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    Oito Mulheres e um Segredo é realmente a versão feminina de um filme já visto

    12 de junho de 2018 /

    Quem gosta de “Onze Homens e um Segredo” tem tudo para apreciar Sandra Bullock (como Debbie, a irmã do Danny Ocean de George Clooney), Cate Blanchett, Anne Hathaway, Sarah Paulson, Rihanna, Helena Bonham Carter, Mindy Kaling e Awkwafina em “Oito Mulheres e um Segredo”. Já quem acha um porre e se diverte bem menos que os astros e as estrelas da tela nesse tipo de filme, vai ter uma razão a mais para odiar, porque a intenção de “Oito Mulheres e um Segredo” é mesmo trazer de volta a atmosfera de “Onze Homens e um Segredo”, mas com um excepcional elenco feminino, que não deixa a mínima saudade de Clooney e sua turma. O filme faz parte da tendência hollywoodiana das continuações disfarçadas de reboots (ou vice-versa), como “Star Wars: O Despertar da Força” e “Jurassic World”, que mais ou menos repetem as estruturas consagradas dos roteiros originais como forma de reapresentar histórias velhas para uma nova geração. O curioso é que Hollywood tenha considerado a franquia de George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon digna do mesmo tipo de tratamento, inclusive com uma cota de autorreferências e participações especiais. Está tudo em seu devido lugar de novo e outra vez. Inclusive em seu paradoxo primordial. Nesses filmes, os planos das “criminosas” não tem como ser levados a sério, embora sejam minuciosamente detalhados, sem fazer o menor sentido para quem está do lado de cá da tela. Enquanto personagens, falam, pensam, falam e pensam, o que fica para o espectador é o espetáculo visual, que consiste na observação de olhares, sorrisos, narizes empinados e como essas pessoas andam com estilo, vestem-se bem, e se comunicam de maneira esnobe. Aliás, por que os elencos desses filmes precisam falar quase que obrigatoriamente com empáfia? Será que o charme exala antipatia enquanto personagens caminham entre checkpoints grã-finos como galerias de arte, cassinos ou o Met Gala? É muito mais humano observar Helena Bonham Carter quebrar esse padrão, ao demonstrar insegurança, vulnerabilidade e um humor tão discreto quanto imprevisível. O mesmo serve para a sedução provocada por Anne Hathaway, com sua personagem que quer ser linda como uma Barbie, mas é, no fundo, uma menina mimada e ingênua. São as duas melhores atuações… Porque as líderes Sandra Bullock e Cate Blanchett, que são sempre extraordinárias, limitam-se aqui a fazer o perfil egocêntrico “comigo ninguém pode” de George Clooney nos filmes de Soderbergh. Como nos longas anteriores, “Oito Mulheres e um Segredo” também não apresenta conflitos ou grandes riscos para o elenco principal, muito mesmos reviravoltas surpreendentes. O enredo até inclui uma reviravolta. Mas ela não é memorável, pois só acontece quando, digamos, o filme esquece que havia terminado, estendendo-se desnecessariamente até gerar um anti-clímax. E há o problema da direção que não decola. Gary Ross é um cineasta que entrega o que está no roteiro. Seu talento aparece mais quando revisita o cinema clássico, mesmo que seja para atualizá-lo, como fez nos belos “Pleasantville” e “Seabiscuit”. Mas, aqui, sua dedicação é tão impessoal que ele visivelmente se esforça para parecer Steven Soderbergh. O detalhe é que nem sequer foi Soderbergh quem criou “Onze Homens e um Segredo”, materializado pela primeira vez em 1960 como veículo para Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr. Claro que o remake de 2001 foi mais marcante. Mas o ponto é que Ross não tinha a necessidade de reproduzir os tiques de Soderbergh, que nem estava em sua praia indie quando topou entrar na brincadeira de “Onze Homens e um Segredo” com seus amigos. Ali, todos ganharam para se divertir. Da mesma forma que as atrizes deste filme. Afinal, se houvesse pretensão feminista e não apenas comercial no resgate da franquia como veículo para estrelas femininas, por que não contaram com uma mulher na direção? Assim, até a piada sobre isso, nos minutos finais, soaria mais pessoal e com personalidade. Fica a ideia para a sequência, já que estes caça-niqueis costumam virar trilogia. Se Soderbergh fez “Onze Homens”, “Doze Homens e “Treze Homens”, Sandra, Cate, Anne e cia devem retornar ainda em “Nove Mulheres” e “Dez Mulheres”. Até os números batem. Quem sabe, assim, consigam provar que conseguem fazer melhor, agora que já estabeleceram as personagens, podendo finalmente deixar a sombra dos “Onze Homens” e suas referências para trás.

