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    Carol Channing (1921 – 2019)

    15 de janeiro de 2019 /

    A atriz Carol Channing, ícone do teatro e do cinema norte-americanos, morreu nesta terça-feira (15/1). Conhecida por originar o papel principal de “Hello Dolly!” no teatro e pela performance indicada ao Oscar no filme “Positivamente Millie”, ela tinha 97 anos de idade e morreu de causas naturais em sua casa no interior da Califórnia, nos EUA. Channing nasceu em Seattle em 31 de janeiro de 1921, filha de um editor de jornal, e fez sua estréia na Broadway aos 20 anos, em outubro de 1941, durante uma montagem de “Let’s Face It!” como substituta de Eve Arden. Seu talento logo ficou evidente e ela começou a aparecer também em programas de variedades, sitcoms e especiais televisivos, começando pelo “The Milton Berle Show” em 1948. Em 1949, ela viveu seu primeiro papel principal na Broadway, como Lorelei Lee na estreia teatral de “Os Homens Preferem as Loiras”, onde colocou sua marca na canção “Diamonds Are a Girl’s Best Friend”. Interpretação que depois seria reprisada por Marilyn Monroe no cinema. Assim como ocorreria mais tarde com “Hello Dolly!” (apresentado pela primeira vez em 1964), Channing não foi chamada para estrelar a versão cinematográfica do musical. Se “Os Homens Preferem as Loiras” eternizou Marilyn Monroe, a adaptação para o cinema de “Dolly” impulsionou a carreira cinematográfica de Barbra Streisand. Por causa de seu estilo exagerado, Channing nunca foi uma grande estrela do cinema, mas impressionou nas poucas aparições que fez na tela grande. Conseguiu, por exemplo, roubar a cena de Julie Andrews e Mary Tyler Moore em “Positivamente Millie” (1967), que lhe rendeu sua única indicação ao Oscar. Apesar desse reconhecimento da Academia, foi mesmo no teatro que se consagrou, vencendo três prêmios Tony. Mas seus troféus ainda incluíram um prêmio Emmy pelo especial televisivo “An Evening With Carol Channing”, exibido em 1966. No cinema, Channing participou também de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” (1978), musical inspirado pelos Beatles e estrelado por Bee Gees e Peter Frampton. Também interpretou a Rainha Branca em uma versão de “Alice no País das Maravilhas” para a TV, lançada em 1985. Sua última aparição para câmeras foi na série “Style & Substance”, em 1998, num episódio em que interpretou a si mesma. Por fim, em 2006, voltou às telinhas apenas com a voz, para uma participação especial em “Uma Família da Pesada” (Family Guy).

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    Verna Bloom (1938 – 2019)

    11 de janeiro de 2019 /

    Morreu a atriz Verna Bloom, que estrelou os clássicos “Dias de Fogo”, “O Pistoleiro sem Nome”, “O Clube dos Cafajestes”, “Depois das Horas” e “A Última Tentação de Cristo”. Ela tinha 80 anos e faleceu na quarta (9/1) em Bar Harbour, no Maine (EUA), devido a complicações provocadas pela demência. Nascida em 7 de agosto de 1938, em Lynn, Massachusetts, Bloom se formou na Universidade de Boston em 1959. Logo em seguida, mudou-se para Denver e fundou um teatro local, onde ajudou a produzir montagens de provocativas peças contemporâneas. Sua estréia na Broadway aconteceu em 1967, mesmo ano em que começou a fazer participações em séries de TV. Sua chegada no cinema se deu em grande estilo, no clássico “Dias de Fogo” (Medium Cool, 1969), um filme revolucionário de Haskell Wexler, rodado em estilo de guerrilha, no papel de uma mãe solteira que se envolve na violência que toma conta de Chicago durante a caótica Convenção Nacional Democrata de 1968. As cenas de quebra-quebra na cidade foram registros reais, misturando ficção e documentário para narrar a história do envolvimento de Bloom com um cameraman (Robert Forster) que cobre o tumulto. As imagens da atriz em um vestido amarelo em busca de seu filho perdido entre os manifestantes, os disparos de gás lacrimogêneo e o avanço de tanques e soldados armados – pano de fundo 100% real – tornou-se uma das cenas mais impressionantes do cinema americano daquele período – e de todos os tempos. “Ela não era apenas uma atriz maravilhosa, ela era destemida”, disse Wexler, sobre a performance. “Eu estava mais assustado do que ela”, refletiu o diretor, sobre filmar em meio a um dos maiores tumultos civis da história dos EUA. Após essa estreia à fogo, ela virou protagonista em Hollywood, tendo papéis de destaque em westerns como “Pistoleiro sem Destino” (1971), dirigido e estrelado por Peter Fonda, e o clássico “O Estranho sem Nome” (1973), dirigido e estrelado por Clint Eastwood, além do thriller criminal “Ruge o Ódio” (1973), com Robert Duvall. A atriz também se destacou em telefilmes que marcaram a época, como “A Garota Viciada” (1975), em que viveu a mãe da personagem-título (papel da adolescente Linda Blair), “Contract on Cherry Street” (1977), no qual interpretou a mulher de Frank Sinatra, e “Amarga Sinfonia de Auschwitz” (1980), como uma música judia num campo de concentração nazista. Mas foi, ironicamente, por um de seus menores papéis que se tornou mais lembrada: Marion Wormer, a mulher liberada do diretor da universidade de “Clube dos Cafajestes” (1978), que acaba traindo o marido (John Vernon) com um dos estudantes que ele mais odeia (Tim Matheson). Bloom revisitou o papel 25 anos depois num especial criado para acompanhar o lançamento da comédia de John Landis em Blu-ray, que contava, num falso documentário, o que tinha acontecido com os personagens do filme. Ela voltou a trabalhar com Clint Eastwood em “Honkytonk Man – A Última Canção” (1982), antes de aparecer em seus dois últimos filmes, ambos dirigidos por Martin Scorsese, vivendo uma escultora moderna na comédia “Depois das Horas” (1985) e Maria em “A Última Tentação de Cristo” (1988). Verna Bloom acabou se casando em 1972 com uma colaborador frequente de Scorsese, o roteirista Jay Cocks, que foi indicado ao Oscar por seu trabalho em “A Época da Inocência” (1993) e “Gangues de Nova York” (2002), e também escreveu o filme mais recente de Scorsese, “Silêncio” (2016).

