Michael Nyqvist (1960 – 2017)
O ator sueco Michael Nyqvist, que estrelou a trilogia “Millennium” original, ao lado de Noomi Rapace, morreu nesta terça-feira (27/6) após uma batalha contra um câncer de pulmão, confirmou seu representante. Ele tinha 56 anos. “Em nome dos representantes e da família de Michael Nyqvist, é com profunda tristeza que venho confirmar que nosso amado Michael, um dos atores mais respeitados e completos da Suécia, morreu calmamente cercado pela família depois de uma batalha de um ano com câncer de pulmão”, disse o representante em um comunicado. “A alegria e a paixão de Michael eram infecciosas para quem o conhecia e amava. Seu encanto e carisma eram inegáveis, e seu amor pelas artes era sentido por todos os que tiveram o prazer de trabalhar com ele”. Nyqvist começou a carreira no final dos anos 1980 e deslanchou na década seguinte com papéis em diversas produções da TV escandinava. Mas foi só a partir de “Bem-Vindos” (2000), do conterrâneo Lukas Moodysson, que começou a ganhar reconhecimento. Pelo papel de marido com problemas de raiva, obteve sua primeira indicação a um prêmio nacional de melhor ator. Após este papel, seguiram-se o protagonismo em “A Vida no Paraíso” (2004), de Kay Pollak, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e a aventura medieval “Arn: O Cavaleiro Templário” (2007), transformada em minissérie três anos depois. Ele fez sua estreia em inglês em “Distúrbios do Prazer” (2008), dirigido por outro conterrâneo, Johan Renck (série “The Last Panthers” e clipes de David Bowie e Madonna), um ano antes de viver o personagem que lhe deu projeção internacional. Nyqvist protagonizou “O Homens que Não Amavam as Mulheres” em 2009, dando vida ao jornalista Mikael Blomkvist, editor da revista Millennium, que aceita a oferta de um milionário para investigar que fim levou uma mulher desaparecida há 40 anos. Para isso, alista uma hacker punk, chamada Lisbeth Salander, que o ajuda a descobrir uma antiga conspiração para esconder um serial killer de uma família tradicional sueca. O filme inaugurou uma trilogia inspirada nos livros do escritor Stieg Larsson, que projetou a carreira dos principais envolvidos em sua produção, desde Nyqvist e Noomi Rapace (a intérprete de Salander), até o diretor Niels Arden Oplev e o roteirista Nikolaj Arcel. Todos foram contratados por Hollywood. Mas não participaram do remake americano da produção, no qual o papel de Mikael Blomkvist foi interpretado pelo inglês Daniel Craig. Após o sucesso de “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, “A Menina Que Brincava com Fogo” e “A Rainha do Castelo de Ar”, o ator foi escalado como vilão de “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” (2011), seu filme de maior alcance mundial. A projeção lhe permitiu ficar por Hollywood, trabalhando em produções variadas como o drama indie “Os Desconectados” (2012), a sci-fi “Viagem à Lua de Júpiter” (2013) e o thriller de ação “De Volta ao Jogo” (2014). Entre seus últimos trabalhos destacam-se “A Jovem Rainha” (2015), no qual viveu o chancelar da Rainha Kristina da Suécia, “Amor e Revolução” (2015), em que encarnou o líder de uma seita que tortura psicologicamente Emma Watson, e “Invasão de Privacidade” (2016), um filme de ação estrelado por Pierce Brosnan. Ele ainda completou seu trabalho em três produções inéditas: a minissérie “Madiba”, sobre Nelson Mandela, e os filmes “Radegund”, drama passado na 2ª Guerra Mundial com direção de Terrence Malick, e “Hunter Killer”, thriller coestrelado pelos britânicos Gerard Butler e Gary Oldman. Além destas obras, até recentemente estava filmando “Kursk”, do dinamarquês Thomas Vinterberg.
