Norman Jewison, diretor de “No Calor da Noite” e “Feitiço da Lua”, morre aos 97 anos
O aclamado diretor Norman Jewison, responsável por clássicos como “No Calor da Noite” (1967) e “Feitiço da Lua” (1987), faleceu aos 97 anos. Ele morreu no sábado (21/1) no West River Health Campus, um lar de idosos em Evansville, Indiana (EUA), conforme anunciado por seu agente. A causa da morte não foi divulgada. Jewison era conhecido pela sua capacidade de dirigir uma variedade de gêneros, desde dramas raciais e thrillers estilosos até musicais e comédias românticas. Seu talento em extrair performances excepcionais de atores rendeu-lhe sete indicações ao Oscar e o Prêmio Memorial Irving G. Thalberg em 1999. Começo da carreira e consagração Nascido em Toronto em 1926, Jewison se aventurou no entretenimento desde jovem, estudando piano e teoria musical no Conservatório Real. Após servir na Marinha Real Canadense, graduou-se na Universidade de Toronto e deu seus primeiros passos na direção, dirigindo especiais musicais na televisão. Sua jornada em Hollywood começou com comédias leves, como “20 Quilos de Confusão” (1962), “Tempero do Amor” (1963) e “Não Me Mandem Flores” (1964), as duas últimas estreladas por Doris Day. No entanto, foi com um drama racial que Jewison estabeleceu sua reputação como um diretor sério. “No Calor da Noite” (1967) trouxe Sidney Poitier na pele do detetive Virgil Tibbs, um papel que desafiou as convenções raciais da época e se tornou um ícone. Investigando um crime em uma pequena cidade do sul dos EUA, o detetive negro chega a dar um tapa num rosto de um branco racista, uma “ousadia” nunca vista no cinema até então. “Foi um filme que abriu portas e iniciou conversas importantes”, refletiu Jewison. A produção venceu o Oscar de Melhor Filme. No começo da carreira, ele também dirigiu Steve McQueen nos clássicos “A Mesa do Diabo” (1965) e “Crown, o Magnífico” (1968), além de ter marcado época com o musical “Jesus Cristo Superstar” (1973), que transformou a vida de Jesus num espetáculo controverso e, ao mesmo tempo, popular, baseado numa montagem da Broadway. Outros destaques Entre seus filmes mais notáveis, “Um Violinista no Telhado” (1971), “A História de um Soldado” (1985) e “Feitiço da Lua” (1987) renderam-lhe novas indicações ao Oscar, mas Jewison também se destacou com diversas outras produções cultuadas, como a comédia “Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando!” (1966), o policial “Justiça para Todos” (1974), a sci-fi “Rollerball: Os Gladiadores do Futuro” (1975) e o drama “Agnes de Deus” (1985). Entre seus últimos filmes, ele também dirigiu “O Furacão” (1999), biografia de um boxeador que foi injustamente condenado por assassinato – e que rendeu uma indicação ao Oscar para o astro Denzel Washington. Seus últimos trabalhos foram o telefilme dramático “Jantar com Amigos” (2001) e o drama “A Confissão” (2003), em que Michael Caine vivia um ex-nazista foragido. Ele se aposentou das telas há duas décadas e, ultimamente, dedicava-se ao Centro Canadense de Estudos Avançados em Cinema, contribuindo para a formação de novos cineastas. “O cinema tem o poder de mudar corações e mentes”, disse Jewison em uma de suas últimas entrevistas. “E é isso que sempre tentei fazer com meus filmes – contar histórias que importam e que ressoam com as pessoas”.
Rip Torn (1931 – 2019)
O ator veterano Rip Torn, que foi indicado ao Oscar e venceu um Emmy, morreu na terça-feira (9/7) de causas naturais em sua casa em Connecticut, aos 88 anos. Ao longo de sua carreira de seis décadas, Torn apareceu em quase 100 longas-metragens, incluindo grandes clássicos do cinema, entre eles “A Mesa do Diabo” (1965), “O Homem que Caiu na Terra” (1976) e “MIB – Homens de Preto” (1997). Ele nasceu Elmore Rual Torn Jr. em 6 de fevereiro de 1931, em Temple, Texas. O apelido “Rip” veio da infância e o acompanhou ao ingressar no Instituto de Artes Performáticas de Dallas, onde teve como professor Baruch Lumet, o pai do diretor Sidney Lumet, e no Actors Studio, de Nova York, onde estudou ao lado de sua futura esposa, a atriz Geraldine Page (“O Regresso para Bountiful”). Seu estilo de interpretação foi comparado a James Dean e Marlon Brando pelo diretor Elia Kazan, que deu a Torn sua primeira grande oportunidade – como o substituto de Ben Gazzara na montagem teatral de “Gata em Teto de Zinco Quente”, de Tennessee Williams, em 1955. Kazan foi quem também o levou ao cinema, dando-lhe pequenos papéis em “Boneca de Carne” (1956) e “Um Rosto na Multidão” (1957), antes de escalá-lo ao lado de Paul Newman e Page na montagem teatral de “Doce Pássaro da Juventude”, outra peça de Williams, que rendeu a Torn uma indicação ao Tony em 1960. Todos os três reprisaram seus papéis na filmagem da história lançada nos cinemas em 1963. Seus primeiros papéis de destaque nas telas vieram em filmes de guerra, “Para que os Outros Possam Viver” (1957) e “Os Bravos Morrem de Pé” (1959). Em seguida, apareceu como Judas na superprodução “O Rei dos Reis” (1961), de Nicholas Ray, e participou de muitos programas de TV da época, incluindo “Os Intocáveis”, “Rota 66” e “O Agente da UNCLE”, geralmente como “ameaça” da semana. Torn costumava ser escalado como vilão em dramas sombrios, personagens sem escrúpulos como o psiquiatra que filmava suas amantes em “Coming Apart” (1969) ou o chantagista de “A Mesa do Diabo” (1965), que tenta obrigar Steve McQueen a participar de um jogo de pôquer manipulado. Como intérprete que seguia o “método” de incorporação de personagens do Actors Studio, isso também resultava em períodos de instabilidade mental, que acabaram lhe rendendo uma reputação de criador de problemas. Diz a lenda que ele estava pronto para o papel de sua vida em “Easy Rider – Sem Destino” (1969), quando puxou uma faca para o ator e diretor Dennis Hopper numa lanchonete. Foi demitido e Jack Nicholson assumiu seu personagem. Como todos sabem, a carreira de Nicholson explodiu com a aparição no filme de Hopper. Torn contestou essa história, dizendo que foi Hopper quem puxou a faca e o processou por difamação. Ganhou US$ 475 mil por perdas e danos. Mas aquela não foi a única altercação do ator com um de seus diretores. Durante uma luta improvisada em “Maidstone” (1970), Torn atacou Norman Mailer com um martelo e teve o ouvido mordido na confusão que se seguiu. Seu casamento com Geraldine Page não passou pela mesma turbulência. Os dois ficaram juntos de 1963 a 1987, até ela morrer de ataque cardíaco, aos 62 anos. Homem de família, Torn também ajudou a lançar a carreira de sua prima, a atriz Sissy Spacek (a “Carrie, a Estranha” original). E se casou novamente com Amy Wright, atriz conhecida por “Stardust Memories” (1980) e “O Turista Acidental” (1988). Entre os muitos sucessos da primeira fase de sua carreira, destacam-se ainda “O Homem que Caiu na Terra” (1976), como um amigo e confidente de David Bowie, e “Retratos de uma Realidade” (1983), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Mas uma participação em “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2” (1982) inaugurou um novo capítulo em sua filmografia, mostrando que o lendário homem mau podia ser engraçadíssimo. Sem planejamento aparente, Torn começou a incluir comédias entre seus thrillers. Em meio a “O Limite da Traição” (1987) e “Robocop 3” (1993), começaram a aparecer títulos como “Nadine – Um Amor à Prova de Bala” (1987), “Um Visto para o Céu” (1991), “Por Água Abaixo” (1996) e “Advogado por Engano” (1997), que mostraram sua versalidade. Rip Torn virou comediante de vez ao entrar na famosa série “The Larry Sanders Show”, primeiro grande sucesso do canal pago HBO, no papel de Artie, o produtor desonesto do talk show fictício de Larry Sanders (personagem de Garry Shandling). A comédia inovadora foi exibida de 1992 a 1998, e Torn foi indicado ao Emmy por cada uma das seis temporadas, vencendo o troféu de Melhor Ator Coadjuvante em Série de Comédia em 1996. Mas, curiosamente, ele relutou em fazer a série, pois àquela altura se considerava ator de cinema. Acabou aceitando o emprego porque, segundo contou, devia muito dinheiro aos familiares. Mesmo assim, se recusou a fazer teste para o papel. Shandling teve paciência para convencê-lo a ler um trecho do roteiro do piloto com ele, e saiu da reunião para informar aos produtores que estava vindo do “melhor sexo” da sua vida. Os produtores toparam, porque se basearam nas comédias que Torn tinha feito no cinema, especialmente “Um Visto para o Céu”, de Albert Brooks. Entretanto, quando a série foi ao ar, muitos ainda se surpreenderam em descobrir que o malvadão Rip Torn era engraçado. Ele conquistou a indústria, a crítica e o público. E deixou de ser levado tão a sério – no bom sentido. Após vencer o Emmy, a carreira cinematográfica de Torn continuou crescendo, em vez de se encerrar como ele temia. Sua filmografia acrescentou o blockbuster “MIB – Homens de Preto” (1997), no qual desempenhou o papel de Zed, o chefe dos Homens de Preto, que voltou na continuação de 2002. Ele também fez uma participação no terceiro filme, de 2012, filmou três dramas indicados ao Oscar, “O Informante” (1999), “Garotos Incríveis” (2000) e “Maria Antonieta” (2006), além de diversas comédias, entre elas “Com a Bola Toda” (2004) e “Os Seus, os Meus e os Nossos” (2005). Seu sucesso acabou com o estigma do “ator de TV” e inspirou vários outros astros do cinema a seguir seus passos. Pioneiro, Torn ajudou a dar peso cinematográfico às séries e a dar à HBO o padrão de qualidade que revolucionou a indústria televisiva. Ele ainda voltou à TV em participações recorrentes nas séries “Will & Grace” e principalmente em “30 Rock”, na qual viveu Don Geiss, chefe do protagonista Jack Donaghy (Alec Baldwin). Este papel lhe rendeu sua última indicação ao Emmy em 2008, a 9ª de sua carreira.

