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Divulgação/Mercury Records

Música|23 de outubro de 2025

Dave Ball, do duo Soft Cell, morre aos 66 anos em Londres

Músico britânico era responsável pela sonoridade eletrônica de hits como “Tainted Love” e “Say Hello, Wave Goodbye”


Pipoque pelo Texto ocultar
1 Pioneiro do synthpop morre em Londres
2 O criador do som eletrônico de “Tainted Love”
3 O início do Soft Cell
4 O sucesso comercial
5 A dificuldade de superar a estreia
6 A dance music do The Grid
7 Reencontro após décadas
8 Último disco inédito
9 Despedida de Marc Almond
10 Clipes do Soft Cell e The Grid

Pioneiro do synthpop morre em Londres

Dave Ball, integrante e cofundador do duo britânico Soft Cell, morreu aos 66 anos em sua casa, em Londres, enquanto dormia na noite de quarta (22/10). O músico sofria de complicações de saúde decorrentes de uma lesão nas costas.

O criador do som eletrônico de “Tainted Love”

Ball foi responsável pela base instrumental de sucessos que marcaram os anos 1980, incluindo “Tainted Love”, versão do hit de Gloria Jones que vendeu cerca de 21 milhões de cópias no mundo, popularizando o então nascente estilo musical synthpop. Soft Cell ajudou a legitimar as bases eletrônicos como instrumentos principais em canções pop, fazendo com o que o novo padrão criado por sintetizador e bateria eletrônica se tornasse febre e substituísse as gravações tradicionais de baixo, guitarra e bateria na música pop.

O início do Soft Cell

O músico e o cantor Marc Almond se conheceram quando ambos estudavam arte na faculdade Leeds Polytechnic, no final da década de 1970. Almond vinha de uma formação mais ligada à performance, à música soul e à cena noturna gay, enquanto Ball trazia fascínio por sintetizadores e pela música eletrônica de vanguarda.

Eles se juntaram logo depois do punk abrir portas para rupturas sonoras e estéticas, com a proposta de que rock era atitude e não destreza musical. O movimento pós-punk levou aos instrumentos eletrônicos, máquinas de ritmo e sintetizadores, que eram mais fáceis de aprender e tocar que os instrumentos tradicionais. Sintetizadores também cabiam em palcos menores, como era a cena underground da época, pois dispensavam kits de bateria e banda numerosa. Além disso, o krautrock começava a mostrar as possibilidades da música eletrônica, especialmente o grupo Kraftwerk, tornando-se influência vital para a geração do Soft Cell. Ball realmente se interessou por sintetizadores após ver o grupo alemão em um programa da BBC.

Na época dos primeiros shows, a utilização quase exclusiva de eletrônica era exceção, o que possibilitou que Soft Cell chamasse atenção. A gravação do EP independente “Mutant Moments” (1980) com recursos mínimos demonstrou sua capacidade de experimentar com equipamentos simples. Juntou-se a isso a voz e a performance sensual de Almond. Suas letras e imagem abordavam sexualidade, vida urbana, clubes, hedonismo, cultura LGBTQIA+ — temas que não eram usuais no topo das paradas pop até então.

O sucesso comercial

Um pouco antes do Soft Cell, bandas como Tubeway Army (de Gary Numan), The Human League e OMD (Orquestral Maneuvres in the Dark) já tinham começado a explorar o synthpop. Mas foi a explosão do single “Tainted Love” em 1981 que permitiu que aquele novo som ultrapassasse os limites da cena underground e entrasse no circuito comercial, sem abandonar nenhum milímetro de seu caráter inovador e provocativo. “Tainted Love” foi o primeiro hit de uma banda de synthpop – logo após a faixa solo “Cars”, de Gary Numan – a ocupar o topo da parada de sucessos do Reino Unido.

Além do grande hit, faixas como “Say Hello, Wave Goodbye” e “Bedsitter” ajudaram o álbum de estreia da dupla, “Non-Stop Erotic Cabaret” (1981), a consolidar o Soft Cell como uma das primeiras bandas de synth-pop a alcançar o grande público, abrindo caminho para a popularização da música eletrônica no pop britânico.

O sucesso do Soft Cell ajudou a quebrar a barreira entre música de clube/underground e pop de massa, mostrando que era possível combinar estética eletrônica, letras ambíguas e transgressoras com apelo comercial. O resultado foi uma revolução musical, seguida por artistas como Eurythmics, Pet Shop Boys e Erasure, e que segue influente até hoje – veja-se artistas contemporâneos como Charlie XCX.

A dificuldade de superar a estreia

Após o sucesso monumental de “Non-Stop Erotic Cabaret” (1981), o Soft Cell enfrentou o desafio de sustentar a fama sem perder a identidade underground que marcava seu início. Em 1982, lançou a coletânea de remixes “Non-Stop Ecstatic Dancing”, que ampliou sua presença nas pistas, impulsionada por uma versão dançante de “Where Did Our Love Go?”. O segundo álbum, “The Art of Falling Apart” (1983), refletiu um tom mais sombrio e introspectivo. As letras abordavam solidão, alienação e excessos, com arranjos eletrônicos mais densos e menos acessíveis que os do disco anterior. Embora elogiado por críticos e admiradores do synthpop, o projeto teve desempenho comercial inferior, revelando o desgaste provocado pela fama e pela rotina intensa de shows e estúdio.