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  • Filme

    Charlotte Rampling será homenageada no Festival de Berlim 2019

    17 de dezembro de 2018 /

    A atriz britânica Charlotte Rampling será homenageada com um Urso de Ouro especial por sua carreira no Festival de Berlim de 2019. Ela venceu o Urso de Prata de Melhor Atriz em 2015 por seu desempenho em “45 Anos”, de Andrew Haigh, papel que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar e seu segundo European Film Award de Melhor Atriz (o primeiro foi por “Swimming Pool – À Beira da Piscina”). Em homenagem a Rampling, o 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim exibirá uma seleção dos filmes mais conhecidos da atriz, incluindo “Os Deuses Malditos” (1969), de Luchino Visconti, “Memórias” (1980), de Woody Allen, “O Veredito” (1982), de Sidney Lumet, “Sob a Areia” (2000) e “Swimming Pool” (2003), ambos de François Ozon. “Estou muito feliz que a homenagem deste ano seja dedicada à sublime atriz Charlotte Rampling”, disse Dieter Kosslick, diretor da Berlinale. “Ela é um ícone do cinema não convencional e excitante.” Além de aparecer várias vezes com filmes na Berlinale, Rampling também presidiu o júri internacional do festival em 2006. Rampling marcou época justamente por papéis pouco convencionais. A atriz, que estreou ainda adolescente como figurante no primeiro filme dos Beatles, “Os Reis do Ié-Ié-Ié” (1964), virou protagonista com “Georgy, a Feiticeira” (1966) e foi se tornar sex symbol com o polêmico “O Porteiro da Noite” (1974), como uma sobrevivente do Holocausto que passa a se relacionar com seu torturador. Ela também participou de várias séries televisivas, desde a clássica “Os Vingadores”, nos anos 1960, até atrações mais atuais, como “Dexter” e “Broadchurch”. Longe de se aposentar, a atriz de 72 anos continua a trabalhar em ritmo intenso. Só em 2018 ela estrelou três filmes em diferentes países, entre eles o thriller “Operação Red Sparrow”. Ela acaba de filmar “Valley of the Gods”, do polonês Lech Majewski, e está atualmente rodando “Benedetta”, do holandês Paul Verhoeven.

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    Henrique Martins (1933 – 2018)

    26 de agosto de 2018 /

    Morreu o ator e diretor Henrique Martins, que estava internado no hospital Samaritano, em São Paulo, após cair em casa e quebrar duas costelas. Ele faleceu neste domingo (26/8), aos 84 anos, por falência múltipla de órgãos. Nascido em Berlim, na Alemanha, com o nome de Heinz Schlesinger, ele tinha três anos de idade quando se mudou com a família para o Brasil. A longa carreira de mais de seis décadas de Martins é um recorte da história da TV brasileira, com passagens pelos canais Excelsior, Tupi, Globo, Band, Manchete, Record e SBT, e participações que se estendem de novelas clássicas a sucessos contemporâneos, como “O Sheik de Agadir” (1966), “A Sombra de Rebeca” (1967), “O Meu Pé de Laranja Lima” (1970), “Pão Pão, Beijo Beijo” (1983), “Ribeirão do Tempo” (2010) e o remake de “Carrossel” (2012). O ator estreou na TV no elenco de “Os Anjos Não Tem Cor”, novela exibida pela Tupi em 1953. Chegou a participar de um seriado de aventura aos moldes do Zorro, chamado “Falcão Negro” (1954), que ganhou até revista em quadrinhos. E, em 1964, foi para trás das câmeras, dirigindo sua primeira novela, “Quem Casa com Maria?” (1964). Martins permaneceu na Tupi até 1966, quando se transferiu para a Globo para exercer função dupla, na frente e atrás das câmeras, em “O Sheik de Agadir”, um dos primeiros fenômenos de audiência do canal. Ele dirigiu outras novelas famosas, como “O Direito de Nascer” (1964), “Anastácia, A Mulher Sem Destino” (1967), “Rosa-dos-Ventos” (1973), “A Barba Azul” (1974), “Um Sol Maior” (1977), “Roda de Fogo” (1978), “Os Imigrantes” (1982), “A História de Ana Raio e Zé Trovão” (1990), “Éramos Seis” (1994), “Fascinação” (1998), “Pequena Travessa” (2002), “Os Ricos Também Choram” (2005) e “Amigas e Rivais” (2007). A dedicação à TV resultou numa filmografia curta, de apenas quatro trabalhos no cinema, todos como ator: “O Sobrado” (1956), de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes, futuros profissionais da Globo, a comédia “Casei-me com um Xavante”, de Alfredo Palácios (1957), o drama criminal “A Lei do Cão” (1967), de Jece Valadão, e a pornochanchada “Império das Taras” (1980), de José Adalto Cardoso. Seus últimos trabalhos foram como diretor da novela “Revelação”, exibida pelo SBT em 2008, e como ator em “Carrossel”, sucesso do mesmo canal, no papel do Sr. Lourenço em 2012, um viúvo de bom coração.

