Divulgação/Universal
“O Telefone Preto 2” é principal estreia de cinema da semana
Continuação de terror domina o circuito, que também recebe duas histórias de assalto, "O Bom Bandido" e "The Mastermind", entre animações, produções nacionais e relançamentos
A continuação do terror “O Telefone Preto”, sucesso do gênero lançado em 2022, ocupa a maior parte das telas de cinema desta quinta (15/10). O circuito ainda destaca três filmes em inglês focados em criminosos simpáticos – dois assaltantes e um serial killer. Confira o que mais entra em cartaz.
🎞️ O TELEFONE PRETO 2
Scott Derrickson retorna à direção desta sequência do fenômeno de terror de 2022, que arrecadou mais de US$ 160 milhões mundialmente. Ambientado quatro anos após os eventos do primeiro filme, o enredo encontra o sobrevivente Finney Blake (Mason Thames) aos 17 anos, ainda lidando com traumas de seu cativeiro, enquanto sua irmã Gwen (Madeleine McGraw) começa a receber ligações em sonhos do telefone preto e a ter visões perturbadoras de três garotos sendo perseguidos em um acampamento de inverno chamado Alpine Lake. Ethan Hawke também retorna como o Sequestrador, apesar da morte do vilão no filme anterior.
O longa retoma os personagens criados por Joe Hill, filho de Stephen King, e explora a volta do assassino mascarado, que sequestrava crianças e as mantinha em cativeiro num porão. A sequência assume uma atmosfera inspirada em clássicos do terror dos anos 1980, evocando referências de “A Hora do Pesadelo” e “Sexta-Feira 13”. O Sequestrador é agora praticamente um Freddie Krueger, que usa sonhos para atacar. A diferença etária dos personagens também impacta o tom, resultando num filme mais violento e gráfico por conta da idade maior dos protagonistas, enquanto introduz novos elementos sobrenaturais à mitologia estabelecida para explorar as consequências psicológicas duradouras do trauma.
🎞️ O BOM BANDIDO
Derek Cianfrance (“O Lugar onde Tudo Termina”) retorna à direção após nove anos com uma comédia criminal baseada na história real de Jeffrey Manchester, ex-soldado que se tornou conhecido como “Roofman” por roubar mais de 60 restaurantes McDonald’s através de buracos cortados nos telhados. Channing Tatum (“Deadpool vs. Wolverine”) interpreta este homem que, após escapar da prisão, viveu secretamente por seis meses dentro de uma loja Toys”R”Us, desenvolvendo um relacionamento com Leigh (Kirsten Dunst), uma mãe solteira que trabalha no local.
A produção contou com filmagens em locações na Carolina do Norte, com Cianfrance optando por filmar em 35mm para capturar a autenticidade dos anos 1990. O diretor de “Blue Valentine” trouxe sua abordagem característica de realismo emocional, criando um ambiente imersivo que chegou ao ponto de importar uma quantidade significativa de brinquedos para recriar fielmente a atmosfera de uma loja de brinquedos da época. O true crime teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto em setembro, recebendo ovação de cinco minutos e aprovação de 83% da crítica norte-americana.
Cianfrance desenvolveu o roteiro em colaboração com Kirt Gunn (“O Som do Silêncio”), mantendo contato direto com Manchester, que está preso desde o incidente e tem previsão de liberdade somente para 2036. Peter Dinklage (“Game of Thrones”), Ben Mendelsohn (“Andor”) e Juno Temple (“Ted Lasso”) completam o elenco.
🎞️ THE MASTERMIND
Kelly Reichardt, conhecida por “First Cow”, “Wendy e Lucy” e “Certas Mulheres”, aplica seu estilo minimalista característico ao true crime, assinando um filme de assalto inspirado no roubo de 1972 ao Worcester Art Museum em Massachusetts. A trama acompanha James Blaine Mooney, um homem da classe média dos anos 1970 que, do nada, passa a planejar o roubo de quatro pinturas valiosas de Arthur Dove em um museu local pouco vigiado. Mooney, que nunca havia cometido crime antes, vive uma crise pessoal e familiar, sentindo-se fracassado apesar do ambiente de privilégios em que foi criado. O filme mostra seu isolamento emocional, dificuldades de relacionamento com a esposa e a tensão com amigos e familiares durante a crise.
