
Instagram/Garotos Podres
Polícia de SP indicia Garotos Podres por música de 40 anos: “Censura!”
Banda punk revela ter sido intimada para interrogatório após denúncia que acusa "Papai Noel, Velho Batuta" de ofensa religiosa
Clássico do punk vira caso de polícia
A banda punk Garotos Podres foi surpreendida com a abertura de um inquérito pela Polícia Civil de São Paulo, quatro décadas após o lançamento de um de seus maiores sucessos. Em comunicado divulgado nas redes sociais, o grupo revelou que seus integrantes foram intimados e interrogados devido à música “Papai Noel, Velho Batuta”, faixa do álbum de estreia “Mais Podres do que Nunca”, de 1985. A investigação teria sido motivada pela divulgação recente de um videoclipe da canção.
“Há duas semanas, postamos o vídeo da música ‘Papai Noel, Velho Batuta’ no YouTube e promovemos o conteúdo em nossas redes sociais. O que para muitas pessoas pode parecer somente ‘divertido’, na verdade é algo muito sério! A banda Garotos Podres foi indiciada em um inquérito policial e passou por um longo processo de interrogatórios e burocracias. Na prática, CENSURA!”, protestou a banda no Instagram. O clipe em questão é uma animação produzida pelo artista Leandro Franco.
Qual a acusação contra a banda?
Segundo o relato dos músicos, a denúncia partiu de um “denunciante” descrito como “membro de uma Seita de Fanáticos de Extrema-direita”. A queixa alega que a letra, conhecida por seu tom satírico e crítica social, feriria sentimentos religiosos. “Um denunciante, de inspiração conservadora e fascista, reclama que música ofende a religião ao desancar a figura sagrada de Papai Noel, que simboliza o Bem…”, detalhou o grupo em nota.
A canção é um dos hits do álbum de estreia do grupo, baseada numa peça de 1982 que acabou não acontecendo, na qual o Papai Noel seria sequestrado por menores carentes. O vocalista Mao e os demais integrantes afirmaram ter recebido solidariedade de diversos setores da sociedade diante do episódio. “Muitos jornalistas, professores e pessoas que trabalham com arte” manifestaram apoio à banda, que vê na ação uma tentativa de silenciamento artístico.
Ditadura foi menos dura
O novo embate com as autoridades acontece justamente no momento em que os Garotos Podres divulgam o relançamento do LP “Mais Podres do que Nunca”, seu clássico de 1985. A ironia reside no fato de que a obra já havia enfrentado problemas similares no passado. Quando chegou às lojas originalmente, ainda sob o regime militar, o disco foi alvo da Divisão de Censura de Diversões Públicas, tendo sua execução vetada em rádios e emissoras de TV da época.
A banda fez uma ressalva sobre a diferença das ações da ditadura e da política atual contra as músicas do disco clássico. “Cumpre destacar que na época jamais fomos submetidos a qualquer tipo de interrogatório pelo Departamento de Censura. O procedimento desse Órgão sempre foi ‘burocrático’. Eram encaminhadas as cópias das letras, que depois respondiam, aprovando (ou não). Em nenhum momento fomos submetidos à interrogatório – de caráter caráter inquisitorial – como a que fomos submetidos em 2025, exatamente 40 anos após ao final da Ditadura Militar!”
O espanto segue com a situação do baterista do grupo, o membro mais jovem da atual formação da banda. Segundo o Instagram oficial dos Garotos Podres, ele “teve que se justificar por uma música que foi composta e gravada muitos anos antes dele ter nascido!”