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  • Filme,  Música

    A Música da Minha Vida celebra Bruce Springsteen e o poder da música

    27 de outubro de 2019 /

    Filme indie britânico baseado nas memórias do jornalista inglês de ascendência paquistanesa Sarfraz Manzoor (e registradas no livro “Greetings from Bury Park: Race, Religion and Rock N’ Roll”, lançado por ele em 2007), “A Música da Minha Vida” (“Blinded by the Light”, no original) é uma declaração de amor a Bruce Springsteen, num contexto direto, e ao poder revolucionário da música, numa visão mais ampla. A trama retorna aos difíceis anos 1980 com Margaret Thatcher como primeira ministra do Reino Unido. A família de Manzoor (aqui apresentada como Javed Khan) vive em Luton e, seguindo seus preceitos, deseja encontrar uma parceira para o rapaz, tanto quanto espera que ele siga uma profissão tradicional, como médico ou advogado. Javed (interpretado por Viveik Kalra), porém, escreve poesias e também letras de música para uma banda de amigos e tem seu texto elogiado na escola, o que rende um estágio no jornal local, e o sonho de alçar voos mais altos… sozinho. Mas os dogmas da família (e o desemprego do pai) começam a pesar sobre seus ombros, e é neste momento em que ele encontra a luz, ou melhor, Bruce Springsteen, numa fita cassete emprestada por um amigo de escola (que, assim como ele, sofre racismo por seus pais também não serem ingleses – ainda que ele seja). Para Javed, Bruce traduz seus sentimentos, suas angustias e duvidas em canções como “Born To Run”, “The River”, “Badlands” e “Thunder Road”, e ancorado nelas ele pretende enfrentar o mundo (começando por sua família). Filme agridoce, previsível e que apenas tateia temas espinhosos (como o racismo, religião e a extrema-direita britânica), “A Música da Minha Vida” tem direção de Gurinder Chadha (de “Driblando o Destino” e carrega todos os cacoetes de uma produção independente, mas se destaca por sua bela trilha sonora (Bruce não apenas cedeu arrasadoras versões ao vivo raras como também uma canção inédita, “I’ll Stand By You”, que havia sido feita para um dos filmes de Harry Potter, mas ficou de fora) e sua força sonhadora, alcançando um resultado muito mais (hummm) honesto e interessante do que, digamos, “Yesterday”, “Rocketman” e “Bohemian Rhapsody”, ainda que aquém (emocionalmente) de “Springsteen on Broadway” e “Springsteen & I”.

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  • Filme

    Guerra Fria filma a paixão com fotografia espetacular

    17 de fevereiro de 2019 /

    Em 2013, o realizador polonês Pawel Aleksander Pawlikowski ganhou destaque mundial ao arrebatar o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira por sua 10ª produção, o lírico “Ida”, um filme em que uma jovem noviça prestes a confirmar os votos é “apresentada” à família que nunca teve, à John Coltrane e a si mesma. Além dessa estatueta, “Ida” foi indicado também por sua exuberante fotografia, perdendo para o ególatra “Birdman”. Corta para 2019: “Guerra Fria”, seu novo filme, utiliza novamente a coloração P&B e a Proporção de Tela 1.33:1 buscando emular os filmes poloneses da época para contar a história de Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot), um casal que se conhece numa escola de música na Polônia do pós-Guerra e atravessa todo o período da Guerra Fria entre encontros e desencontros, vivendo uma paixão tão intensa que, por fim, irá arrebatá-los (e aos espectadores também). De canções folclóricas tradicionais, o grupo passará a difundir propaganda comunista, momento em que o pianista e maestro Wiktor aproveitará para pular fora do barco e partir para ser pianista de jazz em botecos enfumaçados em Paris. Zula deveria acompanhá-lo na fuga, mas o medo a reterá… por um tempo. Entre idas e vindas, “Guerra Fria” irá mostrar como decisões do Estado podem interferir na vida das pessoas (no amor inclusive), tendo uma bela trilha sonora ao fundo e uma fotografia espetacular, conjunto que rendeu novas indicações ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira e Melhor Fotografia, além de uma surpreendente e merecida indicação a Melhor Diretor. Ao contrário de 2014, porém, “Guerra Fria” deve perder a primeira estatueta (de Melhor Filme em Língua Estrangeira para “Roma”), mas pode garantir a segunda, após o Sindicato dos Diretores de Fotografia premiar o trabalho de Lukasz Zal. Dedos cruzados porque o filme e o cinema (polonês e mundial) merecem. Nota: 9

