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    Sem sentido e bom senso, Angry Birds deve virar a pior animação do ano

    24 de maio de 2016 /

    Baixe e aproveite todos os aplicativos da série “Angry Birds”, mas esqueça a animação feita para o cinema, porque deve disputar a condição de pior do ano. Sem graça, nexo, inspiração e uma mínima noção de bom senso, “Angry Birds – O Filme” entra para a coleção de filmes para levar filhos e sobrinhos ao cinema em que dizemos a eles no fim da sessão – como prova de amor – que gostamos do que vimos. Mas, cuidado, a “melhor cena” envolve pássaros bebendo e fazendo gargarejo com xixi. Ou seja, não dá para acreditar que deram dinheiro para produzir essa bomba. Compreensível pelo sucesso da marca, mas é uma bola fora da Sony tratar isso como cinema. A parte do xixi pode ser a “melhor”, porém o mau gosto domina e é difícil escolher qual é o momento mais embaraçoso. Mas antes de citá-los, vamos recapitular o que é “Angry Birds”: surgiu como um app para jogar no ônibus ou no trem. Sem história alguma. A missão é arremessar passarinhos raivosos contra porcos verdes que roubaram seus ovos. É isso. Embora se espere que isso aconteça no filme, a adaptação teria um roteiro que parte praticamente do zero e sem limites para explorar a criatividade. Mas apostaram numa trama para lá de manjada. Até chegar a hora que remete ao game, sobram desdobramentos enfadonhos sobre personagens nada carismáticos, liderados por um protagonista estressado – mesmo vivendo numa ilha paradisíaca – , que não tem graça nenhuma. Todos os exemplos utilizados para ele demonstrar sua raiva foram vistos em diversos filmes. Pior: não há explicação alguma para o personagem ser assim e ainda tentam dizer lá na frente que é bom ser estressado. Ok, ninguém é de ferro, entendo, mas isso deveria ser um filme para crianças. Prepare-se para cenas com flatulências, insinuações machistas, bundas na cara de outros pássaros e piadas sobre sexo, como em um momento inacreditável: você sabe que os porcos roubarão os ovos do pobres pássaros, certo? Antes de decidir pelo resgate, um dos personagens principais sugere que basta substituir os filhotes “reunindo a mulherada num cantinho e mandar ver”. Quantas crianças entenderam isso? E qual é a necessidade disso? Mas vamos nos concentrar na estrutura do roteiro de Jon Vitti (“Alvin e os Esquilos”). Quando chega a tão esperada parte dos pássaros atacando os porcos, ela não faz o menor sentido. Não há preparação para esse momento. Nenhum personagem estava acostumado a ser arremessado por estilingues gigantes até ali. Eles simplesmente acham que é a melhor estratégia para o ataque. Enfim, não há muito para dizer. Apenas para o filho ou o sobrinho. Enquanto eles consomem a última pipoca, você pode contar a eles que “Angry Birds” (o filme, não o game) não foi o melhor filme que vocês já viram. Não se preocupe, porque provavelmente eles concordarão.

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    Mogli impressiona e emociona em versão digital à altura do clássico da Disney