A cineasta mistura elementos de thriller com drama psicológico, conduzindo o espectador por uma narrativa pausada, que passa longe do típico filme de assalto com ação e reviravoltas. Em vez disso, a obra assume caráter introspectivo e existencial sobre o colapso de um homem comum enfrentando suas próprias limitações e contradições. Com Josh O’Connor (“Rivais”) no papel de Mooney e a cantora Alana Haim (“Licorice Pizza”) como sua esposa, o longa teve sua estreia mundial na competição principal do Festival de Cannes 2025, onde recebeu aplausos por mais de cinco minutos para em seguida conquistar 88% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes.
🎞️ CONSELHOS DE UM SERIAL KILLER APOSENTADO
O diretor turco Tolga Karaçelik (“Entre Irmãos”) estreia na língua inglesa com esta comédia dramática estrelada por Steve Buscemi (“Wandinha”), John Magaro (“Amores Materialistas”) e Britt Lower (“Ruptura”), que também atuam como produtores. A trama acompanha Keane (Magaro), escritor em crise criativa e matrimonial que encontra em um restaurante Kollmick (Buscemi), um serial killer aposentado que se torna simultaneamente seu conselheiro matrimonial e consultor para seu próximo livro. A premissa absurda ganha contornos de dark comedy quando Kollmick passa a oferecer conselhos tanto para salvar o casamento de Keane quanto para criar um thriller convincente.
O filme explora com humor ácido temas como crise da meia-idade, relacionamentos em colapso e a busca desesperada por inspiração artística. Magaro constrói um personagem neurótico e inseguro, enquanto Buscemi utiliza seu carisma peculiar para criar um assassino em série paradoxalmente prestativo. Britt Lower completa o triângulo como Suzie, esposa exasperada que inadvertidamente acelera a crise conjugal. A abordagem não convencional do thriller psicológico ficou em segundo lugar no prêmio do público do Festival de Tribeca do ano passado.
🎞️ ENTRE PENAS E BICADAS
A animação chinesa é dirigida por Nigel W. Tierney, animador veterano de “Shrek Para Sempre” e “Kung Fu Panda 3”, em parceria com Dong Long. A trama acompanha Pena Dourada, uma jovem águia criada por uma família de galinhas após perder os pais em um acidente. O protagonista, incapaz de voar segundo sua educação no galinheiro, embarca em uma jornada de autodescoberta rumo à Bird City ao lado de sua irmã adotiva Catraca.
A narrativa explora o clássico conflito entre natureza e criação, com Pena Dourada descobrindo suas origens nobres e se envolvendo em uma conspiração que ameaça tanto sua nova família quanto sua comunidade de origem. O roteiro desenvolve temas de identidade e pertencimento através da tradicional estrutura de jornada do herói. A versão em inglês conta com dublagem de David Henrie (“Os Feiticeiros de Waverly Place”) no papel principal.
🎞️ DETETIVE CONAN: O PENTAGRAMA DE MILHÕES DE DÓLARES
O 27º filme da longeva franquia “Detective Conan” se passa em Hakodate, região de Hokkaido, onde o lendário ladrão Kaito Kid anuncia o roubo de uma valiosa espada japonesa, despertando a curiosidade de Conan sobre os motivos por trás do interesse em armas brancas históricas em vez de joias preciosas. Simultaneamente, a descoberta de um corpo com uma cruz marcada no peito leva à investigação do “Mercador da Morte”, um traficante de armas de origem japonesa-americana.
O anime se desenvolve como um mistério de caça ao tesouro, envolvendo segredos familiares e artefatos históricos ligados ao período Edo. O roteiro de Takahiro Ôkura (“Detetive Conan: O Punho da Safira Azul”), baseado no mangá de Gosho Aoyama, utiliza o simbolismo do pentagrama para conectar pistas que levam tanto Conan quanto seu parceiro Heiji Hattori em uma batalha por tesouros perdidos. Com direção de Chika Nagaoka, primeira mulher a dirigir um longa da franquia, que retorna após o sucesso de “Detetive Conan: O Punho da Safira Azul” (2019), a produção mantém os elementos característicos da série: dedução lógica, perseguições intensas e a dinâmica entre os personagens principais, além do visual tradicional.
Apesar da premissa familiar e da direção competente, a animação enfrenta limitações técnicas e uma narrativa previsível.
🎞️ EU E MEU AVÔ NIHONJIN
Célia Catunda, criadora de sucessos como “Peixonauta” e “O Show da Luna!”, estreia na direção de longas-metragens com esta animação brasileira baseada no romance “Nihonjin” de Oscar Nakasato, vencedor do Prêmio Jabuti de 2012. A produção da Pinguim Content e H2O Films narra a história de Noboru, menino de 10 anos descendente de imigrantes japoneses que recorre ao avô Hideo para desvendar a história familiar. O projeto surge em momento especial, coincidindo com os 130 anos do Tratado de Amizade entre Brasil e Japão em 2025.