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  • Filme

    Tully é um filme simples com proporções épicas e mais incrível que você imagina

    2 de junho de 2018 /

    Jason Reitman acostumou o público mal com seus três primeiros (ótimos) filmes, “Obrigado por Fumar”, “Juno” e “Amor sem Escalas”. Esse último tem quase 10 anos e, de lá para cá, entregou sucessivos trabalhos descartáveis. Mas ele finalmente reencontra seu bom cinema com “Tully” (2018), filme que marca sua terceira parceria com a roteirista Diablo Cody, do excelente “Juno”, e o apenas OK “Jovens Adultos”, completando assim uma trilogia involuntária sobre diferentes fases na vida de uma mulher. Novamente dirigindo Charlize Theron (sua atriz principal em “Jovens Adultos”), Jason Reitman conta a história de Marlo, mãe de dois filhos e à espera do terceiro. O marido (Ron Livingston) ama sua esposa e as crianças, mas bem que ele poderia ajudar mais, não? Porém, o ambiente é inteiramente favorável para Charlize dar um show como a mãe estressada, enfrentando depressão pós-parto e pronta para entrar em colapso. Na primeira metade do filme há uma curiosa sequência picotada pela edição monitorada por Reitman que convence qualquer um de que Marlo está pirando com a situação. É incrível como o poder da montagem influencia o espectador. Sou homem e vi de perto o drama de Marlo nessa parte que flerta com o visceral, mas imagino como muitas mulheres se sentiram, principalmente as mães. É a deixa para entrar em cena a babá Tully (Mackenzie Davis), que cuidará não somente da bebê enquanto os pais dormem (ou fazem outras coisas), mas também da mamãe à beira de um ataque de nervos. Jason Reitman tem a comédia correndo nas veias, afinal é filho de Ivan Reitman, diretor de importantes exemplares do gênero nos anos 1980, como “Almôndegas”, “Os Caça-Fantasmas” e “Irmãos Gêmeos”. Ele não faz filmes tão populares quanto o pai, mas exercita um estilo de humor muito mais contido, maduro, dramático, sempre em busca do lado humano dos personagens, focando num tom mais sério e, ao mesmo tempo, cínico. É um cara que se dá bem escrevendo seus próprios roteiros sem jamais trair suas influências. Mas quando ousa narrar histórias sobre mulheres, Reitman, como homem, sabe muito bem que não teria como ser justo na abordagem e nunca conseguiria entendê-las profundamente. Mas isso não quer dizer que não possa tentar. E faz o certo ao contar com a colaboração de Diablo Cody para investigar a alma feminina. “Tully” é mais um filme que comprova que a roteirista e o diretor nasceram um para o outro quando o assunto é cinema. Jason Reitman traduz com muita sensibilidade um texto extremamente honesto de Diablo Cody, que engana quem pensa que já viu de tudo sobre filmes de maternidade. E só temos a certeza disso no final de explodir cabeças; uma conclusão que torna praticamente impossível destrinchar as qualidades de “Tully” sem dar spoilers. Mas basta você saber que não é exatamente a depressão pós-parto que diferencia “Tully” da maioria dos filmes sobre mães. O que atualiza um tema tão explorado pelo cinema para o século 21 é a proximidade do espectador com o desabafo íntimo, confidencial, realista de uma mulher de 40 anos sobre sua rotina, as dificuldades do casamento, e de ser mãe; bem como o equilíbrio das expectativas de uma vida que se anuncia sem surpresas daqui para frente com a sensação de tempo perdido, o excesso de ansiedade, a velocidade do dia, das informações, e a distância cada vez maior do que faz alguém se sentir jovem. É um filme simples em sua forma, mas de proporções épicas quando notamos seus verdadeiros significados. Diablo Cody mostra que aceitação não precisa ser uma punição. Sim, a bagagem pesa, mas Cody lembra que juventude e velhice estão muito mais ligadas a sensações e atitudes capazes de dialogar em harmonia e ignorar nossos limites físicos. O que Reitman faz é abrir seu coração, admitir que está disposto a aprender e confiar 100% em sua roteirista e suas atrizes, porque Charlize e Mackenzie estão excelentes e a química entre elas é mais incrível que você imagina. São pontos que levam “Tully” a figurar entre os melhores filmes de Jason Reitman, que agora tem quatro “clássicos” em sua filmografia.

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  • Filme

    Han Solo mostra que “fan service” é pouco para sustentar um filme

    26 de maio de 2018 /

    Han Solo conhecendo Chewbacca? Confere. Han e Chewie entrando na Millennium Falcon pela primeira vez? Confere. A Millennium Falcon fazendo o Percurso de Kessel em menos de 12 parsecs? Tudo lá! Só faltou inspiração para o diretor Ron Howard e os roteiristas Lawrence e Jonathan Kasdan entregarem uma aventura empolgante e surpreendente em “Han Solo: Uma História Star Wars”. Afinal, era o que um dos personagens mais adorados da saga criada por George Lucas merecia. Mas esse filme de origem não combina com ele. Não se deve culpar Alden Ehrenreich, porque o garoto faz um trabalho competente emulando trejeitos e o espírito do contrabandista e mercenário eternizado por Harrison Ford. E não se limita a imitá-lo, esforçando-se para entregar sua própria versão de um jovem Han Solo anos antes de encontrar Luke Skywalker, Obi-wan Kenobi, C-3PO e R2-D2 numa certa cantina em Tatooine. Alden é um novo Han e consegue fazer o público aceitar o personagem numa versão diferente da eternizada por Harrison Ford. O processo é similar à aprovação de Roger Moore, Pierce Brosnan ou Daniel Craig num papel que nasceu e entrou para a história do cinema com Sean Connery. Enfim, mérito do ator. O problema de “Han Solo: Uma História Star Wars” é a impressão de que Lawrence Kasdan – autor dos textos de “O Império Contra-Ataca”, “O Retorno de Jedi” e “O Despertar da Força” – entrou nessa pela grana, quando ele mesmo demonstrou em entrevistas que estava de saco cheio de “Star Wars”. Teve a companhia do filho, Jonathan Kasdan, para escrever o filme. Mas, diante do resultado, fica clara a razão pela qual Phil Lord e Chris Miller, os diretores demitidos no meio das filmagens, entraram em colisão com o veterano roteirista e acabaram defenestrados pela Lucasfilm. Responsáveis por “Tá Chovendo Hambúrguer”, “Uma Aventura Lego” e a versão cinematográfica de “Anjos da Lei”, Lord e Miller nasceram da comédia. Lawrence Kasdan é bem mais sério e um talento consagrado de um cinema mais classudo, operístico. E isso não combina muito com o estilo de Han Solo, quando ele ainda não conheceu elementos dramáticos mais grandiosos, como o amor verdadeiro, a nobreza dos jedi, a mística em torno da Força e o sacrifício exigido por uma guerra. É provável que Lord e Miller tenham tentado quebrar o gelo e imprimir um tom menos sisudo. Isso não quer dizer que a intenção era avacalhar e deixar Solo com cara de bobo, afinal devem ser fãs de “Star Wars”, como todo diretor de sua geração. Mas, provavelmente, a dupla percebeu que o filme podia ser, no mínimo, mais divertido, e com isso mais eletrizante e, por que não, emocionante. Coisa que o substituto, Ron Howard, não fez. Porque o tom de “Han Solo” é frio, lento e, por vezes, sonolento. O filme, não o personagem. A verdade é que o protagonista passa a sensação de estar em outro filme. Assim como Donald Glover como o jovem Lando Calrissian, que honra o personagem interpretado por Billy Dee Williams na trilogia original, mas tem pouco tempo para fazer algo inesperado – embora isso seja exatamente que se espera de Donald Glover. Como sempre, Ron Howard entrega o que pediram. Respeitou 100% o Kasdan pai e a amiga e presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, que lhe confiou seu produto. Sim, essa é a palavra que define “Han Solo: Uma História Star Wars”: produto. Mas se Howard ficar para possíveis sequências, afinal Alden Ehrenreich assinou para três filmes, talvez tenha como pedir um texto mais leve e inspirado, para entregar finalmente um filme de verdade, porque é um cineasta que sabe como se faz. E uma nova abordagem é inevitável, pois Lawrence Kasdan admitiu que esta foi sua última contribuição para “Star Wars”. É aquela velha história: “Han Solo” reafirma que filme não se faz somente com fan service. É preciso paixão aliada à habilidade de se contar uma história que, aqui, foi concebida como uma lista de “eventos” que precisavam ser mostrados e ficou muito difícil para Howard sair disso. É um filme tão errado que nem mesmo há um vilão – o que não é uma regra, mas neste caso a trama precisava desesperadamente de um (mesmo que fosse um vilão patético). Assim como era necessário ver uma cena de ação decente, capaz de tirar a situação do marasmo. Elas existem, mas são modorrentas quando temos um protagonista aficcionado por velocidade numa década em que o cinema nos deu algo como “Mad Max: Estrada da Fúria”. Em vez disso, “Han Solo” tem muito falatório, flerta superficialmente com política e aposta tudo em referências da saga para os fãs mais ardorosos. A estranheza aumenta com relação à abordagem cinematográfica da produção. Desde que a Disney comprou a Lucasfilm, “Star Wars” explorou cenários e planos abertos, gigantescos, uma herança da câmera de Peter Jackson em “O Senhor dos Anéis”, que tem os filmes mais influentes do século e poucos notaram. É só reparar o olhar épico, que preenche toda a tela em “O Despertar da Força”, “Os Últimos Jedi” e até mesmo no problemático “Rogue One”. Mas isso não acontece com “Han Solo”. Como o filme é o mais caro de todos da saga, não se trata de restrição orçamentária, mas de opção assumida por planos mais fechados e cenas em ambientes internos. Talvez Howard quisesse homenagear a “simplicidade” que a produção do primeiro “Guerra nas Estrelas”, lançado em 1977, deve sugerir hoje em dia. Mas se o clássico de George Lucas é atemporal, “Han Solo” parece querer ser simplesmente antigo. Com tantos senões, é bom deixar claro que “Han Solo” não é ruim como outros lançamentos da saga espacial. Não há momentos constrangedores de envergonhar os fãs, como Anakin Skywalker (Hayden Christensen) se equilibrando num boi e dando frutinha na boca de Padmé (Natalie Portman), em “Ataque dos Clones”, ou Jar Jar Binks fazendo palhaçadas em “A Ameaça Fantasma”. Mas também não há uma cena que empolgue, embora haja uma surpresa no finalzinho, que parece deslocada neste ponto da saga, a ponto de parecer plantada para uma continuação – e, com isso, afetar não só o futuro da série, mas também seu passado. A curiosidade despertada por esta aparição inesperada é o que “Han Solo” deveria ter provocado no restante do filme. Surpresa, emoção, ansiedade. Infelizmente, o filme se contenta em ser a versão de cinema da wikipedia do protagonista. O encontro com Chewie, o jogo com Lando, a Millennium Falcon, etc. Mas precisava MESMO explicar o sobrenome do personagem?

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    Cargo troca a tensão dos filmes de zumbis pela emoção

    26 de maio de 2018 /

    Está faltando aquele filme de zumbi para dar uma sacudida nesse estilo tão amado desde que George A. Romero o popularizou com “A Noite dos Mortos-Vivos” há 50 anos atrás. Houve boas tentativas como a comédia britânica “Todo Mundo Quase Morto” (2004), a americana “Zumbilândia” (2009) e até o recente longa sul-coreano “Invasão Zumbi” (2016), mas nenhuma contribuição neste século foi tão relevante para a cultura pop quanto o game “The Last of Us” (2013). A série “The Walking Dead”? Cansou, não? Dirigido por Ben Howling e Yolanda Ramke, com base num curta homônimo da dupla, o longa australiano “Cargo”, disponibilizado por streaming pela Netflix, é um surpresa agradável, mas não é aquele filmaço de zumbis que será lembrado por décadas. Basicamente, gira em torno da situação de um pai desesperado em um cenário insólito. Martin Freeman (“O Hobbit”) interpreta Andy, que perambula pelo outback australiano devastado pelo apocalipse zumbi. Basta você saber que Andy fará de tudo para proteger sua bebê antes que ele mesmo vire mais um morto-vivo. Se eu fosse você não assistiria nem mesmo ao trailer, porque a narrativa é muito bem construída, com a devida paciência, camada por camada, até que o espectador entenda o verdadeiro plot. Por exemplo, eu chamei “Cargo” carinhosamente de “filme de zumbi” e isso já é spoiler, porque Ben Howling e Yolanda Ramke insinuam uma ameaça que jamais dá as caras nos primeiros 20 e poucos minutos. Um desavisado quanto à sinopse pode levar um belo susto (para o bem ou para o mal) quando descobrir no que se meteu ao notar o primeiro zumbi em cena. Claro que a melhor forma de ver um filme é não saber absolutamente nada sobre ele, uma coisa dificílima nos dias de hoje. E “Cargo” é um exemplo perfeito dessa tese. Mesmo assim, não é possível dizer que se trata de um ótimo filme. A sensação de que falta fica ainda mais evidente quando sabemos que a ideia saiu de um curta-metragem de sete minutos. Mas “Cargo” não deixa de ser um exercício interessante de narrativa muito bem-vindo numa era em que o cinema privilegia cada vez mais cortes rápidos e um fiapo de história – fiapo no pior sentido, porque uma trama pode ser simples, mas muito bem contada, como é a de “Cargo”. O problema do longa é outro. É que filme com zumbi precisa ser tenso e esse aqui é provavelmente o mais singelo que você verá na vida. Tente segurar uma lágrima no final se for capaz. Não que “Cargo” busque comoção apelativa. As emoções surgem da capacidade de envolvimento com a situação limite do protagonista e toda a surpreendente questão social desenvolvida com louvor ao longo do filme – méritos dos diretores e do grande Martin Freeman. Há, de fato, méritos na proposta de sair do lugar-comum. E o filme até explora um susto aqui, outro ali, além de um pouco de tensão. Mas falta aquele nervosismo do terror. Isto porque existe uma contradição básica na premissa: fazer filme de zumbis num deserto ensolarado e sem quase carne alguma pelo caminho para as criaturas comerem meio que tira a graça do gênero.