    21 de abril de 2016 /

    A nova versão “com ator” de “Mogli: O Menino Lobo” é nostálgica e impressionante pelos efeitos visuais, que comprovam mais um milagre do cinema, mas não seria tão bem-sucedida se não fosse também envolvente e emocionante. Jon Favreau é um diretor que raramente erra. Seu currículo não deixa mentir: “Zathura” (2005) e o primeiro “Homem de Ferro” (2008) são indiscutíveis. Seu único fracasso foi o fraco “Cowboys & Aliens” (2011), que ele rebateu com um projeto barato e pessoal, o delicioso “Chef” (2014). O sucesso de “Mogli” apenas confirma a confiança depositada pela Disney em seu talento. Assistir ao filme dá a impressão clara de que um peso enorme saiu das costas do cineasta. Nerd e atento aos detalhes, Favreau caprichou na criação de um novo mundo. Além de fotografia e direção de arte de arregalar os olhos, a selva de “Mogli” e todos os seus habitantes (animais criados por computação) representam um assombro tecnológico. O design gerado quase que inteiramente em CGI prova que, muitas vezes, somos injustos com os efeitos visuais que levam os profissionais que trabalham com isso a orgasmos múltiplos. Cobramos efeitos práticos, à moda antiga, quando vemos a tecnologia digital tomar conta de um filme, a ponto de se tornar mais importante que seu diretor, roteiro e elenco. Mas “Mogli” está aí para lembrar que um diretor faz diferença, sim. Num trabalho praticamente quase todo computadorizado, Favreau jamais esquece onde está a alma de seu filme. Adaptar “Mogli” sempre foi arriscado. Por conta disso, a própria Disney já tinha optado por uma animação em 1967, quando contou sua primeira versão da história criada no século 19 por Rudyard Kipling. Compreensível. Se nos anos 1960 uma adaptação decente com atores de carne e osso seria impossível, a versão de Favreau também jamais teria dado certo em outra época. Aliás, existe um filme em 1994 dirigido pelo Stephen Sommers de “A Múmia”, que ninguém lembra. É claro que a invasão das criaturas digitais ganhou fôlego com os dinossauros de “Jurassic Park”, em 1993, mas “Mogli” impressiona por criar com realismo animais que existem hoje. Esqueça os efeitos articificiais de “Jumanji”, de 1995. Os animais selvagens de “Mogli” são tão realistas quanto os bichinhos falantes de “Babe, O Porquinho Atrapalhado”, roteirizado por George Miller no mesmo ano. Uma revolução para a época, que assim como “Mogli” valorizou uma boa história acima de qualquer truque. Mas em “Babe” ainda eram animais de verdade, com pequenas manipulações digitais. Os bichos 100% computadorizados de “Mogli” só foram possíveis após Ang Lee dirigir “As Aventuras de Pi” (2012). Pense no impressionante tigre que rendeu a “Pi” o Oscar de Melhores Efeitos Visuais, só que falando e se expressando com emoções. É o que acontece no filme de Favreau, mas não somente com um tigre. Com um tigre, um urso, uma pantera, uma cobra, lobos, macacos, etc, que interagem com o menino Neel Sethi, um garoto de 10 anos, estreante no cinema. Favreau se apoia na inocência da criança (e do personagem) para que o “faz de conta” dos bichos falantes vire realidade. E a plateia vai junto. O visual funciona que é uma beleza, mas o verdadeiro valor do filme está na sua história clássica. A trama traz questionamentos básicos sobre onde reside a felicidade e a família que escolhemos, respeitando e entendendo as diferenças para descobrir, numa jornada inimista, qual é nosso lugar no mundo. A Disney se tocou que vivemos em outra época, bem distante daquela da animação de 1967. E, assim como fez em “Zootopia”, usa a fábula de Kipling para atualizar (corrigir?) conceitos e pré-conceitos. Para os mais novos, sua trama resgata até a estrutura do roteiro de “O Rei Leão” (1994). E não tem como errar quando a inspiração é essa. Mas, para os mais velhos, o atrativo da nostalgia é ainda mais irresistível. Dificilmente os marmanjos conseguirão segurar as lágrimas quando o urso Balu (voz de Bill Murray no original em inglês, na companhia de um time de dubladores excepcionais) se junta a Mogli para cantar uma música famosa da animação. O que também é uma ousadia: em meio à tanto realismo, Jon Favreau não fugiu das canções. Assim, o novo “Mogli” é um pseudo-live-action que não representa só uma nova adaptação do livro de Kipling. É uma homenagem à própria história da Disney e suas produções infantis de outros tempos.

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    Kung Fu Panda 3 continua eterno aprendizado de Po

