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Justiça arquiva denúncia contra a banda Garotos Podres por falta de provas
Banda punk de São Paulo foi acusada de cantar "músicas controversas" em João Pessoa, mas investigação concluiu que canções sequer tocaram no show
O fim do “processo inquisitorial”
A Justiça da Paraíba determinou o arquivamento da denúncia movida contra a lendária banda de rock/" class="tag-link" title="Ver mais sobre punk rock">punk rock Garotos Podres, encerrando um episódio que beirou o surrealismo. O grupo, originário de Mauá (Grande São Paulo), havia sido alvo de um inquérito na Delegacia de Repressão a Crimes Homofóbicos, Étnico-Raciais e de Intolerância Religiosa após um show realizado em João Pessoa em fevereiro deste ano. A acusação, feita por um indivíduo não identificado, alegava que repertório da banda continha músicas “controversas” e que incitavam a violência.
A decisão judicial destacou a fragilidade das provas, observando que o próprio denunciante admitiu “não ter assistido ao show e baseou sua notícia em conteúdos de internet”. A análise integral da apresentação comprovou que nenhuma das faixas citadas na queixa — como “Fernandinho Viadinho” e “Führer” — foi executada na ocasião. “As testemunhas e os integrantes da banda foram uníssonos em afirmar que as músicas não foram executadas. ‘Fernandinho Viadinho’ teria sido excluída do set há décadas, e ‘Führer’ não integra o setlist há mais de 30 anos”, pontuou o texto da sentença.
“Papai Noel não existe”
O inquérito gerou situações tragicômicas, especialmente em relação ao clássico “Papai Noel, Velho Batuta”, lançado em 1985. A denúncia afirmava que a letra incentivava o sequestro e morte de uma “figura lendária cristã”. Em um vídeo recente gravado no Sesc Belenzinho, o vocalista Mao relatou com ironia o depoimento do baterista Negralha.
“Essa semana, a delegada, por videoconferência, perguntou ao Negralha sobre essa canção. Ele teve que explicar para a delegada de polícia que Papai Noel não existe. O pior que é sério isso. 40 anos depois do fim da ditadura militar, fomos inquiridos num processo inquisitorial questionando as letras”, desabafou o cantor no palco, arrancando risos da plateia antes de tocar o hit.
Censura e perseguição
Segundo a banda, a ação partiu de um militante de extrema direita com o objetivo claro de impedir suas apresentações. O grupo denunciou o caso como uma tentativa de censura, ressaltando que nem mesmo durante o lançamento original da música, no fim da ditadura militar, sofreram interrogatórios desse tipo. O impacto psicológico foi real: o baterista, membro mais jovem da formação e que nem era nascido em 1985, relatou ter pesadelos recorrentes onde era torturado e acusado de sequestrar o Papai Noel.