Festival de Veneza começa com missão de “reiniciar” o cinema
Mais antiga mostra de cinema do mundo, o Festival de Veneza chega à sua 77ª edição nesta terça (2/9) como o primeiro evento do gênero a estender seu tapete vermelho em meio à pandemia de coronavírus. Dirigindo-se à imprensa na véspera da abertura, o diretor do festival, Alberto Barbera, declarou que a cerimônia inaugural deste ano ganha um significado especial, como um “reinício” para o cinema. “Sem esquecer as muitas vítimas dos últimos meses, o primeiro festival internacional a ser realizado após a interrupção forçada imposta pela pandemia adquire o significado de um reinício, uma mensagem de otimismo para o mundo do cinema tão atingido pela crise”, ele afirmou. Esse aspecto será evidenciado pela divulgação de um manifesto coletivo de solidariedade dos diretores de outros sete grandes festivais europeus, incluindo Berlim e Cannes. O Festival de Berlim foi a última grande mostra antes da pandemia fechar os cinemas e o de Cannes encontrou a crise sanitária em seu auge e acabou cancelado. “Precisamos reabrir os cinemas, distribuir novos filmes, começar a rodar novos filmes. Espero que o festival seja um sinal de solidariedade e incentivo para todos os envolvidos com a indústria cinematográfica”, acrescentou Barbera. Apesar desse otimismo, o festival vai acontecer sob o impacto da pandemia, com medidas rígidas de distanciamento social e higiene. Com os casos de coronavírus aumentando novamente na Itália e em outros países, os organizadores estabeleceram um protocolo que inclui o uso de máscaras de proteção nas sessões e a abertura de duas arenas ao ar livre no Lido para respeitar as medidas impostas para evitar a disseminação do coronavírus. As cerimônias de abertura e encerramento, assim como as entrevistas coletivas de imprensa, os desfiles pelo tapete vermelho e outros eventos acontecerão sem público, dentro de cercados, e serão transmitidos via streaming e pelas redes sociais. Além disso, a seleção de 2020 não deve ser lembrada pela participação de grandes estrelas, muitas delas ainda impossibilitadas de cruzar fronteiras internacionais. Caetano Veloso, por exemplo, não deve ir ao evento, que exibirá em primeira mão o documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão do cantor durante a ditadura, fora da competição oficial. Ao todo, 18 filmes competirão pelo Leão de Ouro, sendo quatro italianos. Deste total, 11 são dirigidos por homens e 8 por mulheres (um deles tem dois cineastas). O título americano mais aguardado do festival é justamente de uma cineasta, “Nomadland”, dirigido pela chinesa Chloe Zhao e estrelado por Frances McDormand. O longa será exibido em Veneza e Toronto simultaneamente em 11 de setembro, em ambos os casos precedido por apresentações virtuais. Ao final do evento, em 12 de setembro, os melhores do festival serão premiados pelo júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, e que também inclui os diretores Christian Petzold (Alemanha), Joanna Hogg (Reino Unido) e Veronika Franz (Áustria), a atriz Ludivine Sagnier (França), o ator Matt Dillon (EUA) e o escritor Nicola Lagioia (Itália).
Seleção do Festival de Veneza inclui documentário sobre prisão de Caetano Veloso
A organização do Festival de Veneza divulgou a lista dos filmes selecionados para sua edição 2020. E entre os títulos destaca-se o documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968. Programado para exibição fora de competição, o novo filme da dupla Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”) traz o cantor brasileiro relembrando sua prisão, quando ele e Gilberto Gil foram levados de suas casas após o decreto do AI-5, culminando em seu exílio no auge da ditadura militar. Sem receber explicações, Caetano e Gil foram retirados à força de suas casas em São Paulo, levados ao Rio de Janeiro e jogados numa prisão. Passaram a primeira semana em solitária, antes de serem transferidos para celas, onde ficaram quase dois meses trancafiados. Na época, a ditadura impediu os jornais de mencionar as prisões. O crime cometido? Músicas. “Narciso em Férias” integra uma seleção com mais de 50 filmes de todo o mundo, incluindo obras de cineastas como Kiyoshi Kurosawa, Amos Gitai, Chloé Zhao, Nicole Garcia, Andrei Konchalovsky, Lav Diaz, Alex de la Iglesia, Alice Rohrwacher, Michel Franco, Luca Guadagnino, Abel Ferrara e até o (há muito) falecido Orson Welles. Uma das características