    11 de março de 2016 /

    Uma fantasia oriental adaptada para crianças ocidentais, de acordo com o olhar de adultos ocidentais. Isso é (até aqui) a trilogia “Kung Fu Panda”, aquela em que você sempre acha que o protagonista virou mestre do kung fu, mas, a cada continuação, descobre que ele ainda não chegou lá e falta algo para aprender. “Kung Fu Panda 3” tenta amarrar toda a saga de Po, sacrificando a trama em nome desse objetivo. Perto do segundo longa alucinado, que tem ação do início ao fim, a terceira aventura é uma grande enrolação. Para segurar a onda, a solução é abusar do carisma do protagonista dublado por Jack Black (ou Lúcio Mauro Filho, que faz um ótimo trabalho no Brasil). O filme ainda inventa novas lições a serem aprendidas pelo personagem, apela para um vilão do além e apresenta dezenas de pandas que nunca terão seus nomes decorados pelo público. Tudo para evitar (em vão) um marasmo que só desaparece quando a animação se aproxima da tradicional luta decisiva no clímax. Tudo bem, a trilogia é concluída de forma satisfatória, mas vamos combinar que este é o filme mais fraco. E que chegou a hora de parar. Ainda que, certamente, Po tenha alguma nova lição para assimilar em “Kung Fu Panda 4”. Pois, até aqui, a franquia tem se demonstrado um arco que nunca se completa e se repete infinitamente. Um exemplo é o final de “Kung Fu Panda 2”, em que Po aceita seu pai adotivo. Fim de papo, certo? Errado. Trataram de apresentar seu pai biológico para o protagonista repensar sua origem (de novo) no “3”; uma desleixada regressão que comprova a falta de criatividade do roteiro. “Kung Fu Panda 3” serve mesmo para vender produtos relacionados à marca, porque, como progressão da franquia, não tem nada a acrescentar. Como exemplo, a moral de sua história ressalta que todo mundo é bom em alguma coisa e que o kung fu pode ser praticado por qualquer um. Legal, mas isso já não tinha sido concluído, quando Po descobriu que era o Dragão Guerreiro no final do “Kung Fu Panda” original?

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    Spolight faz registro histórico dos últimos dias do jornalismo investigativo

    15 de janeiro de 2016 /

    Um roteiro sobre pedofilia cometida por padres da Igreja Católica provavelmente viraria um filme focado nas vítimas ou nos sobreviventes. Mas “Spotlight – Segredos Revelados” usa o polêmico tema para falar nas entrelinhas sobre o fim da era do jornalismo investigativo. Isso faz com que, não a polêmica, mas o dramalhão fique em segundo plano para dar lugar à urgência de um tom mais tenso, que geralmente era empregado nos filmes policiais dos anos 1970. Com bons tiras substituídos por outros profissionais em extinção, movidos por uma coceira que jamais para até que a verdade seja encontrada e divulgada. Baseado em fatos reais, o filme dirigido pelo ator Tom McCarthy (“Trocando os Pés”), que também divide o roteiro com Josh Singer, bebe na fonte das melhores produções sobre jornalismo, sendo a principal delas o clássico “Todos os Homens do Presidente” (1976), de Alan J. Pakula, o clássico em que Dustin Hoffman e Robert Redford revivem a investigação dos jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, sobre o escândalo Watergate. O tom de “Spotlight” é esse. É o herdeiro direto do filme de Pakula, mas a diferença é que “Todos os Homens do Presidente” foi feito no auge do jornalismo investigativo e apenas dois anos após a renúncia do presidente Richard Nixon em decorrência do escândalo relatado. Já “Spotlight” foi lançado numa época em que a profissão privilegia o factual e não as grandes reportagens, mais de uma década após a reportagem retratada no longa. Aqui, os olhos de Tom McCarthy estão direcionados para as ações do Boston Globe num mundo prestes a ser dominado pela internet. Mais precisamente em uma divisão (a Spotlight) coordenada por quatro jornalistas – Walter Robinson (Michael Keaton), Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James), observados de perto pelo editor Ben Bradlee Jr. (John Slattery), que curiosamente é filho de Ben Bradlee, o editor do Washington Post durante o caso Watergate. Eles agem como a S.W.A.T. do jornal, sempre responsáveis pelas investigações mais parrudas. Com a entrada de um novo editor-chefe, Marty Baron (Liev Schreiber), eles são “convidados a aceitar” um caso que o próprio jornal ignorou anos atrás: partir para cima da Arquidiocese de Boston, que teria jogado para debaixo do tapete crimes de abuso sexual cometidos por padres. O elenco está impecável. Difícil escolher um nome que se destaque mais. É um trabalho de conjunto, seguindo o que os personagens fizeram na vida real. De repente, podemos preferir Mark Ruffalo, o jornalista obstinado, de postura torta, talvez corcunda, sem tempo para a vida social. Mas, então, lembramos que McCarthy praticamente não mostra os repórteres da Spotlight se relacionando com parentes ou amigos – com exceção da personagem de Rachel McAdams, que mesmo assim fica ao redor deles reagindo ao trabalho. Agindo como se não houvesse amanhã, cientes ou não – pouco importa – de que essa vertente da profissão estivesse com os dias contados, o quarteto vai atrás de suas fontes e o ritmo de thriller predomina até o fim. Talvez a gente esteja acostumado com uma direção em que o cineasta “participa” mais da história, tentando em alguns momentos criar uma tensão mais forte. Acontece que nem todo mundo tem a energia de um Martin Scorsese ou mesmo Michael Mann, como em outro filme estupendo sobre jornalismo, “O Informante” (1999). Mas nem Alan J. Pakula era assim. O trabalho de McCarthy segue a escola Clint Eastwood, que apenas observa e conduz a história com segurança, ao se apoiar na excelência de três fatores – roteiro, elenco e edição. Deste modo, ele parece um cineasta com o espírito da Hollywood dos anos 1970, exercendo seu ofício no século 21. Mas é importante ressaltar que “Spotlight” não abraça a nostalgia. É um filme atual, urgente pela força de seu roteiro e pelo que coloca sob seu “holofote” – entre outras coisas, como o jornalismo deveria ser diferente da busca por likes a qualquer custo. Se dói lembrar que o jornalismo está moribundo, é reconfortante saber que não comprou um lugar no Céu, ao desmascarar, em seus últimos suspiros, a farsa religiosa da trama. O filme não quer revelar que existem padres pedófilos – isso pode ser redundante –, mas ajuda a entender que os casos que vieram à tona não foram isolados. A Igreja protegeu e praticamente financiou a safadeza toda. De forma interessante para este contexto, o jornalismo celebrado em “Spotlight” também se mostra uma profissão de fé, revelando que só se encontra a verdadeira paz na busca, o tempo todo, do caminho da verdade.

