Fada Santoro, primeira intérprete da Escrava Isaura, morre aos 100 anos
Atriz consagrada da era de ouro das chanchadas atuou ao lado de grandes nomes e marcou época no cinema nacional
Theresa Amayo (1933-2022)
A atriz Theresa Amayo morreu na madrugada desta segunda-feira (24/1), aos 88 anos, em decorrência de um câncer de rim. Ela estava em casa e lutava contra a doença desde o ano passado. Nascida em Belém, Theresa iniciou a carreira como atriz na década de 1950, época em que se lançou no teatro e começou a se projetar no cinema em diversos filmes, primeiro em melodramas como “Meu Dia Chegará” (1951), “Santa de Um Louco” (1953), “Perdidos de Amor” (1953) e “O Diamante” (1955), e depois em chanchadas como “Fuzileiro do Amor” (1957), “Na Corda Bamba” (1958), “O Camelô da Rua Larga” (1958), “O Barbeiro Que Se Vira” (1958) e “Eu Sou o Tal” (1959). O sucesso no cinema a levou para a televisão, onde se tornou uma das primeiras contratadas da TV Globo, atuando nas novelas inaugurais da emissora, como “O Rei dos Ciganos” (1966), “A Rainha Louca” (1967), “Sangue e Areia” (1968) e “A Última Valsa” (1969), época em que costumava fazer par romântico com Claudio Marzo. Ela também participou de “Pecado Capital” (1975) e produções modernas como “Senhora do Destino” (2004) e “Flor do Caribe” (2013). Em dezembro de 2004, sua família foi abalada por uma tragédia, quando a filha, o genro e o neto se tornaram vítimas do tsunami na Tailândia que deixou mais de 220 mil mortos. Nos últimos anos, tinha voltado ao cinema, participando de várias comédias, entre elas “S.O.S.: Mulheres ao Mar” (2014), “Sorria, Você Está Sendo Filmado” (2014), “Doidas e Santas” (2016) e “Sai de Baixo: O Filme” (2019).
Daisy Lúcidi (1929 – 2020)
A atriz Daisy Lúcidi, que estrelou diversas novelas da Globo, morreu na madrugada desta quinta-feira (7/5), aos 90 anos, vítima de covid-19. Ela estava internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital São Lucas, no Rio, desde o dia 25 de abril para tratar a infecção. Além de atriz, Daisy trabalhou como radialista e elegeu-se vereadora e deputada estadual pelo Rio de Janeiro. Ela foi sucesso desde criança no rádio. Começou aos 6 anos declamando poemas, fez radionovelas com Paulo Gracindo e Mário Lago na época de ouro da Rádio Nacional, e seu programa de variedades “Alô Daisy” ficou 46 anos no ar. Essa popularidade a levou ao cinema muito jovem, lançando-a nas telas com 19 anos, no musical “Folias Cariocas” (1948). A estreia na televisão, porém, aconteceu apenas na década de 1960, na minissérie “Nuvem de Fogo” (1963), de Janete Clair, na TV Rio. A carreira inclui também novelas na Tupi, antes de estrear na Globo com “Supermanoela”, em 1974. Também atuou na inovadora “O Casarão” (1976), de Lauro César Muniz. Mas, ao preferir se dedicar à política, acabou passando 31 anos longe de TV. Só retornou em “Paraíso Tropical” (2007), de Gilberto Braga, como a síndica viúva do prédio onde moravam vários personagens da trama. Daisy ainda se destacou em “Passione” (2010), de Silvio de Abreu, como Valentina, que escondia uma ambição inescrupulosa sob um sorriso amigável, fez uma participação especial na série “Tapas & Beijos”, interpretando a mãe de PC (Daniel Boaventura), e viveu Marlene, a irmã de Madá (Lady Francisco) em “Geração Brasil” (2014), antes de se despedir da TV num episódio de “Os Homens São de Marte… E é pra Lá que Eu Vou”, exibido em 2015 no canal pago GNT. Ela foi casada com o jornalista esportivo Luiz Mendes, que morreu em 2011 em decorrência da leucemia. “Semana passada, apesar de toda precaução que estávamos tendo com ela, minha avó passou mal. A caminho do hospital disse para minha irmã: ‘Não se preocupe não minha filha, não peguei essa doença’. Ironia do destino”, lamentou o neto da atriz, Luiz Claudio Mendes, no Facebook. “Seu forte amor pela vida, o motor que sempre a moveu, não a fazia enxergar a dura realidade dos números e a levou falsamente a acreditar que a morte não era opção”, continuou. “Mas, infelizmente já com 90 anos, dessa vez estava enganada, foi vencida pela frieza das estatísticas e por uma doença terrível que alguns loucos irresponsáveis teimam em querer minimizar.” “Nesse momento de dor para tanta gente no mundo e tão triste também para nossa família, nos confortamos em saber que ela teve uma vida plena e feliz, cheia de amor, vitórias e realizações, e que seu legado sempre estará presente entre nós!”, completou.
