Reni Santoni (1939 – 2020)
O ator Reni Santoni, que trabalhou em “Dirty Harry” e na série “Seinfeld”, morreu no sábado (1/8) em Los Angeles, aos 81 anos, com vários problemas de saúde que incluíam câncer. O nova-iorquino Santoni era mais conhecido como autor de peças de vanguarda, do circuito off-Broadway, quando interpretou um viciado em “O Homem do Prego” (1964), de Sidney Lumet, em seu primeiro papel de destaque no cinema. Ele virou protagonista logo em seguida, em “Onde Começa o Sucesso” (1966), de Carl Reiner. Baseado num livro de Reiner já levado ao teatro, o filme trazia Santoni como um jovem aspirante a ator, que era escolhido para um trabalho mesmo sem ter experiência. O desempenho foi elogiado pelo célebre e exigente crítico Rober Ebert, mas o filme em geral foi considerado muito fraco, impedindo maior projeção para Santoni, que voltou a viver coadjuvantes em seus trabalhos seguintes, como “A Batalha de Anzio” (1968) e “A Revolta dos Sete Homens” (1969). Um de seus papéis de coadjuvante mais lembrados foi Chico, o parceiro novato do detetive “Dirty” Harry Callahan (Clint Eastwood) no policial clássico “Perseguidor Implacável” (Dirty Harry, 1971). Na trama, ele era emparelhado com o policial durão após o parceiro anterior de Callahan ser baleado, e era sempre ridicularizado por ser um “garoto da faculdade” – tinha nada menos que um diploma em sociologia. Anos mais tarde, Santoni virou parceiro até de Sylvester Stallone em “Stallone: Cobra” (1986). Atuou também como carcereiro do delinquente Sean Penn em “Juventude em Fúria” (1983). E fez muitas comédias, voltando a se juntar ao diretor Carl Reiner em dois filmes: “Cliente Morto Não Paga” (1982), estrelado por Steve Martin, e “Aluga-se para o Verão” (1985), com John Candy. Ele ainda contracenou com Candy no sucesso “Chuva de Milhões” (1985), de Walter Hill, com Robert Downey Jr. em “O Rei da Paquera” (1987), e com Michael J. Fox em “Nova York – Uma Cidade em Delírio” (1988), entre outras produções. Paralelamente, fez muitas participações em séries, incluindo “Havaí 5-0”, “As Panteras”, “Miami Vice” e “CHiPs”, além de ter integrado o elenco fixo de “Manimal” e interpretado papéis recorrentes em “Owen Marshall: Counselor at Law”, “Chumbo Grosso” (Hill Street Blues), “Midnight Caller”, “Nova Iorque Contra o Crime” (NYPD Blue), “O Desafio” (The Practice) e principalmente “Seinfeld”. Ele apareceu quatro vezes em “Seinfeld” como Poppie, gerente um restaurante italiano que enojava Jerry por não lavar as mãos após ir ao banheiro e mexer na massa. Fora das telas, Santoni teve um longo relacionamento romântico com a atriz Betty Thomas. Os dois se conheceram nos bastidores de “Chumbo Grosso”. Quando Thomas virou diretora, ele acabou aparecendo em pequenos papéis nos cinco primeiros filmes dela – “O Paraíso te Espera” (1992), “A Família Sol, Lá, Si, Dó” (1995), “O Rei da Baixaria” (1997), “Dr. Dolittle” (1998) e “28 Dias” (2000). Seus últimos trabalhos foram nas séries “CSI”, “Grey’s Anatomy”, “Raising the Bar” e “Franklin & Bash”.
