Globo transforma minissérie Nada Será Como Antes em telefilme
A Globo exibe neste sábado (19/9) no Supercine uma versão resumida da série “Nada Será Como Antes”, transformada em telefilme como parte das comemorações do aniversário de 70 anos da televisão brasileira. Escrita por Guel Arraes, Jorge Furtado e João Falcão, a série conta de forma ficcional os bastidores desse momento histórico, quando as primeiras transmissões começaram. O título “Nada Será Como Antes” alude justamente à transformação que a TV causaria no país. A minissérie tinha originalmente 12 capítulos com direção de José Luiz Villamarim (minissérie “Justiça”). A trama gira em torno do casal Saulo (Murilo Benício) e Verônica (Debora Falabella), um empreendedor que aposta que aquele veículo é o futuro do entretenimento e uma locutora de rádio, que faz a transição para estrela da tela. A personagem de Débora Falabella é Verônica Maia, locutora de uma rádio do interior, cuja voz encanta um vendedor de aparelhos radiofônicos, Saulo Ribeiro, interpretado por Murilo Benício , que se mostra um visionário das telecomunicações. Querendo tirá-la do anonimado, ele a leva ao Rio e a transforma em estrela dos comerciais da Rádio Copacabana. Mas ainda não é o bastante: Saulo acredita que chegou a hora da televisão ocupar o lugar do rádio e, para isso, procura Pompeu Azevedo Gomes (Osmar Prado) para financiar a abertura da primeira emissora de televisão brasileira, a TV Guanabara. Para cativar o público e seu patrocinador, que se mostra incrédulo, Saulo tem a ideia de transformar o clássico literário “Anna Karenina”, de Leon Tolstoi numa novela, a primeira da TV brasileira. E a sacada se prova revolucionária, alçando Verônica Maia, intérprete do papel-título, ao estrelado nacional. A história é fictícia – existiu uma TV Guanabara, mas fundada em 1977, já no início da rede Bandeirantes, e a primeira telenovela brasileira foi “Sua Vida me Pertence”, exibida na TV Tupi a partir de dezembro de 1951 – duas vezes por semana. Mas a ideia não era ser documental, apenas evocar o espírito dos pioneiros da TV nacional. O elenco também inclui Daniel de Oliveira, Fabrício Boliveira, Cássia Kis Magro, Jesuíta Barbosa e Bruna Marquezine, que, no papel de cantora e dançarina de cabaré, viveu um romance lésbico com Leticia Colin e deu muito o que falar. Na época da série, Marquezine acabou roubando todas as atenções, mostrando seu amadurecimento ao interpretar uma personagem bastante sensual e ousada. Veja abaixo uma apresentação da minissérie original com cenas e depoimentos da equipe criativa.
Fargo: Vídeo de bastidores apresenta personagens, época e tema da 4ª temporada
O canal pago americano FX divulgou um vídeo inédito dos bastidores da 4ª temporada de “Fargo”, com depoimentos de atores como Chris Rock (“Gente Grande”) e Jason Schwartzman (“Moonrise Kingdom”), além do criador da série Noah Hawley. A prévia apresenta os personagens, o período histórico e o tema da série. “É uma história atemporal, que pergunta: se os EUA são uma nação de imigrantes, como um se torna americano?”, diz Hawley. Transformada numa produção de época, a trama do quarto ano troca a zona rural contemporânea do centro-oeste americano pela metrópole de Kansas City durante os anos 1950, onde dois grupos de migrantes se encontram: os europeus, que chegam da Itália, e os afro-americanos, vindos dos estados mais racistas do Sul, com suas leis discriminatórias. Diante do conflito dos dois grupos pelo controle do tráfico de drogas na cidade, uma tênue paz é organizada por meio de um pacto inusitado: os chefes de cada grupo rival aceitam criar o filho do outro. Isto significa que Chris Rock interpreta um pai que entregou sua própria criança para ser criado pelo chefe do grupo inimigo e, em contrapartida, pegou o herdeiro do inimigo para criar. Este equilíbrio tênue, porém, não resiste por muito tempo, bastando o chefe da máfia precisar passar por uma cirurgia num hospital para tudo mudar. Além dos citados, o elenco também destaca Ben Whishaw (“O Retorno de Mary Poppins”), Jessie Buckley (“Chernobyl”), Jack Huston (“Ben-Hur”), Timothy Olyphant (“Santa Clarita Diet”) e o músico Andrew Bird (“O Caminho”). A estreia da 4ª temporada vai acontecer em 27 de setembro nos EUA.