Márcia Real (1929 – 2019)
A atriz Márcia Real faleceu na madrugada desta sexta-feira (15/3), em um hospital em Ibiúna, interior do estado de São Paulo, aos 90 anos de idade. De acordo com sua filha Márcia Regina, a atriz, que se destacou em novelas entre os anos 1960 e 1980, sofria há mais de uma década de Alzheimer. Eunice Alves (seu nome verdadeiro) nasceu em São Paulo, em 6 de janeiro de 1929. E estreou no teatro ainda adolescente, após um encontro casual com Bibi Ferreira na rua. Da conversa veio o convite para a peça “Minhas Queridas Esposas”, que a lançou na profissão de atriz no final dos anos 1940. Ela estreou no cinema logo em seguida, aos 20 anos, no musical “Carnaval no Fogo” (1949), uma chanchada da produtora Atlântida dirigida por Watson Macedo. Fez também os dramas “Liana, a Pecadora” (1951), de Antonio Tibiriçá, e “O Sobrado” (1956), de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes, antes de se destacar na TV. Os papéis televisivos surgiram a partir de teleteatros da rede Tupi, como o “TV de Vanguarda”, “TV de Comédia” e “Grande Teatro Tupi”, que a tornaram um dos nomes mais prestigiados da emissora, entre o final dos 1950 e início de 1960, levando-a a apresentar o programa de variedades “Clube dos Artistas”. Com a popularização das telenovelas, ela migrou para o novo gênero, estrelando “Corações em Conflito”, na TV Excelsior, em 1964. Acabou participando das principais produções do canal, como “Vidas Cruzadas”, “A Grande Viagem”, “Redenção”, “Sangue do Meu Sangue” e outras. Após a extinção da Excelsior, migrou para a Record em 1970, onde estrelou “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Os Deuses Estão Mortos”, “O Leopardo”, etc. E ainda esteve na fase final da Tupi, em “Aritana” e “Gaivotas”, entre 1978 e 1979. A crise que se abateu sobre a televisão nos anos 1970, com o fechamento de canais, reconduziu a atriz de volta ao cinema durante o auge da pornochanchada. Após participar do clássico “O Rei da Noite” (1975), de Hector Babenco, emendou três longas apelativos de Jean Garret, “A Ilha do Desejo” (1975), “Amadas e Violentadas” (1975) e “Possuídas pelo Pecado” (1976). Ela também fez diversas peças. Márcia Real só retornou à TV no final dos anos 1980, desta vez na Globo. Os papéis que marcaram essa fase eram sempre de mulheres ricas, finas e espirituosas, como Walkíria em “Bebê a Bordo”, Áurea em “Mico Preto”, Sálvia em “De Corpo e Alma” e Isadora em “Quatro por Quatro”, exibidas entre 1988 e 1995. Pelo timing para o humor televisivo, tornou-se uma das atrizes que mais marcaram as novelas de Carlos Lombardi. Mas ela ficou menos de uma década na Globo. Depois de “Quatro por Quatro” foi fazer minisséries e a novela “Canoa do Bagre” (1997) na Record, entrou na série de comédia “Ô… Coitado!” (1999-2000) e fez participação especial em “O Direito de Nascer” (2001) no SBT, encerrando sua filmografia no ano seguinte com a série “SPA TV Fantasia” (2002) na rede Brasil e o filme “Avassaladoras” (2002), de Mara Mourão.
