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Hermeto Pascoal morre aos 89 anos no Rio de Janeiro
Multi-instrumentista alagoano, conhecido como "o bruxo", morreu por falência múltipla dos órgãos após duas semanas internado em hospital
Falecimento confirmado em hospital do Rio
O multi-instrumentista Hermeto Pascoal morreu neste sábado (13/9), aos 89 anos, no Hospital Samaritano Barra, na Zona Sudoeste do Rio de Janeiro. Internado desde 30 de agosto, ele faleceu às 20h22 em decorrência de falência múltipla dos órgãos, segundo boletim médico.
A informação foi divulgada nas redes sociais oficiais do músico. Em nota, a família pediu privacidade e anunciou que em breve informará detalhes sobre as despedidas públicas. “Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva. Pedimos respeito e privacidade neste momento.”
Legado de inovação e reconhecimento internacional
Hermeto, apelidado de “o bruxo” da música instrumental, foi descrito por Miles Davis como “o músico mais impressionante do mundo”. Três vezes vencedor do Grammy Latino, destacou-se por transformar instrumentos não convencionais — panelas, chaleiras, regadores e até animais — em fonte de sons complexos. Autodidata, começou no acordeom aos 10 anos e só passou a escrever partituras após os 41.
Ele morava em Bangu, na Zona Oeste carioca, e manteve a agenda ativa até pouco antes da morte. Entre julho e agosto, realizou nove shows em sete países da Europa. Sua última apresentação no Brasil foi em junho, no Circo Voador, onde celebrou o aniversário de 89 anos diante de uma plateia lotada. “Quando subo no palco, não tenho idade. O corpo pode ser de 88 anos, mas a alma vira menino de novo”, disse em entrevista ao jornal O Globo. “A música é a vida. Se estou respirando, já estou fazendo som.”
Carreira marcada por ousadia
Nascido em Lagoa da Canoa (AL), Hermeto começou a tocar em rádios aos 14 anos e se mudou para o Rio aos 20. Em São Paulo, nos anos 1960, integrou grupos como o Quarteto Novo, ao lado de Heraldo do Monte e Airto Moreira, e o Brazilian Octopus, com Lanny Gordin.
Levado aos Estados Unidos por Airto Moreira e Flora Purim, aproximou-se de Miles Davis e participou de gravações históricas. Em 1972, no Festival Internacional da Canção, criou um coral com porcos para a música “Serearei”, performance que acabou censurada pela ditadura militar.
Sua produção recente inclui o álbum “Pra Você, Ilza” (2024), dedicado à primeira esposa, Ilza Souza Silva, eleito pela APCA um dos melhores discos do ano, e a biografia “Quebra Tudo! — A Arte Livre de Hermeto Pascoal”, escrita por Vitor Nuzzi. Em 2023, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Juilliard School, em Nova York, além de homenagens das universidades federais da Paraíba e de Alagoas.
Últimos compromissos e legado familiar
Hermeto seria uma das atrações do Festival Acessa BH, mas cancelou participação dois dias antes da apresentação por motivos de saúde. O show seguiu com seu grupo, Nave Mãe.
Ele deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos.