
Divulgação/Gaumont
Morre Tchéky Karyo, astro francês de “The Missing” e “Nikita”, aos 72 anos
Ator turco-francês lutava contra o câncer e ficou conhecido por papéis marcantes no cinema de ação, além de ter estrelado o filme brasileiro "A Grande Arte", de Walter Salles
Presença marcante no cinema e na TV
O ator Tchéky Karyo, que se especializou em vilões de filmes de ação, morreu aos 72 anos após uma batalha contra o câncer. Nascido na Turquia e naturalizado francês, Karyo teve uma carreira de mais de quatro décadas com papéis marcantes no cinema europeu e em Hollywood.
Infância difícil e início no teatro
Karyo nasceu em 4 de outubro de 1953, em Istambul, filho de um pedreiro turco. Cresceu em Paris e enfrentou uma juventude conturbada. Quando seus pais se separaram, aos 13 anos, foi expulso de casa pela mãe. “Ela me pôs para fora”, relembrou em entrevista de 2014. “Foi terrível. Meu mundo estava desmoronando.”
Com o sonho de se tornar o “Laurence Olivier francês”, estudou no Théâtre National de Strasbourg, onde iniciou a carreira como ator. Seu primeiro destaque no cinema veio com “La Balance” (1982), em que interpretou um capanga instável — papel que lhe rendeu o César de Revelação Masculina.
Ascensão no cinema francês
Nos anos seguintes, Karyo trabalhou com alguns dos principais nomes do cinema francês, atuando em títulos como “Toda uma Noite” (1982), de Chantal Akerman, “O Marginal” (1984), de Jacques Deray, “Noite de Lua Cheia” (1984), de Éric Rohmer, “A Revolta do Amor” (1985), de Andrzej Zulawski e “O Urso” (1988), de Jean-Jacques Annaud.
Sua explosão comercial veio com “Nikita: Criada para Matar” (La Femme Nikita, 1989), de Luc Besson, no qual viveu o agente “Tio Bob”, responsável pelas missões da assassina profissional vivida por Anne Parillaud. O thriller de ação se tornou um grande sucesso mundial, sendo copiado até hoje, e projetou o ator além da França.
Do Brasil a Hollywood
O primeiro trabalho internacional, por curiosidade, foi no cinema brasileiro. Em 1992, estrelou “A Grande Arte”, dirigido por Walter Salles. Na adaptação do romance de Rubem Fonseca, viveu o assassino profissional Mandrake, um francês envolvido com o submundo do crime no Rio de Janeiro e mestre em lutas com facas. O papel destacou sua versatilidade e presença física, abrindo caminho para outros personagens do gênero.
Em seguida, foi viver vilões hollywoodianos. Em 1995, interpretou o traficante Fouchet no primeiro “Os Bad Boys” e o ministro da Defesa russo Dmitri Mishkin em “007 Contra GoldenEye”, o primeiro filme de James Bond estrelado por Pierce Brosnan. Também enfrentou a ira de Matthew Broderick e Meg Ryan, como o restaurateur francês Anton, alvo de um plano de vingança na comédia romântica “A Lente do Amor” (1997).
Outros papéis de destaque incluem o marinheiro Martín Alonso Pinzón em “1492 – A Conquista do Paraíso” (1992), de Ridley Scott, e o major francês Jean Villeneuve em “O Patriota” (2000), ao lado de Mel Gibson. Foi ainda o grande vilão de “O Beijo do Dragão” (2001), enfrentando Jet Li numa produção internacional de Luc Besson, e um cientista heroico em “O Núcleo: Missão ao Centro da Terra” (2003), superprodução apocalíptica de Hollywood numa missão para salvar o mundo.
A volta à França
Karyo voltou à França para atuar em produções de grande orçamento, como “Joana D’Arc” (1999), repetindo a parceria com Luc Besson, e “Eterno Amor” (2004), de Jean-Pierre Jeunet, no papel de um detetive em busca de um soldado desaparecido da 1ª Guerra Mundial.
Após os primeiros anos como vilão, seus personagens mudaram radicalmente no século 21. Um dos exemplos mais marcantes foi sua participação na franquia juvenil “Belle e Sebastian” como o pastor que cria o menino Sebastian durante a 2ª Guerra Mundial. A adaptação do clássico literário de Cécile Aubry, publicado em 1965, rendeu três filmes entre 2013 e 2017.
Julien Baptiste, o papel mais popular
Seu papel mais popular, entretanto, foi numa série televisiva. Karyo alcançou reconhecimento mundial como o detetive Julien Baptiste em duas temporadas de “The Missing”, produção britânica falada em inglês e ambientada em Amsterdã. Após a busca por duas crianças desaparecidas na série, o ator passou a estrelar o spin-off “Baptiste” (2019), adorando se ver como o mocinho da história em vez do antagonista.
“Para mim, é um presente, um privilégio voltar, especialmente quando se percebe o quanto [Baptiste é amado] pelo público. É como um grande abraço, e fico feliz em retribuir sempre que sou chamado”, disse o ator em entrevista sobre o personagem.
Legado e trabalho musical
Além da atuação, Tchéky Karyo era músico e compositor. Lançou os álbuns “Ce lien qui nous unit” (2006) e “Credo” (2013), com repertório autoral.
Sua morte encerra uma trajetória marcada por personagens intensos, presença carismática e versatilidade que o tornaram um dos astros franceses mais populares em produções internacionais.