relançamento no Brasil. Criação do escritor Pierre Christin e do artista Jean-Claude Mézières, as aventuras de “Valerian” acompanham o personagem-título, um viajante espacial do século 28, que atravessa o tempo e o espaço ao lado da sua companheira Laureline, uma camponesa francesa do século 11, que ele salvou em sua primeira missão no passado. Considerado um dos maiores clássicos sci-fi dos quadrinhos europeus e contemporâneo de “Barbarella”, o herói espacial estreou nas páginas da revista Pilote em 1967 e, desde então, rendeu 21 álbuns (graphic novels), sendo o último publicado em 2010. Ao todo, o personagem já vendeu mais de 10 milhões de exemplares e foi traduzido para 21 línguas, tornando-se um marco nas histórias em quadrinhos europeias e da cultura pop. Sua influência, tanto de enredos quanto de design, pode ser sentida em diversos filmes de ficção científica, de “Guerra nas Estrelas” (1977), de George Lucas, a “Avatar” (2009), de James Cameron, passando por “O Quinto Elemento” (1997), de Luc Besson, responsável pela atual adaptação cinematográfica dos quadrinhos. “Eu escrevi duas vezes para o George Lucas em 40 anos. E nunca obtive uma resposta. Ninguém tampouco o ouviu mencionar a influência de ‘Valerian’ uma única vez”, reclamou Mézières, em entrevista ao jornal O Globo. “Se hoje se comenta sobre a influência dos meus desenhos em ‘Star Wars’, é porque eu e alguns amigos jornalistas falamos sobre isso. Mas não passo a vida assistindo a filmes e me perguntando ‘o que roubaram do meu trabalho?’. Sei que foi usado muitas vezes. Mas… Vamos em frente”. Entre as inspirações de “Valerian” em “Star Wars” podem ser citados desde o vilão Darth Vader até a neve Millennium Falcon, sem esquecer o aprisionamento em carbonita de Han Solo. Mas “Valerian” também foi inovador pela forma como abordava certos temas. Dois anos antes da Apolo 11 pousar na Lua, os quadrinhos do herói espacial já incluíam uma preocupação grande com o meio ambiente, antecipando a temática do desenvolvimento sustentável. Sem esquecer a importância de Laureline para o empoderamento feminino. A heroína que não baixava a cabeça e respondia desaforos com arma em punho inspirou milhares de pais a batizarem suas filhas com o nome da personagem, que foi inventado pelos quadrinhos e não existia antes na língua francesa. As histórias clássicas serão disponibilizadas no Brasil em sete volumes, que trarão todas as 21 graphic novels publicadas. O primeiro volume chega às livrarias agora em maio e a a expectativa é que mais dois volumes estejam disponíveis ainda em 2017, em lançamento da editora Sesi-SP. Nos cinemas, Valerian e Laureline serão vividos, respectivamente, por Dane DeHaan (“O Espetacular Homem-Aranha 2”) e Cara Delevingne (“Esquadrão Suicida”). A estreia de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” está marcada para 10 de agosto no Brasil. Clique aqui para ver o trailer legendado.
Novo suspense de François Ozon, selecionado para o Festival de Cannes, ganha primeiro trailer
A Mars Films divulgou o pôster e o primeiro trailer de “L’Amant Double”, novo suspense do diretor francês François Ozon (“Uma Nova Amiga”), que vai disputar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017. A prévia é bastante tensa, mostrando Marine Vacth manipulada e revidando. Vacth já tinha trabalhado com Ozon em “Jovem e Bela” (2013), e agora interpreta uma jovem frágil que se apaixona pelo seu psicanalista, vivido por Jérémie Renier. Mas ela não demora a perceber que o seu amante está escondendo parte de sua identidade. Por sua vez, esta é a terceira parceria de Renier com o cineasta, após “Les Amants Criminels” (1999) e “Potiche – Esposa Troféu” (2010). “L’Amant Double” terá sua premiére mundial no Festival de Cannes e estreia nos cinemas franceses logo em seguida, no dia 26 de maio. Ainda não há previsão para seu lançamento no Brasil, mas vale lembrar que o filme anterior de Ozon, “Frantz”, premiado no Festival de Veneza, permanece inédito nos cinemas brasileiros, previsto apenas para junho.











