PIPOCAMODERNA
Pipoca Moderna
  • Filme
  • Série
  • Reality
  • TV
  • Música
  • Etc
  • Filme
  • Série
  • Reality
  • TV
  • Música
  • Etc

Nenhum widget encontrado na barra lateral Alt!

  • Filme

    O Lobo do Deserto surpreende com drama e aventura em clima de western beduíno

    20 de fevereiro de 2016 /

    “O Lobo do Deserto”, produção capitaneada pela Jordânia (com Emirados Árabes, Qatar e Reino Unido), indicada ao Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro, é um drama de diretor estreante, Naji Abu Nowar, que mostra inegável talento na filmagem de sua história centrada na figura de uma criança: o Theeb do título original. O contexto histórico não fica muito claro, mas a trama se passa no deserto da Arábia, em 1916, em meio à 1ª Guerra Mundial. Theeb (Jacir Eid), que significa lobo, vive numa tribo beduína em algum ponto distante do Império Otomano. O menino convive com seu irmão maior, que procura lhe ensinar o estilo de vida beduíno. O sheik, seu pai, morreu recentemente. E é da perspectiva iminente da morte, todo o tempo, que vive a narrativa centrada no menino. Vemos a chegada de um oficial britânico àquelas paragens, pedindo ajuda para localizar um poço romano, no caminho para Meca, antiga rota de peregrinos, agora tomada por bandidos, mercenários, revolucionários e corsários. E Theeb, mesmo a contragosto dos viajantes, acompanha o irmão, o oficial e seu companheiro, numa jornada repleta de perigos, tiroteios e mortes, que remete ao gênero western. As linhas de trem anunciam que os camelos vão cedendo a vez ao progresso. O filme, ao se focar na figura do menino, se exime de explicar melhor o contexto. Tanto quanto nós, espectadores, o menino não sabe o que está acontecendo. Porque as pessoas se matam nesse local do deserto, o que está em jogo, que papel tem o oficial inglês nessa história e o que ele carrega consigo que parece valioso. A Theeb cabe, prematuramente, se defender, se esconder, sair de um poço onde caiu, manejar armas, conviver com um homem que não conhece e não sabe direito a que veio, escalar montanhas de pedra e, enfim, tentar sobreviver. O clima de tensão é criado ao explorar em panorâmicas ao mesmo tempo um ambiente misterioso, belo e assustador, e ao focar bem de perto a figura de Theeb, seu irmão maior e outros personagens, colocando-nos dentro da ação. Uma ação, como disse, um tanto incompreensível. Estamos vivendo os fatos como se fôssemos uma criança, como é Theeb, com cerca de 10 anos de idade. É evidentemente assustadora a jornada vivida pelo menino. A trama não desvenda propriamente o mistério, mas constrói um conjunto de situações que não só envolve o espectador como o intriga. Tudo vai ficando um pouco mais claro à medida que os eventos se sucedem. A sequência final fecha bem a trama. Até surpreende, mas o mistério das relações envolvidas permanece. É uma bela produção, muito bem realizada. Uma boa surpresa em termos cinematográficos, que já rendeu a esse filme da Jordânia alguns prêmios importantes, como um BAFTA, além da distribuição garantida em muitos países graças à sua indicação ao Oscar.

    Leia mais
  • Filme

    Ovelha Negra explora as peculiaridades da vida na Islândia

    20 de fevereiro de 2016 /

    Na Islândia, um país nórdico de baixa densidade populacional, há mais carneiros e ovelhas do que gente. São cerca de 800 mil desses animais, para um contingente populacional de 320 mil pessoas. Compreensível, portanto, que “Ovelha Negra” construa sua narrativa em torno desse relacionamento dos seres humanos com os animais. Os irmãos Gummi (Sigurour Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Júlíusson) criam e cuidam de rebanhos de ovelhas e disputam entre si não só os prêmios anuais para os melhores espécimes, mas o próprio espaço comum que herdaram dos pais. E o mais incrível: não se falam há 40 anos. O meio de contato, quando necessário, é um cachorro que serve de mensageiro. A Islândia tem vulcões e água quente disponível em grandes proporções, mas tem um clima muito frio, em que a neve abunda e as paisagens dominadas por montanhas glaciais encantam. A terceira maior geleira do mundo se encontra lá. As geleiras ocupam 15% do seu território. Muito apropriado que no filme “Ovelha Negra” terríveis nevascas entrem na história e, de quando em quando, alguém tenha de ser socorrido em meio à forte neve, antes de que congele. Grandes espaços se abrem para serem enquadrados pelas câmeras numa região de fazendas agrícolas, nos arredores das montanhas nevadas. Tudo muito bonito e tão convincente que dá para sentir o frio dentro do cinema, mesmo acabando de passar por uma temperatura de mais de 30 graus lá fora. Claro que o cinema tem ar condicionado, mas é mais do que um simples refresco o que se sente diante das imagens cobertas de gelo que ocupam a telona. Tudo isso pode ser interessante e exótico, mas o filme do diretor Grímur Hákonarson, vencedor da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2015, vai muito além. Ele nos coloca diante do problema da difícil convivência humana, que pode comprometer relações fraternas, da competitividade, do orgulho ferido, da complexa teia de comportamentos que avançam e retrocedem no afeto que as envolve, na solidariedade, a necessária e a possível, no desmoronar de barreiras aparentemente indestrutíveis. É um filme humanista e sensível, cercado de uma natureza exuberante e muito branca, em belos enquadramentos, e com ovelhas por todos os lados, brancas ou negras. Conta com dois atores veteranos como protagonistas, que conduzem com muita força e dedicação seus personagens.

