Fred Ward (1942–2022)
O ator americano Fred Ward, que estrelou os clássicos “Os Eleitos” (1983) e “Henry & June” (1990), morreu no domingo passado (8/5), aos 79 anos. A informação foi confirmada nesta sexta-feira (13/5) pelo empresário dele à revista Variety sem maiores detalhes. Ward estreou nas telas na minissérie “O Renascimento: A Era dos Médici”, de 1973, dirigida pelo mestre italiano Roberto Rossellini, e começou a se projetar no filme “Fuga de Alcatraz” (1979), de Don Siegel, como um dos aliados de Clint Eastwood num plano ousado para escapar da famosa prisão de São Francisco. Fez ainda “O Confronto Final” (1981), famoso thriller de Walter Hill, como um dos integrantes da Guarda Nacional ameaçados por caipiras violentos na zona rural, antes de virar protagonista com a sci-fi “O Cavaleiro do Tempo” (1982), na pele de um motoqueiro acidentalmente transportado para o Velho Oeste. Ele começou a marcar época como o trágico astronauta Gus Grissom em “Os Eleitos”, filme épico de Philip Kaufman sobre o início do programa espacial americano. Talvez porque Grissom tenha perdido sua vida a serviço da NASA (logo após a história do filme), o personagem vivido por Ward foi um dos que mais impactou o público, precisando lutar pela vida quando seu módulo espacial afundou no oceano – o que o tornou o menos celebrado dos americanos “eleitos” para ir ao espaço. Mas Ward demorou a capitalizar esse desempenho, assumindo papéis coadjuvantes em vários filmes, como “Silkwood, Retrato de uma Coragem” (1983), “Admiradora Secreta” (1985) e “Cuidado com as Gêmeas” (1988), além de ter tentado virar herói de ação com “Remo – Desarmado e Perigoso” (1985), fracasso de bilheteria e crítica. Sem grandes ambições, ele acabou aceitando participar de um terrir, que deveria ser trash, mas em vez disso iniciou sua fase mais popular, ao se tornar cultuadíssimo e originar uma franquia. Dirigido por Ron Underwood, “O Ataque dos Vermes Malditos” (1990) juntou Ward com Kevin Bacon, que demonstraram uma parceria perfeita como os responsáveis por salvar uma comunidade do deserto de Nevada cercada por vermes subterrâneos gigantes – do tipo “Duna”. A produção gerou seis sequências e uma série de TV. No mesmo ano, ele estrelou mais quatro filmes, consolidando seu status com “Atraída Pelo Perigo” (1990), ao lado de Jodie Foster, “O Anjo Assassino” (1990), com Alec Baldwin, mas principalmente “Henry & June” (1990). Voltando a se juntar com o diretor de “Os Eleitos”, Philip Kaufman, o ator interpretou o romancista renegado Henry Miller, que explorava em suas obras e em sua vida os limites aceitáveis da sexualidade no início dos anos 1930. “Henry & June” retratava a dinâmica intelectual e psicossexual entre Miller, sua esposa June (interpretada pela jovem Uma Thurman) e a romancista francesa Anais Nin (a portuguesa Maria Medeiros), totalmente liberada, na Paris da era do jazz. As cenas quentes marcaram época por chocar os responsáveis pela classificação etária do filme, que indicaram proibição absoluta para menores. Na época, isto significava igualá-lo à pornografia, que recebia classificação “X”. Diante de protestos, os censores da MPA (Associação de Cinema dos EUA) resolveram criar uma nova categoria, NC-17, para designar filmes impróprios que não eram explícitos. A classificação existe até hoje, basicamente para filmes europeus ousados e terrores extremos. Depois disso, Ward passou a ser procurado por alguns dos pesos-pesados de Hollywood. Robert Altman o escalou em dois filmes seguidos, “O Jogador” (1992) e “Short Cuts – Cenas da Vida” (1993). Ele também trabalhou com Alan Rudolph em “Equinox” (1992) e Michael Apted em “Coração de Trovão” (1992), além de ter feito o cultuado “Bob Roberts” (1992) de Tim Robbins, seu parceiro de “O Jogador”, encaixando um lançamento atrás do outro. Filmou até com o mestre francês Alain Robbe-Grillet em “Un Bruit qui Rend Fou” (1995), exibido no Festival de Berlim. Mas prejudicou muito este embalo com a decisão de estrelar a sequência “O Ataque dos Vermes Malditos 2”, lançada direto em vídeo em 1996, e que o levou a outras produções de pouco valor artístico. Seus thrillers de baixo orçamento acabaram destinado às locadoras, mas algumas comédias conquistaram algum destaque, como “Caindo na Estrada” (2000), que lançou a carreira do diretor Todd Phillips (hoje mais conhecido por “Coringa”). Sem novos lançamentos de impacto, ele começou a fazer participações em séries, incluindo três episódios em “Plantão Médico” (E.R.) entre 2006 e 2007. A carreira nunca se recuperou. Após viver o presidente Ronald Reagan no thriller de espionagem “O Caso Farewell” (2009), fez apenas mais quatro filmes, encerrando sua trajetória cinematográfica no longa de ação “Dose Dupla” (2013), com Denzel Washington e Mark Wahlberg. Dois anos depois, despediu-se da TV em dois episódios da 2ª temporada de “True Detective”, em que viveu o pai do personagem de Colin Farrell.