Agildo Ribeiro (1932 – 2018)
Morreu Agildo Ribeiro, um dos comediantes de maior sucesso no Brasil. Ele faleceu neste sábado (28/4) em sua casa no Leblon, no Rio de Janeiro, aos 86 anos. O humorista sofria de um grave problema vascular e, após um tombo recente, estava com dificuldades de se manter muito tempo em pé. Nascido em 26 de abril de 1932, Agildo sempre foi associado ao bom humor, tanto que seu apelido era o “Capitão do Riso”. Fez rádio, teatro, cinema, mas ficou mais conhecido com seus inesquecíveis personagens da TV, nos programas “O Planeta dos Homens” (1976), “Estúdio A…Gildo!” (1982), “Escolinha do Professor Raimundo (1994) e “Zorra Total”. O talento para a comédia foi desenvolvido ainda no Colégio Militar, com imitações dos professores que faziam muito sucesso entre os colegas, mas não com a direção. Acabou aconselhado a sair da escola. Para frustração do pai, o tenente comunista Agildo Barata, foi fazer teatro. Agildo enveredou pelo teatro de revista e não demorou a se juntar à turma da Cinelândia para aparecer em meia dúzia de chanchadas com Ankito. A filmografia inaugurada com “O Grande Pintor”, em 1955, também incluiu uma comédia de Mazzaropi, “Fuzileiro do Amor” (1956), e uma chanchada da Atlântida, “Esse Milhão É Meu” (1959), com Oscarito. Foram uma dezena de comédias até Agildo participar do thriller americano “Sócio de Alcova” (1962) e da espionagem francesa “O Agente OSS 117” (1965), ambos filmados no Rio e entremeados por um curto desvio pelo cinema dramático – fase que incluiu o clássico criminal “Tocaia no Asfalto” (1962), de Roberto Pires, e o pioneiro filme de favela “Esse Mundo é Meu” (1964), de Sérgio Ricardo. Aos poucos, porém, as comédias voltaram a prevalecer, com participações no clássico infantil “Pluft, o Fantasminha” (1965), o musical da Jovem Guarda “Jerry – A Grande Parada (1967), “A Espiã Que Entrou em Fria” (1967), “A Cama Ao Alcance de Todos” (1969) e “Como Ganhar na Loteria sem Perder a Esportiva” (1971). Este último marcou época por incluir alguns dos colegas que acompanhariam Agildo por parte da carreira, como os comediantes Costinha e Renata Fronzi, futuros “alunos” da “Escolinha do Professor Raimundo”. Sua estreia na telinha foi numa série da rede Globo, “TNT”, em 1965, no qual interpretava um repórter que narrava a história de três jovens modelos, Tânia (Vera Barreto Leite), Nara (Márcia de Windsor) e Tetê (Thais Muiniz Portinho). Em 1969, virou apresentador do programa “Mister Show”, contracenando com o famoso ratinho fantoche Topo Gigio. Mas foi só nos anos 1970, a partir de “Uau, a Companhia” (1972), que a Globo o escalou em programas de esquetes humorísticas. Agildo virou presença marcante de humorísticos desde então. Emplacou papéis em “Chico City” (1973) e “Satiricom” (1973), mas foi em “Planeta dos Homens” (1976) que estourou, graças ao esquete do professor de mitologia Acadêmico, que possuía um mordomo ao qual chamava de múmia paralítica, toda vez que ele tocava uma sineta. Isso acontecia quando o professor frequentemente desviava-se dos temas das suas aulas e passava a suspirar pela atriz Bruna Lombardi, ou então fazia alguma piada em analogia à situação política do Brasil. Ele também participou de um punhado de pornochanchadas da época e filmou a comédia “O Pai do Povo” (1976), único filme dirigido por Jô Soares, seu colega nos programas da Globo. Mas, ao fim de “Planeta dos Homens”, Agildo tentou se estabelecer como protagonista de