
Divulgação/Lisar Film Company
Morre o diretor Bahram Beyzaie, o “Shakespeare da Pérsia”, aos 87 anos
Cineasta e dramaturgo fundamental da cultura iraniana moderna faleceu nos EUA, onde lecionava na Universidade de Stanford
Luto na cultura mundial
O cineasta e dramaturgo iraniano Bahram Beyzaie faleceu na última sexta-feira (26/12) aos 87 anos. A confirmação veio da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, instituição onde ele lecionava há 15 anos como professor titular de Estudos Persas. Embora a causa da morte não tenha sido revelada, seu impacto na preservação e reinvenção da herança cultural de seu país é incalculável.
Qual foi seu legado?
Beyzaie era um gigante da cultura moderna, com uma obra vasta que inclui mais de 70 livros, peças e roteiros, além da direção de 14 peças teatrais e dez longas-metragens. Nascido em Teerã em 1938, ele ganhou o apelido de “Shakespeare da Pérsia” por sua maestria como dramaturgo. Seu trabalho era marcado pelo diálogo profundo entre os mitos ancestrais — com foco especial no “Shahnameh” (Livro dos Reis) — e as questões sociais contemporâneas.
“Ele tinha um profundo amor pelo Irã e, apesar da mentalidade estreita dirigida a ele e à sua família, nunca deixou de promover, proteger e preservar o patrimônio cultural do Irã”, destacou a nota oficial da universidade.
O início e a consagração
Nascido em Teerã em 1938, Beyzaie começou sua trajetória no cinema com curtas-metragens, mas foi em 1972 que marcou a história com seu primeiro longa, “Aguaceiro”. A obra, que narra o romance de um professor idealista em um bairro pobre, ajudou a definir a estética da Nova Onda Iraniana – ou Iranian New Wave, conforme a imprensa internacional – , colocando o país do Oriente Médio no contexto das obras inovadoras que redefiniram o cinema da época, a partir da Nova Onda Francesa – nouvelle vague.
Sua carreira floresceu com títulos fundamentais como “O Estranho e a Neblina” (1974) e “A Balada de Tara” (1979). No entanto, foi com “Bashu, o Pequeno Estranho” (1986) que ele alcançou aclamação universal. O filme, sobre um menino árabe que foge da guerra Irã-Iraque e encontra refúgio no norte persa, é frequentemente citado como a maior obra-prima do cinema de seu país.
Por que sua carreira foi interrompida?
Apesar do prestígio, Beyzaie foi um alvo constante do regime islâmico pós-1979. Vários de seus filmes, como “A Morte de Yazdgerd” (1982) e o próprio “Bashu”, foram banidos por não se adequarem aos códigos morais impostos pelos aiatolás. Sua produção cinematográfica tornou-se esparsa devido aos sucessivos vetos a seus roteiros.
Após dirigir “Matando Cães Loucos” (2001), um sucesso de crítica e público, ele tentou emplacar novos projetos, mas enfrentou barreiras intransponíveis da censura estatal. Em 2009, lançou seu último longa, “Quando Todos Estiverem Dormindo”, um grito de frustração contra a indústria cultural manipulada. Cansado da perseguição — que incluía a proibição de suas peças teatrais e o impedimento de lecionar no Irã —, ele se exilou nos EUA em 2010 a convite de Stanford, dedicando seus últimos anos ao ensino e à pesquisa acadêmica, longe das câmeras que tanto amava.
Recentemente, uma versão restaurada de “Bashu” foi exibida no Festival de Cinema de Veneza, onde conquistou o prêmio de melhor filme na seção de clássicos, reafirmando a atemporalidade de sua visão artística.