Carl Reiner (1947 – 2020)
Lenda do humor americano, Carl Reiner, um dos pioneiros da comédia televisiva dos EUA e responsável por lançar Steve Martin no cinema, morreu na noite de segunda-feira (29/6) em sua casa, em Los Angeles, de causas naturais, aos 98 anos. Com uma carreira de sete décadas, Reiner acompanhou a evolução do humor americano, do teatro de variedades, passando pelos discos de humor até a criação do formato sitcom e a participação em blockbusters modernos. Após escrever piadas para apresentações de Sid Caesar em Nova York e nos programas televisivos “Caesar’s Hour”, que lhe rendeu dois Emmys, e “Your Show of Shows” dos anos 1950, ele criou “The Dick Van Dyke Show”, a primeira sitcom de verdade. E a origem do formato teve início praticamente casual. Reiner vinha sendo convidado a participar de programas de humor e escrever piadas, mas não gostava de nenhum roteiro que recebia. Sua mulher disse que, se ele achava que faria melhor, que então fizesse. E ele fez. Ele escreveu a premissa e os primeiros 13 episódios baseando-se em sua própria vida. E inaugurou um costume novo, ao estabelecer um lugar de trabalho como set de humor, relacionando as piadas à rotina do protagonista no emprego e também em sua casa, com sua mulher e filhos. Era uma situação fixa, que acabou inspirando cópias e originando um novo gênero de humor televisivo – sitcom, abreviatura de “comédia de situação”. Até então então, as comédias se passavam apenas na casa das famílias e, eventualmente, nos lugares em que passavam férias, como em “I Love Lucy”. Pela primeira vez, o humor passou a se relacionar com o cotidiano de trabalho, uma iniciativa que até hoje inspira clássicos, como “The Office”, por exemplo. O roteirista tentou emplacar a série com ele mesmo no papel principal, mas o piloto foi rejeitado. Apesar disso, o produtor Sheldon Leonard garantiu que não tinha desistido. “Vamos conseguir um ator melhor para interpretar você”. Foi desse modo que o escritor de comédias de TV Rob Petrie ganhou interpretação do galã Dick Van Dyke. Isto, porém, fomentou outro problema, quando o ator se tornou maior que o programa, graças a participações em filmes famosos – como “Mary Poppins” (1964) e “O Calhambeque Mágico” (1968) – , razão pela qual “The Dick Van Dyke Show” não durou mais que cinco temporadas, exibidas entre 1961 e 1965. Além do ator que batizava a atração, o elenco ainda destacava, como intérprete de sua esposa, ninguém menos que a estreante Mary Tyler Moore, cujo nome logo em seguida também viraria série. E Reiner, claro, conseguiu incluir em seu contrato a participação como um personagem recorrente. A audiência do programa só estourou na 2ª temporada e de forma surpreendente, numa época em que todos os canais priorizavam séries de western. A atração consagrou Reiner com quatro Emmys e lhe abriu as portas de Hollywood. Consagrado na TV, ele foi estrear no cinema como roteirista de dois longas para o diretor Norman Jewison: “Tempero do Amor” (1963), um dos maiores sucessos da carreira da atriz Doris Day, e “Artistas do Amor” (1965), com Dick Van Dyke. Em seguida, ele resolveu se lançar como diretor. Mas apesar das críticas positivas, “Glória e Lágrimas de um Cômico” (1969), estrelado por Van Dyke, não repercutiu nas bilheterias. O mesmo aconteceu com “Como Livrar-me da Mamãe” (1970), com George Segal. Assim, Reiner voltou à TV, de forma simbólica com uma sitcom chamada “The New Dick Van Dyke Show”, exibida entre 1971 e 1974. Ele tentou emplacar outras séries, como “Lotsa Luck!”, estrelada por Dom DeLuise, que durou só uma temporada, porém a maioria de seus projetos dos anos 1970 não passou do piloto. Por outro lado, a dificuldade na TV o fez tentar novamente o cinema e o levou a seu primeiro êxito comercial como cineasta, “Alguém Lá em Cima Gosta de Mim” (1977), comédia em que o cantor John Denver era visitado por Deus (na verdade, o veterano George Burns). Em 1979, ele firmou nova parceria bem-sucedida com outro comediante iniciante, o ator Steve Martin, a quem dirigiu em quatro filmes: “O Panaca” (1979), “Cliente Morto Não Paga” (1982), “O Médico Erótico” (1983) e “Um Espírito Baixou em Mim” (1984). Reiner ainda escreveu dois destes longas, ajudando a lançar a carreira de Martin, até então pouco conhecido, como astro de Hollywood. A parceria foi tão bem-sucedida que Reiner teve dificuldades de manter a carreira de cineasta após se separar de Martin. Sua filmografia como diretor encerrou-se na década seguinte, após trabalhar, entre outros, com John Candy em “Aluga-se para o Verão” (1985), Mark Harmon em “Curso de Verão” (1987), Kirstie Alley em “Tem um Morto ao Meu Lado” (1990) e Bette Midler em “Guerra dos Sexos” (1997), o último filme que dirigiu. Enquanto escrevia e dirigia, ele desenvolveu o hábito de aparecer em suas obras. E isso acabou lhe rendendo uma carreira mais duradoura que suas atividades principais – mais de 100 episódios de séries e longa-metragens. As participações começaram como figuração, como em “Deu a Louca no Mundo” (1963) e “A História do Mundo – Parte I” (1981), em que dublou a voz de Deus. Mas o fim de sua carreira de cineasta aumentou sua presença nas telas, a ponto de transformá-lo num dos assaltantes da trilogia de Danny Ocean, o personagem de George Clooney em “Onze Homens e um Segredo” (2001), “Doze Homens e Outro Segredo” (2004) e “Treze Homens e um Novo Segredo” (2007). Também apareceu em várias séries, como “Louco por Você” (Mad About You), “House”, “Ally McBeal”, “Crossing Jordan”, “Dois Homens e Meio” (Two and a Half Men), “Parks & Recreation”, “Angie Tribeca” e principalmente “No Calor de Cleveland (Hot in Cleveland), em que viveu o namorado de Betty White. E ainda se especializou em dublagens, após o sucesso da animação “The 2000 Year Old Man” (1975) que criou com outro gênio do humor, Mel Brooks. Seu último papel, por sinal, foi o rinoceronte chamado Carl, que ele dublou no recente “Toy Story 4” e num episódio da série animada “Forky Asks a Question”, da plataforma Disney+ (Disney Plus), produzido no ano passado. Em 1995, Reiner recebeu um prêmio pela carreira do Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA). Em 2009, o mesmo sindicato voltou a homenageá-lo com o Valentine Davies Award, reconhecendo sua influência e legado para todos os escritores, bem como para a indústria do entretenimento e a comunidade artística em geral. Além de sua atividade nas telas, Reiner escreveu vários livros de memórias e romances. Ele se casou apenas uma vez, com Estelle Reiner, falecida em 2008, e teve três filhos, Sylvia Anne, Lucas e Rob Reiner. Este seguiu sua carreira, virando um reconhecido diretor de cinema – autor de clássicos como “Conta Comigo”, “A Princesa Prometida”, “Harry e Sally: Feitos um para o Outro” e “Louca Obsessão”.