humorísticos, o que levou ao distanciamento de Jô, Chico Anísio e outras estrelas da comédia televisiva brasileira, em sua busca por estrelar seu próprio programa. Entretanto, ao contrário dos dois colegas famosos, sua carreira “solo” não decolou. Enquanto “Viva o Gordo” (1981-87), de Jô Soares, e “Chico Anysio Show” (1982-90) ocuparam a programação da Globo por praticamente uma década, “Estúdio A… Gildo” (1982) não teve a repercussão pretendida e foi cancelado após o primeiro ano. Agildo foi deslocado para programas de humor coletivo, como “A Festa É Nossa” (1983) e “Humor Livre” (1984), que também não emplacaram, embora fossem protótipos do que virou “Zorra Total”. Desencantado, Agildo mudou de canal. Foi para a rede Bandeirantes, onde estrelou “Agildo no País das Maravilhas”, contracenando com fantoches que representavam políticos brasileiros. Foi um sucesso, até os produtores decidirem levar o programa para a rede Manchete em 1989, rebatizando-o de “Cabaré do Barata”. Sem o nome de Agildo, a audiência sumiu. Ele ainda fez um humorístico para a TV portuguesa, “Isto É o Agildo” (1994), mas a atração também foi cancelada ao final de uma temporada. Assim, voltou para a Globo como integrante da “Escolinha do Professor Raimundo”, assumindo o papel de Andorinha. Seu arsenal de “tipos”, porém, ficou guardado até o lançamento de “Zorra Total” em 1999, no qual tirou do baú inúmeros personagens, como Ali Babaluf, Manoel, Chapinha, Professor Laércio Fala Claro, Gaspar, Rubro Chávez, Don Gongorzola e Aquiles Arquelau. Ao mesmo tempo em que fazia o humorístico, Agildo também participou de novelas do canal, como “A Lua Me Disse” (2005) e “Escrito nas Estrelas” (2010), desempenhou um papel importante na série infantil “Sítio do Pica-Pau Amarelo” em 2007, filmou três bons longa-metragens – a sátira “O Xangô de Baker Street” (2001), baseada num livro do velho amigo Jô Soares, o drama criminal “O Homem do Ano” (2003), roteirizado pelo escritor Rubem Fonseca, e a comédia “Casa da Mãe Joana” (2008), de Hugo Carvana – e rodou o país em sucessivos espetáculos de humor teatral. Até que, em 2015, “Zorra Total” virou “Zorra”, numa repaginada completa, marcando o fim de uma era no humor televisivo brasileiro, com a substituição de comediantes veteranos por uma nova geração, que propunha outro tipo de humor, no qual as esquetes de “tipos” seriam ultrapassadas. Agildo resistiu apenas aos primeiros episódios do novo programa, afastando-se da TV em 2016. Em março, ele foi o grande homenageado do prêmio Prêmio do Humor 2018, promovido por Fábio Porchat, ocasião em que deu entrevistas relembrando a carreira e também a vida pessoal, chegando a comentar sobre seus três casamentos – com Consuelo Leandro (“Era ótimo, mas dois humoristas casados não dá muito certo. Tem hora que pede seriedade”), Marília Pera (“A Marília era foda, né?”) e Didi Ribeiro (“Foi o amor da minha vida”), todas já falecidas. O presidente Michel Temer se pronunciou sobre o tamanho da perda sofrida pelo humor brasileiro. “É triste perder um talento do humor do porte de Agildo Ribeiro, que tantas gerações alegrou. Profissional do riso que não perdia a elegância e inteligência jamais. Um mestre. Meus sentimentos à família e amigos”, escreveu no Twitter. “A comédia brasileira perde mais um Grande! Triste pensar num mundo sem as piadas do Agildo. Obrigado por tudo o que fez por nós!”, resumiu Fábio Porchat, o último a lhe render homenagens durante a vida.