Em 1984, Marc Almond e Dave Ball lançaram “This Last Night in Sodom”, álbum que marcou a dissolução temporária da dupla. A sonoridade era mais agressiva e experimental, com influências de cabaré e industrial, refletindo um clima de desilusão e ruptura. Após a separação, Almond iniciou carreira solo, aprofundando sua vertente teatral e melancólica, enquanto Ball formou o grupo The Grid, voltado à música eletrônica dançante, influenciado por house music e com ênfase em faixas instrumentais.

A dance music do The Grid

The Grid, formada por Dave Ball e o jornalista Richard Norris em 1988, tornou-se uma banda de destaque na cena dos clubs britânicos. Seus hits dançantes, como “A Beat Called Love” (1990), “Floatation” (1990), “Texas Cowboys” (1993) e “Swamp Thing” (1994), misturavam house melódico, trance e ambient, ajudando o duo a vender milhões de discos. Eles também se apresentaram nos principais festivais europeus, tornando-se um dos nomes mais representativos da cena dance do Reino Unido no início dos anos 1990.

Entretanto, “Swamp Thing”, apesar do enorme sucesso, foi visto como um ponto de saturação — a mistura de banjo e batida house virou um hit global, mas também um marco difícil de repetir sem cair na autocaricatura. Além disso, a música eletrônica britânica mudou rapidamente nos anos 1990. O som do house melódico e trance acessível que o The Grid ajudou a popularizar foi substituído por tendências mais pesadas — o big beat de The Chemical Brothers e Prodigy, e o techno industrial de Underworld e Leftfield. O estilo dançante e mais “pop” do The Grid começou a soar fora de sintonia com o novo mercado.

Assim, após quatro álbuns em ritmo acelerado (“Electric Head”, “456”, “Evolver”, “Music for Dancing”), Ball e Norris sentiram a necessidade de seguir caminhos distintos. Desta forma, Ball voltou a colaborar com Marc Almond, primeiro em projetos ocasionais e depois numa reunião do Soft Cell

Reencontro após décadas

O Soft Cell voltou a se reunir no início dos anos 2000, primeiro para o disco “Cruelty Without Beauty” (2002) e, duas décadas depois, em “Happiness Not Included” (2022), após turnês nostálgicas que reafirmaram seu papel como um dos pilares originais do synthpop britânico. O disco de 2022 incluiu uma parceria inédita com o Pet Shop Boys na faixa “Purple Zone”. Inicialmente escrita apenas por Marc Almond e Dave Ball, a faixa chamou a atenção de Neil Tennant e Chris Lowe, que a ouviram em uma prévia e propuseram uma reinterpretação conjunta.

O resultado teve produção adicional dos Pet Shop Boys, que adicionaram sua assinatura sonora — batidas pulsantes, arranjo de teclados mais melódico e clima de euforia melancólica — sem descaracterizar o tom sombrio e emocional típico do Soft Cell. A letra, que fala sobre envelhecimento, prazer e desilusão, dialoga com temas recorrentes nas obras de ambos os duos, funcionando como um encontro simbólico entre gerações do synthpop.

“Purple Zone” ganhou clipe dirigido por Yassa Khan, exibindo Almond e Tennant dividindo vocais num cenário de cabaré urbano, evocando o glamour decadente que ambos exploraram ao longo da carreira. A faixa alcançou destaque nas rádios alternativas britânicas e foi recebida como um reencontro histórico entre duas linhagens complementares da música eletrônica pop — o minimalismo cru e emotivo do Soft Cell e a sofisticação melódica e dançante do Pet Shop Boys.

Último disco inédito

Em 2024, a banda veio pela primeira e única vez ao Brasil, no C6 Fest. Mesmo usando cadeira de rodas nos últimos shows, Ball havia finalizado um novo álbum da dupla, “Danceteria”, inspirado em uma famosa boate nova-iorquina dos anos 1980, com lançamento previsto para 2026.

Sua última aparição foi no festival Rewind, em agosto passado, onde o Soft Cell foi a atração principal, tocando para mais de 20 mil pessoas.

Despedida de Marc Almond

“Ele estava focado e tão feliz com o novo álbum, que literalmente terminamos há poucos dias”, declarou Marc Almond à BBC. “É muito triste, porque 2026 seria um ano de alegria para ele, mas fico reconfortado por saber que ele ouviu o disco completo e achou que era uma grande obra.”

Em sua homenagem, Almond escreveu nas redes sociais: “É um clichê dizer isso, mas ele continua vivo e em algum lugar, a qualquer momento do mundo, alguém ouve, toca, dança e se deleita com uma música do Soft Cell – mesmo que seja apenas aquele épico de dois minutos e meio.” E concluiu: “Ele foi o coração e a alma do Soft Cell e tenho muito orgulho do que construímos juntos. Obrigado, Dave, por ser uma parte imensa da minha vida e pela música que me deu. Eu não estaria onde estou sem você.”

Clipes do Soft Cell e The Grid

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Marcel Plasse

Marcel Plasse é jornalista, participou da geração histórica da revista de música Bizz, editou as primeiras graphic novels lançadas no Brasil, criou a revista Set de cinema, foi crítico na Folha, Estadão e Valor Econômico, escreveu na Playboy, assinou colunas na Superinteressante e DVD News, produziu discos indies e é criador e editor do site Pipoca Moderna.

@Pipoca Moderna 2025
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