Tom Hanks volta à Austrália após covid-19 para filmar biografia de Elvis Presley
Tom Hanks já voltou à Austrália para retomar as filmagens da cinebiografia de Elvis Presley, seis meses depois da produção ser interrompida devido ao ator ser diagnosticado com covid-19. Segundo o jornal britânico Daily Mail, Hanks viajou até o país de jatinho particular, e foi transportado direto do Aeroporto Coolangatta, na região de Queensland, para um resort onde ficará isolado durante as filmagens. A mulher do ator, Rita Wilson, que também teve coronavírus ao acompanhá-lo no começo dos trabalhos, desta vez não viajou com ele. No filme ainda sem título, dirigido por Baz Luhrmann (“O Grande Gatsby”), Hanks vai interpretar o coronel Tom Parker, empresário do Rei do Rock, enquanto Austin Butler (“Era uma Vez em… Hollywood”) interpretará Elvis. O elenco destaca ainda Olivia DeJonge (a Ellie da série “The Society”) no papel de Priscilla, a esposa do cantor, e Maggie Gyllenhaal (a Candy de “The Deuce”) como Gladys, a mãe de Elvis. Apesar da paralisação das filmagens durante a pandemia, a produção da Warner Bros. sofreu pouco atraso em seu cronograma de lançamento, com estreia adiada por apenas um mês, para novembro de 2021 nos EUA.
Franca Valeri (1920 – 2020)
A estrela Franca Valeri, lenda da comédia italiana, que havia completado 100 anos de idade no último dia 31 de julho, morreu neste domingo (9/9) em sua casa em Roma, enquanto dormia. Nascida Alma Franca Maria Norsa em 1920, na cidade Milão, de uma família de origem judaica, ela estrelou cerca de 50 filmes ao longo de sua carreira, além de inúmeras séries, programas de rádio e principalmente peças de teatro, sua maior paixão. A estreia no cinema só aconteceu aos 30 anos de idade, depois dela já ter se estabelecido como comediante no rádio e no teatro. O primeiro filme foi o clássico “Mulheres e Luzes” (1950), escrito e dirigido pelo jovem Federico Fellini, em parceria com Alberto Lattuada. Dizem que o próprio Fellini a selecionou. Ela roubou as cenas e logo em seguida virou protagonista, tendo o primeiro papel de destaque em “Totò a Cores” (1952), no qual contracenou com o célebre comediante Totò. Valeri brilhou na era de ouro da comédia italiana, estrelando dois clássicos de Dino Risi: “O Signo de Vênus” (1955) e “O Viúvo” (1959). Também trabalhou para Mario Monicelli em “Um Herói de Nossos Tempos” (1955) e Luigi Comencini em “Esses Maridos” (1957), fez par romântico com Marcello Mastroianni em “Bígamo a Força” (1956) e se destacou em “A Casa Intolerante” (1959), um dos filmes emblemáticos da guinada sexual das produções italianas. Sua popularidade nos anos 1950 influenciou até a moda, levando várias italianas a imitarem seu corte de cabelo curto. Mais que uma atriz bonita e de timing impecável para a comédia, Valeri também encantou cineastas por seu talento como roteirista, função que começou a lhe render créditos em “O Signo de Vênus”, quando ajudou Risi e Comencini a criar a história original sobre duas primas, uma com excesso de pretendentes (Sophia Loren) e outra com falta (ela mesma). Valeri ainda co-escreveu e estrelou “Tubarões de Praia” (1961), “Parigi o Cara” (1962) e “Desculpe, Façamos o Amor” (1968). A inclinação intelectual não era surpresa para quem a conhecia. Alma Franca tinha escolhido o pseudônimo Franca Valeri em homenagem ao escritor, poeta e filósofo Paul Valéry. Todo esse talento sofreu com a guidada picante do cinema comercial italiano, que a levou a filmar até com o rei do eurotrash Lucio Fulci, em “Os Maníacos” (1965). Sua carreira cinematográfica estagnou na época de “Ettore, O Machão” (1972) e ela decidiu se dedicar mais ao teatro e à televisão, criando e estrelando diversas peças, séries e telefilmes, além de dirigir óperas. Seu último trabalho foi o telefilme “Non Tutto è Risolto”, que ela própria escreveu em 2014. Em 2020, ela foi premiada com o troféu David di Donatello (o Oscar italiano) pelas realizações de sua carreira cinematográfica. “Profunda tristeza pela morte de Franca Valeri, um ícone do nosso teatro, de nossa cultura e espetáculo. Ela nos presenteou com incontáveis momentos de humor e pensamento, de elegância e sagacidade. Somos gratos por todos esses presentes”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte.
