Norman Lloyd (1914-2021)
O ator, produtor e diretor norte-americano Norman Lloyd, que em mais de 80 anos de carreira colaborou com lendas do cinema como Charles Chaplin e Alfred Hitchcock, morreu dormindo aos 106 anos de idade nesta terça-feira (11/5), em sua casa em Los Angeles. O ator era uma parte da história de Hollywood. Ele adorava entreter colegas e o público de festivais com histórias de suas partidas de tênis com Chaplin, sua amizade com Alfred Hitchcock, o trabalho com o diretor francês Jean Renoir, a beleza da atriz Ingrid Bergman, e sobre com deu a Stanley Kubrick um de seus primeiros empregos na TV. Lloyd começou a se destacar como ator na conhecida Mercury Theatre, companhia de teatro fundada em 1937 pelo ator e diretor Orson Welles. Ele chegou a ser convidado a estrear no cinema em “Cidadão Kane” (1941), primeiro filme dirigido por Welles, mas recusou. Em vez disso, chegou às telas como o personagem-título de “Sabotador”, filme de espionagem dirigido pelo mestre Hitchcock em 1942, onde representou uma cena icônica, ao pular da Estátua da Liberdade no clímax da história. Ele foi outro vilão logo em seguida, em “Amor à Terra” (1945), co-escrito pelo lendário escritor William Faulkner e dirigido por Jean Renoir. Ainda voltou a trabalhar com Hitchcock no clássico noir “Quando Fala o Coração” (Spellbound, 1945), vivendo um paciente na clínica psiquiátrica de Ingrid Bergman. Também foi um soldado no célebre drama de guerra “Um Passeio ao Sol” (1945), de Lewis Milestone. E isso apenas em 1945. Nos anos seguintes, foi dirigido por outros mestres do cinema, como Jules Dassin (“Uma Carta para Eva”, 1946), Anthony Mann (“A Sombra da Guilhotina”, 1949), Jacques Tourneur (“O Gavião e a Flecha”), Joseph Losey (“O Maldito”, 1951), Richard Brooks (“O Milagre do Quadro”, 1951) e, claro, Chaplin. Ele interpretou um coreógrafo em “Luzes da Ribalta” (1952), o segundo longa falado de Chaplin. Inquieto, Lloyd não queria apenas atuar. Depois de participar de mais um filme dirigido por Lewis Milestone, “O Pintor de Almas” (1948), convenceu o cineasta a contratá-lo como assistente de produção, vindo a trabalhar nos bastidores de dois filmes do diretor, “Arco do Triunfo” (1948) e “O Vale da Ternura” (1949). Ao migrar para a TV nos anos 1950, decidiu começar a dirigir. Mas se sentia inseguro na nova função. Por isso, convocou um jovem estagiário para virar diretor de segunda unidade e ajudá-lo a gravar uma minissérie sobre Abraham Lincoln. O rapaz se chamava Stanley Kubrick. Depois disso, ele foi atrás de outro diretor amigo, Alfred Hichcock, para entrar na equipe da série que levava o nome do cineasta. Lloyd acabou virando produtor de “Alfred Hitchcock Apresenta”. Não só isso. Ele dirigiu 19 episódios da série de suspense, consolidando sua carreira de diretor de TV, que se estendeu até os anos 1980. Lloyd também foi o showrunner da série “Alfred Hitchcock Hour” nos anos 1960 e chegou a desenvolver a produção de um filme do diretor, “Short Night”, que Hitchcock filmaria após “Trama Macabra” (1976), mas uma piora na saúde do cineasta nunca permitiu que o projeto saísse do papel. Hitchcock morreu em 1980. Paralelamente a seus trabalhos atrás das câmeras, Lloyd continuou atuando em séries e filmes. Na TV, pareceu em “Galeria do Terror”, “Kojak”, “O Homem da Máfia” e “Jornada nas Estrelas: A Próxima Geração”, além de ter integrado o elenco central da série médica “St. Elsewhere”, responsável por popularizar Denzel Washington. No papel do Dr. Daniel Auschlander, Lloyd participou de todas as seis temporadas da atração, exibidas entre 1982 e 1988. No cinema, continuou colecionando grandes filmes e cineastas maiores, vivendo um médico no terror “As Duas Vidas de Audrey Rose” (1977), de Robert Wise, o diretor da escola do cultuadíssimo “A Sociedade dos Poetas Mortos” (1990), de Peter Weir, o dono de uma firma jurídica em “A Época da Inocência” (1993), de Martin Scorsese, etc. Até se despedir das telas com uma participação em “Descompensada”, de Judd Apatow, em 2015. “Lloyd acendia cada momento em que estivesse presente”, escreveu Apatow na revista Vanity Fair à época. Apesar dessa carreira tão ilustre, Norman Lloyd nunca virou um astro do primeiro time, tanto que um documentário de 2007 sobre sua vida chegou às telas com o título de “Who Is Norman Lloyd?” (Quem é Norman Lloyd).