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  • Filme

    Glenn Close transforma A Esposa em filme de Oscar

    17 de fevereiro de 2019 /

    Glenn Close nunca ganhou um Oscar. Sua primeira indicação (como Melhor Atriz Coadjuvante) foi em 1982 (!) por “O Mundo Segundo Garp”, mas quem levou foi Jessica Lange por “Tootsie” (merecido, né). De lá para cá foram mais seis nominações: em 1984 e 1985 por “Os Amigos de Alex” e “The Natural”, em 1987 por “Atração Fatal” (ela perdeu para Cher em “Moonstruck” – sério), em 1989 por sua atuação no maravilhoso “Ligações Perigosas” (Jodie Foster levou por “Acusados”) e 2011 por “Albert Nobbs”. Com “A Esposa”, ela soma sua 7ª indicação, e será meio difícil tirar a estatueta dourada dela – ainda que se prefira Olivia Colman em “A Favorita” – , pois a atriz carrega totalmente sozinha a boa história inspirada no livro de “The Wife” (2003), de Meg Wolitzer, lutando contra um elenco deslocado e mal dirigido: Max Irons (filho de Jeremy Irons) entrega uma atuação patética como filho do casal e, nos flashbacks, Harry Lloyd interpreta um Joe Castleman (o marido jovem do personagem de Glenn Close) digno de novela das 19h da Rede Globo. Pisando sobre todos eles, inclusive um irreconhecível Christian Slater (como o biógrafo mala), Glenn Close brilha numa trama que começa quando o marido Joe (Jonathan Pryce) recebe o Prêmio Nobel de Literatura e precisa ir a Estocolmo receber as honrarias. Sua esposa, Joan (Glenn), entra numa espiral de repensar as escolhas de sua vida, e a trama (meio Agatha Christie, ainda que um tiquinho óbvia) irá revelando aos poucos como o casal construiu seu passado (e seu presente). No fim das contas, um bom filme médio do sueco Björn Runge (“Happy End”), feito para Glenn Close brilhar. Mas será que isso basta para levar o Oscar?

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  • Filme,  Música

    Bohemian Rhapsody é novelão hollywoodiano sem compromisso com os fatos

    9 de fevereiro de 2019 /

    Vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Dramático e com cinco indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, para Rami Malek), “Bohemian Rhapsody” cativou uma grande audiência ao mesmo tempo em que frustrou fãs do Queen por sua narrativa “descuidada”. Com custo de US$ 52 milhões e receita de mais de US$ 800 milhões, o filme pode ser visto por dois prismas: no primeiro, ele é um dramalhão hollywoodiano que não tem compromisso com a realidade e com a documentação dos fatos, embaralhando datas e causos para fins emocionais do roteiro. Neste caso, o filme alcança seu intento de novelão musicado, e tem seu lugar garantido numa futura “Tela Quente”. No segundo prisma, “Bohemian Rhapsody” é totalmente refém da incompetência de seus roteiristas, que não conseguiram criar momentos de clímax a contento com a narrativa temporal extensa de 15 anos (um recorte ajudaria tanto), precisando embolar os fatos, maquiar a realidade e criar tensões que não existiram para fisgar o espectador. A lista de incorreções é enorme e incomoda tanto colocar o Rock in Rio de janeiro de 1985 em 1978 quanto vaticinar que Fred Mercury revelou sua doença aos músicos antes do Live Aid em junho de 1985, sendo esse o decantado “show de retorno” da banda após uma não existente separação – só para lembrar: em 1984 a banda fez 36 shows e em 1985, antes do Live Aid, foram 16 datas, duas delas no Rio de Janeiro. Dito isso, “Bohemian Rhapsody” é uma produção pipoca de bom coração (e de grandes canções), que diverte, emociona e se fortalece com a grande atuação de Rami Malek (ao mesmo tempo em que se enfraquece com as polêmicas do diretor Bryan Singer). Só não deveria estar sendo cotado a prêmios como o Oscar. É para assistir sem analisar, porque, se for para analisar, a decepção vence.