Aracy Cardoso (1937 – 2017)
Morreu a atriz Aracy Cardoso, que participou de várias novelas na TV Globo. Ela estava internada há um mês no Hospital São Lucas, no Rio de Janeiro, tratando de vários problemas no coração e nos rins, e faleceu nesta terça-feira (26/12), aos 80 anos. Nascida no Rio em 17 de junho de 1937, filha de uma cantora de ópera, Aracy seguiu a carreira artística desde cedo, primeiro nos palcos, depois no cinema, com o drama “Fatalidade” (1953) e várias chanchadas – “Sai de Baixo” (1956), “Depois do Carnaval” (1959), etc. Mas foi se destacar mesmo na televisão. A atriz interpretou as principais “mocinhas” das novelas dos anos 1960 da TV Excelsior, como “Os Quatro Filhos” (1965), “A Indomável” (1965) e “Sublime Amor” (1967), antes de estrear na Globo com “Anastácia, a Mulher sem Destino”, em 1967. Após uma breve passagem pela Tupi na década seguinte, voltou à Globo para se destacar em novelas que marcaram as décadas de 1970 e 1980, entre elas “Fogo sobre Terra” (1974), “Vejo a Lua no Céu” (1976), “O Pulo do Gato” (1978), “Água Viva” (1980), “Final Feliz” (1982), “Selva de Pedra” (1986) e “Mandala” (1987). Foi nesta época que viveu uma de suas personagens mais lembradas, a governanta Zazá, de “A Gata Comeu” (1985). Após três décadas dedicadas à televisão, ela retomou a carreira cinematográfica em “O Homem Nu” (1997), de Hugo Carvana, e fez ainda “Nosso Lar” (2010), de Wagner de Assis. Bastante ativa, acumulou trabalhos em minisséries, séries e novelas nos últimos anos, inclusive na Record, onde integrou “Bela, a Feia” (2009) e “Dona Xepa” (2013). Sua última aparição na TV aconteceu neste ano, numa participação especial em “Sol Nascente”, da Globo. Discreta em relação à sua vida pessoal, Aracy Cardoso foi casada com o diretor e produtor Ibañez Filho, e deixa duas filhas.
Paulo Silvino (1939 – 2017)
Morreu o comediante Paulo Silvino, que lutava contra um câncer no estômago. Ele faleceu em casa, no Rio, na quinta-feira (17/8), aos 78 anos. Segundo a família, Silvino chegou a ser submetido a uma cirurgia no ano passado, mas o câncer se espalhou e a opção da família foi que ele fizesse o tratamento em casa. Paulo Ricardo Campos Silvino nasceu no Rio de Janeiro em 27 de julho de 1939 e cresceu nas coxias do teatro e nos bastidores da rádio. Isso porque seu pai, o comediante Silvério Silvino Neto, conhecido por realizar paródias de figuras públicas no Brasil dos anos 1940 e 1950, levava o menino para acompanhar seu trabalho. “Eu nasci nisso. Com seis, sete anos de idade, frequentava os teatros de revista nos quais o papai participava. Ele contracenava com pessoas que vieram a ser meus colegas depois, como o Costinha, a Dercy Gonçalves.”, disse o ator em entrevista ao Memória Globo. Ele pisou num palco pela primeira vez aos nove anos de idade, quando se atreveu a soprar as falas para um ator de uma peça que o pai participava. Mas em vez de ator, quase virou roqueiro. Tinha aulas de música com a mãe, a pianista e professora Noêmia Campos Silvino. E chegou a formar uma banda na adolescência, com feras como Eumir Deodato (teclados), Durval Ferreira (guitarra) e Fernando Costa (bateria). Depois de uma passagem pelo rádio, se juntou ao elenco da TV Rio, de onde saiu para a recém-fundada TV Globo em 1966, para apresentar o “Canal 0”, programa humorístico que satirizava a programação das emissoras de TV. Participou de programas clássicos do humorismo da Globo, coo “Balança Mas Não Cai” (1968), “Faça Humor, Não Faça Guerra” (1970), “Satiricom” (1973), “Planeta dos Homens” (1976), “Viva o Gordo” (1981) e “Zorra Total” (1999), criando personagens e bordões que marcaram época, como Severino (que analisa “cara e crachá”) e o mulherengo Alceu. Silvino também desenvolveu prolífica carreira cinematográfica, tanto à frente quanto atrás das câmeras. Ele começou ainda na época das chanchadas, em “Sherlock de Araque” (1957), filme estrelado por Carequinha e Costinha, e acabou se envolvendo em produções de Carlos Imperial, como “O Rei da Pilantragem” (1968) e “Um Edifício Chamado 200” (1973). Entre um filme e outro, teve uma peça que escreveu adaptada para as telas, “Ascensão e Queda de um Paquera” (1970). A experiência o inspirou a virar roteirista, e ele passou a assinar pérolas da pornochanchada, como “Com a Cama na Cabeça” (1972), “Café na Cama” (1973), “Um Varão entre as Mulheres” (1974), “O Padre que Queria Pecar” (1975), “A Mulata que Queria Pecar” (1976), “Os Melhores Momentos da Pornochanchada” (1978) e “Assim Era a Pornochanchada” (1978). Nos últimos anos, com o boom das globochanchadas, voltou a aparecer no cinema, tornando mais engraçadas as comédias “Muita Calma Nessa Hora 2” (2014), “Até que a Sorte nos Separe 3: A Falência Final” (2015) e “Gostosas, Lindas e Sexies” (2017). “Ah, como era grande” o seu talento. “O Paulo Silvino era a pessoa que mais me fazia rir”, disse Jô Soares para o G1. “De todos os meus colegas comediantes, era o que mais me fazia rir. Sempre inventava coisas diferentes. O mais ‘tonto’, o mais irreverente. Uma figura maravilhosa, com uma generosidade fantástica”.
