Djalma Limongi Batista, diretor de “Asa Branca”, morre aos 75 anos
O cineasta brasileiro Djalma Limongi Batista, diretor de filmes como “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1981) e “Bocage: O Triunfo do Amor” (1998), morreu nessa quarta-feira (15/2), em São Paulo, aos 75 anos. Nascido em 9 de outubro de 1947, na cidade de Manaus, Djalma Limongi Batista sempre foi um apaixonado por cinema e começou a fazer seus curtas quando ainda era jovem, usando uma câmera de 8 mm. Seu primeiro trabalho amador foi o curta “As Letras 1” em 1960. Ele teve a oportunidade de estudar cinema em 1964, quando sua família se mudou para Brasília. Frequentando a UnB (Universidade de Brasília), Batista teve aulas com grandes nomes da teoria e da realização cinematográfica brasileira, como Paulo Emílio Salles Gomes, Nelson Pereira dos Santos e Jean-Claude Bernardet. Em 1968, ele continuou a sua educação cinematográfica, desta vez em São Paulo, onde se matriculou na Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo). Em pouco tempo, a teoria deu lugar à prática, pois no mesmo ano ele lançou o curta “Um Clássico, Dois em Casa, Nenhum Jogo Fora”, sobre dois jovens homossexuais em São Paulo. A obra é apontada como primeiro filme LGBTQIAP+ do Brasil e venceu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Edição no Festival de Curtas do Jornal do Brasil. Ele ainda fez o curta de ficção “O Mito da Competição do Sul” (1969), o curta documental “Porta do Céu” (1973) e o experimental “Hang-Five” (1975) antes de se arriscar no comando de um longa-metragem. A estreia em longas aconteceu em “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1981), uma comédia sobre um modesto, mas talentoso jogador de futebol de um time pequeno que se muda para São Paulo e consegue chegar ao estrelato. O filme foi estrelado por Edson Celulari, em seu primeiro papel no cinema, e foi premiado nos festivais de Brasília e Gramado. Seu longa seguinte foi “Brasa Adormecida” (1986), que narrava a história de um triângulo amoroso formado por dois primos, Ticão (novamente Edson Celulari) e Toni (Paulo César Grande), e uma prima, Bebel (Maitê Proença). A relação deles se complica quando ela finalmente escolhe um dos dois parentes para se casar. O último trabalho de Batista como diretor foi “Bocage: O Triunfo do Amor” (1998), cinebiografia do poeta português do século 18 Manuel Maria du Bocage, interpretado por Victor Wagner. O filme também foi premiado no Festival de Gramado. Batista ainda trabalhou como fotógrafo e diretor teatral, tendo, inclusive, comandado uma peça sobre “Calígula”. E foi, durante muito tempo, professor de cinema, lecionando disciplinas de direção de atores e realização cinematográfica na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado). Ao saber da morte do diretor, Edson Celulari prestou uma homenagem no seu Instagram. Ele postou uma séries de fotos de “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro”, descrevendo-o como seu primeiro trabalho profissional, junto com uma pequena biografia do diretor. O papel rendeu a ele a estatueta de melhor ator no Festival de Brasília, além dos prêmios de melhor direção para Limongi Batista. “Hoje Djalma nos deixou para, no céu, fazer muitos outros filmes, com o seu olhar cheio de irreverência. Obrigado pela sua arte meu amigo e que Deus te receba com todas as honras”. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Edson Celulari (@edsoncelulari)
Eva Wilma (1933-2021)
A atriz Eva Wilma morreu neste sábado (15/5), aos 87 anos, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, em decorrência de um câncer no ovário. Ela estava internada desde o dia 15 de abril, inicialmente para tratar problemas cardíacos e renais, tendo descoberto o câncer apenas há 10 dias. Uma das atrizes mais queridas da TV brasileira, ela completou 70 anos de carreira em setembro passado. A longa jornada artística começou no início dos anos 1950, após chamar a atenção como bailarina clássica e atuar no Teatro de Arena. Sua primeira aparição nas telas foi em 1953, aos 20 anos, como estrela da série “Alô, Doçura”, inspirada no popular seriado americano “I Love Lucy”, que era encenada