
Divulgação/Casablanca
Ace Frehley, guitarrista do Kiss, morre aos 74 anos
Músico transformou o visual e o som do rock dos anos 1970, influenciando gerações com seus riffs de guitarra
Fundador do Kiss morre em Nova Jersey
O guitarrista Ace Frehley, integrante original do Kiss, morreu nesta quinta-feira (16/10) em Morristown, Nova Jersey, aos 74 anos. A informação foi confirmada pela família em comunicado oficial.
Morte após queda em estúdio
Frehley morreu semanas após sofrer uma queda em seu estúdio, no fim de setembro. Na época, uma nota em sua página no Facebook afirmou que ele “teve uma queda leve”, mas que estava “bem”, embora precisasse cancelar um show na Antelope Valley Fair. Em 6 de outubro, um novo comunicado anunciou o cancelamento de todas as apresentações restantes de 2025 devido a “problemas médicos contínuos”.
Em comunicado, sua família revelou: “Em seus últimos momentos, tivemos a sorte de estar ao seu redor com palavras, pensamentos, orações e intenções amorosas, cuidadosas e pacíficas enquanto ele deixava esta Terra. Valorizamos todas as suas melhores memórias, seu riso, e celebramos sua força e bondade. A magnitude de sua partida é de proporções épicas e além da compreensão. Refletindo sobre todas as suas incríveis conquistas de vida, a memória de Ace continuará viva para sempre!”
Das ruas do Bronx à rock’n’roll toda noite
Paul Daniel “Ace” Frehley nasceu em Nova York, no bairro do Bronx, em uma família musical. Ganhou sua primeira guitarra elétrica como presente de Natal em 1964 e, sem nunca ter feito aulas, passou a tocar inspirado por ídolos como Jimi Hendrix, Buddy Guy, Jeff Beck, Rolling Stones, Led Zeppelin e The Who.
Ainda adolescente, começou a tocar em bandas locais e recebeu o apelido “Ace” dos amigos, por sua suposta habilidade de “arranjar encontros” com garotas.
Ele abandonou o ensino médio quando uma de suas bandas, Cathedral, começou a ganhar dinheiro, mas mais tarde voltou aos estudos e se formou. Em 1971, seu grupo Molimo assinou contrato com a RCA Records e gravou faixas inéditas que nunca chegaram a ser lançadas.
O nascimento de uma lenda do rock
No fim de 1972, um amigo viu um anúncio no jornal Village Voice sobre uma audição para guitarrista principal de uma nova banda. Ace compareceu usando um tênis vermelho e outro laranja, o que virou piada quando Paul Stanley, Gene Simmons e Peter Criss o receberam para o ensaio. Ao final, ficaram impressionados com sua performance e o convidaram a integrar o grupo.
Batizada de Kiss em janeiro de 1973, a banda adotou maquiagem, figurinos extravagantes e uma estética inspirada em quadrinhos, inserindo-se na cena glam nova-iorquina ao mesmo tempo que o New York Dolls.
Nos primeiros meses, o Kiss enfrentou desprezo da crítica nova-iorquina, e Frehley chegou a trabalhar como taxista para se sustentar. O grupo lançou o álbum de estreia, “Kiss”, em fevereiro de 1974, com faixas como “Firehouse”, “Black Diamond” e a composição de Frehley, “Cold Gin”. Os dois álbuns seguintes, “Hotter Than Hell” e “Dressed to Kill”, tiveram sucesso modesto.
Mas em 1975, com o lançamento do álbum ao vivo “Alive!” e o sucesso explosivo de “Rock and Roll All Nite”, o Kiss conquistou o estrelato. A mistura de performance visual, pirotecnia e energia adolescente transformou a banda em fenômeno cultural.
Consagração e a era de ouro
O grupo atingiu o auge com o álbum “Destroyer” (1976), produzido por Bob Ezrin, que elevou o som da banda com arranjos complexos e hits como “Detroit Rock City” e “Shout It Out Loud”. A balada “Beth”, cantada por Peter Criss, tornou-se o maior hit do Kiss e expandiu sua base de fãs.
Com turnês colossais e uma avalanche de produtos licenciados — de bonecos a gibis e fantasias de Halloween —, o Kiss virou sinônimo de espetáculo e marketing.
Nos anos seguintes, vieram “Rock and Roll Over” e “Love Gun”, em que Frehley assumiu os vocais em “Shock Me”, escrita após sofrer uma quase eletrocussão no palco. No álbum duplo “Alive II” (1977), ele também cantou “Rocket Ride”.
Os excessos, as discotecas e a saída
O sucesso trouxe também tensões internas e problemas com drogas e álcool. Em 1978, cada membro lançou um álbum solo — e, surpreendentemente, o de Frehley foi o mais elogiado. Produzido por Eddie Kramer, contou com o cover de “New York Groove”, de Russ Ballard, que se tornou um hit instantâneo.
A relação com a banda se deteriorou. Frehley se opôs à guinada pop de “Dynasty” (1979) e ao flerte com a disco music em “I Was Made for Loving You”, com batida de discoteca. Ao mesmo tempo, ele começou a ter problemas com drogas, o que o fizeram deixar o grupo oficialmente em 1982, dois anos depois de Peter Criss.
Pouco tempo depois de deixar a banda, Frehley se envolveu numa perseguição de carro com a polícia, que resultou numa detenção por drogas e o obrigou a passar por reabilitação. Mais tarde, ele transformou o episódio na música “Rock Soldiers”.
Frehley’s Comet e o retorno triunfal
Nos anos 1980, o músico retomou a carreira com o grupo Frehley’s Comet, lançado pela Megaforce Records, gravadora que abrigava nomes do metal. O álbum de estreia, de 1987, foi disco de ouro e reergueu sua reputação.
Em 1996, Paul Stanley e Gene Simmons chamaram de volta Ace Frehley e Peter Criss para uma turnê de reunião da formação original, que rendeu shows lotados e o álbum “Psycho Circus”. Ele permaneceu com a banda até 2002, quando se afastou novamente.
Carreira solo e legado
Frehley seguiu solo, lançando cinco discos entre 2009 e 2024, colaborando com artistas como Slash, Mike McCready (Pearl Jam), Robin Zander (Cheap Trick) e até com os ex-companheiros Stanley e Simmons. Seu último álbum, “10,000 Volts”, saiu em 2024.
Em 2011, publicou a autobiografia “No Regrets – A Rock ’n’ Roll Memoir” e foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame como membro do Kiss em 2014.
Reconhecimento e despedida
Apesar da resistência da crítica inicial, o Kiss se tornou uma das bandas mais influentes do século 20, símbolo do espetáculo no rock e inspiração para gerações. Frehley, com sua icônica Gibson Les Paul e o personagem “Space Ace”, foi fundamental nessa trajetória, influenciando guitarristas de rock em todo o mundo.
Em nota conjunta, Paul Stanley e Gene Simmons homenagearam o amigo: “Estamos devastados pela morte de Ace Frehley. Ele foi um soldado do rock essencial e insubstituível durante alguns dos capítulos mais formativos e fundamentais da banda e de sua história. Ele é e sempre será parte do legado do Kiss. Nossos pensamentos estão com Jeanette, Monique e todos os que o amaram, incluindo nossos fãs ao redor do mundo.”