    Leia mais
  • Filme

    O Regresso materializa um espetáculo de sobrevivência visceral

    5 de fevereiro de 2016 /

    Certa vez, Alfred Hitchcock comentou que no cinema se morre facilmente, mas que matar um homem é muito mais complicado e difícil de executar. Exemplificou isso na famosa cena do assassinato no fogão, do filme “Cortina Rasgada”, de 1966. O filme “O Regresso”, um dos mais fortes concorrentes ao Oscar 2016, mostra o personagem Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) com sete vidas, ou seja, sobrevivendo a tudo, ao impossível, ao inimaginável. O regresso do título se refere ao retorno à vida após a morte iminente, decretada, com direito até à cova e à terra por cima do corpo. Sobreviver significa uma luta sem tréguas, uma tenacidade, uma disposição de espírito invejável, nas condições mais adversas. Trata-se, na narrativa, de um explorador/caçador nas florestas selvagens norte-americanas, convivendo com exploradores rivais e suas armas de fogo, grupos indígenas e suas flechas, com um inverno cruel, de tão rigoroso, e com os animais na selva, ursos, entre eles. E, claro, com a cobiça e a competitividade humanas, em seus aspectos mais agressivos. É uma aventura épica de sobrevivência das mais incríveis e viscerais. Mostrada com muita técnica e efeitos especiais, mas de forma realista, informando que se baseia em fatos reais – inclusive já filmada anteriormente, no longa “Fúria Selvagem” (1971). Não se assemelha às habituais batalhas ao estilo videogame, em que a morte nunca parece uma questão real e possível de alcançar o herói. Aqui, não, o protagonista está em risco de vida o tempo inteiro. Destruído, semimorto ou renascendo das cinzas. É uma trama intensa, sofrida, violenta e, também, sangrenta. Trata-se, porém, de um filme magnificamente bem realizado, espetaculares movimentos de câmera exploram uma locação de grande beleza, que nos possibilitam uma forte imersão nessa selva inóspita, que cheira a morte, com muita ação. A caracterização dos personagens, os figurinos, a maquiagem e um esplêndido trabalho de som, além da música também espetacular, do conhecido talento de Ryuchi Sakamoto (“Furyo, Em Nome da Honra”), fazem de “O Regresso” um forte espetáculo cinematográfico. Capaz de aproveitar os recursos tecnológicos do cinema atual e de suas salas de exibição contemporâneas. Não por acaso, esse espetáculo foi o que recebeu mais indicações para o Oscar. São 12, vejam só: filme, direção, figurino, fotografia, ator e ator coadjuvante, efeitos especiais, mixagem de som, edição de som, direção de arte, maquiagem e edição. Já recebeu diversos prêmios dos sindicatos de Hollywood, inclusive o de Melhor Ator para Leonardo DiCaprio. Está com tudo, no momento. Será que desta vez o ator leva o Oscar? Bem provável, e será merecido, sem dúvida. Aliás, até já amadureceu demais a sua vez. E o diretor diretor mexicano Alejandro González Iñárritu? Bisará seu Oscar? Ele tem uma carreira de prestígio no cinema norte-americano, pelos grandes filmes que realizou e pelos prêmios já conquistados, a partir de “Amores Brutos”, em 2000, premiado com o BAFTA, indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e “21 gramas”, em 2003, “Babel”, em 2006, e especialmente com “Birdman”, que levou no ano passado os principais Oscar, de melhor filme e diretor. Méritos como realização, “O Regresso” tem, especialmente se o olharmos pelo prisma do grande espetáculo. Além disso, não é um filme vazio, é uma celebração da luta pela vida, uma obsessão permanente pela autopreservação. Nossos tempos parecem ser especialmente difíceis e desafiadores para essa luta, com tantas guerras, terrorismo, intolerância religiosa e radicalizações de todos os tipos. É, portanto, bem-vinda essa celebração.