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    Neil Simon (1927 – 2018)

    26 de agosto de 2018 /

    Um dos criadores mais importantes da História do teatro americano, Neil Simon morreu neste domingo (26/8), aos 91 anos. Com suas peças, o autor ajudou a redefinir o humor americano, enfatizando os problemas da vida urbana e os conflitos de intimidade familiar, fosse por meio do romance, do musical, da catástrofe ou do mais completo absurdo. Antes de se tornar um dramaturgo famoso, Simon se destacou como roteirista de televisão, escrevendo episódios de séries de comédias estreladas por grandes nomes do humor dos anos 1950, como Sid Caesar, Phil Silvers e Garry Moore. Esta experiência marcou seu estilo de humor, ao criar obras tão populares que eram chamadas de “máquinas de riso”, pois faziam o público gargalhar do começo ao fim da apresentação. Suas peças redefiniram as comédias da Broadway e reinaram absolutas em bilheteria entre os anos 1960 e 1970 — só em 1966, ele teve quatro montagens simultâneas nos principais teatros de Nova York. A maioria das peças foi levada para os cinemas. A primeira adaptação foi “O Bem Amado” (1963), estrelada por Frank Sinatra, seguida por “O Fino da Vigarice” (1966), com Peter Sellers. Mas ninguém imaginaria o sucesso que viria a partir de “Descalços no Parque” (1967), que marcou as carreiras de Robert Redford e Jane Fonda. Muito menos o impacto cultural causado pelo filme seguinte, “Um Estranho Casal” (1968), que transformou o nome de Neil Simon em estrela de Hollywood. A trama dos dois solteiros, vividos por Jack Lemmon e Walter Matthau, que decidem dividir um apartamento e se revelam neuróticos como um casal, virou um fenômeno. Acabou inspirando série de TV em 1970, que durou cinco temporadas bem-sucedidas, e até remake televisivo recente, com Matthew Perry e Thomas Lennon, entre 2015 e 2017. Jack Lemmon estrelou outro clássico absoluto inspirado em obra de Simon, “Forasteiros em Nova Iorque” (1970), sobre a viagem de um casal que se vê perdido em Nova York durante uma viagem repleta de contratempos. A trama inspirou incontáveis variações cinematográficas e ganhou remake em 1999, com Steve Martin e Goldie Hawn. Outras peças famosas de Simon levadas para o cinema incluem “Charity, Meu Amor” (1969), com Shirley MacLaine, “Hotel das Ilusões” (1971), estrelado por Matthau, “O Prisioneiro da Segunda Avenida” (1975), novamente com Lemmon, “Uma Dupla Desajustada” (1975), outra vez com Matthau, o cultuadíssimo “Assassinato por Morte” (1976), com Peter Sellers, Peter Falk e David Niven, e “A Garota do Adeus” (1977), que rendeu o Oscar de Melhor Ator para Richard Dreyfuss. Alguns diretores se tornaram especialistas em suas adaptações, como Arthur Hiller, Herbert Ross e Gene Saks. Mas, a partir dos anos 1980, nem eles conseguiam mais repetir o mesmo tipo de sucesso unânime conquistado pelos clássicos com as novas peças de Simon. Mesmo assim, as adaptações não pararam, testemunhando uma troca de guarda nas gerações do humor americano, com a entrada em cena de Steve Martin, Goldie Hawn, Chevy Chase, Matthew Broderick, e depois, nos anos 1990, de Alec Baldwin, Ben Stiller, Sarah Jessica Parker, Kelsey Grammer e Julia Louis-Dreyfus. Até Woody Allen estrelou uma adaptação de Simon, “Feitos Um para o Outro” (1996), e a saudosa dupla Jack Lemmon e Walter Matthau se reuniu pela última vez em “Meu Melhor Inimigo” (1998), continuação, 30 anos depois, do clássico de 1968. Sua última adaptação cinematográfica foi “Antes Só do que Mal Casado” (2007), remake de seu roteiro original para “Corações em Alta” (1972) com direção dos irmãos Farrelly (“Débi & Lóide”), cujo tipo de humor escatológico não poderia passar mais longe do estilo de Simon. Popular no passado, Simon acabou se distanciando dos gostos contemporâneos, o que também joga nova luz sobre suas comédias, altamente refinadas na comparação com os temas líquidos (mijo, sêmen, diarreia) do humor americano no século 21. Na introdução de uma antologia de suas peças, Simon citou uma frase do crítico Clive Barnes para refletir como sua contribuição artística seria avaliada pela posteridade: “Neil Simon está destinado a permanecer rico, bem-sucedido e subestimado”.

