Chico Teixeira (1958 – 2019)
O cineasta carioca Chico Teixeira, diretor dos dramas premiados “A Casa de Alice” e “Ausência”, morreu na quinta-feira (12/12) em São Paulo, aos 61 anos, após lutar contra um câncer no pulmão. Formado em Economia, Chico Teixeira chegou a atuar na área por alguns anos até ir trabalhar no programa de entrevistas “Conexão Nacional”, da Rede Manchete de Televisão. A experiência mudou suas perspectivas e ele foi fazer documentários. Seu primeiro, “Favelas” (1989), foi premiado no Brasil e em Portugal. Ele fez mais dois documentários premiados: “Velhice” (1991), exibido em festivais nos Estados Unidos, Japão e Alemanha, e o curta “Criaturas que Nasciam em Segredo” (1995), sobre o cotidiano de cinco anões, que venceu 21 prêmios no Brasil, incluindo o de Melhor Curta e Direção no Festival de Gramado, além de três troféus internacionais. Seu primeiro drama de ficção, “A Casa de Alice” (2007), mostrava a vida de uma manicure e sua família na periferia de São Paulo. Teve première mundial no Festival de Berlim e conquistou prêmios em vários países – nos festivais de Havana (Cuba), Friburgo (Suiça), Chicago (EUA) e Rio, entre muitos outros. Apesar da consagração, ele só voltou a filmar sete anos depois. Em “Ausência” (2014), contou a história de um adolescente que vira o homem da casa, cuidando da mãe e do irmão mais novo, depois que o pai abandona a família. Também com première em Berlim, o filme venceu quatro Kikitos no Festival de Gramado, incluindo os de Melhor Filme, Roteiro e Direção (ambos de Teixeira). Teixeira chegou a completar o roteiro de um último longa, “Dolores”, escrito durante o seu tratamento de câncer. O filme será rodado em 2020 com direção de Marcelo Gomes (“Joaquim”).
Ausência acerta ao tratar de carências fundamentais com sutileza
Todo mundo precisa de afeto, ao longo de toda a vida, para poder viver bem consigo mesmo e com os outros. Os bebês, as crianças e os jovens se nutrem do afeto que recebem dos adultos para desenvolver autoconfiança e explorar suas capacidades e possibilidades. Uma família acolhedora é importante para o desenvolvimento do caráter e da personalidade, em moldes saudáveis e criativos. Na ausência dela, compensações são possíveis, claro. Mas o processo se dá de modo mais complicado. A ausência do pai, a incapacidade de acolhimento da mãe, condições sociais adversas, dificuldades econômicas, podem ser ingredientes alimentadores de dramas, quando não de tragédias. É de uma realidade assim, de carências fundamentais, que trata o filme “Ausência”, de Chico Teixeira. O protagonista é o garoto Serginho (Matheus Fagundes), de 15 anos, que, além de não encontrar o afeto básico de que precisa, tem de se virar precocemente, para sustentar a família, o que inclui cuidar de um irmão menor. O pai sumiu. A mãe vive à margem da vida, envolvida pelas drogas, eventualmente pela prostituição e pela incapacidade de assumir a condição materna ou o papel de provedor que toda família requer. Na vida de Serginho, a mãe Luzia (Gilda Nomacce) é um zero à esquerda. Pior, alguém que ele tem que suportar e escorar. Os personagens jovens com quem Serginho convive, enquanto trabalha na feira com um tio, são Mudinho (Thiago de Matos) e Silvinha (Andréia Mayumi). Não há muito que ele possa extrair deles. As carências são mais ou menos as mesmas. As limitações, até maiores. Mudinho não tem esse nome por acaso. O tão necessário afeto que o menino busca pode estar na figura de um professor aberto e acolhedor, Ney (Irandhir Santos), mas que não quer assumir o papel paternal que Serginho espera dele. O atrativo do circo poderá ser uma tábua de salvação diante da dramática constatação de que o garoto está só no mundo? Essa bela temática é trabalhada no filme com delicadeza, sutileza e respeito pelos sentimentos dos personagens. De modo mais evidente, nos trazendo a figura sofrida e solitária do adolescente Serginho, condenado a uma aridez de vida terrível e despertando para a sexualidade e o direito ao prazer. Desencontrado, mas responsável como poucos o são nessa idade. O jovem ator Matheus Fagundes encontrou o tom certo para nos transmitir a realidade do personagem. E tem no elenco coadjuvantes de grande talento, como o ator Irandhir Santos (de “O Som ao Redor” e muitos grandes papéis no cinema brasileiro), a atriz Gilda Nomacce (“Califórnia”) e a chilena Francisca Gavilán (“Violeta Foi Para o Céu”).