Kelly Preston (1962 – 2020)
A atriz Kelly Preston, conhecida por papéis em várias comédias de sucesso dos anos 1980 e 1990, morreu no domingo (12/7) de complicações de um câncer da mama, informou seu marido, o também ator John Travolta. “Ela travou uma luta corajosa com o amor e o apoio de muitos. Minha família e eu estaremos para sempre gratos aos médicos e enfermeiras do MD Anderson Cancer Center, a todos os centros médicos que ajudaram, bem como aos seus muitos amigos e entes queridos que estiveram ao seu lado”, escreveu Travolta, no Instagram. O ator lembrou que Preston lutava contra o câncer fazia dois anos. Além disso, escreveu que passará um tempo sem dar notícias ou fazer aparições, para que possa ficar ao lado dos filhos do casal Ella, de 20 anos, e Benjamim, de 9. Em janeiro de 2009, Travolta e a mulher perderam o filho Jett, de 16 anos, que era autista e foi vítima da síndrome de Kawasaki. Nativa do Havaí, Kelly Palzis (seu nome real) chegou a ser cotada para estrelar “A Lagoa Azul”, mas teve receio das cenas de nudez antes de atingir a maioridade. Acabou começando a carreira no mesmo ano em que aquele filme entrou em cartaz, com uma pequena participação na série “Havaí 5-0”, em 1980. Ela só assumiu o nome de Kelly Preston ao ser escalada no elenco fixo da série “For Love and Honor”, passada numa base militar e cancelada três meses após a estreia em 1983. Foi também neste ponto que ela trocou a TV por sua trajetória bem-sucedida no cinema. A transição se deu naquele mesmo ano, com pequenas participações na sci-fi barata “Metalstorm” e no terror “Christine, o Carro Assassino”, adaptação de Stephen King do diretor John Carpenter. Os papéis de destaque começaram em 1985, com as comédias picantes adolescentes “A Primeira Transa de Jonathan” e “Admiradora Secreta”, após se sentir adulta o suficiente para as temidas cenas de nudez. Depois disso, ela integrou o elenco da sci-fi infantil “SpaceCamp: Aventura no Espaço” (1986), em que contracenou com Kevin Gage. Os dois se casaram durante as filmagens. Ainda fez o suspense “Nenhum Passo em Falso” (1986), de John Frankenheimer, e a comédia cult “As Amazonas na Lua” (1987), de Joe Dante, antes de virar protagonista, o que aconteceu com o terror romântico “Feitiço Diabólico” (1988), no qual viveu uma bruxa. No mesmo ano, Preston interpretou seu papel mais lembrado, como par romântico de Arnold Schwarzenegger na comédia blockbuster “Irmãos Gêmeos”. Ela já tinha se divorciado de Gage quando se envolveu com John Travolta na comédia “Os Espertinhos” (1989). O casamento aconteceu dois anos depois e superou várias turbulências, desde a perda de um filho até denúncias da suposta homossexualidade do marido. Com Travolta, Preston entrou na igreja da Cientologia, uma seita que acredita em discos voadores e que também é seguida por Tom Cruise. A proximidade religiosa a ajudou a ser escalada em outro sucesso, “Jerry Maguire – A Grande Virada”, estrelado por Cruise em 1996, após sua carreira entrar em declínio. Mas inevitavelmente a levou à “A Reconquista” (2000). Estrelado e produzido por Travolta, o longa adapta um romance sci-fi de L. Ron Hubbard, o criador da Cientologia, e é considerado um dos piores filmes de todos os tempos. Ao longo da carreira, ela estrelou mais de 50 filmes, incluindo “Ruth em Questão” (1996), de Alexander Payne, “A Lente do Amor” (1997), de Griffin Dunne, “Por Amor” (1999), de Sam Raimi, “Voando Alto” (2003), do brasileiro Bruno Barreto, “Sentença de Morte” (2007), de James Wan, etc. A atriz desempenhou até o papel de mãe de Miley Cyrus em “A Última Música” (2010). Preston também teve participações recorrentes nas séries “Medium” (em 2008) e “CSI: Cyber” (em 2016), e seu último filme exibido foi “Gotti: O Chefe da Máfia” (2018), em que interpretou a esposa do personagem-título, vivido por Travolta. Durante as filmagens de “Gotti”, ela foi diagnosticada com câncer, mas, apesar da se sentir debilitada pela doença, esforçou-se para estrelar um longa final, a comédia “Off the Rails”, que ainda não tem previsão de estreia.