ao vivo na TV Tupi. A atração, que ficou uma década no ar, era coestrelada por John Herbert, com quem a atriz se casou em 1955. Eva também começou a aparecer no cinema em 1953, a princípio como figurante em comédias da Vera Cruz e da Multifilmes, mas já em dezembro daquele ano foi escalada em seu primeiro papel romântico, em “O Craque”, de José Carlos Burle. Mesmo assim, só virou uma estrela de cinema de primeira grandeza a partir de 1960. Começando por “Cidade Ameaçada” (1960), de Roberto Farias, ela se notabilizou em clássicos de temática urbana, como “O 5º Poder” (1962), de Alberto Pieralisi, “A Ilha” (1963), de Walter Hugo Khouri, e “São Paulo SA” (1965), de Luiz Sérgio Person. A Record a escalou em sua primeira novela em 1964, “Prisioneiro de um Sonho”, em que ela interpretou três papéis diferentes. Não foi a única vez que demonstrou seu talento com múltiplos personagens. Nove anos depois, ela estrelou a primeira versão de “Mulheres de Areia” (1973), em que viveu as famosas gêmeas Ruth e Raquel, na Tupi. De fato, bastou a primeira novela para Eva se tornar rainha do gênero, estrelando uma, às vezes até duas novelas por ano, quase interruptamente até os anos 2000. Um de seus desempenhos mais longos, “As Confissões de Penélope”, em que viveu a personagem-título ao lado do marido, durou quase um ano inteiro na Tupi, entre 1969 e 1970. Principal artista da Tupi, ela protagonizou os maiores lançamentos do canal durante a década de 1970 – incluindo ainda “A Revolta dos Anjos” (1972), “Barba Azul” (1974), “A Viagem” (1975), “Roda de Fogo” (1978) e “O Direito de Nascer” (1979). Engajada politicamente, também desafiou a ditadura militar, ao participar da histórica Marcha dos Cem Mil em 1968, e jamais deixou o teatro, fazendo várias peças entre as novelas. O fim da Tupi aconteceu junto com o fim de seu casamento e um breve retorno ao cinema com “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1980). Mas as mudanças no cotidiano não diminuíram seu ritmo. Eva se casou com outro ator, Carlos Zara (1930-2002), e trocou de canal. Sem perder um ano sequer fora das telas, estreou na Globo em 1980, com “Plumas & Paetês”, e não saiu mais. Emplacou um sucesso atrás do outro, marcando época com personagens como a Marquesa D’Anjou, de “Que Rei Sou Eu?” (1989), e a inesquecível vilã Altiva, com seu sotaque nordestino misturado com inglês na fictícia Greenville de “A Indomada” (1997). O maior hiato noveleiro de sua carreira foram os três anos que separaram “Fina Estampa”, em 2012, de “Verdades Secretas”, em 2015, mesmo período que a Globo demorou para chamá-la de volta para uma pequena participação em “O Tempo Não Para”, onde viveu Petra Vaisánen, seu último papel no canal em 2018. Apesar de afastada da telinha, ela não parou. Em setembro, aderiu às lives, apresentando-se dentro de casa com o espetáculo virtual “Eva, a live”, transmitido no YouTube e no Instagram. Mesmo após ser internada, em abril, ainda gravou uma narração para um filme inédito, “As Aparecidas”, de Ivan Feijó, que ainda não tem previsão de lançamento. “Nossa querida Vivinha recebe o derradeiro aplauso, tenho certeza, de todos os profissionais que tiveram o privilégio e a honra de trabalhar com ela”, escreveu Miguel Falabella, num belo tributo nas redes sociais, evocando seu primeiro trabalho profissional com o diva. “A primeira cena que dirigi, na TV Globo, foi com ela e Carlos Zara”, continuou. “Eu estava muito nervoso, era uma externa noturna complicada, com grua, carrinho e uma grande equipe à espera das decisões e dos planos do diretor. Quanta gentileza e generosidade recebi dessa querida colega! Gravamos, no final, uma linda cena e ela me disse que eu jamais me esqueceria de que ela tinha sido a primeira atriz que eu dirigira na televisão. Como poderia eu esquecer? Se as noites na Ilha do Governador eram preenchidas por seu talento nas inesquecíveis tramas da Tupi, onde ela reinou por anos, antes de mudar-se para a Globo. Como esquecer de tão brilhante carreira nos palcos e na tela? Estou com o coração partido e os olhos molhados. Mas estou de pé. E daqui, Eva querida, calejo as minhas mãos num eterno e interminável aplauso. Brava!”.
