Macabro combina policial e terror na história dos irmãos necrófilos de Nova Friburgo
Marcos Prado tem uma carreira como diretor bastante curiosa. Sua maior experiência é na produção, tendo sido, inclusive, produtor executivo dos dois “Tropas de Elite”, do José Padilha, além de outros dois documentários famosos desse cineasta. Mas seu trabalho na direção começou com o documentário. Seu primeiro documentário para o cinema, “Estamira” (2004), é o retrato de uma mulher que vive em um lixão do Rio de Janeiro, que tem problemas mentais e filosofa sobre o mundo. Confesso que esse filme me deixou um tanto perturbado. Fiquei ao mesmo tempo temeroso de entender o pensamento da personagem e olhar para seus olhos. E é interessante ver que Prado, depois de uma primeira experiência na ficção com “Paraísos Artificiais” (2012), tenha voltado a lidar com o medo (a experiência do medo em “Estamira” é puramente subjetiva), desta vez deliberadamente, ao contar a história dos “irmãos necrófilos” de Nova Friburgo, que foram notícia nos jornais na década de 1990. “Macabro” foi o primeiro filme inédito a ser lançado comercialmente nestes tempos de pandemia, no circuito dos drive-ins. E só por isso já chama a atenção. Por mais que não tenha conseguido uma recepção de tapete vermelho pela crítica, “Macabro” tem jeito de filme que será, no futuro, reavaliado e visto como um exemplar de suspense/terror/policial marcante e com aspectos valorosos. Prado aproveita uma onda bastante positiva de filmes de gêneros que cresceram consideravelmente no Brasil nos últimos anos. Sem falar que, em comparação com a maioria dos muitos exemplares de horror e suspense estrangeiros que têm chegado ao circuito, ainda ganha pontos por nos aproximar dos acontecimentos. O modo como o filme se inicia, com o protagonista vivido por Renato Góes, o Sargento Téo, cometendo um erro ao atirar em um homem em uma operação na favela, confundindo uma furadeira elétrica com uma arma (baseado em um incidente recente real), é uma maneira de começar já abordando os erros da polícia e a situação de racismo e violência que marcam a sociedade brasileira. Talvez nem precisasse que o cabo vivido por Guilherme Ferraz dissesse duas vezes que ele era o único negro daquela cidade, além da família dos irmãos assassinos procurados, mas talvez sim, seja necessário, para tornar mais didática a situação. Fosse em outra época, muito provavelmente, essa questão racial não seria sequer abordada e o filme focaria especificamente na busca pelos assassinos e estupradores e também em seus atos brutais. Há um pouco de fragilidade no modo como o filme parece querer justificar os atos dos irmãos como atos de vingança após anos de maus tratos. Isso é compensado com a construção de uma atmosfera de medo herdada do cinema de horror, como nas cenas de ataque às vítimas, mostradas sempre no escuro e tornando a aparência de um deles próxima de um monstro, a partir do depoimento de uma sobrevivente. Isso ajuda a enriquecer o mistério, ao trazer a feitiçaria para os crimes. O filme é feliz ao estabelecer um vínculo entre dois personagens em especial: o Sargento Téo e uma ex-namorada da adolescência, Dora (Amanda Grimaldi). Essa relação ajuda a aproximar o público dos personagens e a aumentar a dramaticidade na cena em que Dora é abordada por um dos irmãos. É uma das melhores cenas do filme, ao lado de uma cena de briga de Téo com o coronel da região, realizada com câmera na mão. Por sinal, há também que se destacar a beleza da fotografia, a cargo de Azul Serra (“Turma da Mônica – Laços), que enfatiza a exuberância da paisagem natural de Nova Friburgo.
Trailer de Chacrinha: O Velho Guerreiro mostra polêmicas do famoso apresentador da TV brasileira
A Paris Filmes divulgou o primeiro trailer de “Chacrinha: O Velho Guerreiro”, cinebiografia do famoso apresentador da TV brasileira. A prévia se divide entre o início da carreira de Abelardo Barbosa, quando é interpretado pelo comediante Eduardo Sterblitch, e o final, na pele de Stepan Nercessian. A parte agitada é encarnada por Nercessian, e traz o Velho Guerreiro mergulhado em polêmicas, enquanto é criticado por ser mulherengo, intransigente e surtado. Há cenas de piti, a briga com Boni (diretor da Globo) que levou à sua demissão e a crise no casamento por conta de seu caso com a cantora Clara Nunes – o que por muitos anos foi tratado como fofoca. Logicamente, este não é o fim, pois cinebiografias só terminam quando o personagem do título dá a volta por cima. No caso de Chacrinha, foi uma volta à TV. Além do filme, Nercessian também desempenhou o papel nos palcos, em “Chacrinha, o Musical”, e num especial televisivo exibido pela rede Globo em setembro passado, em comemoração ao centenário do Chacrinha. E, por coincidência ou não, os dois intérpretes do personagem ainda trabalharam juntos nos filmes de “Os Penetras”, que foram dirigidos por Andrucha Waddington, responsável pela cinebiografia atual. O elenco também destaca Thelmo Fernandes (“Sob Pressão”) como Boni, Gianne Albertoni (“Muita Calma Nessa Hora”) como Elke Maravilha, Laila Garin (“3%”) como Clara Nunes, Marcelo Serrado (“Crô em Família”) como o apresentador Flávio Cavalcanti e a dupla Amanda Grimaldi (“Oxigênio”) e Carla Ribas (“O Mecanismo”) alternando-se como Florinda Barbosa, a mulher do Chacrinha. “Chacrinha: O Velho Guerreiro” estreia em 25 de outubro nos cinemas.

