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“Onde está Miguel?”: Cineasta brasileiro desaparece após ação de Israel contra missão humanitária
Família de Miguel Viveiros de Castro cobra informações sobre paradeiro após flotilha com ativistas ser interceptada em Gaza
Família não tem informações oficiais
O cineasta brasileiro Miguel Viveiros de Castro está desaparecido desde a interceptação da flotilha Global Sumud por forças israelenses na noite de quarta (1/10). Ele estava a bordo do barco Catalina, que seguia rumo a Gaza, e desde então não fez mais contato com familiares nem com a delegação brasileira.
Vídeos antes do sumiço
Horas antes de desaparecer, Miguel enviou à família vídeos que mostravam o clima de tensão diante da aproximação de embarcações israelenses. Em um deles, gravado por volta das 23h da noite de quarta, disse em tom de alerta: “Estão se aproximando, a qualquer momento a gente vai jogar os telefones na água. Então… tá começando”.
Na mesma noite, ele já havia registrado ataques com jatos de água contra os barcos da flotilha. Desde então, a comunicação foi interrompida após o bloqueio de câmeras e rastreadores, e o paradeiro do cineasta permanece desconhecido.
Em outro vídeo enviado à tarde, Miguel descreveu que já tinham ocorrido ataques à flotilha e admitiu o risco de sequestro. “Vai começar a noite daqui a pouco e vem o momento mais perigoso. Eu espero amanhã poder dar um novo informe dizendo que tá tudo bem, gravando nas praias de Gaza. Se isso não acontecer, provavelmente, a gente foi sequestrado e tá preso em Israel esperando deportação.”
“Onde está Miguel?”
A família afirma que não recebeu informações oficiais sobre o paradeiro do cineasta. Marta Viveiros de Castro, madrasta de Miguel, disse que o nome dele aparece apenas como “provável interceptado” nas listas enviadas às famílias. “Eu só quero saber onde está o Miguel. Como ele pode desaparecer assim?”, questionou.
Os parentes tinham combinado um protocolo com o cineasta antes do embarque: em caso de abordagem, ele deveria ligar a cada dez minutos, usar uma palavra secreta e jogar o celular no mar. “Nada disso aconteceu. E agora estamos muito preocupados”, relatou.
Cobrança por atuação do governo
Em carta enviada às autoridades brasileiras, Marta exigiu ações mais firmes. “Não existe ‘possivelmente’: ou foi interceptado ou não foi. E tudo indica que sim, porque Miguel mantinha o contato com disciplina absoluta até o momento em que desapareceu.”
Ela destacou que cada hora sem notícias aumenta a angústia: “Miguel não é número, não é abstração. É uma vida, é um brasileiro desaparecido em meio a uma operação que ataca não apenas Gaza, mas também aqueles que ousam romper o cerco e levar ajuda humanitária”.
Há mais desaparecidos?
Segundo o Itamaraty, diplomatas brasileiros devem visitar nesta sexta (3/10) os ativistas confirmados como detidos por Israel, entre eles a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), a vereadora Mariana Conti (PSOL-Campinas), a presidente do PSOL no Rio Grande do Sul, Gabi Tolotti, e o ativista Thiago Ávila. Ao todo, 12 brasileiros tiveram a prisão confirmada.
Além de Miguel Viveiros de Castro, o ativista João Aguiar, que estava em outro barco da missão, também segue sem paradeiro conhecido. A delegação brasileira declarou ter perdido contato com ambos depois que embarcações foram atingidas por jatos d’água, danificando os sistemas de comunicação.
Reações internacionais
Israel iniciou audiências para deportações e ordens de prisão no porto de Ashdod. O Itamaraty condenou a ação militar, afirmando que ela “viola direitos e põe em risco a integridade física de manifestantes em ação pacífica”.
Além do Brasil, Espanha, Reino Unido, Itália, Austrália e África do Sul também protestaram contra a interceptação. A flotilha incluía ainda nomes internacionais como a ativista sueca Greta Thunberg, a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan e a ex-prefeita de Barcelona Ada Colau.
Segundo os ativistas, o objetivo da missão era “romper o bloqueio a Gaza” e fornecer “ajuda humanitária a uma população sitiada, que enfrenta fome e genocídio”.