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  • Filme

    Juliet, Nua e Crua esconde sátira pop sob verniz de comédia romântica

    19 de janeiro de 2019 /

    Sexto romance lançado pelo britânico Nick Hornby, “Juliet, Naked” (2009) foi um respiro de alivio após o pouco inspirado “Slam” (2008) – já adaptado ao cinema. O filme que virou “Juliet, Nua e Crua” parece expurgar, com delicadeza, a egolatria pop que jorrava em litros dos personagens de “Alta Fidelidade” (1995), obra mais famosa do escritor. É quase uma tiração de sarro que, no entanto, ganha brilho num momento capital da trama, que une Duncan (Chris O’Dowd), um fã absolutamente apaixonado (sim, é redundância, mas era preciso reforçar) por um cantor que desapareceu do mapa nos anos 1990, sua namorada Annie (Rose Byrne), uma historiadora da arte afundada na areia movediça de uma cidade onde absolutamente nada acontece, e Tucker Crowe (Ethan Hawke), o tal músico sumido. Tucker lançou o álbum “Juliet” (1993), incluso pela revista Rolling Stone na lista de “Melhores Álbuns sobre Término de Relacionamento de Todos os Tempos”, e depois renegou o disco (sabe o sentimento de Dylan sobre “Blood on The Tracks”? O mesmo). Duncan criou um site para discutir a obra e a vida de Tucker e idolatra tanto “Juliet” que o brilho do álbum apaga absolutamente Annie. Mas tudo isso está prestes a virar do avesso: a audição do disco de demos “Juliet Naked” divide o casal (“Isso é uma obra prima”, diz Duncan enquanto Annie critica: “Como alguém pode achar que um rascunho é melhor que o produto final?”) e será o estopim para uma grande mudança. Para quem não é do universo pop, “Juliet, Nua e Crua” pode soar como uma comédia romântica doce, correta e funcional do diretor Jesse Peretz (“O Ex-Namorado da Minha Mulher”). Porém, para apaixonados por cultura pop e rock alternativo (a trilha traz sobras de Ryan Adams, Conor Oberst, Robyn Hitchcock e Nathan Larson), há uma peça satírica deliciosa escondida por trás da comédia romântica doce, correta e funcional. No caso de Nick Hornby, preste sempre atenção nas entrelinhas. A mágica acontece ali. E há muita mágica presente aqui. Divirta-se.

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  • Filme

    A Cidade do Futuro encontra amor em meio ao ódio e outras heranças da ditadura

    19 de maio de 2018 /

    O município de Serra do Ramalho foi criado durante a Ditadura Militar brasileira para abrigar as cerca de 73 mil pessoas deslocadas dos seus lares para dar lugar à represa de Sobradinho. Essa é a tal “cidade do futuro” do título, prometida pelos militares nos anos 1970, localizada no interior da Bahia, no Vale do São Francisco. Um filme oficial do regime militar na época entra em cena e promete dias melhores para os moradores removidos, mais uma prova real da falácia dos milicos, já que a nova cidade seria deixada à própria sorte, as perdas dos moradores seriam incontáveis (“Os militares chegavam, olhavam a casa e diziam: ‘Vale R$ 10 mil’. E nós: ‘Moço, ela vale no mínimo R$ 20 mil’. E eles: ‘É melhor você aceitar os R$ 10 mil ou então vai ser encoberto de água junto com a casa’”) e o destrato público uma nova regra social. É nesse ambiente de abandono que vivem os professores Gilmar (Gilmar Araújo) e Milla (Milla Suzart) mais o jovem Igor (Igor Santos). Gilmar e Igor vivem um romance enquanto Milla logo depois estará aos beijos e promessas com uma garota. Milla, porém, está grávida de Gilmar, e esse novo bebê, o futuro, irá causar várias reviravoltas na rotina da pequena Serra do Ramalho, já que o trio (Gilmar, Igor e Milla) decidirá assumir o bebê como deles, o que dispara uma onda de preconceitos – faz com que a família de Milla a coloque para fora de casa, com que ela perca o emprego na escola e com que Igor seja constantemente assediado nas ruas, culminando em uma forte agressão de ex-amigos vaqueiros em uma fazenda. Em determinado momento, o romance de Gilmar e Igor caminha em direção do destino cruel retratado por Ang Lee em “O Segredo de Brokeback Mountain”, mas Marília Hughes e Cláudio Marques enveredam por outro caminho numa relação pansexual que poderá fazer de Serra do Ramalho não a cidade do futuro que os militares mentiram, mas a cidade do futuro em que o amor (a igualdade, a fraternidade, a bondade) irá vencer qualquer barreira. Um belo filme que segue no nível da boa estreia da dupla, “Depois da Chuva” (2013).

