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Rapper do Kneecap vence processo e anula acusação de terrorismo em Londres
Justiça britânica anulou denúncia contra Mo Chara, acusado de exibir bandeira do Hezbollah em show do grupo em 2024
Decisão da Corte de Magistrados
O rapper irlandês Liam Óg Ó hAnnaidh, também conhecido como Liam O’Hanna e artisticamente como Mo Chara, do grupo Kneecap, venceu uma na Justiça a acusação de terrorismo que enfrentava no Reino Unido. Na sexta-feira (26/9), o juiz Paul Goldspring, da Corte de Magistrados de Westminster, declarou que a denúncia havia sido apresentada fora do prazo legal de seis meses e, portanto, era “ilegal e nula”.
De acordo com a decisão, o tribunal “não tem jurisdição para julgar a acusação”, o que foi comemorado com aplausos pela multidão presente, que realizou manifestação do lado de fora da corte.
A acusação
Mo Chara havia sido acusado em maio sob a Lei de Terrorismo britânica, que criminaliza a exibição de artigos capazes de levantar suspeitas razoáveis de apoio a organizações proibidas. A denúncia dizia respeito a um show do Kneecap em Londres, em novembro de 2024, no qual o rapper teria agitado uma bandeira do Hezbollah, grupo libanês apoiado pelo Irã e considerado ilegal no Reino Unido.
O artista de 27 anos compareceu à audiência acompanhado por seus companheiros de banda, Naoise Ó Cairealláin (Móglaí Bap) e J.J. Ó Dochartaigh (DJ Próvaí), além de dezenas de apoiadores.
Repercussão política
A primeira-ministra da Irlanda do Norte, Michelle O’Neill, também saudou a decisão. Em publicação no X, afirmou: “Essas acusações foram parte de uma tentativa calculada de silenciar aqueles que se levantam e se manifestam contra o genocídio israelense em Gaza”.
Israel nega de forma veemente a acusação de genocídio em sua guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, deflagrada após os ataques do grupo palestino em 7 de outubro de 2023. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi um dos primeiros a acusar a ação israelense de genocídio, situação só encampada por uma comissão de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 16 de setembro.
Declaração de Mo Chara
Fora do tribunal, o rapper afirmou que o processo nunca foi sobre uma ameaça real à segurança pública: “Todo esse processo nunca foi sobre mim, nunca foi sobre qualquer ameaça ao público, nunca foi sobre terrorismo. Foi tudo sobre Gaza, sobre o que acontece se você ousar se manifestar”.
O Kneecap, grupo de Belfast que mistura rap em irlandês e inglês, tem histórico de posicionamentos políticos e exibe regularmente mensagens pró-Palestina em seus shows. Em sua defesa sobre o incidente, a banda disse que a bandeira do Hezbollah foi jogada no palco durante a apresentação e classificou a acusação como uma tentativa de silenciar o trio.
Posicionamentos da banda geram pressão
Os rappers ainda enfrentaram repercussões por terem manifestado solidariedade ao Palestine Action Group durante o Festival de Glastonbury em julho passado. O grupo ativista ganhou notoriedade após seus membros invadirem uma base da Força Aérea Real britânica e destruírem dois aviões. A polícia britânica iniciou uma investigação sobre a performance da banda, examinando se havia implicações legais relacionadas às manifestações durante o show. No entanto, decidiu não prosseguir com acusações criminais, alegando que não havia evidência suficiente para viabilizar condenações.
Em agosto, os músicos anunciaram o cancelamento de uma turnê de 15 datas nos Estados Unidos, programada para outubro, em decorrência do processo. Há relatos em publicações como a revista Newsweek de que eles tiveram os vistos cancelados.