Rose Marie (1923 – 2017)
Morreu a atriz americana Rose Marie, que ficou conhecida por viver a personagem Sally Rogers no sitcom clássico “The Dick Van Dyke Show”. Ela faleceu na quinta-feira (28), aos 94 anos, de causa não informada. Rose Marie Mazzetta nasceu em 1923 em Nova York e estreou como atriz de forma precoce, aos quatro anos de idade, quando venceu um concurso de artistas amadores em Nova Jersey. Aos dez, começou a participar de filmes, como “Torre de Babel” (1933) e alguns curtas, mas foi só na década de 1950 que passou a se dedicar à carreira de verdade. Ela filmou participação em “The Big Beat” (1958), um dos filmes de rock do período, e acabou contratada para seu primeiro papel reincidente, aparecendo em 10 episódios das duas últimas temporadas de “The Bob Cummings Show”. De lá, entrou no elenco fixo de outro sitcom, “My Sister Eileen”, que durou apenas uma temporada, entre 1960 e 1961. Para sua sorte, já que isso abriu sua agenda para que pudesse viver seu papel mais famoso. A atriz estrelou as cinco temporadas e os 158 episódios de “The Dick Van Dyke Show” entre 1961 e 1966. Considerada uma das melhores sitcoms de todos os tempos, a produção girava em torno dos bastidores de um programa de comédia fictício, The Alan Brady Show. Metalinguístico já naquela época, tinha direito a participação do criador da série, o genial Carl Reiner, no papel de produtor da atração de mentirinha. Na trama, Rose Marie trabalhava ao lado de Morey Amsterdam e Dick Van Dyke como uma das roteiristas do show fictício, um trabalho que ainda era pouco exercido por mulheres no início dos anos 1960. Além disso, sua personagem lutava por salário igual ao de seus colegas homens e usava a pílula anticoncepcional, duas bandeiras do feminismo que ela empunhou de forma pioneira. E foi indicada a três prêmios Emmy pelo papel. Ao final da atração, a atriz fez participações em algumas séries – chegou a bisar “Os Monkees” – , mas em três anos entrou no elenco fixo de outra sitcom, “The Doris Day Show”. Rose Marie participou de 50 episódios da atração, entre 1969 e 1971, quando decidiu diversificar. Ela se arriscou a deixar de lado o gênero que a tornou famosa para se aventurar em outros tipos de produção: dublou uma vilã da animação “A Turma do Zé Colmeia” e virou policial em outra série clássica, “S.W.A.T.”, de 1975. Tudo isso enquanto acumulava aparições em programas de humorismo e variedades, e participava incansavelmente do game show “The Hollywood Squares”, que estrelou de 1965 a 1980. “S.W.A.T.” foi sua última experiência bem-sucedida com uma personagem fixa, mas Rose Marie continuou a ser bastante vista na TV até os anos 1990, em participações em “Remington Steele”, “Murphy Brown”, “Suddenly Susan” e “Wings”, entre outras séries. E também muito ouvida. Ela se especializou em dublagens, chegando até a fazer a voz de Norma Bates no remake de “Psicose” (1998), de Gus Van Sant. Seu último trabalho foi como dubladora na série animada “The Garfield Show”, em 2013. Antes de se aposentar, Rose Marie ainda voltou a viver Sally Rogers. Em 2004, a rede CBS realizou um especial de reencontro do elenco da sitcom clássica, batizado de “The Dick Van Dyke Show Revisited”. Na época, a maioria do elenco ainda estava viva. Rose foi a segunda atriz da série a morrer em 2017. Em janeiro, Mary Tyler Moore, que interpretava a jovem esposa de Dick Van Dyke, morreu aos 80 anos. “Fiquei tão triste em saber sobre a passagem da Rose Marie. Nunca houve uma artista mais envolvente e talentosa. Em uma carreira de 90 anos, já que começou aos quatro, a querida Rosie fez shows no rádio, no vaudeville, casas noturnas, filmes, TV e em Las Vegas, e sempre deixou o público clamando por ‘Mais!!’, lembrou Carl Reiner, que lhe deu o papel de Sally Rogers, numa homenagem postada no Twitter.