John Fraser (1931 – 2020)
O ator escocês John Fraser, que se destacou no cinema britânico dos anos 1960, morreu em 7 de novembro após uma longa batalha contra o câncer, aos 89 anos de idade. Fraser tinha decidido que não faria quimioterapia e foi encontrado já inconsciente por sua parceira, a artista Rodney Pienaar, mas a família só tornou sua morte pública nesta quarta (11/11). Com mais de 70 créditos como ator ao longo da carreira, ele começou como figurante no clássico de guerra “Ratos do Deserto” (1954), de Robert Wise, e progrediu nos anos seguintes para pequenos papéis em outros exemplares famoso do gênero, vivendo aviadores em “Labaredas do Inferno” (1955), de Michael Anderson, e “O Vento Não Sabe Ler” (1958), de Ralph Thomas. Sua carreira deu um salto de qualidade em 1960, após encarnar Bosie (Lord Alfred Douglas, filho do Marquês de Queensberry) no filme “Os Crimes de Oscar Wilde”, de Ken Hughes, em que contracenou com Peter Finch (que foi o vencedor do BAFTA daquele ano pelo papel do célebre dramaturgo irlandês). Poucos meses depois, voltou a se destacar como um oficial em outro drama de guerra, “Glória Sem Mácula” (1960), de Ronald Neame, ao lado dos monumentais Alec Guinness e John Mills (que venceu a Copa Volpi de Melhor Ator no Festival de Veneza pelo filme). Sua carreira de coadjuvante ilustre se estendeu a outros filmes marcantes da época, como a aventura “El Cid” (1961), de Anthony Mann, a comédia “A Valsa dos Toureadores” (1962), de John Guillermin, que foi estrelada por Peter Sellers, e o icônico thriller “Repulsa ao Sexo” (1965), de Roman Polanski. Em 1965, teve seu maior destaque cinematográfico em “Névoas do Terror” (1965), considerado um dos melhores filmes do famoso detetive Sherlock Holmes, no papel de Lord Carfax, o aristocrata britânico que seria Jack, o Estripador. Em seguida, voltou a trabalhar com Michael Anderson em novo thriller de guerra, “Operação Crossbow” (1965), juntando-se a Sophia Loren e George Peppard. Também teve proeminência em “Isadora” (1968), como o secretário para quem a dançarina Isadora Duncan, vivida por Vanessa Redgrave, ditava suas memórias (e a trama). Mas a partir daí passou a aparecer mais na TV que no cinema, com participações na atração americana “Columbo” (em 1972) e num arco de três episódios de “Doctor Who” (em 1981). Sua ligação com Sherlock Holmes também foi explorada em outros projetos, como a série “The Rivals of Sherlock Holmes” (em 1971) e a minissérie “Young Sherlock: The Mystery of the Manor House” (1982). O ator ainda participou de “Scarlett”, minissérie de 1994 que continuava a famosa história de “…E o Vento Levou”, antes de abandonar as telas em 1996, após um episódio da antologia “Screen One”.