    Leia mais
  • Filme

    Trumbo lembra histeria anticomunista que afligiu Hollywood

    28 de janeiro de 2016 /

    Dalton Trumbo foi um dos mais bem-sucedidos roteiristas da história de Hollywood. Escritor muito talentoso, era capaz de produzir desde histórias banais, com personagens sem sentido, em função de atender às expectativas de lucro fácil dos produtores, a obras elaboradas, sofisticadas, passando por épicos, blockbusters e outros tipos de sucessos populares. Mas filiou-se ao Partido Comunista Americano num período em que, por conta da 2ª Guerra Mundial e suas consequências, muitos acreditavam que poderiam melhorar, transformar o mundo. Ocorre que, no pós-guerra, a paranoia anticomunista atingiu níveis brutais nos Estados Unidos, culminando na Guerra Fria e na política que sustentou as ditaduras da América Latina. Mas tudo começou com um movimento nacional de “caça às bruxas”. A partir de 1947, o chamado Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso dos Estados Unidos voltou sua atenção para Hollywood e pretendeu extirpar de seu meio os que eram denunciados como comunistas. E o fez marcando-os, publicamente, impedindo-os de trabalhar em seu ofício e, em vários casos, encarcerando-os por algum tempo. Foi precisamente o caso do roteirista, cuja história é narrada no filme “Trumbo – A Lista Negra”, dirigido por Jay Roach (“Entrando numa Fria”). O filme procura mostrar quem foi esse personagem, suas relações profissionais e familiares, suas crenças e, sobretudo, a luta que travou para poder trabalhar e viver, dando trabalho a outros talentosos escritores banidos, além de seu permanente combate pelo fim da lista negra. Por mais de uma década, ele atuou clandestinamente, sem poder assinar seus roteiros e, ironicamente, venceu o Oscar por duas vezes, com os filmes “A Princesa e o Plebeu” (1953) e “Arenas Sangrentas” (1957), impedido de aparecer para receber o prêmio, que não estava em seu nome. Só a partir de “Spartacus”, dirigido por Stanley Kubrick, e por iniciativa do ator Kirk Douglas, seu nome pôde voltar a figurar nos créditos. No mesmo ano, em 1960, ele também assinou “Êxodus”, dirigido por Otto Preminger, e a abominável lista caiu por terra. Não está no filme, que vai até 1970, mas um dos mais importantes trabalhos de Dalton Trumbo no cinema foi a adaptação de sua obra literária “Johnny Vai À Guerra”, de 1939, que ele mesmo dirigiu em 1971. Vale a pena complementar a sessão, pois se trata de um dos mais importantes filmes sobre guerra já feitos. “Trumbo – A Lista Negra” funde cenas dos filmes originais à filmagens feitas agora, tanto em preto e branco como a cores, de um modo muito eficiente. Tem atuações marcantes do trio central de atores: Bryan Cranston (série “Breaking Bad”), como Trumbo (indicado ao Oscar pelo papel), Diane Lane (“O Homem de Aço”), como sua mulher, Cleo Trumbo, e a vilã da história, representada pela personagem Hedda Hopper, ex-atriz do cinema mudo e colunista de sucesso, que combateu ferozmente os chamados traidores comunistas de Hollywood. O papel coube à grande Helen Mirren (“A Dama Dourada”), que faz a vilã em um figurino excêntrico, com um chapéu diferente a cada cena, cada um mais extravagante do que o outro. E roupas de igual teor. O figurino e a caracterização de época são outro ponto alto do filme, por sinal. E seu senso de humor, também. Trata-se, no entanto, de um filme político e muito atual. A paranoia anticomunista continua por aí, travestida de outros nomes, às vezes. Mas nada mudou, essencialmente. As práticas políticas se repetem à exaustão, incluindo o ódio e a intolerância, simplistas e grosseiros, que fizeram parte do legado do período macartista da caça às bruxas, quando Dalton Trumbo realizava seu trabalho, com muito esforço e dedicação, em Hollywood.