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    A Noite do Jogo marca o resgate das comédias americanas engraçadas

    19 de maio de 2018 /

    Já reparou que Hollywood não faz mais tantas comédias como há alguns anos atrás? Entre umas e outras baladas cinematográficas, sempre tinha aquele descanso merecido para rir com Katie Hudson, Anne Hathaway e Matthew McConaughey, além de Sandra Bullock, Hugh Grant e Julia Roberts antes deles. Talvez esses filmes tenham abusado demais da fórmula, deixando o público cansado. Hollywood é assim. Mesmo quando acham algo original como “Se Beber, Não Case!” e “Missão Madrinha de Casamento”, a mina de ouro é explorada excessivamente em continuações ou imitações desnecessárias até não sobrar mais nada. É por isso que as comédias de grandes estúdios protagonizadas por atores famosos se tornaram cada vez mais raras. Mas Hollywood também tenta se reciclar de tempos em tempos e um filme como “A Noite do Jogo”, mesmo com seus prós e contras, precisa ser notado simplesmente porque, às vezes, é bom rir à toa. E “A Noite do Jogo” ainda oferecer algo a mais, o que é louvável e a faz terminar com um saldo positivo. Vamos começar pela maior força do filme: o casal principal interpretado por Rachel McAdams e Jason Bateman, que são eufóricos e carismáticos na medida certa; daqueles que adoramos ver na tela e nos identificamos rapidamente. Bateman e McAdams podem tentar qualquer gênero, porque são bons atores, mas não há como fugir do fato de que são exímios comediantes. Bateman se projetou a partir da série “Arrested Development”, com seu jeito ponderado, porém exalando ironias e um olhar que dispensa palavras para se comunicar com o público. Ele nasceu pra isso. Da mesma forma que Rachel McAdams, que se destacou como a melhor arma de “Meninas Malvadas” (depois do roteiro de Tina Fey). Juntos, eles são perfeitos em “A Noite do Jogo”, lembrando os bons tempos das comédias com Goldie Hawn, Steve Martin ou Chevy Chase. Mas talvez tenha sido “Uma Noite de Aventuras”, dirigido por Chris Columbus e estrelado por Elisabeth Shue em 1987, a maior influência da jornada noite adentro do casal e seus amigos – um elenco maravilhoso, com destaque para o mulherengo e cérebro de azeitona vivido por Billy Magnussem e, principalmente, o policial solitário do fantástico Jesse Plemons, que rouba todas as cenas em que aparece. “A Noite do Jogo” é mais ou menos assim: Rachel McAdams e Jason Bateman vivem um casal viciado em jogos. A maior diversão é reunir amigos e brincar de mímicas, adivinhações e outras atividades ramificadas dessas ideias. Tanto que uma delas leva a uma aventura que mistura realidade e ficção, como uma versão cômica daquele filme pouco visto de David Fincher com Michael Douglas, “Vidas em Jogo”. Tudo bem que os mistérios não se seguram por muito tempo, mas o filme caminha imprevisível mais pelas reações dos atores que o roteiro em si. E isso já está de bom tamanho, porque algumas cenas arrancam risadas magníficas, como a que Rachel tenta tirar uma bala do braço de Jason Bateman (o efeito sonoro emitido pelo brinquedinho enquanto ela faz o corte me fez chorar de rir). E, cara, tem uma piada com Denzel Washington que é impagável. Espere pra ver. Melhor ainda: é um filme que não precisa se apoiar em piadas apelativas e bater em minorias. Sim, “A Noite do Jogo” é um saudável besteirol à moda antiga, devidamente atualizado para o público carente de risadas. E se dá ao luxo de contar com uma ótima direção – coisa rara nesse tipo de filme –, com direito até mesmo a um plano sequência muito bem orquestrado quando os personagens tentam capturar um “ovo”. John Francis Daley e Jonathan Goldstein fizeram antes disso aquele reboot frustrante de “Férias Frustradas”, mas mostram que são capazes de muito mais, com um humor herdado de tanto assistir o “Férias Frustradas” original e outros filmes da época. Não por acaso, a trilha sonora faz bom uso de sintetizadores, meio oitentista, em referência à era dos arcades, a era de John Carpenter. Os diretores também demonstram talento para criar concepções cenográficas originais, ao entregar cenas visualmente incríveis, que muitas vezes emulam jogos, como a perspectiva em terceira pessoa ao posicionar as câmeras atrás de alguns personagens, e a transformação de uma vizinhança inteira numa espécie de plataforma de game. Há um corte logo no começo que é brilhante, acompanhando a queda do casal ao chão que se torna um tabuleiro num passe de mágica da edição. É verdade que o ato final exagera na dose, com a barreira entre o que é realidade e o que é ficção extrapolando os limites do bom senso, conforme o roteiro de Mark Perez tenta ligar os pontos. Mas tudo bem, porque a esta altura a trama e seus heróis já conquistaram com seu bom humor. Além disso, a moral da história é ótima, ao ensinar que só envelhecemos quando queremos; conceito que se mistura com a escolha ousada nos dias de hoje de um elenco adulto, não adolescente, para um filme baseado em brincadeiras de criança. Enfim, “A Noite do Jogo” pode ser indício de uma volta das grandes comédias. E pelo resultado do público a este filme nos Estados Unidos a tendência é que Hollywood se estimule a lançar outras ainda melhores.

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    Rampage traz Dwayne Johnson fazendo o mesmo de sempre, ainda mais descartável

    21 de abril de 2018 /

    Dwayne Johnson é uma simpatia, um cara divertido que merece um high five, um abraço e aquela selfie para bombar no Instagram. Mas notaram como ele adora uma selva, muita destruição em CGI, exibir os músculos (e se gabar disso) quase sempre fazendo o mesmo personagem em filmes parecidos? “Rampage: Destruição Total” é mais um capítulo em sua trajetória que inclui vários filmes por ano (“Jumanji” chegou aos cinemas cerca de três meses atrás). Era para ser a adaptação para o cinema de um game antigo e sem história, em que se joga com um gorilão detonando prédios. Mas como a adaptação de “Goosebumps” se “adaptou” a Jack Black, “Rampage” se ajusta a The Rock. O ator até conta com a ajuda do “parça” Brad Peyton, o diretor de “Terremoto: A Falha de San Andreas”, que substitui abalos sísmicos por monstros gigantes, com os mesmos resultados. Ou seja, com concreto, metal, aço, poeira e fogo indo pelos ares. No filme, o gorila geneticamente alterado por humanos malvados – que, até por isso, atuam como se fossem doidos varridos e os verdadeiros monstros do filme – transforma Chicago numa arena para brigar com um lobo voador e um crocodilo. Gigantes, é claro. Ah, sim, The Rock está no meio da confusão porque é amigo de George, o gorila, e por isso tenta acalmar o bicho transformado pelos vilões, mas também apoiar a porrada contra os outros dois monstros quando não tem mais jeito. O filme ainda consegue contar com a ótima Naomi Harris, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Moonlight” (2016), fazendo absolutamente nada, e Jeffrey Dean Morgan, o Negan de “The Walking Dead”, se divertindo mais que a plateia. “Rampage” é passatempo para uma garotada pouco exigente e muito mais preocupada com pipoca e refrigerante que o que acontece na tela de cinema. Para não dizer que é um completo passa-perda-de-tempo sem nada a destacar, a produção faz um trabalho competente de CGI aliado ao desempenho de captura da performance do ator Jason Liles para dar vida a George, com bons efeitos visuais na criação do gorila. Só que quando você lembra que o remake, reboot, whatever de “Jumanji” estreou somente três meses antes e foi inesperadamente muito mais divertido, a comparação torna inevitável reparar o quanto “Rampage” é descartável e imbecil.