A Jovem Rainha revisita história de uma monarca muito à frente de seu tempo
Mesmo que a emancipação feminina tenha se efetivado de fato no século 20, há um passado histórico de lutas, em que mulheres pioneiras se liberaram de uma série de amarras, ainda que restritas por convenções. E este é o ponto mais fascinante de “A Jovem Rainha”, realização falada em inglês do finlandês Mika Kaurismäki (“O Ciúme Mora ao Lado”). Com cunho claramente feminista, a história de Cristina da Suécia (1626-1689) recebe uma revisão moderna, sem necessariamente dissipar a importância de episódios fundamentais de sua biografia, com um contorno mais atrevido em seu comportamento e até mesmo em sua inclinação sexual, suprimidos em outras versões. Bela ao ponto de não permitir que nossos olhos se distraiam com qualquer outra coisa, a sueca Malin Buska (“Dinheiro Fácil – Vida de Luxo”) interpreta a jovem rainha do título com fervor. Após uma introdução que trata de mostrá-la desamparada na infância, tendo ascendido ao trono com apenas seis anos, ela se perde os livros de seu imenso acervo e amadurece como uma intelectual, inebriada especialmente pela obra de René Descartes, pai do racionalismo e seu mentor. Mais inteligente de todos os monarcas de sua época, Cristina decide se opor à Guerra dos Trinta Anos, arquitetada na Europa do século 17 a partir do conflito entre católicos e protestantes, e isso lhe custa caro. Porém, muito mais que as ações da Cristina pública, Kaurismäki, que conta aqui com o roteiro assinado pelo canadense Michel Marc Bouchard (de “Tom na Fazenda”, de Xavier Dolan), também quer desvendar a Cristina privada. E para isso utiliza sua relação conflituosa com o chanceler Axel Oxenstierna (Michael Nyqvist, de “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, ótimo), que também exerce uma função paternal, e a condessa Ebba Sparre (Sarah Gadon, de “Drácula – A História Não Contada”), o grande amor de sua vida. Mesmo a fotografia do francês Guy Dufaux (“As Invasões Bárbaras”) desempenha um fascínio ao iluminar em excesso um período de trevas, dando tonalidades contemporâneas a uma monarca muito à frente de seu tempo.
Estreias destacam grande muralha de mediocridade na semana do Oscar
O fim de semana do Oscar é também o fim de semana do carnaval, e o bloco dos lançamentos não é dos mais animadores. A programação dos shopping centers é um samba enredo repetitivo de fracassos americanos e filmes nacionais de qualidade discutível. O projeto mais ambicioso ocupa mais salas. Coproduzido por americanos e chineses, “A Grande Muralha” traz Matt Damon perdido na China e numa obra que usa a experiência do veterano cineasta Zhang Yimou, responsável pela abertura da Olimpíada de Pequim, para evocar uma experiência “olímpica” nas telas, com coreografias ambiciosas, repletas de cores e figurantes. Mas a escala épica e os efeitos visuais se resumem a contar uma batalha de guerreiros medievais contra monstros genéricos. Sucesso espetacular na China, estreou no último fim de semana com um desempenho medíocre nos EUA e sob uma saraivada de flechas da crítica. Estreia em 828 salas, das quais 561 em 3D (68% do total), além de todo o circuito IMAX (12 salas). Ainda mais fraco, “Monster Trucks” ocupa 517 salas e outra boa fatia do circuito 3D. Espécie de “Transformers com monstrinhos”, baseada em (mais) um brinquedo da Mattel, é tão infantilóide que merece chegar aos cinemas dublado como um programa televisivo. Filmado em 2014, teve seu lançamento adiado várias vezes pela Paramount, a ponto de ser tratado como fracasso antes mesmo da estreia – a previsão é de US$ 100 milhões de prejuízo. “A Lei da Noite” é um caso à parte. Seu fiasco foi tão colossal que balança estruturas na Warner. Estrelado e dirigido por Ben Affleck, custou uma fortuna não revelada para render apenas US$ 10 milhões nos EUA, empurrando a reputação do astro ladeira abaixo. A crise é tão grande que Affleck desistiu de dirigir o filme solo de Batman e já há rumores de que não quer viver mais o personagem, que