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    Shinobu Hashimoto (1918 – 2018)

    20 de julho de 2018 /

    Morreu o roteirista japonês Shinobu Hashimoto, que trabalhou em mais de 70 projetos durante sua carreira e foi o grande parceiro de Akira Kirosawa. Ele faleceu na quinta (19/7) de pneumonia, aos 100 anos de idade, em sua casa em Tóquio. De forma inusitada, a carreira de Hashimoto começou quando sua vida quase acabou. Ele se alistou no exército japonês em 1938, mas nem sequer conseguiu lutar na 2ª Guerra Mundial, pois pegou tuberculose e passou quatro anos em um hospital de veteranos. Foi durante a internação que leu uma revista sobre cinema que incluía um roteiro de exemplo. Ele decidiu escrever uma história e enviou para Mansaku Itami, então considerado o melhor roteirista do Japão – e pai do cineasta Juzo Itami. Itami ficou impressionado, enviando ao jovem soldado uma crítica detalhada do trabalho. O veterano logo se tornou um mentor para o roteirista iniciante, mas foi um relacionamento de curta duração, porque Itami morreu em 1946. Mas Hashimoto prometeu seguir seu conselho final e se especializar em adaptações literárias, em vez de roteiros originais. Com isso em mente, ele escreveu uma adaptação de um conto de Ryunosuke Akutagawa e enviou para Akira Kurosawa, que já tinha uma carreira estabelecida de diretor, mas ainda não era lendário. O cineasta gostou e marcou um encontro para ver se era possível estender a história, já que o roteiro era relativamente curto. E sugeriu complementá-lo com uma segunda história de Akutagawa, “Rashomon”. O roteiro resultante passou a ser considerado um dos maiores de todos os tempos, levando “Rashomon”, o filme, a conquistar o primeiro prêmio internacional da história do cinema japonês, o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1951. Assim começou uma parceria imbatível, que transformou Kurosawa no cineasta mais referenciado do cinema japonês. Entre os muitos clássicos realizados pela parceria, incluem-se os famosos “Os Sete Samurais” (1954), que inspirou o western “Sete Homens e um Destino” (1960), “Trono Manchado de Sangue” (1957), fantástica versão samurai de “Macbeth”, e “A Fortaleza Escondida” (1958), um grande influência de George Lucas na concepção de “Guerra nas Estrelas” (1977). A dupla também desenvolveu dramas sobre tragédias contemporâneas de grande impacto, como “Viver” (1952), sobre um homem diagnosticado com câncer terminal que busca sentido na vida, “Anatomia do Medo” (1955), que explorou o trauma e a fobia despertada pela possibilidade de um novo ataque nuclear, e “Homem Mau Dorme Bem” (1960), sobre uma vingança motivada por diferenças de classe social. A adaptação de seu roteiro em “Sete Homens e um Destino” (1960) ainda chamou atenção de Hollywood, rendendo contrato para seu único trabalho em inglês, o clássico “Inferno no Pacífico” (1968), em que Toshiro Mifune e Lee Marvin transformavam a 2ª Guerra em combate particular, após naufragarem numa ilha deserta. O sucesso deste filme encaminhou vários pedidos de novos roteiros de guerra, o que rendeu um segundo ciclo temático em sua carreira, quase tão proeminente quanto sua profusão de filmes de samurai. Além de roteirista, Hashimoto também dirigiu três filmes durante sua longa trajetória, que se estendeu nos cinemas até 1986, embora seu nome ainda continue a aparecer em novos lançamentos – o mais recente é de 2016 – , graças a diversos remakes de obras de sua filmografia.

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    Bill Gold (1921 – 2018)

    29 de maio de 2018 /

    Morreu Bill Gold, um dos maiores designers de pôsteres da história de Hollywood. Ele faleceu no último dia 20, devido a complicações de demência, aos 97 anos de idade, mas somente agora sua esposa confirmou a morte. O designer foi responsável por mais de 2 mil cartazes, incluindo os pôsteres icônicos de “Casablanca”, “Bullit”, “Barbarella”, “O Exorcista”, “Laranja Mecânica” e “Os Bons Companheiros”. Numa época em que não havia tantos trailers, e só quem já ia ao cinema via os poucos que existiam, os pôsteres eram os principais chamarizes para atrair o público. E ninguém dominava tão bem a arte de sintetizar um filme com uma única imagem que Gold. “A primeira imagem que você tem de muitos dos seus filmes favoritos é provavelmente uma criação do Bill Gold”, escreveu Clint Eastwood na introdução de uma coleção de pôsteres. Foram mais de 70 anos de carreira, em que Bill Gold ajudou a criar a mística de Hollywood. Seu primeiro pôster foi “A Canção da Vitória”, em 1942. Logo depois veio um dos seus trabalhos mais conhecidos: “Casablanca”. O detalhe é que ele criou o cartaz icônico de “Casablanca” sem ver uma única cena. Assim, pintou uma montagem dos principais atores, com Humphrey Bogart à frente vestindo sobretudo e chapéu. Porém, os executivos do estúdio não gostaram por parecer muito monótomo. “Eles achavam que era muito estático e queriam mais ação. Eu não tive tempo para mudar muito, então apenas coloquei a mão de Bogey para a frente com uma arma e eles gostaram disso”, contou o designer ao jornal britânico The Guardian, em 2013. Outro desafio veio com a encomenda do pôster de “O Exorcista”. Ele foi proibido pelo estúdio de utilizar imagens religiosas ou até da atriz Linda Blair — que interpretou Regan, a adolescente possuída por demônios. Então Gold decidiu enfatizar a silhueta do ator Max von Sydow sob um poste de luz. A sensação sombria do cartaz correu o mundo e se tornou o maior símbolo do filme. Ele continuava na ativa em pleno século 21, sempre em voga, graças à atualização constante de sua arte. A evolução de suas obras atesta que ele acompanhou os avanços tecnológicos, tendo começado como ilustrador, passado a utilizar montagens fotográficos e se tornado adepto até da computação gráfica. Seu último cartaz foi feito por encomenda de seu fã Clint Eastwood para o filme “J. Edgar”, lançado em 2011. Apesar da fama de suas obras, seu nome quase nunca apareceu em suas criações. Somente em 2010, com o lançamento de um livro com seus pôsteres, Bill Gold ficou conhecido pelo público. Um documentário sobre sua carreira, intitulado “This Is Gold”, estava em andamento no momento de sua morte.