Cauby Peixoto (1931 – 2016)
Uma das vozes mais famosas do Brasil se calou na noite de domingo (15/5). O cantor Cauby Peixoto faleceu aos 85 anos de idade. Ele estava internado no hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, desde o último dia 9, com um quadro de pneumonia. A notícia de sua morte foi confirmada na página oficial do artista no Facebook, que publicou: “Foi em paz e nos deixa com eterna saudades.” Com quase 70 anos de carreira, Cauby passou por diversas fases, tornando-se icônico já na era do rádio, quando arrastava multidões de fãs apaixonadas. Foi nessa época que se tornou também ator, virando estrela do ciclo cinematográfica da chanchada. Ela apareceu em diversos musicais dos anos 1950, como “Carnaval em Marte” (1955), “De Pernas Pro Ar” (1956), “Com Água na Boca” (1956), “Chico Fumaça” (1956), “Com Jeito Vai” (1957) e “Metido a Bacana” (1957), ao lado de ícones do humor brasileiro – Grande Otelo, Ankito, Renata Fronzi, Zezé Macedo, Ilka Soares, o palhaço Carequinha, Mazzaropi, o jovem Jô Soares etc. Foi em “Água na Boca” que Cauby imortalizou seu maior sucesso, “Conceição”. Além disso, os filmes o aproximaram da cantora Ângela Maria, uma de suas amizades mais duradouras. E, curiosamente, registraram seu curto mas significativo flerte com o rock. Cauby foi o primeiro cantor brasileiro a gravar um rock em português, a música “Rock and Roll”, em 1957 – composta por Miguel Gustavo, também autor da marchinha “Pra Frente, Brasil”, hino da ditadura. E apareceu cantando “That’s Rock” (composta por Carlos Imperial) na comédia “Minha Sogra É da Policia” (1958). No filme, ele era acompanhado pelo grupo The Snakes, que tinha, entre seus integrantes, Erasmo Carlos. Mais significativa ainda foi sua estreia em Hollywood, como integrante do musical americano “Jamboree” (1957), que incluía performances das lendas do blues Fats Domino e Joe Williams e do roqueiro Jerry Lee Lewis. No filme, ele assumia o nome de Ron Coby e cantava “Toreador”, canção de temática mexicana. Cauby chegou a lançar discos com este nome nos EUA. Ao comentar seu talento, a revista Time o chamou de “Elvis Presley brasileiro”. Mas seu ídolo, na verdade, era outro, o cantor romântico Nat King Cole, com quem compartilhava o tom grave e aveludado. Em 1958, ele teve a chance de cantar com o mestre e nunca se esqueceu da experiência, dedicando um disco a Cole em 2015. Uma de suas maiores transformações aconteceu nos anos 1970, quando mudou radicalmente o visual em conseqüência do encontro com Ney Matogrosso, tornando-se um personagem extravagante. Foi quando começou a relaxar sobre sua preferência sexual, até então resguardada sob uma aparência de elegância séria e estudada. O período também incluiu uma participação em “O Donzelo” (1974), comédia escrita e estrelada por Flávio Migliaccio, que ainda destacava no elenco a saudosa Leila Diniz e Grande Otelo. Sua última aparição no cinema foi em outra comédia, “Ed Mort” (1997), vivendo um dos muitos personagens chamados Silva que o detetive do título, vivido por Paulo Betti, esbarra ao procurar um Silva desaparecido. No ano passado, o cantor foi tema de documentário, “Cauby – Começaria Tudo Outra Vez” (2015), de Nelson Hoineff, que já o havia incluído em outra obra, “Alô, Alô Teresinha” (2009), documentário sobre o Chacrinha. Ainda em plena atividade, Cauby estava em turnê pelo Brasil com o show “120 Anos de Música”, ao lado de Ângela Maria. Sua última apresentação foi no dia 3 de maio, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Filho de Oscarito procura quem cuide e exiba o acervo de seu pai