Ana Maria Nascimento e Silva (1952 – 2017)
Morreu a atriz Ana Maria Nascimento e Silva, que foi musa do cinema nacional, participou de novelas e minisséries de sucesso da Globo e era viúva do cineasta Paulo César Saraceni. Ela tinha 65 anos e faleceu na noite de quinta-feira (30/11), em decorrência de complicações geradas por um câncer de mama. Filha do grego Harry Anastassiadi, ex-presidente da Fox Film para a América Latina, Ana Maria nasceu no Rio de Janeiro em 12 de abril de 1952, formou-se em História da Arte e acumulou vários cursos de extensão na Europa, antes de estrear no cinema em 1976 no drama “Marcados para Viver”. No ano seguinte, fez sua primeira novela, “Nina”, de Walter Durst. Mas em vez de seguir carreira na TV, opção de maior visibilidade, ela optou pelo cinema, aparecendo em vários filmes dos anos 1970, entre eles o clássico “Ladrões de Cinema” (1977), de Fernando Cony Campos, e “Os Trombadinhas” (1979), de Anselmo Duarte, estrelado por Pelé. Sua beleza marcou o final da década, quando ela passou a atuar nos filmes da Boca do Lixo, durante o boom da pornochanchada. Fez diversos filmes do gênero, como “A Força do Sexo” (1978), “Desejo Violento” (1978), “A Mulher Sensual” (1981) e o hilário “Bem-Dotado – O Homem de Itu”, em que tentava seduzir o personagem-título, vivido por Nuno Leal Maia. A carreira teve uma grande virada nos anos 1980, após ela encontrar o cineasta Paulo César Saraceni, um dos criadores do Cinema Novo. Encantado por sua beleza, o diretor criou um filme especialmente para que ela protagonizasse, “Ao Sul do Meu Corpo” (1982). A atração virou casamento. E a partir daí Ana Maria passou a ter participação importante na obra de Saraceni, atuando em “Natal da Portela”, em 1988, e, sobretudo, virando sua grande parceira, ao assumir outro aspecto do trabalho cinematográfico: a produção. Paralelamente, passou a se focar na carreira televisiva. Seu retorno à Globo se deu na minissérie “Quem Ama Não Mata” (1982), uma das mais comentadas dos anos 1980, que questionava a justificativa machista dos crimes passionais. E emendou diversas novelas, como “Jogo do Amor” (1985), “Tudo ou Nada” (1986), “O Salvador da Pátria” (1989), “Gente Fina” (1990), “Quatro por Quatro” (1994) e “Zazá” (1997), nas quais ofuscou muitos protagonistas com seu sorriso largo, olhos azuis intensos e porte aristocrático que iluminavam os cenários. Ela também comandou um programa de entrevistas na CNT e fez parte do time de jurados de calouros do “Cassino do Chacrinha”. E se toda esta exposição televisiva a tornou mais conhecida, não a afastou de sua paixão cinematográfica. Ana Maria valorizou sua filmografia com três filmes do diretor Djalma Limongi Batista, “Asa Branca – Um Sonho Brasileiro” (1980), “Brasa Adormecida” (1987) e “Bocage – O Triunfo do Amor” (1997). Participou ainda de “A Terceira Margem do Rio” (1994), de Nelson Pereira dos Santos, e da co-produção Brasil/Portugal “Eternidade” (1995), de Quirino Simões. E, além de atuar, ajudou o marido a produzir seu projeto dos sonhos, “O Viajante” (1998), final de uma trilogia dedicada aos romances de Lúcio Cardoso (1912–1968), iniciada em 1963 com o clássico “Porto das Caixas”. Assinou ainda a produção de mais dois filmes de Saraceni: o documentário “Banda de Ipanema – Folia de Albino” (2003) e “O Gerente”, o último e mais belo filme do cineasta, que veio a falecer em 14 de abril de 2012. “O Gerente” marcou também a última aparição da atriz nas telas, que mergulhou num longo luto e se afastou definitivamente das câmeras. Sua passagem pelo cinema brasileiro deixa saudades pela paixão que dedicou à arte, chegando inclusive a idealizar um festival, o Paracine, primeira mostra cinematográfica realizada em Paraty, no litoral fluminense, em 2002 – evento que abriu caminho para um festival anual, realizado até hoje.