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    Pouco se salva do naufrágio de No Coração do Mar

    10 de dezembro de 2015 /

    Existem três ou quatro filmes diferentes dentro de “No Coração do Mar”. Em algum lugar, lá no fundo, apenas um deles é muito bom. Talvez aquele sobre o embate entre o homem e a natureza, quando a baleia finalmente aparece, até o momento em que a tripulação chega a uma ilha. Mas, infelizmente, daria um curta de tão breve. O primeiro filme é sobre Herman Melville se inspirando para escrever o clássico literário “Moby Dick”, por meio de uma entrevista, que leva ao longo flashback que é o filme. Hollywood adora esse recurso narrativo e foi mais feliz em produções como “Amadeus” (1984), de Milos Forman, e “Titanic” (1997), de James Cameron. Mesmo com as boas atuações de Ben Whishaw (“007 Contra Spectre”), como o lendário escritor, e Brendan Gleeson (“O Guarda”), no papel do sobrevivente que conta a história, você torce para que o verdadeiro filme comece. E não é o que vem a seguir, quando conhecemos Owen Chase (Chris Hemsworth, o “Thor”), homem de origem humilde, casado e pronto para ser pai. Sonha com o dia em que será o capitão do próprio navio, mas a oportunidade que bate à sua porta é a de primeiro imediato de um almofadinha nascido em berço de ouro (Benjamin Walker, de “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros”). Owen logo parte para o oceano em busca do lucrativo óleo de baleias, mas promete voltar são e salvo para a esposa, que tem um mau pressentimento na hora da partida. Curioso como acontece a mesma coisa antes de Tom Hanks partir em direção à Lua em “Apollo 13” (1995), também do cineasta Ron Howard. Não só isso. Esta parte é dominada por irritantes clichês e uma trilha desnecessariamente heroica e onipresente. Comparando, perde de mil a zero para “Mestre dos Mares” (2003), de Peter Weir. É só lembrar como o longa protagonizado por Russell Crowe não tem a ajuda da música para criar tensão ou imprimir heroísmo. Além do mais, tem atores melhores e um roteiro que consegue desenvolver bem as relações entre os personagens. Não é o que acontece aqui. Embora Chris Hemsworth tenha carisma, não podemos dizer que ele é capaz de comandar o show sem o cosplay do Thor. O roteiro de Charles Leavitt (“Diamante de Sangue”), aliás, não prepara o espectador para o terror que virá a seguir, não trabalha o mito ou o medo do desconhecido, com exceção de uma rápida cena com os restos de outra tripulação alertando sobre um demônio dos mares. Mas é neste ponto que o melhor filme começa. Juntando a sequência em que Owen e seus homens detonam uma pobre baleia, que solta seu último esguicho misturando água e sangue – a melhor cena de “No Coração do Mar” – à aparição da monstruosa criatura que se tornaria Moby Dick no livro de Melville, Ron Howard voa alto. Temos uma breve reflexão sobre a ação do homem contra a natureza, demonstrando toda a nossa força e capacidade para pensar sempre em dinheiro, mas também confrontando a réplica de que não somos deuses. Estranhamente, a trilha perde sua euforia exagerada e assume um ar fúnebre, que pesa um pouco para deixar claro (para quem não notou na cena do esguicho de sangue) que os homens são os vilões; não Moby Dick. Pena que esse momento de horror intimista, sobre a pequenez do homem, quase que sem diálogo, tomado por olhares fortes, dure tão pouco para iniciar outro filme, o de sobrevivência, que também perde feio se comparado a produções como “Náufrago” (2000), de Robert Zemeckis, “As Aventuras de Pi” (2013), de Ang Lee, e “Até o Fim” (2013), de J.C. Chandor. A abordagem depressiva dessa parte não combina com o que vimos até então. Pelo menos, vale destacar o trabalho do elenco, inclusive Hemsworth emagrecendo até virar osso. Admirável, mas imagine se tivéssemos ótimos atores. O menino Tom Holland (“O Impossível”) é bom, mas tem pouco a fazer. Depois disso, todos os filmes pretendidos por Ron Howard se cruzam de alguma forma, mas não amarram os diferentes tons com harmonia. A parte técnica, no entanto, merece aplausos, mas isso era o mínimo que poderíamos esperar de um filme bancado por um grande estúdio e dirigido por um talento como Howard. Menções honrosas: a fotografia de Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar por “Quem Quer Ser um Milionário?”) é um espetáculo e a baleia, criada por efeitos visuais, realmente impressiona. Engraçado é que “os muitos filmes em apenas um” espelham a carreira de Ron Howard, que muda da água para o vinho – às vezes para o vinagre – num piscar de olhos e nem sempre acerta se aventurando por diversos gêneros. Vamos combinar que um diretor sério não pode pular de Herman Melville para Dan Brown (“Inferno” é seu próximo filme) nem entregar uma obra tão consistente quanto “Rush” e emendar numa colcha de retalhos como “No Coração do Mar”. Desta vez, quis atirar para todos os lados, ser John Ford, Howard Hawks, entre outros, quando tinha diante de si um alvo tão claro quanto Moby Dick.

