
Divugalção/Soul Mates Records
Morre D’Angelo, pioneiro do neo soul e vencedor do Grammy, aos 51 anos
Cantor dos álbuns clássicos “Brown Sugar” e “VooDoo” lutava contra um câncer e deixa legado na história da música negra
Batalha contra o câncer
O cantor e compositor D’Angelo, vencedor do Grammy e referência do movimento neo soul dos anos 1990, morreu nesta terça-feira (14/10) aos 51 anos, após uma batalha contra o câncer. A notícia foi confirmada pela família do artista, em comunicado divulgado à imprensa.
O que disse a família?
“O astro da nossa família apagou sua luz para nós nesta vida”, disse a nota. “Após uma longa e corajosa luta contra o câncer, estamos de coração partido em anunciar que Michael D’Angelo Archer, conhecido por seus fãs ao redor do mundo como D’Angelo, partiu desta vida hoje, 14 de outubro de 2025.”
Carreira marcada por inovação e sucesso
Natural de Richmond, na Virgínia, D’Angelo começou a cantar ainda na infância e se destacou como produtor em 1994 com a faixa “U Will Know”, do coletivo Black Men United. No ano seguinte, lançou o álbum de estreia “Brown Sugar”, considerado um marco na consolidação do neo soul. O disco rendeu o sucesso “Lady”, alcançou o Top 10 da parada americana e ganhou certificado de platina.
Em 2000, o músico lançou “Voodoo”, que estreou no topo da Billboard 200 e venceu o Grammy de Melhor Álbum de R&B em 2001. O single “Untitled (How Does It Feel)” também foi premiado como Melhor Performance de R&B.
Entre os nomes com quem colaborou estão Erykah Badu, Questlove e Lauryn Hill — com quem dividiu o dueto “Nothing Even Matters”, do clássico “The Miseducation of Lauryn Hill”, indicado ao Grammy.
Hiato, retorno e novo reconhecimento
Após o sucesso de “Voodoo”, D’Angelo passou mais de uma década sem lançar material inédito. Em 2014, encerrou o período de reclusão com “Black Messiah”, álbum elogiado pela crítica que lhe rendeu mais dois Grammys — Melhor Álbum de R&B e Melhor Canção de R&B por “Really Love”. Seu trabalho mais recente foi “I Want You Forever”, parceria com Jay-Z para a trilha sonora da comédia bíblica “O Livro de Clarence” (2023).
Parcerias históricas
Além de Jay-Z, D’Angelo também trabalhou com diversos nomes importantes do rap e do R&B, incluindo Method Man, Raphael Saadiq, DJ Premier, Lauryn Hill, Erykah Badu, Common, Q-Tip, Rapsody, GZA e J Dilla. Muitas dessas parcerias foram lançamentos ligados à comunidade Soulquarians, um coletivo musical formado no fim dos anos 1990 por artistas que redefiniram o soul, o R&B e o hip-hop com sonoridade experimental e forte influência do jazz. O nome vem da junção de “soul” com “Aquarius”, já que vários membros eram do signo de Aquário.
O grupo nasceu no estúdio Electric Lady, em Nova York — fundado por Jimi Hendrix —, onde músicos e produtores se encontravam para gravar e colaborar de maneira informal. Entre seus integrantes centrais estavam D’Angelo, Questlove (do The Roots), J Dilla, Erykah Badu, Common, James Poyser e Bilal, além de contarem com colaborações de Q-Tip, Mos Def e Talib Kweli. Como curiosidade, a faixa “Ibtihaj”, parceria de Rapsody com D’Angelo e GZA, foi construída em cima de um sample de Jimi Hendrix.
O auge criativo dos Soulquarians ocorreu entre 1998 e 2002, quando produziram discos considerados clássicos, como “Voodoo” (de D’Angelo), “Mama’s Gun” (de Erykah Badu), “Like Water for Chocolate” (de Common) e “Things Fall Apart” (do The Roots). Esses álbuns ajudaram a definir o som do neo soul e marcaram uma geração de artistas influenciados por suas fusões de estilos e improvisações ao vivo.
Repercussão e homenagens
A gravadora RCA, responsável por distribuir “Black Messiah”, destacou em nota que o artista era “um visionário incomparável que misturava soul, funk, gospel, R&B e jazz com uma sensibilidade hip-hop”. O comunicado acrescenta: “D’Angelo lançou três álbuns amplamente celebrados como obras-primas pela comunidade musical e por seus fãs ao redor do mundo. Sua composição, musicalidade e estilo vocal inconfundível continuarão a inspirar gerações.”
Homenagens começaram a se multiplicar nas redes sociais. DJ Premier, que lançou um remix matador de “Lady”, escreveu no X: “Que perda triste com a partida de D’Angelo. Tivemos tantos bons momentos. Vou sentir muita falta. Descanse em paz, D’. Te amo, rei.”
O guitarrista Nile Rodgers (Chic) também lembrou o início da carreira do cantor: “Ele estava tentando descobrir o que fazer com a música que havia trazido. Ouvi cada faixa… era incrível. Um ano depois, escutei uma delas no rádio. Era genial, exatamente o que ele havia me mostrado. Ainda tenho a fita cassete original.”
Vida pessoal e legado
D’Angelo teve um relacionamento com a cantora Angie Stone, com quem coescreveu músicas de “Voodoo” e teve um filho. Ele deixa mais dois filhos. A família afirmou estar “eternamente grata pelo legado de músicas extraordinárias que ele deixa para o mundo”.