O Reencontro foi feito sob medida para os talentos das Catherine Frot e Deneuve
É com uma sequência de um parto que inicia “O Reencontro” (La Sage Femme), longa-metragem francês que traz duas Catherine veteranas no elenco: Catherine Frot (“Marguerite”) e Catherine Deneuve (“O Novíssimo Testamento”). Outros partos estarão na tela para ilustrar a profissão de Claire, a parteira vivida por Frot. Ela ama o que faz e ajuda, de forma maternal e ao mesmo tempo profissional, as mulheres grávidas darem à luz. Porém, a satisfação na clínica em que atua chega ao fim quando recebe a notícia de que ela vai fechar e ceder o espaço aos “hospitais modernos”, que pouco se importam com a natureza do parto e estão mais preocupados com o dinheiro que eles rendem. O nome original do longa, “La Sage Femme”, significa “obstetriz”, mas também pode ser um trocadilho no idioma de Molière. “Sage femme” quer dizer mulher sábia, o que cai perfeitamente para a personagem criada pelo diretor e autor do roteiro Martin Provost (“Séraphine”). Não é sempre que o distribuidor brasileiro acerta no nome da adaptação, principalmente quando resolve mudar completamente o nome e não apenas traduzi-lo literalmente – caso deste longa. No Brasil, não funcionaria um filme com o título “Obstetriz”. Nada contra o ofício, ao contrário, mas não é um nome forte o bastante para despertar interesse do público – talvez o fosse caso se tratasse de um documentário sobre a jornada de uma parteira. Mas não é o caso e aqui a adaptação do nome é feliz. O longa trata justamente do reencontro das duas personagens centrais, vividas pelas duas Catherine. Claire (Frot), a parteira, ao chegar em casa após mais um dia exaustivo de trabalho, recebe a ligação de Béatrice (Deneuve), ex-mulher de seu pai, que desapareceu havia 30 anos, pedindo para se verem. A contragosto, Claire vai ao seu encontro e recebe uma péssima notícia. Enquanto Claire é organizada e responsável, Béatrice, que tem um diagnóstico de saúde nada bom, fuma, bebe e joga (e perde) rios de dinheiro. Comportamentos contrários tão previsíveis como a fábula da “Formiga e da Cigarra”. E é enquanto tenta se entender e ajudar a ex-madrasta que Claire conhece Paul (Olivier Gourmet, de “A Garota Desconhecida”), um caminhoneiro internacional, capaz de despertar os desejos da mulher que estavam enterrados há muito. É quando ela deixa um pouco de lado sua vida de “caxias” para aproveitar e brindar “à la vie”. As interpretações são um verdadeiro deleite. Embora as personagens estejam se reencontrando, este foi o primeiro encontro das duas atrizes: elas nunca haviam trabalhado juntas. Provost explica, no material de divulgação para a imprensa, que escreveu os papéis pensando nas respectivas atrizes. E elas responderam muito bem à missão. A trama, inspirada no nascimento do realizador (não por completo, mas apenas alguns detalhes), vai bem e é capaz de emocionar o espectador. O fim, porém, é um tanto moralista, segue a fábula e não surpreende. De qualquer maneira, “O Reencontro” é um filme que homenageia as parteiras e inspira o espectador a valorizar cada vez mais a vida, dia após dia.