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    Cláudia Celeste (1952 – 2018)

    14 de maio de 2018 /

    A atriz Cláudia Celeste, primeira travesti a atuar em novelas brasileiras, morreu na madrugada de domingo (13/5), aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Segundo informações das redes sociais, a atriz estava com pneumonia e o quadro se agravou. Carioca de Irajá, Cláudia começou a carreira como dançarina Go Go-Girl do Beco das Garrafas, após trabalhar como cabeleireira em Copacabana. Mas não demorou a teatralizar sua vida, após se destacar num concurso de danças como “A Lebre Misteriosa do Imperial”, nome que fazia referência a seu padrinho artístico, Carlos Imperial. Foi o produtor artístico quem também a batizou de Cláudia Celeste. Sua estreia nos palcos aconteceu na montagem histórica de “O Mundo É das Bonecas”, em 1973, no lendário Teatro Rival, na Cinelândia. Realizado por Américo Leal (avô da atriz Leadra Leal), foi o primeiro show de travestis a obter uma licença do governo, depois da ditadura militar proibir este tipo de produção. A projeção a levou a ser eleita Miss Brasil Trans e a chamar atenção de produtores de cinema e TV. Ela acabou estreando nas telas na comédia “Motel” (1974), três anos antes de o diretor Daniel Filho resolver incorporar um espetáculo do Rival – “Transetê no Fuetê” – na trama da novela “Espelho Mágico” (1977), da TV Globo. A atriz chegou a contracenar com a mocinha Sonia Braga. Mas sua participação na novela acabou cortada depois que a imprensa celebrou – ou denunciou – a primeira travesti na TV. “Antes, ninguém sabia que eu era travesti, nem Daniel Filho. Ninguém nunca me perguntou! E, como ficou muito ti-ti-ti, tiraram os capítulos que eu já tinha feito”, contou a atriz em entrevista à revista Geni, em 2013. Mas Cláudia foi recompensada e manteve seu pioneirismo, 14 anos depois. Em 1988, ela se tornou a primeira travesti a integrar o elenco de uma novela do início ao fim. Foi em “Olho por Olho”, na extinta TV Manchete, no qual interpretou a travesti Dinorá, apaixonada por Mário Gomes. Ela também participou de dois filmes nos anos 1980: o drama criminal “Beijo na Boca” (1982), também estrelado por Mário Gomes, e o inacreditável trash futurista “Punks – Os Filhos da Noite” (1982), com Lady Francisco. Na época desse filme, até chegou a ensaiar uma carreira como cantora de rock, formando a banda Coisa que Incomoda. Em 2016, a atriz foi a grande homenageada na primeira edição do Festival TransArte, evento que trata de identidade de gênero e sexualidade.

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    Ermanno Olmi (1931 – 2018)

    7 de maio de 2018 /

    O diretor italiano Ermanno Olmi, premiado nos festivais de Cannes e Veneza, morreu aos 86 anos. Ele sofria há tempos de uma doença autoimune rara conhecida como Síndrome de Guillain-Barré. A mídia italiana informou que ele foi hospitalizado na sexta-feira em sua cidade-natal de Asiago e faleceu na noite de domingo (6/5). Olmi foi saudado como um cineasta humanista, preocupado em filmar os menos favorecidos, e um poeta visual pela beleza plástica de seus filmes. Ele começou a carreira uma década depois do auge do neo realismo italiano, mas se tornou seu herdeiro mais dedicado. Desde seu primeiro filme, “O Tempo Parou” (1959), fez questão de focar a classe trabalhadora. A história dessa estreia é fantástica. Olmi era um funcionário da companhia de eletricidade estatal italiana, encarregado de produzir pequenos filmes de publicidade institucional para a empresa. E aproveitou o que deveria ser outro comercial sobre uma barragem nos Alpes para esticar a filmagem em segredo e registrar o cotidiano de dois trabalhadores do local, que viviam isolados, durante o inverno, para garantir a segurança da construção em total solidão. “O Tempo Parou” chamou atenção da crítica e até recebeu prêmios locais, lançando sua carreira. Mas ele continuou fazendo publicidade para pagar as contas por mais cinco anos, intercalando filmetes de eletricidade com longas-metragens, embora já em seu segundo longa, “O Posto” (1961), tenha deixado de ser apenas um jovem promissor para vencer o David di Donatello (o Oscar italiano) como Melhor Diretor do ano. Sua maior conquista foi a Palma de Ouro de Cannes em 1978 com “A Árvore dos Tamancos”, retrato de três horas da vida dura dos camponeses na Itália do século 19, com um elenco de atores amadores falando em seu dialeto nativo de Bérgamo, no norte do país. O filme contava a história de um pai que corta uma pequena árvore em segredo para fabricar tamancos para seu filho poder ir à escola. Quando o rico dono da propriedade descobre, expulsa a família da fazenda como exemplo para os outros empregados. Uma década depois, ele venceu o Leão de Ouro em Veneza por “A Lenda do Santo Beberrão” (1988), produção com atores bem conhecidos (Rutger Hauer, Anthony Quayle), que acompanha as tribulações de um alcoólatra desabrigado em Paris, que tenta saldar uma dívida com uma igreja local. O filme também lhe rendeu seu segundo David di Donatello de Melhor Direção. Ele ainda conquistou um terceiro “Oscar italiano” por “O Mestre das Armas”, lançado em 2001, que mostrava os últimos dias do jovem soldado da Renascença Giovanni de Medici. Seus últimos trabalhos foram o filme antiguerra “Os Campos Voltarão”, de 2014, indicado ao David di Donatello e premiado pela crítica na Mostra de São Paulo, e o documentário “Vedete, Sono Uno di Voi”, sobre o cardeal Carlo Maria Martini, em 2017. “Com Ermanno Olmi estamos perdendo um mestre cinematográfico e uma grande figura da cultura e da vida. Sua visão encantada nos fez entender as raízes do nosso país”, escreveu o primeiro-ministro italiano Paolo Gentiloni no Twitter.

