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Hollywood reage a ataques de Trump contra liberdade de expressão nos EUA
Sindicatos dos atores, roteiristas, diretores e produtores criticaram suspensão do programa de Jimmy Kimmel sob pressão da Casa Branca
Suspensão do programa de Jimmy Kimmel gera reação
Entidades de Hollywood criticaram a decisão da ABC de suspender o programa de Jimmy Kimmel após pressões do governo de Donald Trump. A medida ocorreu dois depois de o comediante comentar o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, morto aos 31 anos em Utah. Durante o monólogo de segunda (15), Kimmel criticou o que chamou de tentativa do movimento Maga de dissociar-se do assassino para obter ganhos políticos. “Atingimos um novo fundo do poço no fim de semana, com a gangue Maga tentando caracterizar esse garoto que matou Charlie Kirk como qualquer coisa exceto um deles. Agora, eles estão tentando de tudo para conseguir pontos políticos com isso.”
Na quarta, o presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), Brendan Carr, solicitou às emissoras locais que interrompessem a exibição do programa sob o risco de perderem suas concessões. O objetivo foi pressionar a rede ABC até conseguir a suspensão.
O que disseram sindicatos e artistas?
Sindicatos que representam roteiristas e atores afirmaram que a suspensão equivale a um ataque aos direitos de imprensa e liberdade de expressão garantidos pela Constituição americana. “O que assinamos — por mais doloroso que possa ser às vezes — é o acordo de liberdade para discordar. É vergonhoso para aqueles no governo que se esquecem dessa verdade fundamental. Quanto aos nossos empregadores, nossas palavras os enriqueceram. Silenciar-nos empobrece o mundo inteiro”, declarou em comunicado o WGA, Sindicato dos Roteiristas dos EUA.
O SAG-AFTRA, que representa os atores, também criticou a pressão do governo e a submissão da rede, destacando que “a decisão de suspender a transmissão do ‘Jimmy Kimmel Live!’ é o tipo de supressão e retaliação que põe em risco as liberdades de todos”.
O ator Ben Stiller reforçou a mobilização e escreveu “isso não está certo” em publicação no X.
Adesão de diretores e produtores
Ao longo do dia, outros sindicatos se juntaram ao protesto. O PGA (Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos) e o DGA (Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos) também divulgaram declarações criticando a suspensão de Jimmy Kimmel pela ABC.
“A liberdade de expressão é fundamental para a nossa democracia”, escreveu o PGA. “É a força vital da nossa indústria. A televisão noturna tem sido um espaço onde a sátira e os comentários contribuem para o nosso diálogo nacional. Acreditamos que a expressão artística é essencial e que as vozes críticas não devem ser silenciadas. O Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos condena a censura e apoia todos os que exercem os seus direitos da Primeira Emenda.”
Já o DGA participou de uma “declaração conjunta dos trabalhadores de Hollywood” apelando à decisão da ABC “sob pressão do governo” que “prejudica a liberdade de expressão e ameaça a subsistência de milhares de trabalhadores americanos”. “A remoção indefinida de ‘Jimmy Kimmel Live’ sob pressão do governo não é um incidente isolado. Faz parte de uma tendência perturbadora de interferência crescente na expressão criativa”, alertou o texto. “Quando um cidadão privado, uma empresa ou uma rede de televisão se curva à intimidação do governo, isso atinge o cerne dos nossos direitos da Primeira Emenda. Os artistas criativos devem ser livres para fazer o seu trabalho sem medo de que as suas carreiras ou os meios de subsistência das suas famílias sejam perturbados simplesmente pelas suas opiniões.
O comunicado ainda conclama “as empresas de comunicação social” a assumirem suas “responsabilidades de defender os seus trabalhadores e a integridade das histórias que contam”. “Todos os organismos de radiodifusão devem manter-se firmes na defesa da liberdade de expressão e da Primeira Emenda, e não capitular perante uma perspectiva de apaziguamento político.”
Trump intensificou ofensiva contra a mídia
Durante seu governo, Trump tem ameaçado diversas vezes revogar licenças de estações de televisão e pressionado emissoras a parar de transmitir conteúdos que considerava inadequados. Nesta quinta-feira (18/9), ele declarou que emissoras de televisão que se posicionarem contra seu governo deveriam ter as licenças de radiodifusão revogadas. “Quando você tem uma rede e programas noturnos, tudo o que eles fazem é atacar Trump”, ele reclamou. “Eles estão licenciados. Eles não estão autorizados a fazer isso. Eles são um braço do Partido Democrata.”
Além da ofensiva contra a TV, também processou veículos de imprensa, como os jornais The New York Times e The Wall Street Journal, pedindo indenizações bilionárias em ações de difamação.
Críticas de Obama
Além dos sindicatos de Hollywood, o ex-presidente Barack Obama também reforçou que empresas de mídia não devem ceder à pressão governamental em assuntos que envolvam a liberdade de expressão. “Após anos de reclamações sobre a cultura do cancelamento, o atual governo a levou a um nível novo e perigoso ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra as empresas de mídia, a menos que elas amordaçam ou demitam repórteres e comentaristas que não lhe agradam”, declarou em comunicado.
A exigência de alinhamento político coloca em cheque a liberdade de imprensa nos Estados Unidos, considerou Obama. “Este é precisamente o tipo de coerção governamental que a Primeira Emenda (da Constituição) foi criada para travar – e as empresas de comunicação social precisam começar a tomar uma posição, em vez de capitularem perante ela.”