Brasileiro Adolpho Veloso entra na disputa pelo Oscar de Melhor Fotografia

Feito inédito para o cinema nacional

O anúncio da pré-lista do Oscar 2026 trouxe um marco histórico para o Brasil. Adolpho Veloso foi selecionado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas como um dos finalistas na categoria de Melhor Direção de Fotografia pelo filme “Sonhos de Trem”, tornando-se o primeiro brasileiro nato a disputar uma vaga nessa competição. Embora o país já tenha sido representado na cerimônia de 2004, quando “Cidade de Deus” recebeu uma indicação pela fotografia, o responsável pelo trabalho foi César Charlone, que é uruguaio radicado no Brasil.

Ascensão em Hollywood e reação do fotógrafo

“Sonhos de Trem” é o segundo trabalho de Adolpho Veloso em Hollywood. O cinematógrafo de “Tungstênio” (2018) e “Rodantes” (2021) estreou nos EUA com “Jockey” (2021), o filme anterior e estreia do diretor Clint Bentley. Veloso comentou a improbabilidade de estar nessa posição tão cedo em sua carreira internacional. “Quando você faz um longa, a última coisa que passa pela cabeça é ter seu nome cogitado para uma indicação ao Oscar, porque é algo muito distante para quem vem do Brasil”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo.

Os bastidores de “Sonhos de Trem”

O longa que colocou Veloso na rota da premiação é dirigido por Clint Bentley e distribuído pela Netflix. A trama, ambientada no oeste americano do início do século 20, acompanha Robert Grainier (papel de Joel Edgerton), um lenhador solitário que tenta sobreviver ao luto de uma tragédia familiar. Enquanto enfrenta sua dor pessoal, ele testemunha a transformação radical da paisagem ao seu redor com o avanço da industrialização e a chegada das ferrovias.

O longa foi filmado inteiramente com luz natural, câmera na mão e locações reais em 29 dias no meio de uma floresta na Costa do Pacífico. O resultado ganhou elogios de Clint Bentley. “Eu e Adolpho criamos esse estilo de filmar misturando momentos roteirizados e, de vez em quando, os jogando para o alto ao trazer atores estreantes e animais. Não teria feito esse filme sem Adolpho”, afirmou o cineasta, revelando que a única palavra que aprendeu em português durante as filmagens foi “gambiarra”, graças à engenhosidade de Veloso para resolver problemas no set. “Brasileiro tem muito recurso, sempre achamos soluções e não ficamos parados por causa de orçamentos ou problemas”, completou o fotógrafo.

h2>Parceria com M. Night Shyamalan

A nomeação representa um impulso extra em sua carreira internacional, que também contabiliza a minissérie britânica “Becoming Elizabeth” (2022) e o novo filme de M. Night Shyamalan (“Tempo”), com lançamento previsto para o próximo ano.

Shyamalan assistiu a uma cópia antecipada de “Sonhos de Trem” e contratou Veloso para fotografar “Remain” com câmeras VistaVision, um equipamento antigo e quase extinto que usa película 35mm na horizontal. Só restaram seis câmeras assim no mundo.

Brasil em recorde de pré-indicações

O reconhecimento de Veloso soma-se a um desempenho robusto do país na temporada 2026. O Brasil também aparece nas pré-listas de Melhor Filme Internacional e Melhor Direção de Elenco com “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho; de Melhor Documentário com “Apocalipse nos Trópicos” e a coprodução “Yanuni”; e de Melhor Curta Live-Action com “Amarela”, de André Hayato Saito.