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    Com Amor, Simon é uma simpática Sessão da Tarde para mentes esclarecidas

    14 de abril de 2018 /

    Se o saudoso John Hughes estivesse vivo nesses dias de hoje, ele certamente faria um filme semelhante a “Com Amor, Simon”. Ou, no mínimo, o aprovaria com louvor. Com filmes como “Clube dos Cinco” (1985) e “Curtindo a Vida Adoidado” (1986), Hughes criou um gênero involuntário no início dos anos 1980. Pela primeira vez, Hollywood olhava com leveza, e também sinceridade, para adolescentes e seus problemas, desejos, amores e diversões dentro e fora da escola. Ele convidou espectadores de todas as idades para a brincadeira na mesma proporção em que pedia para adultos entenderem seus filhos e como qualidades e defeitos passam de geração para geração. Mas como toda fórmula, Hollywood desgastou os ensinamentos do bom e velho Hughes, e os filmes sobre e com adolescentes ficaram cada vez mais vazios, idiotas e entregues a soluções apelativas, tanto para fazer rir quanto gerar lágrimas. Ainda assim, volta e meia alguém aparece para resgatar a essência do “gênero”. O diretor Greg Berlanti, que tem no currículo boas séries adolescentes, como “Dawson’s Creek” e a atual “Riverdale”, recupera-se de sua última incursão cinematográfica (a bomba “Juntos Pelo Acaso”) ao conceber “Com Amor, Simon” no espírito de “Gatinhas e Gatões” (1984) e “A Garota de Rosa Shocking” (1986), além de longas daquela época influenciados pelo sucesso do lendário diretor-roteirista-produtor, como “Digam o que Quiserem” (1989) e, principalmente, “Admiradora Secreta” (1985), que tem muito de “Com Amor, Simon” (substituindo as velhas cartas pela comunicação via e-mail). Mas são apenas inspirações, porque “Com Amor, Simon” tem identidade própria e não copia estruturas de roteiros de filmes que já vimos tantas vezes. Baseado no livro “Simon vs A Agenda Homo Sapiens”, de Becky Albertalli, o filme acompanha o adolescente Simon Spier (Nick Robinson, de “Jurassic World”) tentando decidir se assume ou não sua homossexualidade. Tudo, entretanto, começa muito mal, com uma cena inicial que contradiz o discurso do protagonista sobre ser igual a qualquer um de nós. Embora ele esteja falando de outra coisa, Berlanti ilustra esse pensamento enquanto mostra o garoto ganhando um carrão do pai no jardim de uma casa gigantesca. Ok, John Hughes também retratava jovens de classe média alta – e “Curtindo a Vida Adoidado” jogou o carrão do pai literalmente no jardim de uma casa gigantesca – , mas “Com Amor, Simon” é um filme de uma época diferente e este não foi o melhor jeito de abrir um bom filme. Felizmente, Berlanti dá sequência à história com cenas do dia a dia de fácil identificação para todas as classes sociais. E isso ajuda “Com Amor, Simon” a lidar com todos os cacoetes desse estilo de filme, incluindo a trilha pop que gruda como chiclete. Apesar disso, há quem reclame que o longa deveria ser mais subversivo e menos politicamente correto. Mas quem determinou a regra de que filmes sobre “saída do armário” precisam chocar? O importante é que exista uma variedade de histórias, como “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), “Moonlight” (2016), “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017) e “Com Amor, Simon”, porque qualquer roteiro e gênero de filme podem trabalhar a representatividade. Às vezes, teremos grandes filmes, outras vezes filmes ruins, mas também aqueles que se contentam em ser uma simpática e deliciosa “Sessão da Tarde” para mentes mais esclarecidas. “Com Amor, Simon” cumpre muito bem este papel.

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    Um Lugar Silencioso é uma aula de cinema brilhante e assustadora

    8 de abril de 2018 /

    Quem diria que John Krasinski, um ator mais conhecido por seu papel numa série de comédia (“The Office”), seria capaz de entregar um filme tão espetacular como diretor? “Um Lugar Silencioso” passa longe de ser comédia. É um filme de terror – e bastante assustador como raramente conseguem fazer atualmente –, realizado com amor e respeito não somente pelo gênero, mas principalmente pelas regras básicas da origem da sétima arte erguida através da harmonia entre imagem, som e trilha. Remete aos filmes mudos de mais de 100 anos atrás, mas executa essa inspiração em um equilíbrio perfeito com o que entendemos ser o cinema dos dias de hoje, mais comercial e direcionado a um público essencialmente jovem, que se distrai fácil e está atrás de um consumo rápido e prazeroso ao mesmo tempo. “Um Lugar Silencioso” surpreende por ser uma aula de cinema de quem jamais suspeitaríamos. Basicamente, basta você saber que o filme acompanha uma família tentando sobreviver num futuro em que a humanidade foi dizimada por criaturas que não sabemos de onde vieram e o que realmente são. Sabe-se apenas que elas são cegas e, por isso, guiadas pelo som. De forma brilhante, o filme começa sem explicar nada verbalmente. É tudo muito visual, desde à introdução, que registra o próprio John Krasinski ao lado de Emily Blunt (sua esposa na vida real, em seu primeiro trabalho juntos) e os filhos do casal buscando (em silêncio) suprimentos antes de voltar para casa. Conduzido por Krasinski, o excelente trabalho da diretora de fotografia Charlotte Bruus Christensen (“A Garota no Trem”) capta primeiro os cenários, depois vultos nas sombras, revelados posteriormente pela luz como membros da família citada. E, só nos minutos seguintes, descobrimos de maneira terrivelmente impactante o que assusta aquela gente e motiva o silêncio geral. É quando surge o título do filme na tela, assim como a certeza de que ninguém ali está seguro. E já nessa introdução se dá uma aula de roteiro e direção, tanto pela evolução da narrativa quanto na apresentação de personagens e o desenvolvimento crescente do suspense. É cinema à moda antiga, clássico, porque confia na inteligência da plateia, no silêncio, nas imagens, nas linguagens de sinais expressadas pelos atores e no terror de que o som pode surgir aqui e ali a qualquer momento. Ora num volume baixíssimo, dando a incômoda impressão de que na verdade não ouvimos nada e foi coisa da nossa imaginação, ora num repentino estouro em volume máximo para impactar e provar o quanto o som é importante num filme, embora Krasinski queira mostrar também o mesmo peso em relação à ausência de palavras e efeitos sonoros. E é na linha tênue que separa o silêncio e o som que reside a beleza e o horror de “Um Lugar Silencioso” como espetáculo. Sem falas, Krasinski consegue quebrar um vício atual que emburrece o cinema, ao contar sua história sem diálogos expositivos, voltando a atenção do espectador para as imagens que falam por si. Em poucos segundos, o filme explica o que precisamos saber sobre os monstros usando apenas recortes de jornais, além de fotos, anotações e impressões presas na parede. Krasinski também é objetivo e sutil ao revelar que a personagem de Emily Blunt está grávida. E econômico, sem precisar se repetir para dar o recado, sendo que um belo exemplo está na cena final. E os olhares dos atores de um elenco incrível dizem muito mais que quaisquer palavras. Também é um filme moderno, entretenimento veloz e furioso, que nem por isso menospreza seu público. Vai direto ao ponto, com uma duração de 1h30, e não dá a mínima chance do espectador mais apressado ou com déficit de atenção reclamar. Mesmo com a escassez de diálogos, a tensão é construída de forma crescente, ininterrupta e insuportável. Ou seja, são poucos os momentos em que podemos respirar entre as várias cenas nervosas. Algumas sequências alcançam o medonho, como o momento em que Emily Blunt (em uma de suas melhores atuações) tira seu bebê do “berço” e seu movimento é acompanhado pela criatura emergindo lentamente da água. Krasinski disse que “Tubarão”, de Steven Spielberg, foi uma de suas inspirações para fazer este filme. E ele acerta ao deixar claro que inspirar não é copiar, porque não lembramos do clássico de 1975 em momento algum enquanto assistimos a “Um Lugar Silencioso”, mas o clima e o tom, desde a sensação de medo e a utilização de som e música para orquestrar suas intenções, são realmente bastante similares. Mais que o terror, “Um Lugar Silencioso” se conecta com o público por ser um filme sobre família e mostrar os sacrifícios que somos capazes de fazer por quem amamos de verdade, além de servir de metáfora para um mundo aterrorizante e real, no qual a repressão tenta manter a todos em silêncio. Assim como Jordan Peele, com “Corra!”, o melhor filme de terror de 2017, Krasinski demonstra que não se pode subestimar comediantes que resolvem assustar o público, dando razão a quem tem medo de palhaços. Dificilmente “Um Lugar Silencioso” será superado por outro exemplar do gênero em 2018.