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    Goosebumps transforma best-sellers em comédia de Jack Black

    16 de novembro de 2015 /

    Baseado nos best-sellers de terror juvenil de R.L. Stine, que também viraram série para crianças e adolescentes, o filme “Goosebumps: Monstros e Arrepios” não é nada além de um veículo de Jack Black – estratégia também utilizada pelo ator em “As Viagens de Gulliver” (2010), que não por acaso é do mesmo diretor, Rob Letterman. Sinto muito, fãs da franquia, mas é isso. Se intencional ou não, a combinação de fantasia, humor e aventura parece partir da cópia da cópia da cópia da cópia da fórmula de “Jumanji” (1995), com elementos pinçados de uma dúzia de similares, de “Gremlins” (1984) à “As Crônicas de Spiderwick” (2008), e com um início que remete a “Super 8” (2011). Assim como o menino do filme de J.J. Abrams, que perdeu a mãe, Zach (Dylan Minnette, de “Os Suspeitos”) perdeu o pai. Mas com uma vantagem, porque ele se sente ótimo consigo mesmo; não está de luto e consegue manter uma relação muito feliz com a mãe, apesar da perda recente. Só faz biquinho quando vê uma foto ou um vídeo do pai. E ele vai do início ao fim do filme sem passar por nenhuma grande mudança. O que lhe interessa é beijar a garota no final. Então, o que levou os roteiristas Darren Lemke, Scott Alexander e Larry Karaszewski a citarem que o garoto perdeu o pai? Simples: apesar de começar com Zach, o filme revela seu verdadeiro protagonista um pouco depois. Jack Black é quem estrela a produção e o arco que importa é o de seu personagem, um escritor recluso, que vive se mudando de cidade na companhia da filha (Odeya Rush, de “O Doador de Memórias”). A trama tem início pra valer após cerca de 30 minutos de filme, quando Zach e seu colega (vivido por Ryan Lee, justamente de “Super 8”), que tem a missão de ser o alívio cômico, abrem um livro na casa do escritor e de lá sai o abominável homem das neves (!). Aos poucos, vários monstros carregados de CGI escapam de outros livros. A explicação? Black é o próprio R.L. Stine, prisioneiro de sua imaginação. Nada mágico, nenhuma maldição. Suas criações simplesmente se tornam reais. Ok, fãs de “Goosebumps”, vocês engolem essa? Há um problema básico de concepção no filme, que jamais define seu público. Em primeiro lugar, considere o elenco juvenil. Para eles (e o espectador com a mesma idade), “Goosebumps” já é um filme bobo demais. Imagine, então, para os adultos. Para as crianças mais novas, talvez seja um pouco assustador ver o lobisomem rosnando e babando com o focinho colado na tela. Ou seja, não é também para os pequeninos. Restam os fãs de Jack Black e talvez os leitores nostálgicos da obra de Stine. Mas até como comédia o roteiro consegue falhar. Difícil digerir que Scott Alexander e Larry Karaszewski escreveram “Ed Wood” (1994) e “O Povo Contra Larry Flynt” (1994).