Perry Mason é renovada para 2ª temporada
Apresentada originalmente como uma minissérie, “Perry Mason” agradou tanto que vai virar série anual. O canal pago americano HBO anunciou ter renovado a atração estrelada por Matthew Rhys para uma 2ª temporada. A produção teve uma estreia promissora no mês passado, atraindo 1,7 milhões de telespectadores nos EUA. Os números foram maiores que os da estreia da incensada “Watchmen”, vista por 1,5 milhões de americanos após uma campanha de marketing significativamente mais intensa. “Foi uma jornada emocionante trabalhar com a equipe imensamente talentosa por trás de ‘Perry Mason'”, disse Francesca Orsi, vice-presidente executiva de programação da HBO, em comunicado. “Os telespectadores gostaram de ser transportados de volta no tempo para a Los Angeles da década de 1930 e estamos felizes em receber o programa de volta para uma 2ª temporada.” O maior diferencial do reboot é justamente sua encenação nos anos 1930, época dos primeiros livros do personagem, criado por Erle Stanley Gardner. Essa característica não chamou atenção nos filmes e séries anteriores, porque eram contemporâneos dos livros – os sete longas de “Perry Mason” foram lançados entre 1934 e 1940 e a série imensamente popular, que consagrou o ator Raymond Burr, seguiu-se de 1957 e 1966. As histórias eram contemporâneas porque Gardner só parou de escrever os casos do mais famoso advogado da literatura ao morrer em 1970 – ele até apareceu no último episódio da série clássica, em 1966. Com isso, a maioria do público acabou esquecendo que o personagem surgiu como detetive na época da Lei Seca e dos gângsteres de chapéu e metralhadora. Mas é esta encenação original que a nova série retoma. O revival de “Perry Mason” foi desenvolvido pelos roteiristas Rolin Jones e Ron Fitzgerald (ambos de “Friday Night Lights”) para a Team Downey, a produtora do ator Robert Downey Jr., que chegou a considerar uma adaptação cinematográfica. Além de Rhys, o elenco destaca a vencedora do Emmy Tatiana Maslany (“Orphan Black”) e o vencedor do Emmy John Lithgow (“The Crown”), além de Chris Chalk (o Lucius Fox de “Gotham”), Juliet Rylance (“McMafia”), Madeline Zima (“Californication”), Shea Whigham (“Agent Carter”), Robert Patrick (“O Exterminador do Futuro 2”) e outros. Dirigida e coproduzida pelo também vencedor do Emmy Tim Van Patten (“Boardwalk Empire”), a 1ª Temporada de 8 episódios de “Perry Mason” segue no ar, com seu encerramento marcado para 9 de agosto.
Earl Cameron (1917 – 2020)
O ator Earl Cameron, um dos primeiros e maiores astros negros do cinema britânico, morreu na sexta-feira (3/7) em sua casa em Kenilworth, na Inglaterra, de causas não reveladas. Ele tinha 102 anos. Cameron virou ator por acaso. Imigrante de Barbados, trabalhava como lavador de pratos quando foi visitar um amigo nos bastidores de um musical no West End londrino no final dos anos 1940. Naquele dia, um ator foi demitido e ele acabou aproveitado no ensaio para cantar um refrão. Não só entrou na peça como participou de diversas montagens teatrais, antes de fazer sua estreia bombástica nas telas em 1951, escalado pelo célebre diretor Basil Dearden como um marinheiro recém-chegado de navio em Londres, no clássico noir “Beco do Crime”. Naquele filme, o personagem de Cameron se envolvia com uma garota branca (Susan Shaw), num contexto de racismo e crime que entrou para a História. Foi o primeiro romance interracial produzido pelo cinema britânico. Apesar desse começo impactante, ele foi relegado a papéis menores nos longas seguintes, atuando geralmente em produções passadas na África, ainda no período colonial britânico, como “Simba” (1955), “Odongo” (1956), “A Morte Espreita na Floresta” (1956), “A Marca do Gavião” (1957) e até na série “O Caçador Branco” (1957). Só foi voltar à Londres urbana