    Leia mais
  • Filme

    Comédia O Novíssimo Testamento deixa Deus em apuros

    27 de janeiro de 2016 /

    Deus existe e mora em Bruxelas. Se for assim, é porque a União Europeia é o centro do mundo terrestre? Nem tanto. Afinal, Deus é um sujeito de má índole, sacana, mal-humorado, que subjuga a mulher e deixa a filha de 10 anos irritada, querendo sair da prisão em que está metida. Além disso, ele não é nada sem o seu computador divino, de onde comanda o destino dos humanos. E a sua filha vinga-se dele, enviando a todos os seres humanos do planeta Terra a informação de quando, exatamente, ocorrerá a morte de cada um. Esse é o mote propulsor do filme “O Novíssimo Testamento”, de Jaco van Dormael, que já havia nos dado, em 1990, uma outra comédia brilhante, “Um Homem com Duas Vidas”. Aqui estamos, claro, no terreno da fantasia, da farsa e da ironia. Os tipos humanos que compõem a narrativa são todos atraentes e bizarros. O diretor põe muitas coisas e situações em cena. As sequências se sucedem com beleza visual e humor inteligente. Mas a certa altura do filme, a gente fica se perguntando como ele vai amarrar esses elementos todos. Afinal, o tempo está passando, está tudo muito interessante. Mas como isso vai acabar? Vai dar em algo? Aí é que o final surpreende. Sim, o diretor foi capaz de amarrar tudo e construiu um fecho legal, que soa tão bem quanto soou todo o filme. Um roteiro muito bem trabalhado. E tudo anda sem pressa, há espaço para cenas curiosas, brincadeiras diversas, explorações visuais, ironias aparentemente dispensáveis, mas no fim tudo de algum modo se encaixa. Uma narrativa original, algo desconexa e absurda, produz um entretenimento de qualidade em cinema de primeira linha. O grande achado da narrativa é, sem dúvida, o que acontece aos mais diversos personagens, quando sabem quanto tempo têm exatamente de vida, em anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. Todo o plano de existência humana muda, de modo distinto para cada um. Mas, quando todos sabem do seu destino, a coletividade toda também muda e as relações passam a ser outras, de todos com todos. Os desafios se sucedem. Os negócios se tornam caóticos, o trabalho, comprometido, o ócio, finalmente vivido, e coisas mais radicais podem acontecer. O menino pode virar menina. O garotão que sabe que vai viver mais 62 anos desafia a morte. Uma mulher insatisfeita pode flertar com um gorila. É uma brincadeira e tanto! Que também nos leva à reflexão. Benoît Poelvoorde (“3 Corações”), como o inusitado Deus, costura uma história que tem na menina Pili Groyne (“Dois Dias, Uma Noite”) o grande destaque, mas que inclui atores como François Damiens (“A Família Bélier”) e Cathérine Deneuve (“De Cabeça Erguida”) em papéis menores, e Yolande Moreau (“Uma Juíza Sem Juízo”), que faz muito bem a esposa de Deus, aquela que vai do mutismo ao embelezamento do mundo. Belo filme, escolhido pela Bélgica para representar o país na disputa pelo Oscar de Filme Estrangeiro. Só que foi preterido, não entrou entre os cinco escolhidos para a disputa final. Mas “O Novíssimo Testamento” tem frescor e leveza, num trabalho em que o talento e o humor dão as cartas, com criatividade transbordando. É isso o que importa, não os prêmios que tenha recebido ou venha a receber.