estaria culpando pela fase negativa, após vencer o Oscar de Melhor Filme com “Argo” (2012). A desilusão é tanta que foi praticamente despejado em apenas 89 salas. Quem tiver curiosidade, vai encontrar um filme de gângster da lei seca estilizado. Os brasileiros que chegam aos shoppings são o besteirol “Internet – O Filme” e a animação “Bugigangue no Espaço”. O primeiro serve para demonstrar a teoria de Itararé: de onde nada se espera, nada vem mesmo. A coleção de vinhetas, estreladas por youtubers, lembra o pior do “Zorra Total”, com piadas preconceituosas e interpretações travadas no volume do histerismo, mas a distribuidora bota fé, como demonstram suas 406 salas. O segundo tenta usar referências nacionais numa história genérica de crianças que se aliam com ETs bonzinhos para enfrentar alienígenas malvados. Em 300 salas (10% delas em 3D), o resultado rende crianças brasileiras muito loiras e sexualizadas, com um “gostosa” disparado sobre a heroína mirim da trama. Felizmente, o fim de semana também tem Oscar e os cinemas recebem mais um candidato à premiação. Indicado em oito categorias, “Moonlight – Sob a Luz do Luar” leva a 59 salas um drama sensível, registrado de forma intimista, que acompanha o crescimento e a transformação de um menino num bairro violento de Miami. Vítima de bullying na infância, ele cresce para se tornar um traficante bem-sucedido, ao mesmo tempo em que busca compreender e aceitar sua homossexualidade, estimulado pelo relacionamento com seu melhor amigo. Um filme de machos, em vários sentidos. Com isso, apenas um destaque do Oscar permanece inédito, “Um Limite Entre Nós” (Fences). Oficialmente, o longa só estreia na semana que vem, mas, ainda que de forma tardia, a distribuidora percebeu o equívoco e programou “pré-estreias pagas” em 24 salas de seis cidades a partir desta quinta (23/2), dando oportunidade ao público saber porque deve torcer por Denzel Washington e Viola Davis na cerimônia da Academia. Dois filmes europeus completam a programação. “A Garota Desconhecida” é o mais recente trabalho dos irmãos Dardenne, que passou por uma reedição completa após ter decepcionado no Festival de Cannes passado. A própria passagem do tempo ajudou sua história a se tornar mais relevante, ao mostrar como a indiferença europeia pode ter consequências graves na vida de imigrantes pobres. Chega em apenas seis salas. Por fim, “A Jovem Rainha” conta em 11 salas a história da rainha Cristina da Suécia, a mulher mais letrada do século 17, que preferiu abdicar ao trono a se casar. O motivo, segundo o finlandês Mika Kaurismäki (irmão de Aki Kaurismäki), seria seu lesbianismo assumido. Não convenceu muito a crítica internacional. Clique nos títulos dos filmes em destaque para ver os trailers de todas as estreias da semana.
Trailer de A Jovem Rainha apresenta a rainha lésbica que desafiou os costumes do século 17
A Mares Filmes divulgou o trailer de “A Jovem Rainha”, cinebiografia da rainha Cristina, da Suécia. A prévia oferece uma bela recriação do século 17, intrigas políticas, lesbianismo e guerra, para contar a história da polêmica rainha que era a mulher mais letrada de sua época, grande benfeitora das artes e que preferiu abdicar ao trono a se casar. A trama é uma adaptação do canadense Michel Marc Bouchard (“Tom na Fazenda”) de sua própria peça, com direção do finlandês Mika Kaurismäki (“O Ciúme Mora ao Lado” e irmão de Aki Kaurismäki) e destaca a bela sueca Malin Buska (“Dinheiro Fácil – Vida de Luxo”) como o “rei menina”, como define o título internacional, apaixonada pela canadense Sarah Gadon (“Drácula, a História Nunca Contada”). O elenco multinacional também inclui Michael Nyqvist (“De Volta ao Jogo”), Lucas Bryant (série “Haven”), Laura Birn (“Caçada Mortal”), François Arnaud (série “Blindspot”), Patrick Bauchau (“Tudo vai Ficar Bem”) e Hippolyte Girardot (“Os Sabores do Palácio”). A produção dividiu a crítica, mas foi premiada nos festivais de Montreal e Valladolid. A estreia está marcada para 23 de fevereiro no Brasil.