em novo filme de Dearden, o clássico “Safira, a Mulher Sem Alma” (1959), noir excepcional, vencedor do BAFTA de Melhor Filme Britânico, que se passava nos clubes noturnos de jazz da capital inglesa e novamente revisitava as relações interracionais e o racismo contra imigrantes caribenhos. Desde vez, ele interpretou um médico, irmão da personagem-título. Era o assassinato de sua irmã, confundida com uma mulher branca pela polícia, que dava início à trama, apresentada como uma investigação de crime racial. Após outras aventuras coloniais, inclusive um Tarzan – foi parceiro do herói em “Tarzan, o Magnífico” (1960) – , ele estrelou seu terceiro drama racial, “Lá Fora Ruge o Ódio” (1961), mais uma vez numa relação com uma mulher branca. Dirigido por Roy Ward Baker, o drama trazia o ator como o operário-modelo de uma fábrica, que era selecionado para receber uma promoção, despertando grande ressentimento entre seus colegas brancos. Cameron fez outro Tarzan – “Os Três Desafios de Tarzan” (1963) – e sua maior produção colonial, “Os Rifles de Batasi” (1964), de John Guillermin, antes de virar um agente secreto aliado de James Bond em “007 Contra a Chantagem Atômica” (1965). Ele também participou de “Dezembro Ardente” (1973), romance estrelado e dirigido por Sidney Poitier em Londres, integrou a produção libanesa “Maomé – O Mensageiro de Alá” (1976), ao lado de Anthony Quinn, e voltou a contracenar com o intérprete de 007, Sean Connery, em “Cuba” (1979). Mas aos poucos tomou o rumo da TV, onde apareceu em dezenas de produções, inclusive nas célebres séries “Doctor Who” e “O Prisioneiro”, antes de dar uma pausa de 15 anos nas telas. Retornou apenas na década de 1990 para dar continuidade à longa filmografia. Entre seus trabalhos mais recentes estão o thriller “A Intérprete” (2005), de Sydney Pollack, estrelado por Nicole Kidman, o premiado “A Rainha” (2006), de Stephen Frears, que consagrou Helen Mirren, e “A Origem” (2010), de Christopher Nolan, com Leonardo DiCaprio.
Hugh Jackman vai estrelar cinebiografia do fundador da Ferrari
O antigo projeto de Michael Mann, “Ferrari”, voltou ao mercado em nova configuração, visando começar filmagens em 2021. Segundo o site Deadline, Hugh Jackman (“Logan”) finalmente aceitou assumir o papel de Enzo Ferrari, fundador da escuderia, e Mann recentemente reescreveu o roteiro, concebido pelo falecido Troy Kennedy Martin (“Uma Saída de Mestre”). Para dar noção do quanto esse projeto é antigo, Martin faleceu há 11 anos. E Jackman está “negociando” o papel de Ferrari há três anos. A produção, entretanto, começou a ser desenvolvida por Mann há nada menos que duas décadas e já teve Christian Bale escalado para o papel. O filme quase aconteceu em 2016 com o intérprete de Batman, mas o ator precisou desistir por recomendações médicas, ao ter dificuldades para ganhar peso. “Enzo Ferrari” será ambientado no ano de 1957, o período mais tumultuado da vida de Ferrari, em que ele enfrentou um rivalidade dura com a Maserati e lidou com fracassos e um processo criminal, em decorrência de um acidente que levou à morte seu piloto Alfonso de Portago e nove espectadores durante uma corrida. A história é baseada no livro escrito por Brock Yates, “Enzo Ferrari: The Man, the Cars, the Races”. Além deste filme, uma cinebiografia rival chegou a ser anunciada em 2015, com Robert De Niro no papel principal, mas esse projeto também jamais saiu da garagem. A STX vai distribuir o filme de Mann nos EUA, Reino Unido e Irlanda, enquanto a Amazon negocia ficar com a distribuição internacional. O diretor, que conhece a família Ferrari, foi produtor executivo de “Ford vs Ferrari”, que venceu dois Oscars em 2020. E pretende superar esse filme com a construção de uma verdadeira frota de carros de época – em outras palavras, seu filme não será barato.
