Kambuzia Partovi (1956 – 2020)
O cineasta Kambuzia Partovi, roteirista do único filme iraniano premiado com um Leão de Ouro no Festival de Veneza, morreu nesta terça (24/11) aos 65 anos de covid-19, anunciou o órgão de cinema do Irã. Chamado de um dos “cineastas mais influentes do cinema infantil iraniano”, ele morreu no hospital Dey de Teerã aos 64 anos, disse a fundação Farabi em uma mensagem de condolências em seu site. Nascido em Rasht, no norte do Irã, Partovi começou sua carreira como diretor na década de 1987 com o média-metragem “Eynak”, que foi seguido um ano depois por seu primeiro longa, “Mahi” (“O Peixe”), premiado com um troféu especial da UNICEF no Festival de Berlim. Ele rapidamente se tornou uma figura importante do cinema iraniano, mas não se limitou ao gênero infantil do começo da sua carreira. Ao todo, dirigiu 10 filmes, mas também se projetou como roteirista, ao trabalhar com vários cineastas iranianos de renome, como Abbas Kiarostami, Jafar Panahi e Majid Majidi. Uma de suas parcerias mais celebradas foi “Cortinas Fechadas” (2013), que ele codirigiu com Panahi. No filme premiado no Festival de Berlim, Partovi também atuou como protagonista, vivendo praticamente a si mesmo: um roteirista se esconde do mundo em uma casa de praia, tendo apenas seu cachorro clandestino (proibido de morar no local) como companhia. A tranquilidade é quebrada abruptamente pela chegada de uma jovem que se diz em fuga das autoridades. Ela se recusa a sair e faz muitas perguntas sobre a vida do escritor, despertando-lhe a paranoia. Além de filmes de arte, consagrados pela crítica, ele também escreveu o roteiro do filme épico “Muhammad”, de 2015, que foi o mais caro da história do cinema iraniano. Apesar de realizado com a chancela do governo islâmico do país, este filme biográfico, que retrata a infância do profeta Maomé, foi criticado como um “ato hostil” e uma “distorção do islã” pelo clérigo máximo da Arábia Saudita, rival regional do Irã. Seu roteiro de maior projeção também criou polêmica entre conservadores islâmicos, ao abordar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres iranianas. Lançado em 2000, “O Círculo”, dirigido por Jafar Panahi, foi consagrado pela crítica mundial e se tornou o único filme iraniano a ganhar o Leão de Ouro de Melhor Filme no prestigioso festival de cinema de Veneza – além de mais cinco troféus, incluindo o Prêmio da Crítica. Seu último trabalho foi “Kamion”, que ele escreveu e dirigiu há dois anos, sobre uma mulher e seus filhos em fuga do Estado do Islã. O longa também lhe rendeu seu último prêmio, como Melhor Roteiro no Festival Fajr. Foi a quarta vez que seus roteiros ganharam reconhecimento no festival de Teerã, o que tornou Partovi o maior vencedor da categoria entre seus pares.
Abbas Kiarostami será homenagem com um prêmio pela carreira do Sindicato dos Roteiristas dos EUA
O mestre do cinema iraniano Abbas Kiarostami, falecido em julho passado, será o grande homenageado do prêmio do Sindicato dos Roteiristas dos EUA com um prêmio pela carreira. No anúncio da homenagem, o presidente do sindicato, Howard A. Rodman, exaltou a carreira do cineasta. “Abbas Kiarostami foi, como disse Martin Scorsese, ‘um daqueles raros artistas com especial conhecimento do mundo’. Como pai do novo cinema iraniano, Kiarostami navegou no turbulento terreno político e cultural com coragem e graça”, disse. Além de roteirizar seus próprios filmes, Kiarostami também desenvolveu histórias para outros diretores, inclusive ajudando a lançar seu conterrâneo Jafar Panahi, para quem escreveu o primeiro longa, o premiado “O Balão Branco” (1985) O prêmio em sua homenagem tem o nome de outro mestre, Jean Renoir Award, e contempla os melhores roteiristas estrangeiros. O troféu será entregue ao filho do cineasta, Ahmad Kiarostami. Outros roteiristas que receberam a mesma honraria incluem os italianos Suso D’Amico e Tonino Guerra, os japoneses Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto, Ryûzô Kikushima e Hideo Oguni, e o espanhol Pedro Almodóvar. A entrega do prêmio do Sindicato dos Roteiristas dos EUA, WGA Awards, acontece no próximo dia 19 de fevereiro, em Los Angeles.
