Léa Seydoux será paciente de hospício em drama de época
A atriz Léa Seydoux, que está mantendo carreira dupla em Hollywood e na França, já definiu seu próximo filme francês. Após estrelar os vindouros “The French Dispatch”, de Wes Anderson, e o provável blockbuster “007: Sem Tempo Para Morrer”, ela vai protagonizar “Le Bal des Folles”, um thriller dramático de época realizado por Arnaud des Pallières (“Michael Kohlhaas: Justiça e Honra”). Com filmagens marcadas para o final de 2020, a obra se passa durante o Carnaval de Paris em 1893 e é baseado em fatos e personagens reais. Na trama, a instituição da saúde mental para mulheres, Pitié Salpétrière, é o epicentro de um baile elaborado, onde políticos, artistas e socialites se reúnem para as festividades. Seydoux dará vida a Fanni, uma das 150 pacientes do sexo feminino que foram selecionadas entre as internas para participar no baile devido ao seu bom comportamento e aparência. No entanto, à medida que a noite se desenrola, Fanni tem apenas um objetivo em mente: encontrar a mãe no meio da multidão e fugir. Recentemente, a atriz terminou mais dois longas europeus, que se encontram em pós-produção: o francês “On a Half Clear Morning” (Par un Demi-Clair Matin), de Bruno Dumont, e o húngaro “The Story of My Wife”, de Ildikó Enyedi. Um deles, senão os dois, devem ganhar première nos festivais de cinema do fim do ano.
Faces de uma Mulher oferece retrato fragmentado de uma personagem múltipla
“Faces de uma Mulher” é um filme que cresce à medida que pensamos nele. A trama do cineasta Arnaud des Pallières (“Michael Kohlhaas”) apresenta quatro estágios da vida de uma mesma mulher, mas de maneira desconcertante e um tanto confusa à princípio. Até que o espectador perceba que as diferentes atrizes representam a mesma pessoa demora um pouco, embora essa estranheza e esse desconforto sejam bem-vindos e provoquem no espectador um interesse em unir as pontas. A confusão se dá pelo fato de as personagens aparecerem com diferentes nomes, embora o filme, logo no início, revele que uma delas usa nome falso. Trata-se de Renée (Adèle Haenel, de “A Garota Desconhecida”), que tem sua rotina de vida (como professora de crianças) perturbada pela chegada de uma mulher recém-saída da prisão (Gemma Arterton, de “Gemma Bovary”). A chegada daquela mulher representa o fim de seu sossego. Percebe-se, logo de cara, a fotografia que destaca os rostos com seus detalhes ressaltados: as olheiras nos olhos de Haenel; as sardas de Arterton; mais à frente os hematomas, feridas e uma maquiagem com um exagerado uso de baton vermelho, como na tentativa de restaurar a beleza dessas mulheres maltratadas. E haja maus tratos. As mulheres do filme de Pallières recebem porrada a todo instante, o que dói até no espectador, testemunha dos atos de violência, sempre praticados por homens mais velhos. Logo em seguida, entra em cena Sandra (Adèle Exarchopoulos, de “Azul É a Cor Mais Quente”), uma jovem em seus 18-20 anos que está em busca de dinheiro, seja através de um emprego normal, seja através da “adoção” por um homem mais velho. Essa oferta, ela recebe de um senhor viciado em jogos e corridas de cavalos. A vida de Sandra cruzará com Tara (Arterton) também. Só mais à frente se percebe que se trata de um flashback da personagem anteriormente apresentada. Mas o filme vai mais longe e apresenta outras duas interessantes atrizes/personagens: Karine (Solène Rigot, de “Renoir”), a garota de 13 anos que se rebela, sai em festas noturnas e é violentada pelo pai, e a garotinha de 6 anos Kiki (a estreante Vega Cuzytek), que tem uma vida normal até que um evento envolvendo seus amiguinhos de infância muda sua forma de ver o mundo. Ou parece ser essa a intenção do filme, visando justificar o comportamento posterior da personagem, em suas diferentes encarnações. Algumas situações ficam pouco claras, mas isso não chega a ser um grande problema. Ao contrário: dá ao filme seu charme. Os personagens masculinos, em sua maioria, são egoístas ou pouco compreensivos, mas dois deles fogem a essa regra: os personagens de Sergi Lopez (“Um Dia Perfeito”) e Jali Lespert (“Amor e Dor”). Este último é parte fundamental de um dos momentos mais especiais do filme, envolvendo a gravidez da protagonista. Às vezes parece faltar um pouco mais de ligação entre as histórias dessas personagens. Contudo, esse aspecto fragmentado também pode ser visto como um ponto positivo, por valorizar não apenas a narrativa, mas também a construção de climas tensos e sensuais, que preenchem a vida sofrida dessa mulher múltipla e fugidia.