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    Carnaval do novo Peter Pan tem reciclagem de fantasias

    14 de novembro de 2015 /

    A ideia de encarar mais uma entre as mil releituras de “Peter Pan” para o cinema soa como tortura. Mas a versão de Joe Wright (“Anna Karenina”) opta por um olhar inédito dentro da saga; não do cinema, porque segue a tendência de Hollywood neste século em explorar as origens de histórias clássicas. Embora poucos tenham curiosidade em saber o que aconteceu antes (e a indústria não aprende), o prelúdio respeita e jamais distorce a criação de J.M. Barrie; apenas imagina como Pan chegou à Terra do Nunca e se envolveu em aventuras fantásticas com personagens famosos como Capitão Gancho e Sininho. Talvez, por isso, o filme não tenha muito que criar ou explorar, a não ser a inesperada amizade entre Pan e Gancho, que é o coração da versão de Joe Wright. Mas, até chegar lá, o público tem que se contentar com uma colagem de vários outros filmes recentes. Deixado pela mãe em um orfanato, Peter (Levi Miller) vive a desilusão de uma Londres escura e cinzenta na época da 2ª Guerra Mundial. Para piorar, ele e seus amigos órfãos precisam lidar diariamente com uma freira que comanda o local com rigorosa e exagerada disciplina. Mas, no fundo, ela é má como uma bruxa, uma vilã do tradicional universo infantil. Esconde a comida gostosa da garotada e faz uso da palmatória para punir quem sai da linha. É um belo início para o filme, recheado de amargura, mas fica a impressão de que estamos vendo “Oliver Twist”, não “Peter Pan”. Ainda bem que os piratas não demoram muito para levar as crianças para a Terra do Nunca. E quando J.M. Barrie começa a tomar forma, Joe Wright inventa uma cena de ação desnecessária, com aviões de guerra perseguindo o navio pirata. Temos ecos de “As Crônicas de Nárnia” e até do pouco visto “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã”, menos “Peter Pan”. A entrada pelos portões da colorida Terra do Nunca, que contrasta com a escuridão de Londres, lembra a Oz de Sam Raimi e o País das Maravilhas de Tim Burton, e não “Peter Pan”. Quando conhecemos o pirata Barba Negra (Hugh Hackman), todos cantam “Smells Like Teen Spirit” (!), do Nirvana, e “Blitzkrieg Bop” (!!), do Ramones. Parece “Moulin Rouge”, nunca “Peter Pan”. Depois disso, a fuga de Peter – e seu mais novo amigo Gancho – pelas florestas remete diretamente a “Avatar”. Até mesmo o resgate dos dois pela Princesa Tigrinha (Rooney Mara) lembra como Neytiri (Zoe Saldana) salva Jake Sully (Sam Worthington) na cena que marca o primeiro encontro dos personagens principais do filme de James Cameron. Na verdade, assim como os recentes “Oz: Mágico e Poderoso” (2013) e “Alice no País das Maravilhas” (2010), o visual desse “Peter Pan” sofre com a falta de identidade própria, seguindo o caminho fácil de requentar uma mistura entre Terra-Média e Pandora. Onde o filme cresce: os atores são bons e Joe Wright deixa que eles brilhem apesar do uso exagerado de CGI. Rooney Mara e seu olhar chamam a atenção da câmera sempre que entram em cena. Garrett Hedlund, como Gancho, está perfeito ao imprimir ambiguidade, carisma e simpatia a um personagem que pode ou não ser confiável, e que todos sabemos onde vai parar. Sem falar que o menino Levi Miller é um achado. Mas ninguém se destaca tanto quanto Hugh Jackman, que se diverte como Barba Negra sem medo de passar vergonha. O ator se entrega de corpo e alma ao vilão carnavalesco como se estivesse em “X-Men” ou “Os Miseráveis”. Sem essa de filme sério ou fantasia, para ele todos os papéis devem ser levados a sério. E Jackman vale o show. Sem personalidade, esse “Peter Pan” é inofensivo e divertido enquanto dura. Como “Hook” (1991), de Steven Spielberg, e até mesmo “Em Busca da Terra do Nunca” (2004), de Marc Forster, jamais ousa avacalhar com a obra de J.M. Barrie, que sempre estará lá. Mas também terá dificuldade para ser lembrado, até porque arma o tabuleiro, mas não termina onde começa o verdadeiro “Peter Pan”. Nem explica como o protagonista carrega o estigma de ser o menino que não queria crescer. Será que estavam pensando numa continuação? Uma trilogia? Difícil dizer agora, já que o filme foi massacrado pela crítica e, ignorado pelo público americano, fracassou nas bilheterias.