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    Elegância de Trama Fantasma ilumina o cinema e faz o tempo parar

    24 de fevereiro de 2018 /

    O cineasta Paul Thomas Anderson nunca optou pelo caminho cinematográfico mais simples – talvez “Boogie Nights”, de 1997, seja o mais próximo do popular que ele tenha chegado, e olha que é um filme sobre os bastidores da indústria pornô. “Trama Fantasma”, seu novo projeto indicado a seis Oscars, já traz em sua premissa um rigor artístico que o cineasta vem perseguindo arduamente desde “Magnólia” (1999), que alcançou seu ápice em “Sangue Negro” (2007), e rendeu ainda grandes momentos posteriores (e nada fáceis) com “O Mestre” (2012) e “Vicio Inerente” (2014). Nele, é possível vislumbrar uma linha visual, textual e sonora (na quarta colaboração consecutiva com Jonny “Radiohead” Greenwood, talvez a melhor) que Anderson persegue filme após filme, e que faz de “Trama Fantasma” uma (nova) obra atemporal que mais tem relação com a Arte (com A maiúsculo) do que com a programação tradicional de entretenimento semanal dos cinemas. Não há aceleração, correria, desperdício. Pelo contrário, o tempo parece quase parar em “Trama Fantasma”. O espectador observa como o cotidiano metódico de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, de “Sangue Negro”, em outro reencontro), um renomado estilista que trabalha ao lado da irmã Cyril (Lesley Manville) para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica nos anos 1950, altera-se com a chegada de Alma (Vicky Krieps), sua nova modelo-musa de inspiração. O destino dela é embalar e aguçar a criatividade de Reynolds até que ele se canse e a dispense (lembra “Mãe!”?). A não ser que ela lhe ofereça algo que nenhuma outra tenha oferecido. Silenciosamente cômico, elegantemente cínico e meticulosamente apaixonante, “Trama Fantasma” é a simples construção de um código de conduta entre duas pessoas, algo que acontece toda hora, todos os dias, ainda que não com o delicioso sarcasmo deste filme, que deve ser saboreado nos mínimos detalhes, como uma frestinha de sol que insiste em iluminar o olhar e sumir em meio a nuvens densas de um dia londrino frio, cinzento, nublado e chuvoso. Aproveite este pedacinho de luz até o último segundo.

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    Fábula de A Forma da Água é bela, politicamente correta e também convencional

    17 de fevereiro de 2018 /

    Ah, o cinemão clássico norte-americano… Desta vez, conduzido por um cineasta mexicano, “estirpe” que vem dominando – com méritos – Hollywood nesta década. Em 1962, no período da Guerra Fria, uma criatura estranha é capturada na América do Sul e levada por um militar (um vilão caricatural interpretado por Michael Shannon) para estudos em um laboratório ultra-secreto do governo dos EUA. Os norte-americanos desejam utilizar a criatura na corrida espacial, e espiões russos acompanham os estudos, pensando num sequestro. A parte disso tudo, a faxineira (muda) Elisa Esposito (a ótima Sally Hawkins) segue uma rotina diária: ela acorda, coloca alguns ovos para cozinhar, entra no banho, se masturba, toma café, pega o ônibus para o trabalho e chega quase sempre em cima do horário. Elisa trabalha no laboratório e em um momento de faxina se depara com a criatura, iniciando uma história de amor nos moldes do clássico “A Bela e a Fera”. O cineasta Guillermo Del Toro recria com capricho o território de fábula que o tornou conhecido com “O Labirinto do Fauno” (2006) num filme sexy que ora homenageia o “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), ora acena para “La La Land” (2016), e tem todos os elementos politicamente corretos para os tempos modernos: Elisa é latina e seus melhores amigos são uma negra, a também faxineira Zelda (Octavia Spencer sempre excelente e merecidamente indicada ao Oscar como Atriz Coadjuvante), e um gay, o ilustrador Giles (Richard Jenkins eficiente e também indicado no papel de coadjuvante). A criatura é feia, mas também tem um bom coração e se comove com música, tanto quanto se apaixona pelos ovos feitos por Elisa. O romance destes dois perdidos numa banheira suja é delicadamente bonito e a paisagem gótica um dos pontos altos de um filme que recebeu 13 indicações ao Oscar, e deve levar entre três e quatro para casa (o México?), mas falta alguma coisa nesse oceano de citações, recortes, clichês e acusações de plágio que torne o filme… único. O resultado: uma bela e bem-feita fábula tradicional.