A Vastidão da Noite é uma das estreias mais instigantes dos últimos anos
“A Vastidão da Noite” é apenas o pontapé inicial na carreira do diretor Andrew Patterson, mas já se tornou umas das estreias mais instigantes dos últimos anos. A obra demonstra um carinho muito grande pelos filmes de ficção científica da década de 1950, numa grande homenagem ao estilo, mas não é retrô. Na verdade, não abre mão de parecer moderna. Afinal, filmes daquela época não teriam explorado tanto as conversas entre personagens. E é o que Patterson faz, tanto que ele próprio cita influência da trilogia de Jesse e Celine, de Richard Linklater, em seu trabalho. O diretor de 38 anos também se mostra muito atento aos aspectos visuais e sonoros de sua obra. A ponto de a exibição em streaming – “A Vastidão da Noite” é um lançamento da Amazon Prime Video – dar saudades das sessões com tela grande de cinema. A primeira parte do filme são basicamente planos gerais, com cenas em um ginásio onde acontece um jogo de basquete. Mais tarde saberemos que praticamente toda a cidadezinha de Cayuga, Nova México (uma cidade fictícia), está naquele local. O filme joga o espectador na trama sem uma apresentação dos personagens. Esse tipo de recurso mais moderno não é exatamente novo, mas integra um repertório específico, que parece querer incomodar os espectadores em muitos aspectos, inclusive com ruídos. Há os ruídos da bola batendo no chão e do arrastar dos tênis dos jogadores, enquanto a conversa rola de maneira descontraída, descontrolada e realista. E são justamente ruídos que amarram a trama. Os personagens principais são dois jovens: um radialista chamado Everett (Jake Horowitz) e uma operadora de uma central telefônica chamada Fay (Sierra McCormick). Ela parece ter uma ligeira queda por ele, mas essa relação afetiva não chega a ser algo tão essencial. Durante uma passagem dos dois pelos carros ao redor do ginásio, um ruído é ouvido ao fundo. E o uso de câmera subjetiva cria tensão naquele ponto, evocando as experiências de Sam Raimi em “Evil Dead” (1981). O uso da câmera é, de fato, um dos aspectos mais brilhantes do filme, embora chegue a chamar demais a atenção, a ponto de atrapalhar a imersão na trama. Outro elemento importante é a escuridão. Deliberadamente, Patterson usa muitas cenas escuras, como a esconder o que há em volta dos personagens – na verdade, para esconder o baixo orçamento da produção indie. Mas apesar da amplitude dos primeiros takes – com direito a um passeio noturno pela cidade – , “A Vastidão da Noite” encontra seu ritmo em cenas de interiores e nas ligações telefônicas entre os dois personagens, cada um em seu local de trabalho. O ponto de partida para a trama são ruídos estranhos ouvidos ao telefone. Fay resolve mostrar para seu amigo Everett aquilo que conseguiu captar. O jovem radialista, por sua vez, resolve mostrar esse ruído para sua audiência. E imediatamente ele recebe a ligação de um homem que diz saber o que é aquilo. O interessante é que o ruído só ganha força e importância porque os personagens dão a ele importância. É o caso clássico de filme que brinca muito com as reações, principalmente faciais, de seus personagens e convida o público para entrar no jogo e ficar tão preocupado, tão interessado, tão intrigado e tão entusiasmado quanto eles. E o que é o tal ruído? O mistério envolve as tais referências de ficção científica cinquentista. Mas principalmente dá o que falar. Em tempos pandêmicos, é uma alegria poder ver uma estreia (ainda que direto no streaming) capaz de provocar tantos comentários positivos entre cinéfilos, críticos de cinema e apreciadores do gênero sci-fi.
Perry Mason volta aos anos 1930 em novo trailer do reboot da HBO
A HBO divulgou um pôster e o novo trailer de “Perry Mason”, que traz o advogado mais famoso da ficção de volta à TV, com Matthew Rhys (vencedor do Emmy por “The Americans”) no papel-título. A prévia mostra Mason nos anos 1930 e antes de se tornar o tal advogado famoso, como detetive que investiga um sequestro sórdido envolvendo políticos e religiosos. O clima é totalmente noir. Com oito episódios, a série limitada recontextualiza Perry Mason em seus primeiros anos de atividade como investigador particular durante o pós-guerra em Los Angeles. O maior diferencial do reboot é justamente sua encenação nos anos 1930, época dos primeiros livros do personagem, criado por Erle Stanley Gardner. Essa característica não chamou atenção nos filmes e séries anteriores, porque eram contemporâneos dos livros -os sete longas de “Perry Mason” foram lançados entre 1934 e 1940 e a série imensamente popular, que consagrou o ator Raymond Burr, exibida entre 1957 e 1966. As histórias eram contemporâneas porque Gardner só parou de escrever os casos do mais famoso advogado da literatura ao morrer em 1970 – ele até apareceu no último episódio da série clássica, em 1966. Com isso, a maioria do público acabou esquecendo que o personagem surgiu na época da Lei Seca e dos gângsteres de chapéu e metralhadora. Mas é esta encenação original que a nova série retoma. O revival de “Perry Mason” foi desenvolvido pelos roteiristas Rolin Jones e Ron Fitzgerald (ambos de “Friday Night Lights”) para a Team Downey, a produtora do ator Robert Downey Jr., que chegou a considerar uma adaptação cinematográfica. Além de Rhys, o elenco destaca a vencedora do Emmy Tatiana Maslany (“Orphan Black”) e o vencedor do Emmy John Lithgow (“The Crown”), além de Chris Chalk (o Lucius Fox de “Gotham”), Juliet Rylance (“McMafia”), Madeline Zima (“Californication”), Shea Whigham (“Agent Carter”), Robert Patrick (“O Exterminador do Futuro 2”) e outros. Dirigida e coproduzida pelo também vencedor do Emmy Tim Van Patten (“Boardwalk Empire”), “Perry Mason” será lançada em 21 de junho.