    Leia mais
  • Filme

    Diplomacia mostra como Paris escapou da destruição na 2ª Guerra Mundial

    7 de janeiro de 2016 /

    O novo filme do grande diretor alemão Volker Schlöndorff, chamado “Diplomacia”, é baseado na peça teatral do mesmo nome de Cyril Gely, que fez o roteiro do filme, em parceria com o diretor. Mas o assunto é o mesmo do filme de René Clément “Paris Está em Chamas?” (1966), lançado em DVD há pouco tempo. A trama se passa em 25 de agosto de 1944 na Paris ocupada pelos alemães, quando a entrada dos Aliados para a retomada da cidade é iminente, assim como o fim da guerra, já perdida para o Eixo, capitaneado pela Alemanha. O general Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup, de “Cavalo de Guerra”), que coordena as forças de ocupação alemãs em Paris, é fiel ao Terceiro Reich e recebe ordem expressa, vinda de Hitler, para explodir a capital da França, incluindo suas pontes, monumentos e museus. A ideia era oferecer aos vencedores terra arrasada. Sabemos o final da história, mas o filme de Schlöndorff constrói um belo suspense com isso. O que fará o general? Está tudo pronto para explodir, fartamente carregado de dinamite, falta só a ordem para a explosão. Ela virá? O que acabará determinando tal decisão é o relacionamento do general com o cônsul-geral da Suécia em Paris, Raoul Nordling (André Dussolier, de “Três Lembranças da Minha Juventude”). Do embate intelectual entre ambos far-se-á a luz. O filme se centra na relação dos dois personagens, como se ela estivesse ocorrendo toda na noite fatídica da decisão. As cenas originais de rua servem apenas de elemento ilustrativo. É do confronto dos dois que se alimenta todo o filme. Em econômicos 88 minutos, acompanhamos toda a evolução da conversa que colocava em jogo um dos maiores patrimônios culturais da humanidade e vidas humanas em profusão. Os dois protagonistas, atores brilhantes, que já haviam vivido os mesmos papéis no teatro em 2011, carregam magistralmente a trama. André Dussolier, que faz o cônsul-sueco, é um dos atores que mais atuaram com Alain Resnais, que o tinha como um de seus prediletos. Mas trabalhou também com François Truffaut, Claude Chabrol, Claude Lelouch, Erich Rohmer, Coline Serreau, Bertrand Blier e muitos outros. Niels Arestrup, o general, trabalhou com Chantal Akerman, Claude Lelouch, Marco Ferreri, István Szabó, Jacques Audiard, Steven Spielberg, Bernard Tavernier e, também, Alain Resnais. Outra bela trajetória. Com atores assim, o resultado é eletrizante. Mesmo tudo se passando basicamente entre as paredes da sala de trabalho do oficial nazista. Em comparação com a superprodução francesa “Paris Está em Chamas?”, que reuniu um dos maiores elencos e participações especiais às pencas, a economia de recursos e de tempo de “Diplomacia” é incrível. René Clément contou com roteiro de Gore Vidal e Francis Ford Coppola. Teve no elenco Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer, Alain Delon, Kirk Douglas, Glenn Ford, Yves Montand, Anthony Perkins, Michel Piccoli e até Orson Welles, no papel do cônsul sueco. Precisou de 165 minutos para registrar o mesmo fato. Mas escolheu outro caminho: o do minucioso detalhamento das batalhas de rua na Paris em que a Resistência tentava reconquistar pontos estratégicos, à espera do embarque aliado. Interessante do ponto de vista histórico, com base nos fatos e resgate de imagens originais em grande quantidade, mas longo e cansativo. “Diplomacia”, ao contrário, foca no embate razão vs. emoção, sobre seguir ordens absurdas sem questioná-las e do medo de enfrentá-las, mas também da coragem de fazê-lo, dos riscos a correr, da capacidade de avaliar a monstruosidade que estava em jogo. Volker Schlöndorff já se debruçara sobre a questão humana, que a guerra abala e destrói de forma absurda, em “O Mar ao Amanhecer” (2011) e principalmente em sua obra-prima, “O Tambor” (1979), em que um menino grita e bate um tambor para enfrentar os absurdos da guerra e da vida. Seu estilo contundente de filmar obriga o espectador a encarar realidades estranhas e desagradáveis. E constrói um forte humanismo como resposta.

    Leia mais
  • Filme

    Mia Madre exibe o talento de Nanni Moretti para retratar a vida e a morte

    17 de dezembro de 2015 /

    Nanni Moretti é um realizador italiano de grande talento e sensibilidade, capaz de mostrar o cotidiano da vida ao lado das questões políticas e filosóficas que o envolvem, no drama ou na comédia. Seu humor é inteligente, muito crítico, seu jeito de lidar com as emoções, muito verdadeiro. Não há perfumaria nos seus filmes, tudo é importante. Até o que não parece ser, o que é mais banal. A obra cinematográfica do cineasta relaciona o pessoal e o político em personagens como o próprio Papa, no seu filme anterior, “Habemus Papam” (2011). Ou o cinema e Berlusconi, em “O Crocodilo” (2006), a vida pessoal e a cidade de Roma, em “Caro Diário” (1993), entre outros. “Mia Madre”, seu mais recente trabalho, dialoga com um de seus melhores filmes anteriores, “O Quarto do Filho” (2001). Nos dois casos, é de perda e de luto que se trata. Tema difícil, doloroso, que exige cuidado no trato. Moretti transita muito bem nesse terreno e sem perder o humor. Margherita (Margherita Buy) é a protagonista da história. Diretora de cinema, está realizando um longa-metragem que discute questões políticas atuais, como a luta pela manutenção do emprego, o enfrentamento da repressão da polícia, os interesses econômicos do capital. Rigorosa e exigente, encontra problemas na atuação e no relacionamento com um astro internacional que incluiu em seu filme, Barry Huggins (John Turturro). Em meio à lida com seu ofício, Margherita tem de tratar de questões pessoais importantes: a mãe está muito doente, hospitalizada, exigindo cuidados. Ela compartilha essa tarefa, as decisões e os sentimentos que a envolvem, com seu irmão Giovanni (o próprio Moretti). Enquanto isso, sua filha vive a adolescência e tem um forte vínculo com a avó, que sempre a ajudou no estudo do latim. A proximidade da morte faz com que todos tenham de lidar com a perda de uma pessoa querida, que sempre foi forte, decidida, uma educadora e intelectual de mão cheia, sempre lembrada e procurada por ex-alunos. O filme explora a dimensão da realidade da cineasta, ao mesmo tempo em que traz à tona suas memórias e reflexões, suas inseguranças, medos e sonhos. Tudo tão amalgamado que chega a se confundir. A memória muitas vezes nos trai, a realidade dela é parcial, fragmentada. Nossos desejos se misturam com nossas percepções, os fatos, com a imaginação, tudo pode mesclar-se. E, no entanto, a vida exige de nós objetividade, quase o tempo todo. Essa dimensão fluída do real é muito bem captada pelo cinema de Nanni Moretti e é um dos pontos altos do filme. A atriz Margherita Buy (retomando a parceria de “O Crocodilo”) tem excelente atuação ao protagonizar essa trama. John Torturro (“Amante a Domicílio”) dá um ótimo toque de estranheza e humor ao personagem do ator-problema estrangeiro, que é também uma figura adorável, apesar de tudo. Moretti como ator tem agora um papel um pouco menor, mas igualmente importante na narrativa. A atriz veterana Giulia Lazzarini (“Grazie di Tutto”), no papel de Ada, a mãe doente, atua com uma placidez muito apropriada à figura retratada e aos seus momentos finais de vida. “Mia Madre” não tem a mesma força mobilizadora de grandes emoções de “O Quarto do Filho”, mas isso também tem a ver com a questão retratada. A perda de um filho jovem é mais importante e demolidora do que a perda de uma mãe já idosa. Aqui, algo da ordem natural das coisas segura o desespero da perda. Tudo acaba se dando de um modo mais sereno, ou um pouco menos perturbado. Mas são momentos decisivos na vida das pessoas. Sofridos e complexos. É o fluxo da vida. Que o cinema de Moretti retrata com dignidade e ajudar a compreender.