Julie Adams (1926 – 2019)
A atriz Julie Adams, que marcou época como a bela que encantou “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), morreu na manhã de domingo (3/2) em Los Angeles, aos 92 anos. Apesar de ter sido lançada ao estrelado no clássico da Universal de 1954, ela já tinha, àquela altura, uma carreira expressiva em westerns da Paramount. Mas, curiosamente, até então era conhecida como Betty Adams, seu nome real. Ela nasceu Betty May Adams em 17 de outubro de 1926, em Waterloo, Iowa. Seu pai era um comprador de algodão e a família se mudava com frequência enquanto ela crescia. Dois anos depois de se formar na Little Rock High School, em Arkansas, a jovem Betty foi coroada Miss Little Rock em 1946. Com a coroa de miss à tiracolo, ela decidiu se mudar para Los Angeles e tentar a sorte como atriz. Precisou passar dois anos como secretária enquanto aprendia seu ofício. Sua primeira oportunidade aconteceu em 1949, quando ela conseguiu uma pequena figuração na série da NBC “Your Show Time”. Depois de fazer sua estréia no cinema em um papel não creditado em “Brasa Viva” (1949), da Paramount, Adams fechou contrato com o estúdio e foi escalada numa sequência de westerns, iniciada pela “A Gangue dos Daltons” (1949), até chegar ao papel da “mocinha” em seis filmes do cowboy James Ellison. Ela virou Julia Adams a partir do western de prestígio “E o Sangue Semeou a Terra” (1952), de Anthony Mann, seguido por outro bangue-bangue célebre, “Bando de Renegados” (1953), de Raoul Walsh. E foi com este nome que estampou o pôster de seu célebre filme de monstro. Concebida como uma versão subaquática de “A Bela e a Fera”, “A Criatura da Lagoa Negra” acompanhava uma expedição científica nos rios da Amazônia. Adams interpretava Kay Lawrence, a namorada de um dos cientistas, que se torna o objeto de desejo da criatura ao decidir nadar em seu habitat. Ela, porém, considerou que o projeto representava um passo atrás em sua carreira. “Eu pensei: ‘A criatura de quê? O que é isso?'”, ela contou em uma entrevista para a Horror Society em 2013. Ao mesmo tempo, ela temia recusar o papel num filme de grande estúdio, porque “estava trabalhando com algumas grandes estrelas” e se desistisse “além de ficar sem salário, poderia ser suspensa”. “Então pensei: ‘Que se dane! Pode ser divertido’. E, claro, de fato foi. Foi um grande prazer fazer o filme”. A bela de maiô encantou a fera aquática e o público mundial, criando uma das imagens mais icônicas do cinema, ao ser transportada, desacordada, nas garras da criatura. Outra cena famosa mostrava o monstro tentando agarrar seus pés, enquanto ela nadava alheia ao perigo. Como golpe de publicidade, a Universal declarou na ocasião que as pernas da atriz eram “as mais perfeitamente simétricas do mundo” e assegurou-as por US$ 125 mil – uma fortuna na época. Mas, apesar da popularidade conquistada pelo longa dirigido por Jack Arnold – até hoje, a ponto de inspirar diretamente “A Forma da Água”, de Guillermo del Toro – , “O Monstro da Lagoa Negra” foi uma exceção na carreira de Adams, que não voltou mais ao terror, mantendo uma filmografia focada em comédias e dramas. Até para se dissociar da sombra da criatura, ela decidiu mudar de nome pela terceira vez, passando a ser creditada como Julie Adams a partir do ano seguinte, no filme noir “Dominado pelo Crime” (1955). Ela se casou logo em seguida, ao se apaixonar pelo ator Ray Danton, seu parceiro em “Hienas Humanas” (1955). Mas decidiu não mudar mais seu nome artístico. Antes de se divorciarem nos anos 1980, os dois também contracenaram no filme de guerra “Mensagem Fatal” (1958), num episódio da série “Galeria do Terror”, de 1972, e ele a dirigiu em “Psychic Killer” (1975). Em mais de seis décadas no cinema e na televisão, a atriz também contracenou com Elvis Presley em “Cavaleiro Romântico” (1965), com Dennis Hopper em “O Último Filme” (1971) e com John Wayne em “McQ – Um Detetive Acima da Lei” (1974). Ela ainda voltou ao fundo do mar na sci-fi “A Cidade Submarina” (1962), que não fez o mesmo sucesso, apareceu em “Atraída pelo Perigo” (1990), filme estrelado por Jodie Foster, em “As Torres Gêmeas” (2006), de Oliver Stone, e foi ouvida, ao telefone, em “Deus da Carnificina” (2011), de Roman Polansky. Também fez muitas participações em séries. Muitas mesmo, contando mais de 100 aparições em produções tão diferentes quanto “Bonanza”, “A Garota da UNCLE”, “O Incrível Hulk”, “Barrados no Baile” e “CSI: New York”. Entre seus papéis mais memoráveis na TV estão o da corretora Eve Simpson em 10 capítulos de “Assassinato por Escrito” (Murder She Wrote) nos anos 1990, o de esposa de James Stewart em “The Jimmy Stewart Show” na década de 1970 e como uma das raras clientes do advogado Perry Mason a ser considerada culpada, num episódio de 1963 da famosa série jurídica. Em 2011, Adams publicou sua biografia, “The Lucky Southern Star: Reflections From the Black Lagoon”. E se despediu do público num curta do ano passado, inspirado em seu livro.