desta seleção justamente é a inclusão de vários documentários fora de competição, entre eles um filme dedicado à ativista adolescente Greta Thunberg, a obra póstuma de Welles e os novos trabalhos de Ferrara, Guadagnino e do premiado Alex Gibney, que já venceu o Oscar da categoria com “Um Táxi para a Escuridão” (2007). Ao anunciar a programação nesta terça-feira (28/7), o diretor do festival, Alberto Barbera, declarou que o evento continua sendo “uma vitrine para a melhor produção cinematográfica do mundo”. E destacou que a seleção inclui apenas duas obras de ficção produzidas por estúdios de Hollywood, ambas dirigidas por mulheres. As produções dramáticas americanas são “The World to Come”, da diretora Mona Fastvold (“O Sonâmbulo”), um drama íntimo estrelado por Casey Affleck, Vanessa Kirby e Katherine Waterston, e “Nomadland”, um road movie de Chloé Zhao (“Domando o Destino”), com Frances McDormand e David Strathairn. Vale lembrar que Chloé Zhao está atualmente trabalhando na pós-produção de “Eternos”, da Marvel. Vanessa Kirby deve ser a grande estrela do tapete vermelho, se ele for estendido em meio à pandemia de covid-19. Ela aparece duplamente na programação, pois também está no elenco de “Pieces of a Woman”, que é uma produção canadense e marca a estreia do diretor húngaro Kornél Mundruczó (“White God”) em inglês. O Festival de Veneza será realizado de forma presencial, com reforço de medidas de segurança, entre os dias 2 e 12 de setembro. Confira abaixo a lista dos títulos selecionados. Competição Principal In Between Dying, de Hilal Baydarov Le Sorelle Macaluso, de Emma Dante The World To Come, de Mona Fastvold Nuevo Orden, de Michel Franco Lovers, de Nicole Garcia Laila in Haifa, de Amos Gitai Dear Comrades, de Andrei Konchalovsky Wife Of A Spy, de Kiyoshi Kurosawa Sun Children, de Majid Majidi Pieces Of A Woman, de Kornel Mundruczo Miss Marx, de Susanna Nicchiarelli Padrenostro, de Claudio Noce Notturno, de Gianfranco Rosi Never Gonna Snow Again, de Malgorzata Szumowska, Michal Englert The Disciple, de Chaitanya Tamhane And Tomorrow The Entire World, de Julia Von Heinz Quo Vadis, Aida?, de Jasmila Zbanic Nomadland, de Chloé Zhao Mostra Horizontes Apples, de Christos Nikou La Troisième Guerre, de Giovanni Aloi Milestone, de Ivan Ayr The Wasteland, de Ahmad Bahrami The Man Who Sold His Skin, de Kaouther Ben Hania I Predatori, de Pietro Castellitto Mainstream, de Gia Coppola Genus Pan, de Lav Diaz Zanka Contact, de Ismael El Iraki Guerra E Pace, de Martina Parenti, Massimo D’Anolfi La Nuit Des Rois, de Philippe Lacôte The Furnace, de Roderick Mackay Careless Crime, de Shahram Mokri Gaza Mon Amour, de Tarzan Nasser, Arab Nasser Selva Tragica, de Yulene Olaizola Nowhere Special, de Uberto Pasolini Listen, de Ana Rocha de Sousa The Best Is Yet To Come, de Wang Jing Yellow Cat, de Adilkhan Yerzhanov Fora de Competição – Sessões Especiais 30 Monedas, Episode 1, de Alex de la Iglesia Princesse Europe, de Camille Lotteau Omelia Contadina, de Alice Rohrwacher Jr Fora de Competição – Ficção Lacci, de Daniele Lucheti Lasciami Andare, de Stefano Mordini Mandibules, de Quentin Dupieux Love After Love, de Ann Hui Assandira, de Salvatore Mereu The Duke, de Roger Michell Night In Paradise, de Park Soon-jung Mosquito State, de Filip Jan Rymsza Fora de Competição – Documentário Sportin’ Life, de Abel Ferrara Crazy, Not Insane, de Alex Gibney Greta; de Nathan Grossman Salvatore, Shoemaker Of Dreams, de Luca Guadagnino Final Account, de Luke Holland La Verita Su La Dolce Vita, de Giuseppe Pedersoli Molecole, de Andrea Segre Narciso Em Ferias, de Renato Terra, Ricardo Calil Paulo Conte, Via Con Me, de Giorgio Verdelli Hopper/Welles: de Orson Welles
Festival de Veneza começa com mais prestígio e mais polêmicas que nunca