A Vastidão da Noite: Amazon estreia sci-fi premiada que encantou a crítica americana
A Amazon acaba de lançar em seu serviço de streaming a sci-fi “A Vastidão da Noite” (The Vast Of Night), produção independente que chega precedida por críticas muito positivas e premiação em alguns festivais americanos. Altamente atmosférico e estilizado, basta ver o trailer disponibilizado abaixo para começar a entender como o diretor Andrew Patterson conseguiu criar um longa de época sobre invasores espaciais com pouco orçamento e ser aplaudido com entusiasmo por 92% do Rotten Tomatoes. A trama se passa no Novo México em meados da década de 1950, durante uma noite fatídica em que uma jovem telefonista e um jovem radialista descobrem uma estranha frequência de áudio que vem do espaço. Obcecados em encontrar a fonte do som, eles embarcam numa jornada que pode mudar sua pequena cidade e o futuro para sempre. Os papéis principais são desempenhados por Sierra McCormick (ex-estrelinha da Disney do “Programa de Talentos”) e Jake Horowitz (visto na série “Manifest”). Mas o destaque é mesmo para o cineasta Andrew Patterson, que passou a receber propostas para dirigir grandes produções após o filme, considerado “uma estreia impressionante” pelo jornal Los Angeles Times. A plataforma de streaming da Amazon adquiriu o filme logo após ele ser exibido no Festival de Sundance do ano passado. Os planos originais previam lançamento no cinema, mas a covid-19 mudou tudo e “A Vastidão da Noite” virou atração de drive-ins, antes de chegar ao streaming neste fim de semana. Fica a dica. E o trailer.
Diretor de Conduzindo Miss Daisy vai filmar cinebiografia de Buddy Holly
O veterano cineasta Bruce Beresford, indicado ao Oscar por “A Força do Carinho” (1983) e diretor do vencedor do Oscar “Conduzindo Miss Daisy” (1989), vai filmar uma nova cinebiografia do roqueiro Buddy Holly. Intitulado “Clear Lake”, o filme vai mostrar a trajetória do cantor e guitarrista desde sua adolescência ao sucesso nos anos 1950, em meio a suas turnês e amizades com outros artistas da época, como Little Richard, Dion e Lavern Baker, até a fatídica queda de avião que interrompeu sua trajetória em 1959. A produção está a cargo de Stuart Benjamin, que anteriormente fez “La Bamba” (1986), que também mostrou o mesmo acidente trágico, no qual morreram Buddy Holly, Ritchie Valens e outros pioneiros do rock’n’roll. A viúva de Holly, Maria Elena Holly, também está envolvida no projeto como produtora associada. Ela não tinha participado da cinebiografia anterior, “A História de Buddy Holly” (1978), que rendeu indicação ao Oscar para seu intérprete, Gary Busey. “Eu me senti atraído por ‘Clear Lake’ porque o roteiro conta a trágica história de Buddy Holly e sua época em detalhes fascinantes e com caracterizações vívidas. Nem preciso dizer que o acréscimo de toda sua música maravilhosa também foi um grande atrativo”, disse Beresford em um comunicado. “O ponto focal da história é como artistas negros, hispânicos e brancos se reuniram na primeira turnê de música verdadeiramente integrada para começar a quebrar as barreiras racial nos EUA”, acrescentou outro dos produtores, Rick French, que concebeu o projeto com Stephen Easley, diretor de uma fundação dedicada a Buddy Holly. O roteiro foi escrito por Patrick Shanahan (“The Fox Hunter”) e a previsão é de iniciar a filmagem no fim do ano, dependendo da evolução da pandemia de coronavírus.