A animação emprega técnicas de desenho à mão inspiradas na arte japonesa tradicional, com cenários baseados na obra do renomado artista Oscar Oiwa. Rita Catunda assina o roteiro que explora temas de identidade, ancestralidade e encontro entre culturas através da relação entre avô e neto. A trilha sonora de André Abujamra e Márcio Nigro acompanha a narrativa sobre imigração japonesa no Brasil do século 20, com vozes de Ken Kaneko e Pietro Takeda no elenco principal.
🎞️ NÓ
Laís Melo estreia na direção de longas-metragens com este drama brasileiro protagonizado por Antonia Saravy (“5x Comédia”), que também coassina o roteiro ao lado da diretora. A história acompanha Glória, mulher que, após se separar, muda-se com as três filhas para um prédio no centro de Curitiba, enfrentando simultaneamente ameaças do ex-marido pela guarda das crianças e uma disputa profissional por vaga de supervisora com sua melhor amiga Magali (Sali Cimi) na fábrica onde ambas trabalham.
“Nó” se destaca pela autenticidade de sua abordagem sobre a condição feminina na periferia urbana brasileira. Melo, que possui experiência em direção de arte e curtas-metragens premiados, demonstra maturidade narrativa ao equilibrar dureza temática com momentos de leveza e humor. O roteiro explora com visceralidade questões de classe trabalhadora, violência doméstica e sororidade, construindo um retrato realista dos dilemas enfrentados por mulheres em situação de vulnerabilidade social, e conquistou reconhecimento no 53º Festival de Gramado, vencendo três Kikitos: Prêmio da Crítica, Melhor Direção para Laís Melo e Melhor Fotografia para Renata Corrêa.
🎞️ A PALAVRA
Guilherme de Almeida Prado retorna ao cinema após 11 anos com este drama religioso, que transporta para o sertão nordestino contemporâneo a história bíblica dos profetas Elias e Eliseu. A produção marca uma mudança temática radical na filmografia do diretor de “A Dama do Cine Shanghai” e “Perfume de Gardênia”, conhecidos pelo diálogo com o cinema noir e metalinguagem.
Tuca Andrada (“Amor de Mãe”) interpreta Elias, homem misterioso que supostamente realiza milagres na região árida de Pernambuco, enquanto Regina Remencius (“O Escaravelho do Diabo”) vive Jezebel Carmelo, jornalista cética da TV Baal que parte para investigar e desmascarar o suposto “milagreiro”. A narrativa contrapõe fé versus ceticismo em um contexto brasileiro, usando as vastas paisagens sertanejas como pano de fundo para conectar a narrativa bíblica com problemas contemporâneos como a indústria da seca e corrupção política.
🎞️ O ÚLTIMO RODEIO
Jon Avnet, veterano diretor de “Tomates Verdes Fritos” e “88 Minutos”, retorna ao cinema com um drama de inspiração cristã estrelado por Neal McDonough (“Arrow”), que também coescreveu o roteiro e atua como produtor. A história acompanha Joe Wainwright, ex-campeão mundial de montaria em touros que arriscou tudo para custear uma cirurgia cerebral cara para seu neto Cody (Graham Harvey). Forçado a voltar às arenas como o competidor mais velho da história em uma competição da Professional Bull Riders com prêmio de 750 mil dólares, Joe deve superar trauma pessoal de uma lesão no pescoço sofrida anos antes.
A produção utiliza locações autênticas no interior de Oklahoma para retratar o universo dos rodeios americanos, apostando na atmosfera realista ao invés de grandes efeitos visuais. O roteiro combina elementos de drama esportivo com reflexões sobre fé, perdão, redenção familiar, segunda chances e superação de limitações físicas e emocionais.
🎞️ UMA MULHER DIFERENTE
A comédia romântica francesa traz Jehnny Beth (“Anatomia de uma Queda”) como Katia Rousseau, documentarista de 35 anos cuja vida amorosa é um constante caos, até que sua participação em um novo projeto profissional a leva a compreender e nomear suas diferenças pessoais. A narrativa aborda com delicadeza questões de neurodivergência e autoaceitação, sendo comparada pela imprensa francesa à franquia “Bridget Jones” pelo tom agridoce e humanista.
