Veronica Carlson (1944–2022)
A atriz inglesa Veronica Carlson, que estrelou clássicos de terror da Hammer, morreu no domingo (27/2) de causas naturais na Carolina do Sul, EUA. Ela estreou no cinema em 1967 como figurante na sátira de 007 “Cassino Royale” e na comédia musical “As Psicodélicas”, antes de ganhar seu primeiro papel de destaque num terror da Hammer, como vítima preferencial do vampiro interpretado por Christopher Lee em “Drácula, o Perfil do Diabo” (1968). Carlson nunca escondeu que foi sua beleza que lhe rendeu seu primeiro grande papel. “Um tabloide publicou uma foto em que eu saia da praia em um biquíni branco e [o executivo da Hammer] Jimmy Carreras viu aquela fotografia e disse que me queria em seu próximo filme. Então, fiz um teste e acabei nos braços de Drácula”, contou numa entrevista de 2014. A atriz também coestrelou dois filmes de Frankenstein da Hammer, contracenando com Peter Cushing em “Frankenstein Tem que Ser Destruído” (1969) e com Alan Bates em “O Horror de Frankenstein” (1970). A cena com Cushing era pesadíssima: um estupro. Mas, na mesma entrevista de 2014, ela contou que o ator a ajudou a passar sem traumas pela experiência daquela “cena que foi jogada no filme”. “Trabalhamos juntos e resolvemos os problemas da melhor forma possível”. Os dois atores voltaram a se encontrar em “O Carniçal” (1975) e ela ainda estrelou uma paródia de Drácula em 1974, chamada “Vampira”, antes de se afastar temporariamente do cinema para se dedicar à carreira de artista plástica, na qual foi muito bem-sucedida. Nos últimos anos, aceitou voltar a atuar para participar de filmes-tributos, como “House of the Gorgon”, lançado em 2019 com vários atores antigos da Hammer.
Barbara Shelley (1932 – 2021)
Barbara Shelley, uma das maiores estrelas do terror britânico dos anos 1960, morreu nesta segunda-feira (4/1) aos 88 anos, após contrair covid-19. A atriz inglesa começou sua filmografia em produções italianas, aparecendo, entre outras, no drama “Luna Nova” (1955), ao lado de Virna Lisi, e em duas comédias de Totó, “Totó, Chefe de Estação” (1955) e “Totó Fora da Lei” (1956). Sua carreira mudou de rumo quando ela voltou ao Reino Unido e se transformou na mulher-gato do título de “Cat Girl” (1957), uma versão britânica do clássico de terror “A Marca da Pantera” (Cat People, 1942). Ela emendou esse papel com um primeiros filmes do revival gótico britânico, “Sangue de Vampiro” (1958), produção independente (do Artistes Alliance) escrita por Jimmy Sangster, que se tornaria um dos mais importantes autores do gênero. E em seguida estrelou a cultuadíssima sci-fi de terror “A Aldeia dos Amaldiçoados” (1960), como uma das mães das crianças paranormais do filme, considerado um dos mais influentes de sua época. Mas sua especialização só veio mesmo após estrear na principal produtora de horror do Reino Unido, a Hammer Films, como protagonista de “A Sombra do Gato” (1961), “O Segredo da Ilha de Sangue” (1965) e várias outras produções, que lhe renderam o apelido de Rainha da Hammer. Shelley contracenou com a maior estrela do estúdio, Christopher Lee, nada menos que três vezes: em “A Górgona” (1964), “Drácula, o Príncipe das Trevas” (1966, também assinado por Sangster) e “Rasputin: O Monge Louco” (1966). E finalizou sua passagem pela Hammer com uma das obras mais cultuadas do estúdio, “Uma Sepultura na Eternidade” (1967), sobre a descoberta de um artefato nas escavações do metrô de Londres capaz de influenciar o comportamento das pessoas. Depois disso, atriz só fez mais um longa, o terror independente “Ghost Story” (1974), ao lado da cantora Marianne Faithfull, mas teve uma longa carreira televisiva. Ela apareceu em várias séries que marcaram época, especialmente nos gêneros de ação, mistério e fantasia, como “Danger Man”, “O Santo”, “Os Vingadores”, “O Agente da UNCLE”, “Blake’s 7” e “Doctor Who”, onde teve um arco de quatro episódios em 1984. Seu último trabalho foi na minissérie de mistério “The Dark Angel”, estrelada por Peter O’Toole, em 1989. No entanto, os fãs de terror nunca a esqueceram. Barbara Shelley foi celebrada e entrevistada por Mark Gatiss, co-criador de “Sherlock” e do recente “Drácula”, da Netflix, na série documental inglesa “A History of Horror with Mark Gatiss”, em 2010.
Robin Hardy (1929 – 2016)
Morreu o cineasta inglês Robin Hardy, aos 86 anos na madrugada desta sexta-feira (1/7). Ele fez apenas três filmes, mas se tornou uma lenda do cinema de terror pelo primeiro, o cultuado “O Homem de Palha” (1973). Considerado uma das obras-primas do gênero e ponto alto indiscutível da filmografia tanto do estúdio Hammer quanto do ator Christopher Lee, “O Homem de Palha” combinou sensualidade e rituais celtas para criar uma história que ressoa até hoje, graças a citações constantes. A trama de “O Homem de Palha” seguia o ponto de vista de um sargento de polícia (Edward Woodward), que desembarca numa ilha escocesa para procurar uma menina desaparecida. Lá, é recepcionado pela autoridade local, representada por Lee, em meio à preparação de um festejo anual. Conforme a investigação se intensifica, diversas mulheres nuas aparecem em seu caminho, como tentações e distrações constantes – entre elas, as belíssimas Britt Ekland, Ingrid Pitt e Diane Cilento. Até que ele, cristão convicto, começa a perceber os sinais de paganismo e se horroriza ao descobrir seu verdadeiro papel na história, como convidado de honra, seduzido/conduzido a ser o sacrifício humano que garantiria a próxima colheita da ilha. O filme ganhou um remake americano, intitulado em português “O Sacrifício”, com direção de Neil LaBute e estrelado por Nicolas Cage em 2006. O próprio Hardy escreveu e dirigiu uma continuação do original, “The Wicker Tree”, realizada com baixo orçamento em 2011 e considerada uma decepção completa. Ele ainda pretendia fazer uma terceira parte, mas o projeto nunca saiu do papel. Entre o primeiro e o segundo “Homem de Palha”, Hardy dirigiu apenas mais um filme: “Uma Voz ao Telefone”, em 1986, um suspense convencional de serial killer. E escreveu a história de outro: “Forbidden Sun” (1989). Nada que chegasse aos pés do culto inspirado por sua estreia. Para se ter noção do impacto de “O Homem de Palha”, em 2010 o jornal britânico The Guardian publicou uma lista que o classificou como o quarto melhor terror de todos os tempos. E Christopher Lee, que trabalhou até nas franquias “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis”, declarou que aquele tinha sido o melhor filme que fez, entre os mais de 200 de sua filmografia. Sua permanência na cultura pop chega até aos dias de hoje, como se pode atestar pelo recente clipe de “Burn the Witch”, da banda Radiohead, lançado em maio, que recria com bonecos de massinhas a história do clássico de Hardy.