Norma Doggett (1925 – 2020)
Norma Doggett, a dançarina da Broadway que estrelou o célebre musical de Stanley Donen “Sete Noivas para Sete Irmãos”, em 1954, morreu em 4 de maio, em Nova York, aos 94 anos. Descoberta pelo lendário coreógrafo Jack Cole dançando num club noturno, ela se tornou dançarina profissional aos 17 anos e acabou estrelando seis musicais de sucesso da Broadway, de 1948 a 1959, trabalhando com grandes mestres do gênero, como Irving Berlin, Jerome Robbins, Moss Hart e Joshua Logan. Consagrada, foi convidada pelo coreógrafo Michael Kidd para estrelar seu único filme. Em “Sete Noivas para Sete Irmãos”, Doggett viveu o papel da adorável Martha, que se casa com Daniel (Marc Platt), um dos irmãos Pontipee que viviam nas montanhas do Oregon na década de 1850. As outras noivas do musical foram interpretadas por Jane Powell (Milly), Julie Newmar (Dorcas), Ruta Lee (Ruth), Nancy Kilgas (Alice), Virginia Gibson (Liza) e Betty Carr (Sarah). Mas Doggett quase perdeu seu papel, porque machucou o tornozelo durante os ensaios. O diretor e o coreógrafo decidiram mantê-la no elenco, mas deram seus números musicais para outra “noiva”. No entanto, durante as filmagens, sua substituta também torceu o tornozelo. “Eles me colocaram de volta no último minuto e filmaram todas as minhas danças originais”, ela contou numa entrevista antiga. “Sete Noivas para Sete Irmãos” foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, mas perdeu para “Sindicato dos Ladrões”. Décadas depois, virou série de TV, projetando a carreira do ainda pouco conhecido Richard Dean Anderson, o futuro “MacGyver”. Após a carreira no showbusiness, Doggett virou secretária na empresa de petróleo Mobil Oil e se casou, mas não se afastou totalmente do mundo do entretenimento, sendo sempre convidada a participar de documentários, especiais e homenagens aos grandes coreógrafos, compositores e diretores com quem trabalhou.
Little Richard (1932 – 2020)
O cantor, músico e ator Little Richard, um dos pais do rock’n’roll, morreu aos 87 anos, de causa ainda não revelada. Ele vendeu 30 milhões de discos em todo mundo e influenciou gerações de artistas que atingiram ainda maior projeção, como Elvis Presley, Beatles, Elton John e Prince. Pioneiro incontestável, desbravou todo o potencial do piano como instrumento de rock, ensinou Mick Jagger a dançar e Paul McCartney a cantar. Little Richard se destacou, ao lado de Chuck Berry e Fats Domino, na primeira leva de artistas de R&B (rhythm and blues) a fazer sucesso entre o público branco americano. Mas antes de assinar seu primeiro contrato musical em 1951, ele era apenas Richard Wayne Penniman, um jovem caipira de Macon, no estado da Geórgia, que só tocava em lugares segregados. Filho de diácono batista, ele começou a cantar na igreja. Mas a religião lhe traiu muitas vezes. A primeira, aos 15 anos de idade, quando foi expulso de casa pelo pai crente, devido a seus modos afeminados. Isso o levou ao “vaudeville” para sobreviver, onde chegou a tocar travestido para atrair plateias interessadas em freakshows. Foram nesses shows restrito aos negros que Little Richard conheceu sua maior inspiração, o “príncipe do blues” Billy Wright, que se apresentava em ternos coloridos, tinha um topete enorme e um bigode estreitíssimo. O jovem Richard logo passou a imitá-lo. Os shows energéticos que se seguiram chamaram atenção da indústria. Ele assinou com a RCA em 1951. Mas suas músicas só começaram a chegar no rádio em 1955 e por outra gravadora, a Specialty Records, quando o produtor Robert Blackwell o encorajou a revisitar sua época do vaudeville e cantar uma música que costumava entoar, com palavras inventadas e que começava com um grito. Era “Tutti Frutti” e sua carreira deslanchou. Mesmo assim, nada superava vê-lo ao vivo, tocando piano como ninguém – de pé diante do piano, com o pé sobre o piano, de pé em cima do piano. Jerry Lee Lewis tentou superá-lo colocando fogo no instrumento. Mas chegou depois de Little Richard ter incendiado a juventude dos EUA. Quando Elvis assinou com a RCA, Little Richard já era astro de cinema. Ele fez parte do elenco de “Música Alucinante” (Don’t Knock the Rock, 1956), ao lado de Bill Haley and the Comets, cantou a música-título de “Sabes o que Quero” (The Girl Can’t Help It, 1956) e arrebentou em “O Rei do Rock and Roll” (Mister Rock and Roll, 1957) com “Lucille”. Foi no primeiro filme que eternizou as performances de suas músicas mais famosas, “Long Tall Sally” e aquela que começa a frase icônica “A-wop-bop-a-loo-lop-a-lop-bam-boom!”, a célebre “Tutti-Frutti”, uma