    Leia mais
  • Filme

    Ausência acerta ao tratar de carências fundamentais com sutileza

    9 de dezembro de 2015 /

    Todo mundo precisa de afeto, ao longo de toda a vida, para poder viver bem consigo mesmo e com os outros. Os bebês, as crianças e os jovens se nutrem do afeto que recebem dos adultos para desenvolver autoconfiança e explorar suas capacidades e possibilidades. Uma família acolhedora é importante para o desenvolvimento do caráter e da personalidade, em moldes saudáveis e criativos. Na ausência dela, compensações são possíveis, claro. Mas o processo se dá de modo mais complicado. A ausência do pai, a incapacidade de acolhimento da mãe, condições sociais adversas, dificuldades econômicas, podem ser ingredientes alimentadores de dramas, quando não de tragédias. É de uma realidade assim, de carências fundamentais, que trata o filme “Ausência”, de Chico Teixeira. O protagonista é o garoto Serginho (Matheus Fagundes), de 15 anos, que, além de não encontrar o afeto básico de que precisa, tem de se virar precocemente, para sustentar a família, o que inclui cuidar de um irmão menor. O pai sumiu. A mãe vive à margem da vida, envolvida pelas drogas, eventualmente pela prostituição e pela incapacidade de assumir a condição materna ou o papel de provedor que toda família requer. Na vida de Serginho, a mãe Luzia (Gilda Nomacce) é um zero à esquerda. Pior, alguém que ele tem que suportar e escorar. Os personagens jovens com quem Serginho convive, enquanto trabalha na feira com um tio, são Mudinho (Thiago de Matos) e Silvinha (Andréia Mayumi). Não há muito que ele possa extrair deles. As carências são mais ou menos as mesmas. As limitações, até maiores. Mudinho não tem esse nome por acaso. O tão necessário afeto que o menino busca pode estar na figura de um professor aberto e acolhedor, Ney (Irandhir Santos), mas que não quer assumir o papel paternal que Serginho espera dele. O atrativo do circo poderá ser uma tábua de salvação diante da dramática constatação de que o garoto está só no mundo? Essa bela temática é trabalhada no filme com delicadeza, sutileza e respeito pelos sentimentos dos personagens. De modo mais evidente, nos trazendo a figura sofrida e solitária do adolescente Serginho, condenado a uma aridez de vida terrível e despertando para a sexualidade e o direito ao prazer. Desencontrado, mas responsável como poucos o são nessa idade. O jovem ator Matheus Fagundes encontrou o tom certo para nos transmitir a realidade do personagem. E tem no elenco coadjuvantes de grande talento, como o ator Irandhir Santos (de “O Som ao Redor” e muitos grandes papéis no cinema brasileiro), a atriz Gilda Nomacce (“Califórnia”) e a chilena Francisca Gavilán (“Violeta Foi Para o Céu”).