Com o apartamento lotado de objetos referentes à carreira do grande comediante Oscarito, seu filho, o músico José Carlos Teresa Dias, está em busca de interessado em cuidar e exibir o vasto acervo herdado de seu pai, informou o jornal O Globo. Desde a morte da atriz Margot Louro, viúva do artista, em 2011, José Carlos e a esposa vivem apertados entre projetores raros, filmadoras a manivela, troféus, instrumentos musicais diversos, rolos de filmes obscuros, cartazes e fotos que pertenceram ao grande ídolo das chanchadas brasileiras – e que completaria 110 anos em agosto de 2016. “Deve haver alguma instituição que possa cuidar desse material para que não fique aqui escondido, que possa torná-lo mais útil. É a memória do teatro, do cinema brasileiro. Veja este violão: antes de ser o ator das chanchadas, como muita gente o conhece, meu pai era um músico espetacular. Ele tocava violão e violino em orquestras no fosso dos cinemas durante a exibição de filmes mudos. O tempo todo em casa estava tocando. É um lado pouco conhecido dele”, disse José Carlos a O Globo. A parte cinematográfica, no entanto, é mais rara: Oscarito tinha projetores que usava para exibir filmes no bairro em que morava, o Méier, para a crianças da vizinhança (“Ele pendurava um lençol no meio da rua, cresci vendo aquilo”, lembra José Carlos), moviolas, filmadoras a manivela, que mandava vir do exterior, e editoras de película 16 milímetros — uma espécie de “cortador” de células fílmicas — que ele mesmo manuseava em filmetes caseiros. Há ainda alguns objetos curiosos, provavelmente sobras de cenários de alguma de suas dezenas de peças e filmes — como um capacete da 1ª Guerra Mundial e um sino de ferro fundido, além de partituras de composições do próprio Oscarito, alguns roteiros em que ele aparece como produtor e não apenas como ator, mostrando seu lado empresarial, alguns manuscritos de peças escritas por ele e muitos gibis, que tiveram edições limitadas e cujos personagens são Oscarito e o seu grande parceiro, Grande Otelo Em dezembro de 2015, a família de Oscarito decidiu procurar o Museu da Imagem e do Som (MIS) para oferecer a guarda de todo o material. A diretora técnica do acervo da instituição, Thereza Kahl, esteve na casa de José Carlos, porém só selecionou itens iconográficos, como fotos de família, imagens de sets de filmagens, cartazes de filmes e 350 documentos civis, como contratos, registros de obras (inclusive o do nome artístico “Oscarito”), roteiros e argumentos de peças, bem como manuscritos em geral. Os objetos, no entanto, ficaram. Ao saber que a família procura quem cuide do acervo, o escritor e crítico teatral Flavio Marinho, autor da biografia “Oscarito, o Riso e o Siso”, fez um apelo: “É fundamental preservar a memória de um dos gênios que o Brasil já teve. Ele surgiu no circo, foi para o teatro de revista, e de lá para o cinema, criando o estilo que convencionou-se chamar de chanchada. Ele pulava, cantava, dirigia, fazia paródias quando ninguém ainda fazia, era o demônio. E, por trás do palhaço, havia o compositor melancólico: ele compunha boleros, sambas-canções. Quem se lembra disto? Seria uma pena se esse material se perdesse. Aliás, por que não temos um busto de Oscarito na Cinelândia? Uma praça chamada Oscarito?”








