
Instagram/Havaianas
Campanha da Havaianas com Fernanda Torres vira alvo de boicote bolsonarista
Propaganda que sugere não começar o ano com o "pé direito" é vista como provocação política e gera reações de políticos de direita
Guerra dos chinelos nas redes
Uma nova campanha publicitária dos chinelos Havaianas, estrelada pela atriz Fernanda Torres, tornou-se o centro de uma grande polêmica nas redes sociais, culminando em um chamado de boicote por parte da direita brasileira. A controvérsia começou devido à mensagem principal do comercial, interpretada por eles como uma provocação com viés político de esquerda.
O que diz a propaganda?
No vídeo, Fernanda Torres, vencedora Globo de Ouro e indicada ao Oscar por seu trabalho em “Ainda Estou Aqui”, deseja que o público não inicie 2026 com o pé direito. “Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não, não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, né? Depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés”, afirma a atriz.
Ela continua a mensagem com um tom de incentivo: “Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo! De corpo e alma, da cabeça aos pés”.
Reação de políticos bolsonaristas
A reação foi imediata. Políticos de direita e internautas passaram a atacar a marca, com alguns gravando vídeos onde destroem seus próprios chinelos em protesto – evocando queimas de livros de nazistas nos 1930 e queima de discos de rock por evangélicos americanos nos anos 1950. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aproveitou um vídeo sobre o Rodoanel para alfinetar a campanha: “Aqui em São Paulo, a gente vai começar o ano novo com o pé direito”, disse.
Eduardo Bolsonaro, que teve seu mandato de deputado cassado, foi mais direto. “Eu me enganei, eles escolheram para ser a garota propaganda da sandália uma pessoa declaradamente de esquerda. Uma pessoa que não está nem aí, ou melhor, defende a prisão da Débora do batom da Adalgilza, da Iraci Nagoshi e ainda fala para você não começar o ano com o pé direito”, criticou, resgatando o bordão “Quem lacra, não lucra”.
Histórico de boicotes fracassados
Este tipo de movimento não é novidade e geralmente produz o efeito contrário. No passado, campanhas de boicote miraram a marca Bis e filmes com artistas como a própria Fernanda Torres e Wagner Moura, mas acabaram por aumentar a visibilidade e o sucesso dos alvos.
O próprio slogan “Quem lacra, não lucra” foi recentemente lembrado contra o cantor Zezé Di Camargo, que teve shows cancelados após criticar o SBT por receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF Alexandre de Moraes para o lançamento do SBT News. Ironicamente, a campanha de boicote da direita contra o canal de notícias, em apoio a Zezé e contra Lula, foi outra a ter efeito contrário: resultou em recorde de audiência na estreia.
Boicote virou piada
Enquanto isso, a polêmica atual rendeu memes e piadas nas redes sociais. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, ironizou a situação com um vídeo onde aparece comprando vários pares de Havaianas. “Fui ao shopping fazer compras hoje, e a loja estava lotada. Comprei para mim, comprei para a Gleisi, comprei para os meus três filhos. Agora, qual é a minha surpresa: vocês da extrema direita, que têm mania de perseguição, vocês não sabem de um detalhe: a sacola das Havaianas é vermelha”, brincou.
Até o momento, nem a Havaianas nem Fernanda Torres se pronunciaram sobre o caso.