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Wagner Moura aposta em Oscar para “O Agente Secreto” após sucesso em Cannes
Ator e Kleber Mendonça Filho divulgam o longa em sessões para membros da Academia e miram repetir o feito de "Ainda Estou Aqui"
Divulgação internacional do novo filme
Wagner Moura declarou em Los Angeles que torce por um novo Oscar brasileiro com “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho. O filme se passa durante a ditadura militar nos anos 1970 e chega à temporada de prêmios após a vitória de “Ainda Estou Aqui” na categoria de filme internacional.
“Estou torcendo para fazer uma trajetória parecida com o ‘Ainda Estou Aqui’, que a gente tenha um segundo ano de um outro filme brasileiro no Oscar”, disse Moura em encontro com membros da Academia e eleitores do Globo de Ouro, registrado pela Folha de S. Paulo. “Mas a gente está muito no comecinho. Tem ainda os filmes que vão sair de Veneza, de Toronto.”
Como será a campanha rumo ao Oscar?
Distribuído pela Neon, responsável pelas campanhas vencedoras de “Parasita” e “Anora”, o longa já está em campanha para o Oscar, embora ainda tenha sido escolhido oficialmente como representante do Brasil na competição. “A Neon é muito boa, tem sido excelente. Estou sendo muito bem cuidado por eles e bem recebido aqui nos EUA”, disse Mendonça Filho.
Com o impulso da distribuidora americana, o filme já teve uma première elogiadíssima nos Estados Unidos no Festival de Telluride, há uma semana, e ganha exibição neste domingo (7/9) no Festival de Toronto, no Canadá. Ele também será exibido nos festivais de Londres, na Inglaterra, Morelia, no México, e Biarritz, na França. Moura será homenageado em Zurique, e a dupla ainda terá sessões para membros da Academia em Madrid, além de compromissos em Los Angeles e Nova York até o fim do ano.
Quais são as chances na temporada de prêmios?
A revista americana Variety publicou que “O Agente Secreto” pode superar o desempenho de “Ainda Estou Aqui”, destacando-o como candidato em categorias como Direção, Rroteiro Original, Atuação e Melhor Filme. O editor Clayton Davis escreveu que o longa foi um “sucesso inesperado” no Festival de Telluride e pode repetir a trajetória de Walter Salles e Fernanda Torres na última edição do Oscar.
Mendonça Filho celebrou a repercussão, mas preferiu cautela. “Fico muito confortável quando o filme está na minha frente e eu estou indo atrás. Mas fico muito desconfortável em me colocar à frente do filme, não funciona para mim”, disse. “Prefiro ir semana a semana. Acho que essa foi uma boa semana.”
O que mostra a trama de “O Agente Secreto”?
O personagem Marcelo (Moura) retorna a Recife em busca do filho durante o Carnaval de 1977. Ele se envolve com figuras locais enquanto a cidade é assombrada por uma aparição noturna, inspirada em lenda urbana criada por jornalistas para driblar a censura. O elenco inclui Maria Fernanda Cândido (“O Traidor”), Udo Kier (“Bacurau”) e Gabriel Leone (“Senna”)no papel de um matador de aluguel.
Mendonça Filho explicou que a criatura do filme foi animada em stop-motion, técnica inédita em sua filmografia. “A história é ficcional, mas é sobre a lógica do país, a lógica nordeste e sudeste, a lógica da corrupção, da polícia, da academia. E também a lógica do amor, das pessoas se juntarem para se protegerem”, afirmou.
A sombra de Bolsonaro
A trama, embora fictícia, inspira-se em experiências de perseguição política vividas pelo ator e pelo diretor no governo de Jair Bolsonaro.
“O Kleber sofreu muita perseguição. E eu sofri muito com o negócio do ‘Marighella’”, disse Moura, lembrando do longa em que estreou como diretor “O filme do Kleber é sobre a impotência, a injustiça. A gente viveu um período muito duro para os artistas e para qualquer pessoa que tinha qualquer senso de apreço pela democracia e até de decência humana”, acrescentou o ator, em conversa registrada pela Folha de S. Paulo.
O diretor Mendonça Filho contou que levou dois anos para escrever o roteiro e só depois percebeu que falava também de um Brasil recente. “Era sobre um Brasil atual, particularmente aquele período que tivemos e que ainda bem acabou faz dois anos. Trouxemos a democracia de volta”, disse.