das canções mais regravadas de todos os tempos. Tanto Elvis quanto os Beatles gravaram versões das duas músicas. Na verdade, os Beatles gravaram até o lado B de “Long Tall Sally”, “Slippin’ and Slidin'” – além de incluir “Lucille” e “Good Golly, Miss Molly” em seu repertório. Paul McCartney foi uma das poucas pessoas do mundo capaz de cantar como Little Richard, porque o próprio Little Richard lhe ensinou em 1962, na época em que tocaram e conviveram juntos entre shows na Inglaterra e na Alemanha. Mas antes de escolher seu sucessor, a indústria tentou embranquecer suas canções à força, dando seu repertório para o ídolo pop Pat Boone gravar. As músicas de Boone eram versões literalmente pálidas das originais. Mesmo assim, era o galã quem aparecia na TV tocando “Tutti-Frutti”. O sucesso de Elvis trouxe nova versão de “Tutti-Frutti” para as paradas. Só que em vez de popularizar o artista original, Elvis acabou substituindo-o. Até a juventude inglesa reconhecer na década seguinte que Little Richard era insubstituível. Beatles e Rollings Stones chegaram a servir de bandas de abertura para shows do cantor, em reverência a seu talento. Mas Richard, que foi o primeiro artista para quem fãs atiraram calcinhas no palco, acabou se convertendo à religião no auge da carreira. Ele apelou a Deus ao achar que ia morrer durante uma forte turbulência num voo para shows na Austrália e, depois de sobreviver, jurou ter visto um sinal dos céus – o satélite Sputnik reentrando na atmosfera. Em 1958, ele formou uma banda evangélica e passou a cantar gospel. A fase não foi longa. Ao embarcar em turnê com esse repertório, passou a ser vaiado por fãs que queriam ouvir rock. Em 1962, ele encontrou os Beatles e retomou seus antigos hits. No ano seguinte, os Stones abriram seu show. Ele se tornou adorado pelo público britânico e chegou a ganhar um especial na TV, que, a perdido dos fãs, foi reprisado várias vezes. E em 1964 contratou um guitarrista chamado Jimi Hendrix para integrar sua banda. A carreira musical, porém, jamais retomou o sucesso original nos EUA. Para complicar, ele passou a enfrentar a ira de religiosos por ter trocado a música de Deus pela música do diabo. A conversão religiosa acabou prejudicando até sua identidade sexual. Ele chegou a casar (entre 1959 e 1963) e passou a vida tentando negar rumores de que era homossexual. De fato, disse que considerava a homossexualidade “contrária à natureza”, anos depois de confessar publicamente que era gay em 1995. Ele começou a aparecer mais na TV que no rádio a partir dos anos 1960. Chegou a participar até do programa de Pat Boone, além de encontrar os Monkees num especial. E de repente se descobriu ator, explodindo na nova carreira nos anos 1980. Após ser escalado num episódio de “Miami Vice”, teve seu primeiro grande papel cinematográfico na comédia “Um Vagabundo na Alta Roda” (1986) e ainda contribuiu com uma música inédita para a trilha sonora. Esta revitalização coincidiu com sua premiação no Grammy em 1988, quando se autodeclarou “o arquiteto do rock’n’roll!”, com a plateia aplaudindo de pé. Desde então, tornou-se convidado frequente de programas de TV, séries e filmes, conquistando novos fãs com seu “timing cômico único”. A lista de aparições inclui o blockbuster “O Último Grande Herói” (1993), com Arnold Schwarzenegger, e se encerra com “Um Chefe Muito Radical” (1998), produção estrelada pelo comediante Carrot Top. Além disso, em 2000, sua vida foi dramatizada num telefilme com seu nome, dirigido por Robert Townsend (“Ritmo & Blues – O Sonho do Sucesso”). Little Richard continuou excursionando e fazendo shows para plateias entusiasmadas até que as dores de quadril se tornaram insuportáveis. Ele anunciou a aposentadoria em 2013, mas ainda continuou saudado pelo público em aparições ocasionais. A última foi no ano passado, quando recebeu um prêmio pela carreira do governador do Tennessee, nos EUA. “Deus abençoe Little Richard, um dos meus maiores heróis musicais”, escreveu Ringo Starr, baterista dos Beatles, nas redes sociais. “Ele foi uma das minhas maiores inspirações na adolescência”, disse Mick Jagger, a voz dos Rolling Stones. “Quando fizemos uma turnê juntos, eu observei atentamente seus movimentos todas as noites, para saber como entreter e envolver o público, e ele generosamente ainda me deu conselhos. Ele contribuiu tanto para a música que eu vou sentir sua falta para sempre”, acrescentou. “Uma perda muito triste”, ecoou Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin. “As canções de Little Richard impulsionaram o rock’n’roll”.










