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Sex Pistols cancelam show no The Town e são substituídos pelo Bad Religion
Pulso quebrado do guitarrista Steve Jones tira ingleses do festival, que ganha banda clássica do punk americano no palco principal
Cancelamento muda escalação do festival em São Paulo
O festival The Town, realizado em São Paulo, anunciou o cancelamento da apresentação que os Sex Pistols fariam neste domingo (7/8). O motivo foi um acidente do guitarrista Steve Jones, que quebrou o pulso e anunciou nas redes sociais que precisará passar por cirurgia aos 70 anos e não tem data para voltar a tocar. Para ocupar o espaço deixado, o evento escalou de última hora a banda Bad Religion, outra banda veterana do punk rock, que mantém trajetória de mais de quatro décadas.
Na prática, foi uma troca vantajosa para o público. O show dos ingleses setentões era caça-níqueis, já que não contava com John Lydon, o famoso Johnny Rotten. Em seu lugar, a formação trazia o cantor Frank Carter. Com a substituição, o público ganha um representante real da era de ouro do punk, que nunca se vendeu para faturar trocados.
Qual é a trajetória dos Sex Pistols?
Reconhecidos como pioneiros do punk britânico, os Sex Pistols ganharam notoriedade com táticas de choque, atitude anárquica e canções de protestos contra a monarquia entre 1976 e 1977. Sua proposta “do it yourself”, com roupas customizadas (na verdade, da estilista Vivienne Westwood), cartazes e fanzines próprios (na verdade, do empresário Malcolm McLaren) e uma sonoridade crua que defendia que qualquer um podia tocar instrumentos, sem precisar ser um expert, inspirou uma explosão criativa no rock da época. O fim precoce ocorreu durante sua única turnê americana em janeiro do ano seguinte, seguido de perto pela morte por overdose do baixista Sid Vicious. A banda voltou em 1996 com o baixista original Glen Matlock na “Turnê do Lucro Indecente”, que também passou pelo Brasil, e realizou apresentações adicionais em 2007 e 2008.
Nos anos seguintes, conflitos internos impediram novas reuniões. Em 2022, o vocalista John Lydon moveu uma ação judicial contra os colegas para tentar impedir o uso das músicas na série “Pistol”, adaptação do livro de memórias do guitarrista Steve Jones. Após perder a disputa, ele declarou que os companheiros o levaram à “ruína financeira” e se afastou da banda. Rompidos com o cantor, os músicos mantiveram o nome Sex Pistols e retomaram a atividade com Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock, tendo Carter nos vocais.
Qual é a trajetória do Bad Religion?
Formado em Los Angeles em 1980 por adolescentes da região de San Fernando Valley, o Bad Religion surgiu em meio ao hardcore californiano que se expandia no circuito de pequenos clubes e fanzines independentes. Com letras carregadas de crítica social, questionamentos filosóficos e referências acadêmicas — fruto da formação do vocalista Greg Graffin, doutor em biologia evolutiva —, o grupo se destacou por unir velocidade e melodia em canções que marcaram o surgimento do punk melódico.
O álbum de estreia, “How Could Hell Be Any Worse?” (1982), gravado de forma independente e distribuído pela própria gravadora da banda, a Epitaph Records — criada pelo guitarrista Brett Gurewitz —, tornou-se referência no underground americano. Essa estrutura própria não só garantiu autonomia artística à banda como se transformaria, anos depois, numa das maiores forças da cena punk mundial, responsável por lançar nomes como The Offspring, Rancid e Pennywise que finalmente levaram o gênero ao mainstream.
Paralelamente, o Bad Religion consolidou sua posição com álbuns brilhantes nos anos 1990 como “Against the Grain” (1990), “Generator” (1992) e “Recipe for Hate” (1993), que elevaram o status da banda como a mais influente do punk rock californiano, inspirando o surgimento de uma nova geração no estado, incluindo os grupos citados da Epitaph e aliados como NOFX e o próprio Green Day, headliner do domingo no The Town. O impacto do grupo se reflete tanto em sua influência quanto em sua coleção de clássicos do hardcore melódico como “Sorrow”, “Infected”, “Punk Rock Song”, “21st Century (Digital Boy)”, “You” e “American Jesus”.
Como ficou o dia do rock no The Town?
Bad Religion dividirá o palco Skyline com o Capital Inicial e o cantor Bruce Dickinson, do Iron Maiden, que pouco tem a ver com sua trajetória, mas o headliner é seu herdeiro direto, o Green Day.
O principal palco paralelo, o The One, reunirá Supla & Inocentes, CPM 22, Pitty e o veterano Iggy Pop, oferecendo um recorte variado entre nomes do punk brasileiro, do rock alternativo dos anos 2000 e de um dos maiores ícones vivos do proto-punk. Já no palco Factory, a escalação terá The Mönic com participação de Raidol, Ready to be Hated, Karina Buhr e Tihuana com participação de Andreas Kisser (Sepultura), reforçando a pluralidade de estilos.
No palco Quebrada, a programação ainda destaca o peso do Black Pantera, talvez a melhor banda brasileira de rock da atualidade, deslocada de seu lugar de direito para um palco segregado de perfil racial, que também contará com o encontro de Punho de Mahin & MC Taya e a Batalha da Aldeia em sua versão Superliga.