“Avatar: Fogo e Cinzas” estreia em busca de novos bilhões nos cinemas
Continuação da saga de James Cameron é a maior estreia da semana, que também exibe homenagem à Nouvelle Vague e cinebiografia de Asa Branca.
O lançamento de “Avatar: Fogo e Cinzas” é a principal novidade nos cinemas nesta quinta (17/12), ocupando a maioria das telas em busca de novos bilhões. O primeiro “Avatar”, lançado em 2009, fez US$ 2,9 bilhões, enquanto o segundo, “Avatar: O Caminho da Água” rendeu US$ 2,3 bilhões. Representam respectivamente a primeira e a terceira maior bilheteria de todos os tempos. O mercado aposta numa reprise do sucesso, mas desde o longa de 2022 nenhum outro filme americano faturou mais de US$ 2 bilhões. Neste ano, apenas dois lançamentos de Hollywood fizeram mais de US$ 1 milhão: “Lilo & Stitch” e “Zootopia 2” – ambos atrás do chinês “Ne Zha 2”, com US$ 1,9 milhão.
Entre as demais estreias em circuito limitado, os destaques são a carta de amor de Richard Linklater à “Nouvelle Vague” e a cinebiografia brasileira “Asa Branca – A Voz da Arena”, este indicado para fãs do estilo de vida sertanejo que não acham rodeios um entretenimento bárbaro. Confira a relação completa da programação cinematográfica.
🎞️ AVATAR: FOGO E CINZAS
O terceiro capítulo da saga fantasiosa do diretor James Cameron retorna ao planeta Pandora para acompanhar Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña) enfrentando novos desafios com sua família. A sequência de “Avatar: O Caminho da Água” (2022) apresenta uma nova tribo Na’vi chamada “Povo das Cinzas”, que atua como antagonista da narrativa. Até então, a franquia tinha mostrado apenas exemplos positivos dos Na’vi, enquanto os humanos representaram os antagonistas. A inversão de perspectiva busca tornar o universo de Pandora mais complexo ao revelar aspectos sombrios da sociedade alienígena.
Diferente das tribos anteriores, o Clã Mangkwan, o tal “Povo das Cinzas”, rompeu sua conexão espiritual com Eywa após um desastre natural que devastou suas terras. Eles acreditaram que a divindade os abandonou e, endurecidos pela sobrevivência, adotaram uma postura agressiva e violenta. A líder dessa tribo é Varang, interpretada por Oona Chaplin (neta de Charlie Chaplin e conhecida por “Game of Thrones”), que usa habilidades mentais para infligir dor e dominar seus inimigos. A narrativa coloca Jake Sully e Neytiri — ainda lidando com o luto pela morte do filho Neteyam — em conflito direto com esse novo grupo, que se alia temporariamente ao Coronel Quaritch, criando uma ameaça dupla.
A expectativa pelo lançamento é elevadíssima, já que os anteriores bateram recordes de arrecadação e ocupam o pódio das maiores bilheterias da história do cinema.
🎞️ NOUVELLE VAGUE
Em seu primeiro filme falado em francês, o diretor americano Richard Linklater (“Boyhood”) reimagina as filmagens de “Acossado”, o revolucionário primeiro longa-metragem de Jean-Luc Godard que marcou o início da Nouvelle Vague francesa em 1959. O filme biográfico acompanha Godard, então crítico de cinema determinado a se tornar cineasta, recrutando dois jovens atores para seu projeto ambicioso: Jean-Paul Belmondo para viver um criminoso presunçoso e Jean Seberg para interpretar a estudante americana que se apaixona por ele.
O estreante Guillaume Marbeck interpreta Godard como um disruptor arrogante cujas ideias revolucionárias desafiam as convenções cinematográficas estabelecidas. Zoey Deutch (“Influencer de Mentira”) vive Jean Seberg, enquanto outro estreante, Aubry Dullin, interpreta Belmondo. A narrativa reconstrói não apenas a produção de “Acossado”, mas captura a rebeldia juvenil e o caos criativo que moldaram o movimento da Nouvelle Vague, movimento que rompeu com convenções estabelecidas do cinema comercial e influenciou gerações de cineastas. Exibido no Festival de Cannes e selecionado pela revista francesa Cahiers du Cinéma como um dos 10 melhores filmes de 2025, o longa encantou a crítica com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes
🎞️ ASA BRANCA – A VOZ DA ARENA
Felipe Simas (“Tremembé”) interpreta Waldemar Ruy dos Santos, o Asa Branca, em uma cinebiografia que mostra a revolução que ele causou nos rodeios brasileiros. Nos anos 1990, Asa transformou a locução em performance: descia de helicóptero no meio da arena, usava microfone sem fio para narrar colado no boi e trazia elementos de show de rock para um ambiente até então tradicional. O filme de Guga Sander (“Reis”) retrata essa inovação técnica e o carisma que fez dele uma celebridade nacional, capaz de lotar estádios e figurar em novelas da Globo.
Mas a narrativa não esconde o custo dessa ascensão. O roteiro aborda abertamente o estilo de vida destrutivo que acompanhou o sucesso: festas, álcool, drogas e o diagnóstico de HIV numa época de forte estigma, que levaram Asa à falência e ao isolamento. Com Lara Tremouroux (“Fim”) e Ravel Andrade (“Raul Seixas: Eu Sou”) no elenco, a produção equilibra o espetáculo público com a fragilidade íntima de um homem que viveu os extremos da fama e pagou o preço com a própria saúde, morrendo cedo mas deixando um legado técnico que define os rodeios até hoje.
