As Sufragistas dá perspectiva histórica ao feminismo
“As Sufragistas” reflete bem o espírito dos tempos atuais, em especial do último ano, que testemunhou o avanço do feminismo nas redes sociais e nas artes. O filme é estrelado, escrito, dirigido e produzido por mulheres, num exemplo claro de que o empoderamento feminino de sua trama não deve ficar só na retórica. De fato, a produção supre uma imensa lacuna, levando até a a questionar por que há tão poucos trabalhos sobre a ascensão histórica do feminismo. Afinal, se a mulher hoje pode votar, exercer o seu direito de cidadania e assumir cargos públicos é por causa do esforço e do sacrifício dessas pioneiras que perderam a família, os empregos e até mesmo a própria vida para que o sonho de uma vida digna fosse materializado. Dirigido por Sarah Gavron (“Brick Lane”) e escrito por Abi Morgan (roteirista de “Shame” e “A Dama de Ferro”), “As Sufragistas” acompanha a jornada de Maud Watts, interpretada de forma inspirada pela bela e talentosa Carey Mulligan (“O Grande Gatsby”). Maud é uma jovem que trabalha como lavadeira em uma empresa administrada por um homem acostumado a abusar sexualmente de suas empregadas. E, ao chegar cansada do trabalho, ainda tem que cuidar do filho e do marido (Ben Wishaw, de “007 Contra Spectre”). Ela encontra uma razão para viver ao se aliar a um grupo de mulheres rebeldes que praticam a desobediência civil para chamar a atenção da sociedade. Se com palavras ninguém as ouve, por que não quebrar vidraças, incendiar caixas postais e, se necessário, até mesmo ir para a cadeia para deixarem de ser ignoradas? Um dos pontos mais interessantes da produção está na forma como os investigadores de polícia, encabeçados pelo ótimo Brendan Gleeson (“O Guarda”), tratam o vandalismo femininista como atos de extrema periculosidade, como se aquelas mulheres fossem agentes subversivos ou algo do tipo. De certa forma, os protestos não deixam mesmo de representar uma ameaça para a sociedade machista, que via aqueles protestos como imorais, por sugerirem que as mulheres deixassem de se manter passivas diante da lei e da cultura opressoras. O maior perigo que “As Sufragistas” corre, porém, é pintar os homens de forma excessivamente caricata. A única exceção é o farmacêutico casado com a personagem de Helena Bonham Carter (“Os Miseráveis”), que apoia as ações da esposa, uma das líderes do movimento sufragista. Outra líder, por sinal, é vivida por Meryl Streep (“A Dama de Ferro”). O filme podia obter melhor resultado do ponto de vista artístico, mas, ainda que abrace uma narrativa convencional, a diretora Sarah Gavron se sai bem, tanto na criação de suas adoráveis e corajosas personagens quanto no cuidadoso trabalho de reconstituição de época. Além disso, serve como lição de História e permite o debate de uma importante questão sociocultural.
Estreias da semana dão curto no circuito, distribuindo mais cópias que salas disponíveis
Deu curto-circuito no circuito amplo dos cinemas brasileiros. E este cheiro é de queimado mesmo. Para começar, alguém acredita que os cinemas deixarão de exibir “Star Wars: O Despertar da Força” em sua segunda semana em cartaz? Lançado em 1,3 mil salas, o longa ocupou 44% de todas as telas de cinema disponíveis no Brasil na semana passada. Pois agora, “Até que a Sorte nos Separe 3” está sendo anunciado como o maior lançamento da história do cinema brasileiro, com distribuição em nada menos que 810 salas de cinemas, a partir desta quinta (24/12). Sendo assim, hipoteticamente sobrariam cerca de 900 salas livres para acomodar os demais filmes em cartaz e as outras estreias da semana no país. Pois bem, adivinhem com quantas cópias o filme infantil “Alvin e os Esquilos: Na Estrada” afirma que vai estrear, também nesta quinta? 946! Êpa! Quantas salas de cinema existem no Brasil, mesmo? Segundo relatório divulgado em agosto pela Ancine, o país teria exatas 2.957 salas de exibição. Ou alguém fez mais cópias que salas disponíveis ou há algo muito estranho nos números que estão sendo divulgados pelo mercado. Será que isso tem auditoria, fiscalização? Para acomodar os números anunciados, os dois longas de distribuição ambiciosa deveriam ser os únicos lançamentos da semana. Mas nada mais longe disso. Em circuito médio, ainda chegam a comédia “Já Estou com Saudades” em 60 salas e dois longas de qualidade – enfim! – “Macbeth: Ambição & Guerra” em 43 e “As Sufragistas” (Universal) em 34 telas. Ah, não acabou. Em distribuição bem limitada, a semana ainda traz o documentário “Eu sou Ingrid Bergman”, em 12 salas, o excelente suspense alemão “Victoria”, em sete salas, e a comédia sexual australiana “A Pequena Morte”, em apenas duas salas do Rio. Como cabe tudo isso no circuito? Oras, cinema não é o poder da imaginação? E onde fica a famosa criatividade brasileira para acomodar o inacomodável? Só perguntas respondem estas questões. Os cinéfilos, que não tem nada a ver com isso, podem conferir os trailers de todas as estreias da semana abaixo, antes de verificar se estarão realmente em cartaz num cinema próximo. Lembrando que os melhores são, nesta ordem: “Victoria”, “Macbeth” e “As Sufragistas”. E os piores são os que vocês já bem. ATUALIZAÇÃO: A Agência Nacional do Cinema (Ancine) publicou uma nova Instrução Normativa nesta quinta (24/12), obrigando os exibidores a fornecer periodicamente dados oficiais sobre distribuição de filmes e bilheteria dos cinemas brasileiros. É a auditoria que o surrealismo praticado pelo mercado pediu. Leia mais aqui. [symple_toggle title=”Clique aqui para conferir os trailers de todos as estreias da semana” state=”closed”] Estreias de cinema nos shoppings Estreias em circuito limitado [/symple_toggle]

