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Globo cancela documentário sobre “G Magazine”: “Sob censura”
Produção da Globoplay sobre a revista masculina que marcou os anos 1990 foi descartada após sua conclusão
Produção é suspensa antes da estreia
A Globo cancelou o lançamento de uma série documental sobre a “G Magazine”, que seria exibida no Globoplay e mostraria a trajetória da publicação responsável por revolucionar o mercado editorial brasileiro nos anos 1990 com ensaios de homens famosos nus. Em produção desde 2023, a série estava “quase pronta” e deveria ter estreado em agosto. A informação é do colunista Daniel Castro, do Notícias da TV.
Executivo alega “questões artísticas”
Segundo Manuel Belmar, principal executivo da Globoplay, a decisão se deu porque “a história não chegou onde a Globo queria”. Internamente, no entanto, a suspensão foi interpretada como um ato de censura para evitar desagradar o público mais conservador — hipótese negada oficialmente pela emissora.
A “G Magazine” circulou entre 1997 e 2013 e combinava reportagens com ensaios fotográficos de personalidades masculinas, entre elas Mateus Carrieri, Vampeta e Alexandre Frota. Imagens de Vampeta para a produção seguem populares até hoje, virando meme nas redes sociais e até adjetivo: “vampetaço”. Todos gravaram depoimentos para o documentário.
“Não era um documentário pornográfico”, diz criadora da revista
A jornalista Ana Maria Fadigas, criadora e editora-chefe da revista, também participou da produção e chegou a assistir a trechos editados. “Não era um documentário pornográfico. Era sobre a história da nudez masculina, a história da ‘G Magazine’, e isso não é pornográfico na minha concepção. E se tivesse nudez, era só esconder”, afirmou.
Pesquisa sobre conservadorismo coincidiu com cancelamento
Ana Maria contou ao Notícias da TV que soube do cancelamento pela própria reportagem do site. Ela havia recebido informações de que o projeto “entrou em observação, entre aspas, sob censura” após a Globo divulgar resultados da pesquisa Brasil no Espelho, conduzida pela Quaest. O levantamento, com quase 10 mil entrevistas, revelou um perfil majoritariamente religioso e conservador do público brasileiro — dados que passaram a orientar decisões de programação.
Reflexos no jornalismo e em outras produções
A pesquisa, apresentada no início do ano, foi tratada como um marco interno. De acordo com o material divulgado pela emissora, 96% dos entrevistados afirmaram acreditar em Deus, e a maioria se definiu politicamente como de centro ou centro-direita. As conclusões influenciaram diversos projetos, inclusive mudanças no jornalismo, como demissões na Globoplay e até, supostamente, a saída de William Bonner da bancada do “Jornal Nacional”, interpretada como tentativa de tornar o noticiário mais “palatável” a esse público.
Até “Vale o Escrito 2” pode ser cancelado
Durante entrevista coletiva sobre os dez anos do Globoplay, Belmar reforçou que o cancelamento do documentário faz parte da política editorial da plataforma. “A gente decidiu fazer, a história não chegou onde a gente queria, e a gente optou por cancelar”, disse. Ele citou ainda que a mesma lógica pode se aplicar à 2ª temporada de “Vale o Escrito”, série documental sobre o jogo do bicho no Rio de Janeiro, cuja continuidade ainda não está confirmada.
Após ser questionada pelo Notícias da TV sobre as suspeitas de mudança editorial, a Globo divulgou nota oficial: “Não é verdade que houve qualquer tipo de censura ao documentário. O cancelamento foi decidido exclusivamente por questões artísticas, como pode acontecer com qualquer produção encomendada para nossas plataformas. A história não chegou aonde imaginávamos e optamos por cancelar.”