Abbas Kiarostami (1940 – 2016)
Morreu o cineasta iraniano Abbas Kiarostami, vencedor da Palma de Ouro em Cannes por “Gosto de Cereja” (1997). Ele faleceu aos 76 anos em Paris, onde tratava um câncer, informou nesta segunda-feira (4/7) a agência de notícias oficial do Irã, ISNA. O diretor já tinha passado por uma série de cirurgias e estava em Paris para completar o tratamento. Kiarostami era considerado um dos mais influentes diretores de seu país. Nascido em Teerã, em 22 de junho de 1940, fez faculdade de belas-artes e começou seu envolvimento com o cinema em 1969, quando foi nomeado diretor do departamento de cinema do Instituto para o Desenvolvimento Intelectual de Jovens e Adultos do Irã (Kanoon, na sigla original). Nesse período no Kanoon, no qual se manteve mesmo após a revolução islâmica, o cineasta se tornou uma das figuras mais proeminentes da new wave iraniana – equivalente à nouvelle vague francesa – , dirigindo diversos filmes de ficção e documentários a partir de meados dos anos 1970. Ele passou a chamar atenção internacional com “Onde Fica a Casa do Meu Amigo?” (1987), que lhe rendeu o Leopardo de Bronze em Locarno. O filme abriu uma trilogia, constituída ainda por “E a Vida Continua” (1992) e “Através das Oliveiras” (1994), que lidavam com os problemas da infância. Ambos foram premiados na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento que o tornou conhecido no país e que o homenageou com uma retrospectiva em 2004. A Palma de Ouro por “Gosto de Cereja” o consagrou definitivamente como autor, ao contar a história surreal de um homem em busca de alguém para enterrá-lo depois que ele se matar. Seu filme seguinte, “O Vento Nos Levará” (1999), foi premiado no Festival de Veneza. E a fama conquistada lhe permitiu avançar em projetos diversificados, indo filmar no exterior, pela primeira vez, para o documentário “ABC África”, um olhar contundente sobre a expansão da AIDS em Uganda. Também enquadrou a condição feminina, tema pouco explorado no cinema iraniano, no drama “Dez” (2002), centrada numa jovem mãe divorciada. Kiarostami também se tornou conhecido por incentivar outros cineastas de seu país. Ele escreveu os roteiros de “O Balão Branco” (1995) e “Ouro Carmim” (2003), que projetaram a carreira de seu ex-assistente Jafar Panahi com prêmios em Cannes – respectivamente, Melhor Filme de Estreia e Melhor Filme da Mostra Um Certo Olhar – , além de “Willow and Wind” (2000), dirigido por Mohammad-Ali Talebi, “Desert Station” (2002), de Alireza Raisian, “Men at Work” (2006), de Mani Haghighi, e “Meeting Leila” (2011), de Adel Yaraghi. Ele também realizou um filme que registrava apenas as expressões do público sentado no cinema, diante de uma projeção que ninguém mais vê. “Shirin” (2008) representou a materialização de sua ideia de que todo filme é uma obra inacabada, que só se completa com a ajuda do olhar do público. “Enquanto cineasta, eu conto com a intervenção criativa do público, caso contrário, filme e espectador desaparecerão juntos. No próximo século de cinema, o respeito ao espectador enquanto elemento inteligente e construtivo é inevitável. Para alcançá-lo, é preciso talvez se distanciar da ideia segundo a qual o cineasta é o mestre absoluto. É preciso que o cineasta também seja espectador de seu filme”, afirmou Kiarostami, na ocasião. Nos últimos anos, vinha filmando no exterior, num exílio autoimposto, em decorrência do recrudescimento político que, entre outras coisas, levou à prisão seu amigo Jafar Panahi, proibido pelo governo de dirigir por duas décadas. Seus últimos longas foram “Tickets” (2005), rodado num trem rumo à Roma na companhia de outros dois mestres, o britânico Ken Loach e o italiano Ermanno Olmi, “Cópia Fiel” (2010) na região da Toscana, com a estrela francesa Juliette Binoche, e “Um Alguém Apaixonado” (2012) feito no Japão. Sua morte emocionou outro amigo, Ashgar Farhadi, cineasta premiado com o Oscar por “A Separação” (2011), que comendou a perda para o jornal britânico The Guardian: “Kiarostami não foi só um cineasta, foi um místico moderno, tanto no seu cinema como na sua vida privada. Ele abriu caminho a outros e influenciou inúmeras pessoas. O mundo inteiro, não apenas o mundo do cinema, perdeu um grande homem.”