    Leia mais
  • Filme

    Louis Garrel revela novo talento em Dois Amigos

    4 de dezembro de 2015 /

    Louis Garrel talvez seja o jovem ator francês de sua geração (em torno dos 30 anos de idade) de maior sucesso no mundo do cinema. Agora, além de atuar, ele dirige seu primeiro longa-metragem – e veio ao Brasil para divulgá-lo. É “Dois Amigos”, um filme sobre relacionamentos humanos que se mostram complicados, porque há segredos subentendidos, falta de sinceridade e medo, nos contatos. Na base deles está o desejo, a possibilidade do envolvimento amoroso e aquilo que, por algum motivo, não pode acontecer. A temática, claro, tem tudo a ver com a herança da nouvelle vague. O jeito de filmar, cool e próximo dos personagens, também. Afinal, Louis é filho do grande cineasta Philippe Garrel, com quem trabalhou como ator em filmes que retratam as muitas formas de vivenciar o amor e seus problemas, como “Amantes Constantes” (2005), “Fronteira da Alvorada” (2008), “Um Verão Escaldante” (2011) e “Ciúme” (2013). Ator frequente também em filmes de Christophe Honoré, Louis Garrel divide com ele o roteiro de “Dois Amigos”. Honoré costuma trabalhar com personagens em busca de amor e afeto, mas um tanto estranhos e desencontrados. Ou bizarros, para ficar num termo frequente em língua francesa. “Em Paris” (2006), “Canções de Amor” (2007), “A Bela Junie” (2008) e “As Bem-Amadas” (2011) são exemplos de filmes que Honoré dirigiu, tendo Garrel no elenco. A experiência do ator e essas influências são muito positivas no que se vê em “Dois Amigos”. O filme se centra em dois personagens masculinos bem construídos. Frágeis, carentes, dependentes um do outro e com uma alma feminina, convivem com uma mulher forte, intensa e algo misteriosa, que luta para sobreviver, enquanto aguarda sair da prisão. Já está em regime semiaberto, trabalhando fora, mas isso ainda limita muito sua vida. Além de Louis Garrel, que consegue dar conta de dirigir e atuar, também está no filme Vincent Macaigne, o amigo, em belo desempenho – ele já tinha trabalhado com Garrel em “Um Verão Escaldante”. Mas ambos giram em torno da figura marcante da jovem mulher que, na prática, comanda as ações e dá luminosidade ao filme. O papel é da atriz iraniana Golshifteh Farahani, que mostrou seu talento em obras como “Procurando Elly” (2010), no Irã, e em “Pedra de Paciência” (2014), no Afeganistão. Ela vive na França e nem pode pensar em voltar a seu país de origem, depois que posou nua para uma revista. A propósito, ela está linda e sensual em “Dois Amigos”, e é o grande destaque do filme. Uma estrela.

    Leia mais
  • Filme

    As Mil e Uma Noites usa surrealismo para tratar a realidade

    20 de novembro de 2015 /

    Muitas vezes, quando a gente se aproxima da chamada realidade, ela soa surreal. Com humor e ironia, as desgraças se convertem em estranhamentos. O excêntrico também pode ser visto como redentor. É próprio do cinema mesclar o cotidiano e o sonho, o real e o imaginário, a verdade factual e a ficção, de modo que essas coisas se embaralhem e se tornem indiscerníveis. E alguns cineastas trabalham, de modo evidente, com a realidade surreal; desestabilizam nossa percepção, exigem que deixemos de lado o conforto da narrativa clássica, como o norte-americano Wes Anderson, o sueco Roy Andersson, o chinês Jia Zhang Ke e o mestre espanhol Luís Buñuel, entre outros. Pois o português Miguel Gomes é um lídimo representante dessa vertente. Seus filmes “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008) e, sobretudo, “Tabu” (2012) já eram demonstrações claras e bem sucedidas disso. A trilogia de filmes “As Mil e Uma Noites” sacramenta de vez a inovação narrativa do diretor, sem deixar margem a dúvidas. Esclareça-se, de início, que são três filmes distintos, que resultaram de uma metodologia única e da mesma estrutura formal, no caso, emprestada das “1001 Noites”, com Xerazade contando histórias ao rei, mas não é uma adaptação, nem tem nada a ver com os contos árabes. O que Miguel Gomes e sua equipe fizeram foi contratar jornalistas para colher fatos importantes, surpreendentes, significativos ou relevantes, que estivessem acontecendo em qualquer parte de Portugal naquele momento para, a partir deles, construir uma história ficcional que, muitas vezes, é quase documental e, outras vezes, embarca fortemente na fantasia. Quanto mais surreal, mais retrata Portugal em meio à crise de austeridade que assolou o país e a Europa. Mas os momentos se alternam. O primeiro filme, “O Inquieto”, dá conta das maldições que se abatem sobre o país, tem baleias que explodem, desempregados que contam suas histórias, o banho (coletivo) dos magníficos, promovido por um sindicalista em pleno inverno, e um galo que, de tanto exigirem que seja abatido, resolve falar e explicar o que acontece. O mal estar civilizatório é muito claro e as coisas não são o que aparentam ser. No segundo filme, “O Desolado”, o título já diz tudo: não parece haver solução, a desolação toma conta das vidas. Até uma juíza se verá tão aflita que chorará, em vez de ditar a sua sentença, o suicídio se impõe na saga de um cão fiel, que muda de dono e permanece capaz de amar da mesma forma a todos. Os animais acabam sempre abrindo o caminho da esperança, até na desolação. Esse é o mais bem realizado da trilogia e foi indicado por Portugal para representar o país no Oscar de filme estrangeiro. O terceiro filme, “O Encantado”, descobre que há vida e esperança na simplicidade e na paixão: no caso dos passarinheiros, em que aprendemos que os tentilhões podem ser ensinados a cantar, os passarinhos não nascem sabendo, aprendem com os mais velhos e podem aprender o canto de outra espécie, se forem treinados para tal. A poesia encontra seu lugar. A revolução dos cravos é lembrada, as recompensas afetivas ganham destaque. São as diversas faces dos homens e das suas circunstâncias, pensando em Sartre, o que Miguel Gomes mostra nessa trilogia, muito bem realizada, em que pesem alguns maus momentos, como “os homens de pau feito”, no primeiro filme. Já o do “Simão sem Tripas” é uma das histórias saborosas que os filmes têm a contar. Cada um dos filmes vale por si só, independe dos outros. É possível assistir a eles isoladamente e em qualquer ordem. Não são partes sequenciais. São diferentes histórias que se relacionam a diferentes momentos e espaços da vida portuguesa atual. Em conjunto, formam um painel amplo e diverso, bastante ilustrativo da sociedade que procuram retratar. “As 1001 Noites” de Miguel Gomes foi um dos principais destaques da 39ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o primeiro volume entrou em cartaz em circuito comercial. Não pode faltar no cardápio dos cinéfilos, que se alimentam do cinema autoral.