O Festival de Veneza começa nesta quarta (29/8) com o prestígio de ter premiado o último vencedor do Oscar e de ser o tapete vermelho mágico que mais vezes levou à consagração da Academia dos Estados Unidos neste século. Mas também com muitas polêmicas, as novas e as velhas de sempre. Enquanto seu diretor artístico Alberto Barbera celebra o número de talentos e astros que desfilarão pelo Lido até 8 de setembro, “tão grande que é impossível lembrar todos os nomes agora”, o cineasta Guillermo del Toro, vencedor do festival passado (e do Oscar) por “A Forma da Água” e presidente do júri deste ano, apelou para a organização do evento para que aumente o número de filmes dirigidos por mulheres. Pelo segundo ano seguido, a seleção principal do Festival de Veneza tem só um filme dirigido por mulher – “The Nightingale”, de Jennifer Kent. “Eu acho que o objetivo tem que ser 50% [de filmes dirigidos por mulheres] até 2020. Se conseguirmos alcançar até 2019, ainda melhor”, comentou Del Toro, durante a entrevista coletiva que deu início ao festival. “Esse é um problema de verdade, na nossa cultura em geral”. “Não é uma questão de estabelecer uma ‘cota’, mas uma questão de se sincronizar ao tempo em que vivemos, ao momento em que estamos tendo essa conversa. Eu acho que isso é necessário há décadas, senão séculos. Não é uma polêmica, é um problema de verdade”, concluiu. Barbera tinha dito que se demitiria se implementassem cotas no festival, justificando que qualidade não tem gênero. Mas até o Brasil já demonstrou que isso é falácia, ao apresentar os candidatos a representar o país no Oscar, numa lista com 40% de filmes dirigidos por mulheres. Além disso, o Festival de Toronto, que acontece quase simultaneamente a Veneza, fez o compromisso descrito por del Toro, de ter metade de sua programação preenchida por filmes de cineastas femininas até 2020. Mais que isso, está apoiando uma marcha de mulheres, com pautas de igualdade de direitos, durante sua programação. O problema de Veneza, festival mais antigo do mundo, é a cultura machista italiana, alimentada por séculos de educação católica. Por isso, enquanto mulheres se preparam para celebrar suas conquistas na América do Norte, outras mulheres planejam protestar contra a dificuldade de encontrar espaço no festival de cinema europeu. O choque de visões de mundo é enorme. Mas esta não é a única polêmica alimentada pela programação do Festival de Veneza. O evento também estendeu seu tapete para as produções da Netlix, apresentando seis no total, e nisso entrou em sintonia com Toronto, seu rival do outro lado do Atlântico. Ambos aceitaram a realidade dos fatos, de que a Netflix é hoje a maior produtora de filmes do mundo e, em busca por validação, tem investido em cineastas consagrados, de Martin Scorsese a Alfonso Cuarón. Enquanto Cannes se deixou intimidar pelo bullying dos donos de cinema, a ponto de barrar a Netflix de competir pela Palma de Ouro, Veneza terá produções de streaming disputando o Leão de Ouro. E, considerando o impacto obtido pelos filmes do festival italiano no Oscar, virou peça estratégica dos planos de dominação mundial da plataforma. Quando Ryan Gosling pisar no Lido para a première de “O Primeiro Homem”, de Damien Chazelle, que abrirá o festival, será um pequeno passo para o ator de Hollywood, mas um grande passo para o cinema mundial. Visto cada vez mais como marco inaugural da temporada de prêmios, para destacar quem tem potencial de Oscar, Veneza pode colocar “Roma”, produção da Netflix dirigida por Cuarón, na rota da consagração da Academia. E até comprovar que Lady Gaga é atriz e Bradley Cooper é diretor, com a colaboração dos dois em “Nasce uma Estrela”. O festival que começa nesta quarta apontará muitos rumos para o cinema nos próximos meses, mas nem por isso deixará de ser convocado a entrar em maior sintonia com os rumos do mundo em geral.
Annette Bening vai presidir o Festival de Veneza 2017
A atriz Annette Bening presidirá o júri da 74ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza. Indicada quatro vezes ao Oscar – por “Minhas Mães e Meu Pai” (2010), “Adorável Júlia” (2004), “Beleza Americana” (1999) e “Os Imorais” (1990) – , ela será a primeira mulher a ocupar a função em mais de uma década. Segundo o diretor do evento, Alberto Barbera, já tinha passado da hora de interromper a sequência de 11 anos com apenas homens à frente do júri do festival. “Convidamos essa mulher brilhante, talentosa e inspiradora para presidir o júri”, disse ele, em comunicado. “Estou muito feliz que ela tenha aceitado estar conosco.” A última mulher a presidir o júri responsável pela premiação do Leão de Ouro foi Catherine Deneuve em 2006. Antes dela, apenas a atriz chinesa Gong Li e a diretora Jane Campion ocuparam a posição – em 2002 e 1997, respectivamente. Annette afirmou estar honrada com o convite. “Estou animada para ver os filmes e trabalhar ao lado dos outros jurados”, comemorou, no comunicado oficial do festival. O Festival Internacional de Cinema de Veneza acontecerá este ano entre os dias 30 de agosto e 9 de setembro.