Rodrigo Teixeira vai produzir novos filmes de Abbas Kiarostami e James Gray
A RT Features, do produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, fechou acordos, durante o Festival de Cannes, para coproduzir os novos filmes dos cineastas Abbas Kiarostami (“Cópia Fiel”) e James Gray (“Era Uma Vez em Nova York”). Com roteiro mantido em segredo, “24 Frames” será o primeiro filme de Kiarostami desde “Um Alguém Apaixonado”, de 2012, que fez parte da seleção oficial de Cannes daquele ano. Segundo a revista Variety, o longa é um projeto experimental sobre os filmes que o iraniano vem dirigindo nos últimos três anos. “Kiarostami é um dos maiores nomes do cinema mundial, seus filmes sempre me inspiraram e este é um projeto muito especial e estou muito feliz com a parceria com Charles, seu trabalho nos últimos anos é impressionante”, disse o produtor em comunicado. Já o projeto com James Gray será um épico sci-fi, escrito pelo próprio cineasta americano. A expectativa é que comece a ser rodado no início de 2017. “Temos um roteiro muito forte e vamos anunciar o elenco em breve”, disse o produtor. Rodrigo Teixeira é um dos principais produtores de cinema do país e pioneiro na iniciativa de coprodução internacional. Ele foi bem-sucedido ao se associar como produtor de filmes premiados como a comédia “Frances Ha” (2012) e o terror “A Bruxa” (2015).
Lutando contra o câncer, Abbas Kiarostami teria entrado em coma
O cineasta Abbas Kiarostami, grande mestre do cinema iraniano, está enfrentando uma luta contra um câncer no intestino. Segundo o site iraniano da Radio Zamaneh, especializado em notícias do país, o diretor teria entrado em coma durante seu tratamento, que acontece em um hospital do Irã. Segundo o site, Kiarostami passou por cirurgia bem-sucedida, mas sofreu uma hemorragia que levou ao coma. A notícia foi corroborada pelo cineasta Fereydoon Jeyrani (“Parkway”). Há, porém, informações desencontradas. A agência de notícias iraniana, Mehr News, afirma que, ao contrário, Kiarostami passa bem e receberia alta para continuar o tratamento em sua casa. Estranhamente, sua família ainda não se pronunciou sobre o assunto. Conhecido por trabalhos fundamentais do cinema iraniano como “Onde Fica a Casa do Meu Amigo?” (1987), “Close-Up” (1990), “Atrás das Oliveiras” (1994) e “O Vento nos Levará” (1999), Abbas Kiarostami venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1997 com o filme “Gosto de Cereja” e também escreveu o roteiro de “O Balão Branco” (1995), de Jafar Panahi, diretor condenado como subversivo pelo governo iraniano. Desde que Panahi foi proibido de filmar, Kiarostami vinha optando por trabalhar no exterior, o que resultou em “Cópia Fiel” (2010), rodado na Europa, e “Um Alguém Apaixonado” (2012), no Japão.