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    Pamela Gidley (1965 – 2018)

    30 de abril de 2018 /

    Morreu a atriz Pamela Gidley, de “Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer” (1992), dirigido por David Lynch. Ela faleceu em sua casa, aos 52 anos, no dia 16 de abril, mas a informação só foi divulgada na noite de domingo (29/4) por um jornal de Seabrook, onde vivia. Pamela começou a carreira como modelo infantil e fez sua estreia no cinema em 1986, coestrelando o filme “O Desafio” (Thrashin’), sobre gangues de skatistas, ao lado de Josh Brolin (o Thanos de “Vingadores: Guerra Infinita”). Os dois chegaram a namorar. No Instagram, o ator lamentou a morte da colega. “Tenho memórias incríveis e inocentes dela. Uma mulher de personalidade forte e uma pessoa realmente engraçada”. Ela participou de dois filmes marcantes do final dos anos 1980, a sci-fi “Cherry 2000” (1987) e o drama “Para Sempre na Memória” (1988), antes de viver Teresa Banks no filme derivado da série “Twin Peaks”. A atriz ainda trabalhou com o pai de Josh Brolin, James Brolin, em “Trapaças do Coração” (1993), antes da carreira estagnar. Sua carreira também incluiu algumas séries de curta duração. Gidley chegou a estrelar “Angel Street”, como uma detetive policial parceira de Robin Givens, que só teve uma temporada em 1992, e “Strange Luck”, com a mesma sina em 1995. Ambas duraram mais que “Skin”, cancelada após seis episódios em 2003. Um episódio a mais que sua participação como a técnica forense Terri Miller e possível interesse romântico do protagonista (William Petersen) de “CSI”, entre a 1ª e a 3ª temporadas (2000-2003). Na reportagem do jornal de Seabrook, a família afirmou que a atriz morreu pacificamente em sua casa, mas a causa da morte não foi divulgada.

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    Michael Anderson (1920 – 2018)

    28 de abril de 2018 /

    Morreu o cineasta britânico Michael Anderson, diretor de clássicos como “1984” (1956), “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1957), “As Sandálias do Pescador” (1968) e “Fuga do Século 23” (1976). Ele faleceu no sábado (27/4) em Vancouver, no Canadá, aos 98 anos. Anderson teve uma longa carreira cinematográfica, que durou exatos 50 anos de atividade. Dentre seus trabalhos, estão alguns filmes que o fizeram ser considerado um dos melhores diretores de sequências de guerra de sua época. Seu grande clássico do gênero, “Labaredas do Inferno” (1955), entrou na lista dos principais filmes britânicos do século 20, organizada pelo British Film Institute, mas também é celebrado pelas novas gerações sem que tenham consciência, já que serviu de inspiração assumida para o combate aéreo do final de “Guerra nas Estrelas” (1977). Por coincidência, ele também era saudado como mestre da sci-fi. O diretor foi pioneiro do gênero das distopias, ao realizar “1984” (1956), a primeira adaptação cinematográfica da obra-prima de George Orwell – livro que sintetiza o subgênero distópico e deu origem à expressões como duplipensar, novilíngua e Big Brother. Ele também filmou o herói pulp “Doc Savage: O Homem de Bronze” (1975), uma das inspirações originais dos quadrinhos de Superman (“o homem de aço”). E deu vida a “Fuga no Século 23” (1976), mais conhecido pelo título original “Logan’s Run”. Baseado no livro escrito por William F. Noland e George Clayton em 1967, “Fuga no Século 23” se passava num futuro distópico e seu protagonista chamado Logan (Michael York, no filme) era um caçador de foragidos de uma rígida lei populacional, que não permitia a ninguém viver mais que 30 anos. Entretanto, quando está prestes a completar 30 anos, ele também decide escapar. A produção se tornou cult, rendeu até uma série de TV e há mais de uma década Hollywood anuncia planos de remake. Sua filmografia de fôlego inclui ainda bons suspenses, comédias, dramas e até dois filmes sobre papas – o famoso “As Sandálias do Pescador” (1968) e o efêmero “Joana, a Mulher que Foi Papa” (1972). Mas a obra que definiu sua carreira foi uma aventura épica, “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1957), adaptação do clássico de Jules Verne com três horas de duração. Além da narrativa ambiciosa, a produção virou uma aula de logística, estabelecendo recordes para utilizações de câmeras, cenários, figurinos, participações especiais e locações. O filme trazia David Niven no papel de Phileas Fogg, acompanhado pelo lendário comediante mexicano Catinflas como seu ajudante Passepartout. Graças a uma aposta para estabelecer um recorde da era vitoriana, os dois embarcavam numa viagem ao redor do planeta a bordo de um balão movido a gás. E, pelo meio do caminho, encontravam um verdadeiro quem é quem da indústria do entretenimento da época, incluindo Frank Sinatra, Shirley MacLaine, John Gielgud, Noel Coward, Charles Boyer, Marlene Dietrich, Buster Keaton e Red Skelton, entre outros, no maior número de estrelas famosas reunidas num filme até então. “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1957) foi indicado a oito Oscars, incluindo Melhor Direção para Anderson. O cineasta não conquistou o troféu, mas seu trabalho resultou no Oscar de Melhor Filme, derrotando nada menos que “Assim Caminha a Humanidade” e “Os Dez Mandamentos”. Ele também dirigiu minisséries para a televisão, incluindo as aclamadas “Planeta Vermelho” (The Martian Chronicles, 1980), baseada na obra sci-fi de Ray Bradbury, “A Hora da Vingança” (Sword of Gideon, 1986), que é basicamente a história que Steven Spielberg filmou em “Munique” (2005) e “A Jovem Catarina” (Young Catherine, 1991), sobre a juventude da imperatriz Catarina, a Grande. Casado três vezes, Anderson passou seus anos finais no Canadá com a esposa, a atriz canadense Adrianne Ellis (“Torvelinho de Paixões”), e era incentivador da carreira de atriz da enteada, Laurie Holden, intérprete de Andrea em “The Walking Dead”.

