
Divulgação/Knopf
Morre Tom Stoppard, roteirista de “Shakespeare Apaixonado”, aos 88 anos
Dramaturgo venceu o Oscar por filme que desbancou "Central do Brasil" e foi premiado com cinco Tony Awards
Adeus a um gigante do teatro e cinema
O dramaturgo e roteirista Tom Stoppard morreu neste sábado (29/11), aos 88 anos, de forma pacífica e por causas naturais, segundo comunicado de seus agentes. Ele venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original por “Shakespeare Apaixonado” (1998), filme que se tornou polêmico no Brasil por também render o Oscar de Melhor Atriz para Gwyneth Paltrow sobre o desempenho de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”.
“Ele será lembrado por seus trabalhos, por seu brilhantismo e pela sua humanidade, além de sua sagacidade, sua irreverência, sua generosidade de espírito e seu amor profundo pela língua inglesa”, declararam os representantes do autor. O músico Mick Jagger também prestou homenagem nas redes sociais, chamando Stoppard de seu “dramaturgo favorito” e destacando seu legado “intelectual e divertido”.
Carreira premiada no palco e nas telas
Além da estatueta da Academia, Stoppard acumulou cinco Tony Awards, o prêmio máximo do teatro norte-americano, com obras como “Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos” (1966), “A Invenção do Amor” (1997) e “Leopoldstadt” (2020).
No cinema, seu currículo inclui colaborações de peso. Ele também foi indicado ao Oscar pelo roteiro de “Brazil – O Filme” (1985) e trabalhou nos textos de clássicos de Steven Spielberg e George Lucas como “Império do Sol” (1987), “Indiana Jones e a Última Cruzada” (1989) e “Star Wars – Episódio 3: A Vingança dos Sith” (2005). Mais recentemente, adaptou “Anna Karenina” (2012) para as telonas e a minissérie “Parade’s End” (2012) para a HBO.
Trajetória marcada por fuga do nazismo
Nascido na antiga Tchecoslováquia em 1937, Stoppard tinha origem judaica e fugiu da ocupação nazista com a família, vivendo na Índia antes de se estabelecer no Reino Unido após a 2ª Guerra Mundial. Sua projeção artística começou em 1966, com “Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos” no Festival de Edimburgo, peça que o tornou um dos nomes centrais do teatro britânico contemporâneo.
Único trabalho como diretor virou cult
Em 1990, ele dirigiu seu único filme, justamente uma adaptação de “Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos”. A comédia dramática existencialista que subverte a tragédia de “Hamlet”, de William Shakespeare, foca em dois personagens secundários da peça original, Rosencrantz (vivido por Gary Oldman) e Guildenstern (Tim Roth), transformando-os em protagonistas perdidos em um mundo que não compreendem. Enquanto a história principal de Hamlet acontece nos bastidores, a dupla passa o tempo debatendo filosofia, destino e a própria existência, sem perceber que caminha para um final trágico já escrito.
O esforço foi reconhecido internacionalmente: o filme venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1990, um feito raro para um diretor estreante. Apesar do sucesso crítico e do status de “cult” que a obra adquiriu ao longo dos anos, Stoppard nunca mais voltou a dirigir, preferindo dedicar-se exclusivamente à escrita para o teatro e o cinema. Mas a obra o levou a ser convidado a escrever uma fantasia romântica inédita sobre Shakespeare, “Shakespeare Apaixonado”, que lhe rendeu o Oscar oito anos depois.
Em 1997, recebeu o título de cavaleiro do Império Britânico e, em 2008, visitou o Brasil como destaque da Flip, em Paraty.