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    Falta Guillermo Del Toro na continuação genérica de Círculo de Fogo

    24 de março de 2018 /

    Alguns filmes não nasceram para gerar franquia. Guillermo del Toro destilou todo seu amor por monstros japoneses (os kaijus) e caprichou mais que deveria no divertidíssimo “Círculo de Fogo”, de 2013, que passa longe de ser apenas um festival de lutas épicas entre criatura colossais e robôs gigantescos. Mas a brincadeira deveria ter parado quando as luzes do cinema acenderam, afinal o diretor não deixou um final aberto e se preocupou em concluir sua história. Embora sempre tenha dito que gostaria de ver mais filmes sobre sua criação, del Toro preferiu fazer “A Forma da Água”, que não rendeu quatro Oscars à toa, incluindo os de Melhor Filme e Direção, a se repetir numa continuação. Pois não deu outra: “Círculo de Fogo: A Revolta” é uma bomba de proporções monstruosas. Os roteiristas Emily Carmichael, Kira Snyder, T.S. Nowlin e o próprio diretor Steven S. DeKnight não sabem o que fazer com a história e demoram mais de uma hora para arrumar uma desculpa tão esfarrapada quanto insólita (no pior sentido da palavra) para trazer os kaijus de volta. E quando eles aparecem, o filme já está acabando e com a plateia morrendo de tédio. Quem paga para ver um “Círculo de Fogo” não espera ver um filme dominada por diálogos clichês, disputas de egos inflados e personagens desinteressantes. Mas é o que a continuação entrega. Ao longo da projeção não há a menor evolução no arco do novo protagonista da franquia, Jake (John Boyega), que não é qualquer personagem, mas o filho – que ninguém sabia que existia – de um dos heróis do original, Stacker Pentecost (o cancelador de apocalipses Idris Elba). Boyega tem carisma e é conhecido do grande público como o Finn de “Star Wars”, mas aqui fica deslocado pelo esforço de demonstrar marra, especialmente quando fica nítido que a personagem mais bacana, e que merecia um tratamento mais caprichado do roteiro, é a menina Amara Namani (a cantora Cailee Spaeny), que rouba todas as cenas e é a melhor coisa do filme. “Círculo de Fogo: A Revolta” também sofre cada vez que Scott Eastwood, o filho do mito, entra em cena com toda sua canastrice. Pior que ele é o modo como Steven S. DeKnight e os outros roteiristas tratam os personagens do filme anterior. Charlie Hunnam, que foi somente o cara principal de “Círculo de Fogo”, não é sequer mencionado; Rinko Kikuchi tem participação especial (de ruim) e sai de repente de cena da forma mais burra (helicóptero deve pousar no meio de uma briga entre dois jaegers?); e Charlie Day deixa de ser um cientista excêntrico para assumir um novo papel, que fica no meio do caminho entre o engraçadinho e o grotesco, algo digno de “Power Rangers”. Até os efeitos especiais de “Círculo de Fogo” não impressionam mais. E têm o agravante de serem apresentados à luz do dia, que tornam perceptíveis qualquer borrão ou falha, quando Guillermo del Toro, de forma mais inteligente, criou um espetáculo visual ao explorar o contraste do excesso de cores com a escuridão da noite. “Círculo de Fogo: A Revolta” é um caso exemplar de como o diretor faz toda a diferença no resultado final de uma obra. Guillermo del Toro deixara claro seus sentimentos pelo material ao transformar um filme de monstros e robôs gigantes em algo que entendemos como cinema de verdade. Já a sequência foi feita no piloto automático. Ao retirar o coração que animava os robôs gigantes, o filme se torna sem emoção, genérico e pequeno como uma produção de streaming para se ver no celular.