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    Nelson Pereira dos Santos (1928 – 2018)

    21 de abril de 2018 /

    Morreu o diretor Nelson Pereira dos Santos, um dos mais importantes cineastas brasileiros, precursor do Cinema Novo, cuja trajetória reflete mais de meio século da história cultural do país. O cineasta estava internado desde a quarta-feira no hospital Samaritano, no Rio, com uma pneumonia. Na internação foi constatado um tumor no fígado, já em estágio avançado, que causou sua morte neste sábado (21/4), aos 89 anos. Nelson Pereira dos Santos assinou mais de 20 filmes, entre eles clássicos absolutos como “Vidas Secas” (1963) e “Memórias do Cárcere” (1984), ambos baseados em livros de Graciliano Ramos, e “Rio 40 Graus” (1955), a obra inspiradora do Cinema Novo. Nascido em 22 de outubro de 1928 em São Paulo, formou-se em direito, mas seguiu carreira como jornalista, tendo passagens por veículos como Diário da Noite e o Jornal do Brasil, antes de se destacar como cineasta. A paixão pelo cinema foi despertada pelo pai cinéfilo, que o levava para ver filmes ainda criança, e alimentada por uma viagem a Paris em 1949, quando frequentou a Cinemateca Francesa e se aproximou do movimento intelectual francês do pós-guerra. Ele fez seu primeiro filme logo ao retornar ao Brasil, o média metragem “Juventude”, de 1950, que pretendia exibir no Festival da Juventude, evento de propaganda do Partido Comunista, realizado em Berlim Oriental. Nelson Pereira dos Santos sempre foi comunista de carteirinha, mas este primeiro filme e outros projetos que se seguiram acabaram perdidos, sem registro, alguns nem finalizados. Para adquirir experiência, decidiu trabalhar como assistente de outros diretores, como Rodolfo Nanni, Ruy Santos e Alex Viany. E assim se mudou para o Rio de Janeiro, onde vicejava um cinema de viés populista, bem diferente das comédias e romances populares da companhia Vera Cruz, em São Paulo. Seu primeiro longa, “Rio 40 Graus” (1955), causou enorme impacto. Filmado com uma câmera emprestada e em sistema cooperativado, Nelson realizou a obra mais inovadora da época, que introduziu a estética neorealista no cinema nacional, ao mesmo tempo em que apresentou temas que seriam posteriormente adotados pelo Cinema Novo, único movimento cinematográfico brasileiro de repercussão internacional. “Rio 40 Graus” era uma antologia de cinco histórias, que retratava um Rio de Janeiro diferente do cartão postal – e de todos os filmes que se faziam no Brasil. Não era o Rio de Copacabana e do Cristo Redentor, mas o Rio da Zona Norte, dos pobres, dos negros e de um cotidiano complexo. Como resultado, o filme foi censurado. Um dos motivos alegados era que a temperatura de 40º era mentira, nunca tinha acontecido no Rio de Janeiro. A liberação só aconteceu depois da posse de Juscelino Kubitschek, o “presidente bossa nova”. O cineasta voltou ao tema do Rio profundo em “Rio Zona Norte”, seu segundo filme, mas procurando fazer uma ponte com o cinema popular da Vera Cruz, com a inclusão de elementos de chanchada e da presença do comediante Grande Otelo. O filme acompanhava a luta de um compositor (Grande Otelo) para ter uma música gravada e a necessidade de vender seu trabalho para sobreviver. Mas, mesmo com a participação da cantora Angela Maria, não obteve a repercussão imaginada. Ambicioso para um diretor iniciante, ele decidir filmar a seguir “Vidas Secas”, um dos maiores clássicos literários do país. Mas não foi fácil tirar esse projeto do papel. Quando a equipe chegou no sertão para as filmagens, deparou-se com um milagre. Nunca chovera tanto no Nordeste quanto naquele ano, criando um cenário completamente diverso do agreste desértico do livro de Graciliano Ramos. O jeito foi trocar de projeto. E assim surgiu “Mandacaru Vermelho” (1962). “Vidas Secas” só aconteceu depois de um ano. Mas valeu a espera. O filme causou uma revolução na forma de captar a iluminação natural. A iniciativa foi do diretor de fotografia Luis Carlos Barreto, que decidiu tirar todos os filtros da câmera para filmar o brilho solar. A captação do verão nordestino com força luminosa e abrasiva arrancou elogios no Festival de Cannes de 1964. E o fato de ter sido exibido no festival francês juntamente com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, chamou atenção mundial para o cinema brasileiro. Nelson Pereira dos Santos tinha grande afinidade com Glauber, com quem já havia trabalhado, na função de editor, em “Barravento” (1962). Mas o golpe militar de 1964 tolheu as expectativas de maior integração entre os cineastas. Os filmes de denúncia social do período foram paulatinamente substituídos por produções mais experimentais. E Nelson mergulhou neste novo filão com “Fome de Amor” (1969), sobre o isolamento da esquerda, e “Azyllo Muito Louco” (1970), uma adaptação de “O Alienista”, de Machado de Assis, que usava alegorias para abordar o momento do país, do mesmo modo que “Quem É Beta?” (1974). O diretor se aproximou do tropicalismo com “Como Era Gostoso o Meu Francês” (1972), uma evocação da antropofagia que fez bastante sucesso, graças à presença de índias peladas – Ana Maria Magalhães virou sex symbol. Ele também trouxe ao cinema as religiões afrobrasileiras, no momento em que expressões de candomblé e umbanda iniciavam uma transição para o vocabulário popular, via sucessos da MPB. Filmes como “Amuleto de Ogum” (1976) e “Tenda dos Milagres” (1979), este baseado na obra de Jorge Amado, foram equivalentes cinematográficos a “Canto de Ossanha” (1963), “Oração da Mãe Menininha” (1971) e “Tributo aos Orixás” (1972), entre outros. O sucesso comercial se deu em outra frente musical. Ao filmar a cinebiografia da dupla caipira Milionário e José Rico, no filme “Estrada da Vida” (1980), o diretor conseguiu seu maior êxito popular. Entretanto, seu filme mais lembrado dos anos 1980 é outro. Ele voltou à obra de Graciliano Ramos para filmar “Memórias do Cárcere” (1984), que gerou idolatria da crítica como um dos filmes mais importantes da década. Embora retratasse uma época específica, a prisão do escritor durante a ditadura de Getúlio Vargas, nos anos 1930, o longa também refletia o Brasil de sua época, que vivia os últimos suspiros da ditadura militar. O fato de ser exibido sem censura foi exaltado como marco da “abertura democrática” e cortina final da repressão. Poucos meses depois, o Ministro da Justiça Fernando Lyra anunciou o fim da censura no Brasil. Seus filmes seguintes, “Jubiabá” (1986), outra adaptação de Jorge Amado, e “A Terceira Margem do Rio” (1995), baseado em contos de Guimarães Rosa, foram separados por quase uma década, em que o cinema nacional enfrentou sua maior crise, entre o fim da Embrafilme e a reinvenção completa, com a adoção de leis de incentivo. Nelson foi um dos primeiros cineastas a reagir à implosão cultural causada pelo governo Collor, mas teve dificuldades para se enquadrar no novo modelo de produção e viu muitos de seus projetos serem inviabilizados. Por conta disso, partiu para o documentário, mais fácil e barato de filmar. Tornou-se especialista no gênero, com trabalhos sobre Castro Alves, Sergio Buarque de Hollanda, Zé Ketti e principalmente Tom Jobim, cuja vida e obra renderam seus dois filmes finais, “A Música Segundo Tom Jobim” (2012) e “A Luz do Tom” (2013). Em meio a essa fase, ele ainda realizou uma última obra de ficção, “Brasília 18%” (2006), cujo título aludia tanto à secura do ar no Planalto Central quanto às taxas de comissão cobradas por políticos corruptos. Já naquela época, em pleno escândalo do mensalão, ele aludia ao que José Padilha batizaria 12 anos depois de “O Mecanismo”. No mesmo ano, o cineasta foi eleito para a ABL, por conta de alguns roteiros publicados, tornando-se o primeiro diretor de cinema a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras. A verdade é que é possível contar boa parte da história cultural e política do Brasil dos últimos 60 anos apenas com os filmes de Nelson Pereira dos Santos.