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    Superestimado, Três Anúncios para um Crime é bom filme que corre risco de vencer o Oscar

    17 de fevereiro de 2018 /

    Apesar da carreira curta, em que se destaca “Na Mira do Chefe”, uma boa comédia B que utiliza a paisagem encantadora de Bruges e que recebeu indicação ao Oscar de Melhor Roteiro em 2009, o terceiro longa de Martin McDonagh, ainda que superestimado, foi uma das boas surpresas de uma temporada acima da média. Indicado a sete Oscars (incluindo Melhor Filme), “Três Anúncios para um Crime” conta a história de Mildred Hayes (Frances McDormand), mãe de uma garota que foi violentada e assassinada na pequena Ebbing, cidade (que não existe) caipiríssima do interior do Missouri. Para chamar a atenção da imprensa, da cidade e da polícia, que, segundo Mildred, “está ocupada demais torturando negros para resolver um crime de verdade”, ela aluga três outdoors visando cobrar uma solução para o caso. Sob o comando do delegado Willoughby (Woody Harrelson), uma policia local repleta de racistas, como Dixon (Sam Rockwel), tenta se movimentar, mas tudo foge ao controle num roteiro que soa (algumas vezes de forma até forçada) bastante inspirado nas obras originais dos irmãos Coen (o que faz a escalação de Frances, mulher de Joel Coen, parecer tanto um acerto quanto um disparate). Entretanto, lhe falte a sagacidade, a inventividade e a porralouquice dos irmãos. O resultado é um bom filme que consagra elenco, já premiado pelo Sindicato dos Atores. Frances é favoritíssima ao Oscar de Melhor Atriz, enquanto Sam Rockwel deve levar o de Melhor Ator Coadjuvante – prêmio a que Woody Harrelson, excelente, também foi indicado. O filme ainda disputa com menos chances a estatueta de Roteiro Original (“Corra!” é favorito) e Edição (num mundo justo, “Eu, Tonya” levaria), mas corre o risco de vencer a categoria de Melhor Filme e ser esquecido… como “Crash” (2004). Será?

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    Eu, Tonya recria tragédia real como espetáculo surreal de adrenalina, talento e diversão

    17 de fevereiro de 2018 /

    Patinadora artística, Tonya Harding disputou por duas vezes os Jogos Olímpicos, foi campeã norte-americana em 1990 e conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Sua carreira, porém, acabou aos 24 anos quando ela foi acusada de participar de uma conspiração que culminou em um ataque à adversária Nancy Kerrigan, que teve o joelho ferido. A vida “real” pode ser muito mais maluca (inventiva ou mesmo criativa) do que a arte, e caso “Eu, Tonya” não fosse inspirado em eventos reais, poderia muito bem ser taxado de inverossímil – ainda que duvide-se que tudo aquilo ali aconteceu… realmente do jeito que é contado. O que se vê em 120 minutos de exibição é uma produção divertidamente e tragicamente acelerada, com grandes méritos para a Edição, indicada ao Oscar, que se utiliza da constante quebra da quarta-parede para colocar o espectador ao lado de Margot Robbie (numa atuação magistral, digna do Oscar a que concorre), como protagonista de uma surreal epopeia esportiva dos tempos modernos. A narrativa flagra uma grande atleta (“caipirona”, segundo juízes, que não queriam uma garota “chucra” representando os Estados Unidos, mesmo que seu talento no rinque de patinação fosse inegável) abusada emocionalmente pela mãe (Allison Janney, também indicada ao Oscar) e fisicamente pelo marido (Sebastian Stan). Irmão torto de “A Grande Jogada” (2017) no quesito “os podres bastidores do esporte em níveis olímpicos” ou “o preço que cobramos dos jovens para nos trazer medalhas de ouro”, o filme do diretor Craig Gillespie (“Horas Decisivas”) é depressivamente realista e cinematograficamente empolgante, uma descarga imensa de adrenalina, violência (doméstica, social, esportiva, familiar e profissional) e dramatização que, ao final, deixa o gosto amargo de uma poça de sangue na boca.