🎞️ MEUS QUATRO MARIDOS
A comédia romântica dirigida pela atriz Naura Schneider (“A Gloria e a Graça”) e o estreante Fred Mayrink aborda os diferentes formatos de relacionamentos na sociedade contemporânea. Naura também estrela como Joana, jornalista de 50 anos que percebe ter ficado 25 anos casada, somando seus quatro matrimônios, e decide celebrar as Bodas de Prata reunindo todos os ex-maridos em um jantar.
Os ânimos ficam tensos a cada toque da campainha e a chegada de um novo ex-marido sem saber o motivo do convite nem a identidade dos outros convidados. Com ajuda de sua melhor amiga Andrea, interpretada por Monique Curi (“Laços de Família”), Joana conduz a noite através de lembranças das relações, conflitos que surgem e momentos de descontração. O filme aborda temas como racismo e homofobia, defendendo que amar independe de cor, gênero ou formato das relações. O elenco inclui Toni Garrido (“Orfeu”), Antônio Fragoso (“Meu Cunhado É um Vampiro”), Carlos Simões (“Quanto Mais Vida Melhor”) e Jorge de Sá (“Tempo de Amar”).
🎞️ VOLVERÉIS
Jonás Trueba, filho do veterano diretor espanhol Fernando Trueba (“Atiraram no Pianista”), apresenta uma comédia dramática que explora temas autobiográficos e metalinguísticos, e funciona também como hino de devoção à cinefilia. O filme parte de uma premissa de humor desconcertante: depois de 15 anos juntos, Ale (diretora de cinema) e Alex (ator) decidem se separar e colocar em prática a ideia — originalmente dita como piada pelo pai dela — de que separações, e não casamentos, deveriam ser celebradas.
Para transformar o rompimento em rito público, eles anunciam uma festa de separação repetidas vezes a amigos e familiares, tentando convencer os outros — e a si mesmos — de que a decisão é real. Trueba evita apontar um motivo “objetivo” para o término, mantendo a separação como um mistério deliberado e deslocando o foco para a reação das pessoas ao redor e para as fissuras emocionais que aparecem conforme o casal repete o mesmo anúncio, com pequenas variações.
A proposta se completa quando o filme explicita sua camada metalinguística: segundo o próprio Trueba, a narrativa está “repleta de pequenos truques de edição” e, em determinado momento, fica claro que Ale está editando o mesmo filme que o espectador está assistindo. A partir daí, a separação e o trabalho passam a se misturar como um único problema, e o diretor define “Volveréis” como uma história em que cinema e vida se entrelaçam, assumindo a montagem como comentário sobre o desejo de “editar” sentimentos e decisões que, na vida real, não oferecem corte limpo.
O roteiro foi escrito pelo diretor em colaboração direta com seus protagonistas, os atores Itsaso Arana (“As Garotas do Fundão”) e Vito Sanz (“O Refúgio Atômico”), que interpretam Ale e Alex. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2024, recebeu o Prêmio Label Europa Cinemas.
🎞️ MILONGA
Estreia em longa-metragem de Laura González, documentarista e videoartista uruguaia que até então havia trabalhado principalmente com formatos curtos e experimentais, “Milonga” é um drama narrativo de ficção que herda a sensibilidade observacional do trabalho anterior. Protagonizado por Paulina García — premiada internacionalmente por sua performance em “Gloria” (2013) — o filme reconstrói a vida de Rosa, uma viúva que permanece presa às regras impostas por um marido que morreu há seis meses. O peso do passado violento continua presente em cada detalhe de sua rotina, sufocando-a com luto e marcas invisíveis do relacionamento abusivo. Sozinha, ela vê até a relação com o próprio filho se desmanchar, enquanto tenta se libertar de um cotidiano opressor construído anos a fio.
A entrada de Rosa no universo da milonga, a dança social portenha que mistura tango, valsa e polca, permite, aos poucos, que ela reconstrua sua identidade. O elenco também conta com Cesar Troncoso (“O Eternauta”) e Laila Reyes (“Mala Racha”).
🎞️ LUMIÈRE! A AVENTURA CONTINUA
Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes e do Instituto Lumière, apresenta uma seleção de 114 filmes dos irmãos Auguste e Louis Lumière, restaurados em 4K. O documentário francês dá sequência à coleção de 2016, trazendo obras-primas universalmente celebradas e descobertas raras previamente desconhecidas do catálogo que ultrapassa 1.400 títulos. Os filmes foram produzidos no final do século XIX e início do século XX, capturando imagens da França e do mundo no alvorecer da era moderna.
As imagens restauradas revelam que os elementos fundamentais do cinema já estavam presentes nos primeiros trabalhos dos Lumière: comédia, drama, atuação, rostos de crianças, travellings em barcos e panorâmicas em bondes. Frémaux narra a jornada pelo universo dos fundadores do cinema com paixão e humor, oferecendo uma perspectiva única sobre o nascimento da linguagem cinematográfica. O documentário funciona como uma celebração do legado dos irmãos Lumière, demonstrando como suas inovações técnicas e narrativas continuam a iluminar o cinema contemporâneo.