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    David Cronenberg vai receber Leão de Ouro pela carreira no Festival de Veneza 2018

    19 de abril de 2018 /

    O cineasta canadense David Cronenberg vai receber um Leão de Ouro especial por sua carreira no Festival de Veneza 2018. Autor de filmes que exploram temas como mutações, deformações e o horror do corpo e da mente, como em “Os Filhos do Medo” (1979), “Videodrome” (1983), “A Mosca” (1986), “Crash – Estranhos Prazeres” (1996), “Um Método Perigoso” (2011) e “Mapas para as Estrelas” (2014), o diretor de 75 anos é considerado um dos cineastas mais influentes do cinema contemporâneo. “Enquanto Cronenberg esteve inicialmente confinado aos territórios marginais dos filmes de terror (…), foi capaz de construir, filme após filme, um edifício original e muito pessoal”, descreveu Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza, em comunicado. “Sempre gostei do Leão de Ouro de Veneza: Um leão voando com asas de ouro. Essa é a essência da arte, a essência do cinema”, reagiu Cronenberg ao receber a notícia. Curiosamente, Cronenberg só estreou em 2011 no Festival de Veneza com seu filme “Um Método Perigoso”, sobre o começo da psicanálise. Foi seu primeiro e único filme selecionado para a disputa do Leão de Ouro. Em comparação, ele disputou cinco vezes a Palma de Ouro no Festival de Cannes, chegando a venceu o Prêmio do Júri por “Crash”, em 1996. Cronenberg também venceu um Prêmio de Contribuição Artística Extraordinária por “eXistenZ”, no Festival de Berlim de 1999. O Festival de Veneza 2018 vai acontecer entre 29 de agosto e 8 de setembro.

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