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    Woody Allen cansa o público com sua Roda Gigante

    1 de janeiro de 2018 /

    Cinema é uma Arte produzida em conjunto por um imenso grupo de pessoas, e a chance de algo se perder no meio do processo (por descuido, má sorte ou incompetência) é enorme. Woody Allen sempre fala isso quando relembra filmes antigos validando que a obra que está produzindo é, na maioria das vezes, boa no papel, mas toda sorte de infortúnios acontece entre a ideia e a produção resultando em um produto final muitas vezes insatisfatório. “Tive muita sorte com ‘Match Point’”, ele disse certa vez. “Tudo o que costumava dar errado num filme, deu certo nesse. Todas as decisões tomadas, não só por mim, mas por todo mundo, funcionaram. Não sei se um dia consigo repetir isso ou fazer um filme tão bom”, comentou sobre sua obra prima no século 21, um comentário que, ao contrário, serve para explicar o equivoco de “Roda Gigante”. Desde que lançou “Um Assaltante Bem Trapalhão”, seu filme de estreia, em 1969, que Woody Allen marca presença nos cinemas ao menos uma vez por ano. Com exceção de 1970, 1974 e 1981, todos os outros anos entre 1969 e 2017 tiveram Woody Allen nos cinemas (e o projeto de 2018, inclusive, já foi filmado e se chama “A Rainy Day in New York”), resultando em uma filmografia vastíssima que traz tanto momentos de genialidade (“Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Manhattan”, “Tiros na Broadway”, “Hannah e Suas Irmãs” e “Crimes e Pecados” formam um Top 5 involuntário) com desleixos tolos (“Igual a Tudo na Vida”, “O Escorpião de Jade”, “Scoop”, “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” e “Neblina e Sombras”) insinuando a ideia de que, muitas vezes, Woody não se dedica tanto ao processo no set (e ele é o primeiro a assumir isso) deixando a mercê da sorte o resultado final da produção. Às vezes dá certo. Outras… 40 anos depois, “Roda Gigante” se conecta com “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” numa citação deliciosa que rememora Alvin Singer, o personagem que se apaixona por Annie Hall (que dá título em inglês ao filme de 1977) e cresceu em uma casa no meio do parque de diversões de Coney Island, nos anos 1950. De forma semelhante, é numa casa sobre o estande de tiro ao alvo com a roda gigante tampando a visão do oceano que vive Richie (o ruivinho Jack Gore), um garoto filho da garçonete (e ex-atriz) Ginny (a esplendorosa Kate Winslet), uma mulher que se apaixonou por outro homem e viu seu casamento ruir, mas encontrou e se juntou a Humpty (Jim Belushi, excelente), o operador do carrossel do parque que é pai de Carolina (Juno Temple), uma moça sonhadora que se casou com um gangster, o entregou em um acordo de delação e agora está jurada de morte. A este quarteto se junta Mickey (um tedioso Justin Timberlake), o romântico escritor que trabalha como salva-vidas na praia e narra a história. Um dos equívocos de “Roda Gigante” é utilizar Justin Timberlake como narrador – nada contra o cantor, aliás, ele esteve ótimo em “A Rede Social” (2010), mas aqui somente tirou vida da trama. Woody já havia aplicado “peça” semelhante em seu público: em “Vicky Cristina Barcelona” (2008), por exemplo, Scarlett Johansson e Penélope Cruz distraem a atenção da audiência enquanto a alma do filme estava em Rebeca Hall. Funcionou. Em “Roda Gigante”, porém, Mickey narra o drama de verão (sim, eis mais um drama na carreira de Woody) de maneira vazia e escapista, e mesmo com a história não sendo sobre ele e sim sobre Ginny Rannell, o fato da química entre Justin Timberlake e Kate Winslet ser algo próximo ao Polo Norte esvazia a atuação de ambos, ainda que Kate consiga entregar uma atuação digna das estatuetas de Oscar, Grammy e Emmy que mantém na estante de sua casa. Outro ponto divergente em “Roda Gigante” é a fotografia do italiano Vittorio Storaro, que já havia iluminado de dourado “Café Society” (2016) e assina também o vindouro “A Rainy Day in New York” (2018). Fotógrafo magistral detentor de três Oscars (por nada menos do que “Apocalypse Now”, “Reds” e “O Ultimo Imperador”), Storaro trouxe para “Roda Gigante” o excesso de cores que marcou um dos maiores fracassos da carreira de Francis Ford Coppola: o cult kitsch “O Fundo do Coração” (1982). E este excesso de cores, que simboliza a constante mudança de luzes do parque de diversões, briga por atenção com as longas falas do roteiro, boa parte delas estranhamente sem nenhum aconchego sonoro, o que resulta em diálogos teatralizados e caricaturais que, infelizmente, cansam. E talvez não exista pecado maior na sétima arte do que cansar o espectador. Há uma boa história em “Roda Gigante”, mas ela não foi transportada para a tela. Falta densidade e tensão ao drama de Ginny, algo que Kate Winslet se esforça sozinha para entregar e em muitos momentos do filme até consegue, mesmo com o embaraço de um ator escada fraco (Timberlake) e das luzes exageradas de Storaro, mas é pouco para salvar o drama de integrar o escalão mais baixo da cinebiografia de Woody Allen – ou mesmo levar a atriz ao Oscar. Retomando a análise certeira de Woody Allen citada no primeiro paragrafo, “certas coisas sempre dão um trabalhão num filme – encontrar os atores certos, fazer concessões em certos papeis, o clima colaborar – e tudo isso simplesmente funcionou (em ‘Match Point’)”. Em “Roda Gigante”, pelo contrário, deu tudo errado. Que venha o próximo.