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    Dificilmente haverá sci-fi melhor que Aniquilação em 2018

    24 de março de 2018 /

    Nada como um segundo filme para comprovar se um diretor, que acertou de primeira, é mesmo um gênio, ou apenas mais um entre os meros humanos com sorte de principiante. Alex Garland, roteirista que também virou diretor com o ótimo “Ex Machina”, brilhou em sua estreia atrás das câmeras com uma ficção científica cerebral, dramática, existencial, filosófica e feminista. E com a cerebral, dramática, existencial, filosófica e feminista “Aniquilação”, comprova que “Ex Machina” não foi uma jogada de sorte. De fato, seu novo trabalho mostra que a ficção científica moderna precisa de suas ideias e histórias para se renovar como um gênero relevante e inspirador para os fãs e o próprio cinema. Os melhores exemplares do gênero não são as viagens alucinantes da imaginação humana através do tempo e o espaço sem o mínimo compromisso com a realidade. São aqueles que colocam os dois pés no chão, sem que isso esteja evidente e debaixo dos narizes dos espectadores. São filmes que se agarram aos momentos mais discutidos e importantes de suas épocas ou costumes, dores, incertezas e preconceitos que a sociedade e, principalmente, as minorias enfrentam. São aqueles em que vemos nas telas as representações físicas de questões que se passam dentro de nós mesmos. Então é melhor você se desapegar do materialismo e da inquietante busca por respostas, porque “Aniquilação” é, sobretudo, sobre as falhas que tornam as pessoas humanas. Na verdade, sobre nossa capacidade, mesmo que inconsciente, porém inerente, de fazer merda. A autodestruição. E é só quando a alcançamos que resolvemos partir rumo à criação – um ciclo doentio, mas que justifica a existência. Baseado no primeiro livro de uma trilogia de Jeff VanderMeer, “Aniquilação” traz Natalie Portman como Lena, bióloga e veterana do exército que ainda sofre com a provável morte do marido, o militar Kane (Oscar Isaac), desaparecido há um ano após embarcar numa missão secreta. Mas o filme começa mesmo quando ele misteriosamente retorna do nada e entra em coma. Lena descobre que Kane foi o único de diversas expedições a conseguir sair vivo de uma área conhecida como “The Shimmer”, uma muralha ou uma bolha cuja estrutura visual lembra uma mistura entre a aurora boreal e a gosma de “Os Caça-Fantasmas 2”. Mas o que seria aquilo? A origem é extraterrestre? Seria um recado de Deus? Ou a resposta estaria ligada à ciência? Ou ao resultado da ação do Homem contra a natureza? Eis a questão. O importante neste momento é estudar o fenômeno e tentar impedir seu crescimento, afinal pode engolir o mundo todo em pouco tempo. Se isso é bom ou ruim, Lena entrará lá para descobrir ao lado de mais quatro mulheres, entre cientistas, geólogas e militares (Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Tuva Novotny). Você não precisa saber mais nada, se não quiser correr o risco de estragar a experiência de assistir a um filme que vai virar sua cabeça do avesso e te deixar pensando por um bom tempo no que acabou de ver. Ainda aqui? Ok. Daqui pra frente, encare “Aniquilação” como uma espécie de pesadelo em forma de ficção científica. Não tem sustos, mas sobra medo. À primeira vista, a razão passa longe das tentativas de compreender a trama e as sensações provocadas pelo filme começam a se tornar mais importantes que qualquer coisa que você vê na tela. Vale muito mais saber que Lena parte numa jornada rumo a uma nova vida após os erros que cometeu no passado. Não é o que está dentro do Shimmer que importa, mas o que se passa no interior de cada personagem e os segredos que elas mantêm umas das outras – características que geralmente acontecem em épicos, onde o que acontece na mente dos personagens tem uma escala maior que a imensidão de imagens que vemos na tela. “Aniquilação” não é um épico clássico como “Ben-Hur” ou “O Senhor dos Anéis”, mas são épicas as suas motivações e ambições, ao mesmo tempo intelectuais e viscerais. Por outro lado, algumas sequências são momentos de puro horror, que poucos filmes de terror conseguiram atingir. Alex Garland provoca da primeira à última cena e isso representa o talento de um diretor/roteirista com total respeito pela inteligência de seu espectador. Tanto nas discussões em torno da interpretação da história quanto nas referências que deixa durante o filme, nunca de maneira gratuita e óbvia, o cineasta traz à tona influências de “Alien: O Oitavo Passageiro”, de Ridley Scott, “Sob a Pele”, de Jonathan Glazer, “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, “A Fonte da Vida” e “mãe!”, ambos de Darren Aronofsky, “O Predador”, de John McTiernan, “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, “O Enigma de Outro Mundo”, de John Carpenter, “A Chegada”, de Denis Villeneuve, e “A.I.: Inteligência Artificial”, de Steven Spielberg. E seu ato final rende o clímax mais esquisito do ano. É verdade que os efeitos visuais nessa parte do filme poderiam ser melhores ou apresentar um acabamento mais refinado, mas Alex Garland quer mostrar coisas estranhas e inéditas aos nossos olhos. Na verdade, ao final, ninguém vai questionar se o final tem bons efeitos ou não, ou se foi lento até ali ou não, porque a imersão é tão profunda que aceitamos como real qualquer projeção imaginada pelo cineasta – resultado que não seria possível sem a presença impactante de Natalie Portman, que é uma força da natureza, a fotografia alucinógena de Rob Hardy, e a trilha horripilante de Geoff Barrow e Ben Salisbury. O tempo dirá se “Aniquilação” é melhor que aparenta e merece figurar entre os grandes filmes do século. Ou se será engolido e considerado subproduto das referências de todos os exemplares citados neste texto. Mas é difícil ignorar que o cinema precisa de mais diretores corajosos como Alex Garland, que não deixam o estúdio mexer em seus filmes e propõem desafios às plateias acostumadas a blockbusters geralmente vazios. Ele pagou seu preço, que foi o presidente do estúdio vender a obra para a Netflix, com um lançamento em streaming no Brasil, em vez da merecida tela grande em que atordoaria ainda mais. Isto não muda um fato inescapável: dificilmente haverá sci-fi melhor em 2018.

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    Alicia Vikander é boa demais para o reboot de Tomb Raider