    Leia mais
  • Filme

    Vencedor da Palma de Ouro, Dheepan – O Refúgio aborda o drama dos refugiados

    16 de novembro de 2015 /

    Um mundo marcado por conflitos e guerras de toda espécie está gerando uma questão humanitária de extrema gravidade, como é o drama dos refugiados na Europa. Escapar da fome, da perseguição e da morte, é algo a se buscar a qualquer preço. Adaptar-se a lugares estranhos, em que não se tem domínio nem da língua, nem dos hábitos, sujeitar-se a condições de sobrevivência precárias e de exploração, sem falar da miséria e dos riscos diários que o simples existir exige desses imigrantes, geralmente indesejados, tornam-se imperativos. “Dheepan, o Refúgio”, novo filme de Jacques Audiard (“Ferrugem e Osso”), entra nessa questão com uma história curiosa. Para conseguir entrar na França, fugindo da guerra do Sri Lanka, um homem, ex-soldado, o Dheepan do título, se junta a uma jovem mulher solteira e uma menina de 9 anos que perdeu seus pais, para se passarem por uma falsa família e assim cruzar a barreira da imigração, visando arrumar trabalho e moradia, ainda que precários. Na verdade, eles não se conhecem e a situação de fingimento é um desafio e tanto. Chega a soar engraçado, mas é muito difícil e complicado. Viver em família já não é fácil, uma família falsa, então, nem se fale. Mas é possível descobrir, de algum modo, o afeto que une os excluídos. Esse é o centro da narrativa, na primeira parte do filme, mostrada com muito talento pelos intérpretes do Sri Lanka e Índia, sob a mão segura do diretor Audiard, que constrói belos enquadramentos e explora visualmente muito bem o ambiente. Algo pior, porém, está por vir e Jacques Audiard, atento ao terrível papel da violência nos dias atuais, sabe valer-se dela para obrigar o espectador a pensar nesses tempos obscuros em que vivemos. Ele expõe a violência, não para explorá-la como meio de atrair plateias, mas como condição indispensável para entender o que está acontecendo à nossa volta, ao nosso lado, perto de nós, onde já estamos metidos. Não há como escapar. O filme chega aos cinemas brasileiros após vencer a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2015 e abrir a programação da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. É realmente uma grande obra, tocada por um realizador que já nos deu “O Profeta” (2009), outro trabalho forte e denso, e garantido pelo elenco estrangeiro admirável. Os protagonistas que formam a falsa família, Dheepan (Jesuthasan Antonythasan), Yalini (Kalleaswari Srinivasan) e a pequena Illayaal (Claudine Vinasthamby), estão excelentes. Destaque para a garota de 9 anos, que tem desempenho de veterana.

    Leia mais
Mais Pipoca 
@Pipoca Moderna 2025
Privacidade | Cookies | Facebook | X | Bluesky | Flipboard | Anuncie