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    Perdidos em Paris se inspira no pastelão para divertir com poesia e inocência

    8 de julho de 2017 /

    Típica comédia pastelão francesa, “Perdidos em Paris” mostra a predileção dos diretores Dominique Abel e Fiona Gordon (ambos de “Rumba”) pelo cinema mudo de Charles Chaplin, o que, claro, oferece bastante comicidade visual a um roteiro que, inicialmente, soa bobinho, mas mostra potencial para surpreender o público. Um dos trunfos da trama é o divertido elenco, encabeçado pela dupla de diretores ao lado da maravilhosa Emmanuelle Riva, estrela de clássicos do cinema como “Hiroshima Mon Amour” (1959), de Alain Resnais, e “Amor” (2012), de Michael Haneke, aqui em uma de suas últimas aparições na tela (ela faleceu em janeiro de 2017 aos 89 anos, e ainda há um filme seu, “La Sainte Famille”, de Marion Sarraut, para estrear). Na trama, Fiona é uma bibliotecária que trabalha em uma pequena cidade canadense. Ela recebe uma carta de sua tia Martha (Emmanuelle Riva), que se mudou muitos anos atrás para Paris e agora, bastante idosa, pede ajuda da sobrinha, pois médicos do departamento de saúde parisiense querem coloca-la em um asilo. Fiona então parte para Paris, falando pouco francês e se envolvendo em diversas confusões. Numa delas, conhece o mendigo Dom (Dominique Abel) e juntos saem a procurar por Martha, que está vagando pelas ruas de Paris fugindo dos médicos. “Perdidos em Paris” soa excessivamente teatral em alguns momentos, mas pode fazer sorrir quem estiver procurando uma comédia leve e descompromissada, que não promove gargalhadas nem promete o filme do ano, mas diverte com poesia, dança e inocência.

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