
Divulgação/MTV Brasil
Morte anunciada: MTV Brasil chega ao fim após 35 anos de história
Paramount encerra o canal no Brasil e põe fim à marca que moldou a linguagem da juventude e lançou nomes que redefiniram o humor na TV
O fim da MTV Brasil
A MTV Brasil deixará de existir em 31 de dezembro de 2025, quando a Paramount encerrará a distribuição de todos os seus canais lineares no país. A decisão encerra definitivamente uma trajetória iniciada em 20 de outubro de 1990, quando o canal estreou em sinal aberto como um projeto do Grupo Abril em parceria com a norte-americana MTV Networks.
Legado de 35 anos de história
Quase 35 anos depois de seu lançamento, a marca que simbolizou a juventude dos anos 1990 e 2000 dá adeus a uma geração de espectadores que aprenderam a consumir música, humor e comportamento sob o mesmo sinal. Além do público, a emissora também formou apresentadores e lançou humoristas que redefiniram a paisagem televisiva no país.
Da revolução ao formato mundial
A MTV Brasil foi pioneira. Foi a primeira MTV do mundo em sinal aberto e se tornou referência global pela forma como adaptou a estética do videoclipe à televisão tradicional. Seu primeiro clipe exibido — “Garota de Ipanema”, na voz de Marina Lima — marcou a transição entre a MPB e o novo modelo audiovisual da cultura pop.
O canal inovou na linguagem, nas vinhetas, na interatividade e na liberdade criativa dos apresentadores — os VJs, que se tornaram ícones de uma geração. Astrid Fontenelle, Maria Paula, Zeca Camargo, Marina Person, Didi Wagner e Marcos Mion ajudaram a criar uma comunicação direta, com humor, improviso e irreverência.
Uma escola de talentos e o nascimento do humor moderno
Mais do que um canal musical, a MTV virou um laboratório de formato e linguagem televisiva. Foi lá que surgiu o humor de observação e improviso que mais tarde migraria para o mainstream — especialmente para a Globo, que absorveu boa parte de seus talentos.
O sucesso do programa “Comédia MTV” (2010–2012) consolidou nomes como Marcelo Adnet, Tatá Werneck, Dani Calabresa, Bento Ribeiro e Paulinho Serra, que mais tarde integrariam o elenco de humorísticos e novelas da emissora carioca.
A MTV também lançou debates e programas que quebraram tabus sobre sexo, política, identidade e comportamento, aproximando o público jovem de pautas sociais antes ausentes na televisão.
Primeira morte: o adeus do Grupo Abril
A primeira “morte” da MTV aconteceu em 2013, quando o Grupo Abril, então dono da operação brasileira, devolveu a marca à Viacom (atual Paramount) após sucessivos prejuízos e queda de audiência.
O canal saiu do sinal aberto e passou a operar apenas na TV paga. A transição coincidiu com o fim do ciclo musical: a era dos videoclipes na televisão foi engolida pela ascensão do YouTube, que transformou o consumo de música em uma experiência individual e sob demanda.
O declínio final e o domínio dos realities
Nos anos seguintes, a MTV perdeu espaço para os novos hábitos digitais. O canal, antes dedicado à curadoria musical, passou a investir em realities de relacionamento, como “De Férias com o Ex”, na tentativa de se manter relevante.
Mas a mudança de foco não impediu o desgaste. O público-alvo migrou para as redes sociais e o streaming, enquanto a marca se tornava um vestígio de sua própria história — símbolo de uma época em que a TV ainda ditava tendências culturais.
O legado de uma geração
Com o anúncio do encerramento de suas operações lineares em 2025, a MTV se despede definitivamente do público brasileiro. Seu espírito, no entanto, permanece em toda a comunicação audiovisual contemporânea — na estética dos videoclipes, na edição veloz da internet, na linguagem dos influenciadores e na naturalidade que seus ex-VJs levaram para a grande mídia.
A MTV Brasil deixa como legado uma revolução estética e cultural: o canal que ensinou o país a falar com os jovens da forma como os jovens realmente falavam.