Catherine Deneuve pede desculpas às vítimas de assédio por apoiar “direito dos homens de importunar”
A atriz francesa Catherine Deneuve lamentou no domingo (14/1) que o texto assinado por ela e outras artistas europeias no jornal Le Monde tenha sido mal-interpretada e pediu desculpas às vítimas de assédio sexual que possam ter se sentido ofendidas pelo texto. Após o escândalo que expôs o produtor Harvey Weinstein como um estuprador em série, vítimas de abusos em Hollywood e na sociedade sentiram-se encorajadas a denunciar seus abusadores. Mas para a centena de atrizes, escritoras e jornalistas que assinam o texto no Le Monde, as acusações não passam de “puritanismo”. Deneuve afirmou que apoiou o texto que denuncia o “puritanismo” das feministas do movimento #Metoo por discordar da simplicidade da discussão e do “efeito manada” provocado após os protestos contra os graves abusos cometidos por Weinstein. “Evidentemente nada no texto pretende apresentar o assédio como algo bom. Se fosse assim, não o teria assinado”, justificou a atriz em um artigo publicado pelo jornal francês Libération, após feministas chamarem as mulheres que assinaram o manifesto conservador de “tias inconvenientes do jantar em família”, que resolvem opinar sobre algo que não entendem. Até a ministra francesa de Igualdade de Gênero, Marlene Schiappa, ficou incomodada com o texto de Deneuve e cia, que a certa altura chega ao absurdo de afirmar que mulheres podem ser fortes o suficiente para “não ficaram traumatizadas com assediadores no metrô”. A estrela lamentou que a defesa ao flerte e ao “direito dos homens de importunar”, conforme assinalado no texto original, tenha sido mal-interpretado também por mulheres que o assinaram. “Dizer em uma emissora televisão que é possível ter um orgasmo durante um estupro é pior que cuspir na cara de todas aquelas que sofreram esse crime”, indicou a veterana atriz, em referência às declarações da apresentadora Brigitte Lahaie, que participou do movimento. Ela encerra com um pedido de desculpas e manifestando apoio às vítimas. “Saudações com fraternidade a todas as vítimas de todos os repugnantes atos que possam ter se sentido ofendidas por esse texto no Le Monde. É a elas, e unicamente a elas, a quem peço desculpas”, concluiu a atriz.
Feministas francesas chamam Catherine Deneuve e defensoras do assédio de “tias inconvenientes”
As cem artistas e intelectuais europeias que assinaram um manifesto contra o movimento #Metoo, que denuncia abusos sexuais, foram chamadas de “as tias inconvenientes do jantar em família”, que não entendem o que acontece no mundo real, por importantes feministas francesas nesta quarta-feira (10/1). A reação veio um dia após atrizes como Catherine Deneuve, Ingrid Caven e Catherine Robbe-Grillet, que têm mais de 70 anos, assinarem um texto publicado no jornal Le Monde em que argumentam que a campanha #Metoo equivale a “puritanismo” e é alimentada por um ódio aos homens, além de defenderem o assédio “normal” – ou o direito de homens “importunarem” as mulheres. O manifesto contrastou com o tom assumido por atrizes americanas durante a premiação do Globo de Ouro 2018, no qual Oprah Winfrey, Nicole Kidman, Laura Dern e outras personalidades de Hollywood se manifestaram contra o assédio e a desigualdade nas relações profissionais. “Com essa coluna, elas estão tentando construir de volta o muro de silêncio que nós começamos a destruir”, disseram a ativista feminista Caroline De Haas e outras 30 mulheres, em um texto de resposta, publicado pelo site da emissora de TV Franceinfo, lembrando que milhares de mulheres usaram as redes sociais nos últimos meses para compartilhar suas histórias de agressões ou abusos sexuais, usando a hashtag #MeToo mundialmente ou #balancetonporc (#DenuncieSeuPorco) na França, após as acusações contra o produtor de cinema norte-americano Harvey Weinstein virem à tona. Para as feministas, as artistas que se manifestaram contra o movimento “utilizam a visibilidade que dispõe na mídia para banalizar a violência sexual”. “Assim que há algum progresso com a igualdade (de gênero), mesmo de meio milímetro, algumas boas almas advertem que nós podemos estar indo longe demais”, completa o texto. A reclamação não se resume a esta resposta. Até a ministra de Igualdade de Gênero, Marlene Schiappa, ficou incomodada com o texto de Deneuve e cia, que a certa altura chega ao absurdo de afirmar que mulheres podem ser fortes o suficiente para “não ficaram traumatizadas com assediadores no metrô”. “É perigoso colocar nestes termos”, disse a ministra à rádio France Culture, lembrando que o governo já tem dificuldades para convencer jovens mulheres de que elas não têm culpa quando alguém as assedia e de que elas devem ir à polícia prestar queixas quando isso acontece.