    20 de março de 2018 /

    Ninguém conseguiu fazer boas adaptações de games para o cinema até hoje. Existem filmes legais sobre o tema, como o “Tron” original, “O Último Guerreiro das Estrelas”, “Os Heróis Não Têm Idade” e “Detona Ralph”. Mas, novamente, ninguém conseguiu fazer boas adaptações de games existentes para o cinema até hoje. O reboot de “Tomb Raider” tenta, mas é apenas OK. Ele tenta preencher a tela com mais que uma coletânea de referências e fan service para quem jogou as aventuras de Lara Croft ao longo dos anos. Mas não consegue superar os abismos exagerados dos clichês cinematográficos. Após os fracassos de “Lara Croft: Tomb Raider” e “Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida”, a personagem interpretada anteriormente por Angelina Jolie, que sempre fazia a heroína segura, infalível, rica, nada humilde e cheia de si, ganhou uma versão mais realista. Não o filme, claro. Mas sua protagonista. Era de se esperar que Hollywood fosse resgatar a personagem nessa época em que os estúdios descobriram que mulheres podem protagonizar qualquer roteiro. Além disso, a Lara Croft dos games atuais já é resultado de um reboot em busca de maior realismo. Na pele de Alicia Vikander, mais uma vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (ela ganhou por “A Garota Dinamarquesa”, enquanto Angelina levou por “Garota, Interrompida”), Lara Croft retorna mais frágil, vulnerável, mas não menos forte, enquanto aos poucos descobre sua verdadeira vocação para a aventura. É uma caracterização compreensível, pois temos uma trama que conta sua origem. E Alicia Vikander entrega o que a personagem necessita. Digamos que ela leva o papel mais a sério que precisava. O longa pode ser bobo, mas a atriz não. Sua disposição faz com todos ganhem: Lara Croft, o filme, os fãs e a franquia (se tiver mais episódios). Assim, embora você saiba tudo que vai acontecer do começo ao fim, “Tomb Raider”, que ganhou o subtítulo “A Origem”, não faz a a franquia passar vergonha como naquelas duas porcarias com a Angelina Jolie. As sequências de ação são boas, Alicia é incrível, você vai rever o filme na “Sessão da Tarde” (do qual ele é a cara), mas algo incomoda: o roteiro é fraquíssimo, feito no piloto automático, reciclando diversas aventuras já feitas por Hollywood. Mesmo se o modelo fosse “Os Caçadores da Arca Perdida”, os clichês e fórmulas para lá de desgastadas lembram mais “Tudo Por Uma Esmeralda”, com Michael Douglas e Kathleen Turner, e “A Múmia”, o primeiro com Brendan Fraser e Rachel Weisz. O que garante que o filme seja igual há vários feitos antes. Nem o primeiro nível de um game seria tão previsível. Os engôdos de “Tomb Raider: A Origem” vão desde o blá blá blá meloso de papai pra cá e filhinha pra lá aos minutinhos finais descarados para deixar claro que os produtores planejaram uma continuação – além de uma Kristin Scott Thomas mal aproveitada e agindo como teaser para uma participação maior na sequência. E se o roteiro é frouxo, não dá para colocar toda a culpa no diretor norueguês Roar Uthaug, que tem sua primeira grande oportunidade em Hollywood e, provavelmente, com a obrigação de seguir muitas regras em um projeto desse tamanho. Mas a verdade é que Lara Croft e Alicia Vikander mereciam um filme melhor e mais empolgante.

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    Me Chame pelo seu Nome é um romance tão arrebatador que até seu sofrimento é bonito

    21 de janeiro de 2018 /

    Inspirado no livro homônimo de André Aciman, “Me Chame Pelo Seu Nome” descreve o primeiro amor de Elio (a revelação Timothée Chalamet), um menino de 17 anos aproveitando a juventude na casa dos pais em algum lugar do norte da Itália no ano de 1983. Elio tem uma namoradinha, mas rapidamente se encanta pelo estudante mais velho, Oliver (Armie Hammer), que ficará hospedado em sua casa durante seis semanas, a convite de seu pai. Os dois rapidamente travam uma amizade, que evolui para uma paixão. Afinal, não se vai para uma Itália tão ensolarada somente para devorar livros e estudar. É como se o diretor italiano Luca Guadagnino (“Um Sonho de Amor”) utilizasse a arte que pulsa ao redor, assim como as belezas naturais do cenário, como convites para um romance inevitável. É possível sentir o calor da região, o cheiro das plantas, o gosto da comida e os drinks. Os grandes diretores conseguem transmitir isso à plateia. Por exemplo, David Lean colocou o espectador na temperatura infernal do deserto em “Lawrence da Arábia” (1962) e Steven Spielberg fez a sala de cinema se transformar num campo de batalha com cheiro de fogo e morte em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998). Luca Guadagnino fisga os sentidos ao aproveitar o ambiente para que os jovens não tenham escapatória e se entreguem um ao outro da mesma forma que o cinéfilo ao filme. Se o sentimento existe, por que alguém decidiria ignorá-lo? Inicialmente, Elio se faz essa pergunta. Não sabe se diz a Oliver o que realmente sente ou se esconde a verdade para evitar um sofrimento desnecessário. É claro que o ato de reprimir sentimentos ou impulsos gera sofrimento, embora as pessoas não estejam habituadas a aceitar isso quando estão na linha tênue entre se jogar ou não numa relação amorosa. O roteiro de James Ivory (cineasta veterano, responsável por “Retorno a Howards End” e “Vestígios do Dia”) provoca perguntas que todo mundo se fez ou fará algum dia: Se Elio jamais tivesse contado a verdade a Oliver, isso o pouparia de futuras dores ou mágoas? Seria o amor uma maldição? Teria sido melhor apenas manter a amizade? Ou será que ninguém precisa temer um momento especial mesmo sabendo que existe começo e fim para tudo? Mas Elio escolhe arriscar – senão, não teríamos filme. E ao fazer isso, leva o espectador a lembrar do primeiro beijo, do primeiro amor, daquele relacionamento mal-resolvido, mas também daquela pessoa a quem nunca scontou o que realmente sentia por ela. Esse é o poder do filme de Luca Guadagnino, que gruda na retina e não sai mais, com sua beleza e ternura, principalmente após a fala nos minutos finais do personagem de Michael Stuhlbarg, que interpreta o pai de Elio. Um monólogo que jamais será esquecido ao fazer a cabeça girar em torno de memórias, amores jamais superados, responsabilidade afetiva e desejos não concretizados. Porém, a maior qualidade de “Me Chame Pelo Seu Nome” é materializar algo simples e bastante corajoso: uma história de amor entre dois homens sem que, acredite, existe uma cena ou qualquer diálogo que sugira manifestações de preconceito. Mesmo assim, é um romance que só poderia ser contado nos dias de hoje, uma proposta que nunca teria uma visibilidade tão grande no mercado cinematográfico antes dos sucessos de obras como “Brokeback Mountain” e “Moonlight”, que fizeram todos os públicos pensarem. Filmes que ajudaram todos a olhar em volta, entender como é o mundo de verdade e as pessoas que nele vivem com suas próprias escolhas no caminho para a felicidade. “Me Chame Pelo Seu Nome” vem na sequência de algumas histórias que já foram contadas, mas é a virada de página. Não importa se Elio e Oliver são dois homens ou duas mulheres. Importa que eles sejam felizes enquanto o filme dura na tela. É o recado otimista de Luca Guadagnino, que carrega nas cores fortes para imaginar um mundo melhor e sem medo de amar. Uma experiência arrebatadora, de sensibilidade rara, que torna bonito até o sofrimento.

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