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    Shaun, O Carneiro é um filme mudo que diz muito

    14 de novembro de 2015 /

    A grande beleza de “Shaun, O Carneiro” não é ser uma espécie de filme mudo para crianças. Mas o fato de usar como arma uma falsa inocência para manipular como quiser a garotada e os adultos. Seja para fazer rir ou passar a mensagem sobre a principal mudança que podemos fazer em nossas vidas, que não é necessariamente sair de casa ou ir a lugares diferentes. A animação prega que a mudança de atitude é o que mais importa; logo, a felicidade está dentro de nós mesmos. A mensagem sobre mudança de atitude é importante para os pequenos, mas ela é sutil. Talvez não seja notada até mesmo por adultos, afinal não está desenhadinha e, claro, jamais é explicada através de palavras. Mas com elegância, e indo direto ao ponto, “Shaun, O Carneiro”conseguiu “dizer” isso bem mais rápido que uma produção badalada e consagrada como “Madagascar”, que levou três filmes para chegar a essa conclusão. É mais uma bela diversão em stop motion do estúdio Aardman, que nos brindou anteriormente com “Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais” (2005) e o maravilhoso “A Fuga das Galinhas” (2000). Valorizando truques básicos da narrativa da época do cinema mudo, a versão para o cinema da série britânica de mesmo nome aposta em inspiradas gags para contar a história de Shaun, um carneirinho que cresceu numa fazenda e não aguenta mais viver a rotina no piloto automático. Numa tentativa de subverter positivamente o local e se divertir um pouco, algo dá errado pelo caminho e seu dono vai parar na cidade grande. E com amnésia. Resta a Shaun ir até lá e resgatá-lo. Ok. Não é exatamente um silent movie, porque os personagens emitem certos barulhinhos, mas a essência está presente em cada frame. Vale tropeçar, escorregar, trombar, transmitir emoções pelo olhar e manter as mesmas expressões faciais do início ao fim, inclusive a hilária risadinha de lado. Então Shaun e seus amigos são representações de Buster Keaton? Bom, por que não? Para um filme sob esse tipo de influência, a música tem um papel fundamental. E a trilha sonora de “Shaun, O Carneiro” é um capítulo à parte. Destaque para o tema “Feels Like Summer”, de Tim Wheeler, Ilan Eshkeri e o ex-Kaiser Chiefs Nick Hodgson, cujo significado traduz o espírito do próprio filme. Se a falsa inocência gera gargalhadas surpreendentes – e o filme é genuinamente engraçado –, o artifício permite mascarar referências. A aventura é repleta de menções a grandes produções do cinema, mas nenhuma delas quer chamar mais atenção que a própria história, como acontece em “Shrek”. De forma discreta, o cinéfilo é capaz de reconhecer citações a filmes que devem passar bem longe das crianças, como “O Silêncio dos Inocentes” (1991) e “Cabo do Medo” (1991). Tem até referência ao clássico “A Revolução dos Bichos”, livro de 1945 de George Orwell (com os porcos dentro de casa), e aos Beatles na Abbey Road. Pena que a animação não seja discreta o tempo todo, caindo na tentação das piadas grosseiras, incluindo flatulências e uma cabeça presa na bunda de um Cavalo de Troia. Bem light, de todo modo, porque a criançada adora.

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