Filme de cineasta marroquino vence o César, o Oscar francês
Um filme escrito e dirigido por um cineasta marroquino foi o grande vencedor do César 2016, a mais importante premiação do cinema da França, considerado uma espécie de “Oscar francês”. Dramatização da vida da poeta marroquina Fatima Elayoubi – que virou filme sobre “empregada doméstica imigrante” em notas das agências de notícias reproduzidas por diversos jornais brasileiros – , “Fátima” é o oitavo longa do diretor Philippe Faucon e retrata a relação da poeta com suas duas filhas, além das dificuldades de sua adaptação na França, onde se vê trabalhando como doméstica. Um dia, um acidente a força a tirar licença, e Fátima começa a escrever para as filhas em árabe tudo o que nunca conseguiu expressar em francês. Além do César de Melhor Filme, “Fátima” venceu nas categorias de Roteiro Adaptado (baseado nos livros de Elayoubi) e Atriz Revelação (a jovem Zita Hanrot, uma das filhas). Igualmente consagrado, “Cinco Graças”, da diretora turca Deniz Gamze Erguven, venceu quatro troféus importantes: Melhor Filme de Estreia, Roteiro Original, Edição e Trilha Sonora. Já exibido no Brasil, o longa acompanha cinco irmãs adolescentes, que, sob vigilância da família, são reprimidas e forçadas a casamentos arranjados no interior da Turquia. Curiosamente, este filme não foi apenas dirigido por uma cineasta nascida em outro país, mas também estrelado por estrangeiros e falado em turco. A coincidência ressalta o processo de internacionalização que envolve as produções francesas atuais – já reverenciado no ano passado por meio da consagração do mauritânio “Timbuktu”, grande vencedor do César 2015. O César de Melhor Atriz foi atribuído à Catherine Frot, por sua interpretação em “Marguerite”, em que vive uma diva tragicômica. Dirigido por de Xavier Giannoli, o longa também levou quatro prêmios, incluindo Melhor Som, Figurino e Cenografia. O veterano Vincent Lindon ficou com o César de Melhor Ator por “O Valor de um Homem”, que lida com a brutalidade do mundo do trabalho, após vencer a mesma categoria no Festival de Cannes. Por fim, o prêmio de Melhor Direção ficou com Arnaud Desplechin, pelo pseudobiográfico “Três Lembranças da Minha Juventude”, também já exibido no Brasil e elogiadíssimo pela crítica internacional. Vale ainda registrar que o vencedor do Festival de Cannes 2015, “Dheepan – O Refúgio”, de Jacques Audiard, não recebeu um troféu sequer, ignorado pelo César. O filme também não empolgou o comitê responsável por selecionar o candidato da França ao Oscar, que acabou preferindo “Cinco Graças” para a disputa de Melhor Filme Estrangeiro. “Cinco Graças” concorre à premiação marcada para domingo (28/2) pela Academia americana. Vencedores do César 2016 MELHOR FILME Fátima, de Philippe Faucon MELHOR DIREÇÃO Arnaud Desplechin, por Três Lembranças da Minha Juventude MELHOR ATRIZ Catherine Frot, por Marguerite MELHOR ATOR Vincent Lindon, por O Valor de um Homem MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Sidse Babett Knudsen, por L’Hermine MELHOR ATOR COADJUVANTE Benoit Magimel, por De Cabeça Erguida ATRIZ REVELAÇÃO Zita Hanrot, por Fátima ATOR REVELAÇÃO Rod Paradot, por De Cabeça Erguida MELHOR FILME DE UM DIRETOR ESTREANTE Cinco Graças, de Deniz Gamze Erguven MELHOR ROTEIRO ORIGINAL Deniz Gamze Ergüven e Alice Winocour, por Cinco Graças MELHOR ROTEIRO ADAPTADO Philippe Faucon, por Fátima MELHOR FILME ESTRANGEIRO Birdman (Estados Unidos) MELHOR DOCUMENTÁRIO Demain, por Cyril Dion e Mélanie Laurent MELHOR ANIMAÇÃO O Pequeno Príncipe MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA Christophe Offenstein, por O Vale do Amor MELHOR FIGURINO Pierre-Jean Laroque, por Marguerite MELHOR CENOGRAFIA Martin Kurel, por arguerite MELHOR EDIÇÃO Mathilde Van de Moortel, por Cinco Graças MELHOR SOM François Musy e Gabriel Hafner, por Marguerite MELHOR TRILHA SONORA CWarren Ellis, por Cinco Graças