A diretora Lola Doillon (“A Viagem de Fanny”) explora com respeito e sensibilidade o universo autista, construindo uma história contemporânea sobre identidade e relacionamentos para mostrar como o autoconhecimento pode transformar a percepção das relações interpessoais. Thibaut Evrard (“Borgia”) e Mireille Perrier (“Os Filhos dos Outros”) completam o elenco principal da produção, que equilibra humor e introspecção.
🎞️ O RETRATO DE NORAH
O drama saudita é a primeira produção filmada inteiramente na região histórica de Al Ula. A ação se passa em uma aldeia remota da Arábia Saudita nos anos 1990, período em que expressões artísticas eram proibidas no reino. A história foca o encontro entre Nader (Yagoub Alfarhan), um professor recém-chegado que mantém em segredo sua paixão pela arte, e Norah (Maria Bahrawi), uma jovem local que reacende sua criatividade.
Com uma cinematografia que valoriza a beleza árida e contemplativa da paisagem, o diretor estreante Tawfik Alzaidi constrói uma narrativa delicada sobre arte, liberdade e transformação pessoal. A produção representa não apenas um avanço técnico e narrativo do cinema saudita, mas também uma reflexão sobre o período de repressão cultural no país e a resistência através da criação artística. Exibido na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes 2024, o filme recebeu uma menção especial.
🎞️ INCÊNDIOS
O aclamado drama de Denis Villeneuve ganha relançamento em 4K, celebrando os 15 anos de seu lançamento original. Baseado na peça teatral de Wajdi Mouawad, o filme acompanha os gêmeos Simon e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin), que descobrem através do testamento de sua mãe Nawal (Lubna Azabal) a existência de um irmão desconhecido e que o pai, presumidamente morto, está vivo. A narrativa se desenvolve através de flashbacks que revelam gradualmente o passado traumático de Nawal no Oriente Médio, onde viveu os horrores de uma guerra civil não identificada.
Villeneuve constrói uma estrutura narrativa complexa que entrelaça presente e passado, explorando temas universais como guerra, identidade e segredos familiares. A produção franco-canadense foi indicada ao Oscar de Melhor Filme Internacional e conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2010, consolidando a reputação internacional do diretor que posteriormente dirigiria “A Chegada”, “Blade Runner 2049” e “Duna”. Lubna Azabal oferece uma performance visceral como Nawal, construindo um dos retratos mais complexos do cinema contemporâneo sobre trauma e resistência.
“Incêndios” permanece como uma das obras mais poderosas sobre as consequências duradouras de conflitos armados e a transmissão intergeracional de traumas. O relançamento em 4K permite redescobrir a cinematografia de André Turpin, que captura tanto a aridez das paisagens do Oriente Médio quanto a frieza urbana do Canadá. A remasterização digital evidencia a maestria técnica de Villeneuve na construção de uma narrativa que equilibra crueldade histórica com humanidade essencial.
🎞️ O MÁGICO DE OZ
A Warner relança o clássico de 1939 dirigido por Victor Fleming, celebrando 86 anos de uma das produções mais influentes da história do cinema. Baseado na obra literária de L. Frank Baum, o filme acompanha Dorothy (Judy Garland) e seu cão Totó, transportados por um tornado do Kansas para a mágica Terra de Oz, onde buscam o Mágico (Frank Morgan) a fim de retornar para casa. Ao lado do Espantalho (Ray Bolger), Homem de Lata (Jack Haley) e Leão Covarde (Bert Lahr), Dorothy enfrenta a Bruxa Malvada do Oeste (Margaret Hamilton) em uma jornada que se tornou sinônimo de fantasia cinematográfica.
A produção da Metro-Goldwyn-Mayer revolucionou o uso de Technicolor, contrastando as sequências em sépia no Kansas com a explosão de cores em Oz. O filme consolidou Judy Garland como estrela e eternizou a icônica “Over the Rainbow”, que se tornou uma das canções mais reconhecidas do cinema mundial. Fleming dirigiu a maior parte da produção, deixando-a temporariamente para finalizar “E o Vento Levou”, outro marco de 1939.
O filme enfrentou desafios de produção significativos, incluindo acidentes com o elenco e uso de materiais perigosos na maquiagem, elementos que se tornaram parte da mitologia em torno da obra, que transcendeu gerações através de exibições televisivas e segue sendo referenciada até hoje, como nas recentes adaptações do musical “Wicked” – contraponto à história de Elphaba, a Bruxa Malvada do Oeste.
