
Divvulgação/Objetiva - Bruno Veiga
Luis Fernando Verissimo morre aos 88 anos em Porto Alegre
Escritor gaúcho faleceu em decorrência de complicações de pneumonia após internação em hospital da capital gaúcha
Complicações de pneumonia levaram à morte
Luis Fernando Verissimo morreu neste sábado (30/8), em Porto Alegre, aos 88 anos, em decorrência de complicações de uma pneumonia. O escritor estava internado desde 11 de agosto no Hospital Moinhos de Vento e faleceu às 0h40.
Nascido em 26 de setembro de 1936 na capital gaúcha, era filho de Érico Verissimo e cresceu entre o Brasil e os Estados Unidos, período em que o pai lecionava na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e atuava como diretor cultural da União Pan-americana em Washington. Foi ainda adolescente, após assistir a um show de Charlie Parker, que decidiu aprender trompete. Como a escola de música só oferecia saxofone, passou a se dedicar ao instrumento que o acompanharia por toda a vida. Tocou no Jazz 6, grupo que se definia como o menor sexteto do mundo por ter apenas cinco integrantes.
De volta ao Brasil em 1956, iniciou carreira no jornalismo após passagem pela publicidade. No jornal Zero Hora, escrevia o horóscopo e ganhou coluna própria ao substituir o jornalista Sérgio Jockymann durante férias. Tornou-se cronista em 1969, aos 33 anos, inspirado por nomes como Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Antonio Maria. Produziu por quatro décadas textos sobre futebol, cinema, comportamento e política, publicados também em veículos como O Globo e O Estado de S. Paulo.
Criações que marcaram a cultura brasileira
Seu primeiro livro, “O Popular: Crônicas, ou Coisa Parecida”, de 1973, reuniu textos de jornais com ilustrações feitas pelo próprio autor. Ainda na década de 1970, virou autor de quadrinhos ao criar a tira “As Cobras”, publicada na Folha da Manhã, de Porto Alegre, que driblava a censura da ditadura militar com humor filosófico e diálogos curtos sobre os mais variados assuntos.
Entre seus personagens mais conhecidos estão o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté, o detetive Ed Mort, Dora Avante, a Família Brasil e os tipos de “A Comédia da Vida Privada”. O Analista de Bagé, que rendeu um dos seus livros mais conhecidos em 1980, era um psicanalista que aplicava “joelhaços” nos pacientes, definindo-se como “mais ortodoxo do que pomada Minâncora”. O personagem deu origem a peça, filme e série de TV. A Velhinha de Taubaté também marcou época ao ser apresentada como “a última pessoa no Brasil que ainda acredita no governo”, em alusão ao fim da ditadura.
Ed Mort apareceu em 1979, no conto “A Armadilha”. Satirizando o gênero policial americano, o detetive vivia em Copacabana num “escri” minúsculo, dividido com “117 baratas e um rato chamado Voltaire”. O personagem rendeu a primeira adaptação cinematográfica da obra de Veríssimo em 1997, estrelado por Paulo Betti e com participações de Chico Buarque e Gilberto Gil, além de virar quadrinhos e uma série no Multishow com Fernando Caruso.
Já a Família Brasil foi seu trabalho mais conhecido como cartunista, publicada desde 1989 na Zero Hora, que mostrava uma família de classe média cujos dramas se resumiam às dificuldades financeiras e rotinas diárias. A obra foi adaptada em 2009 numa série da RBS TV. “Eles se preocupam com dinheiro, nem sempre podem ter as férias e os Natais que gostariam de ter… No fim as ‘aventuras’ deles são essas, as aventuras do cotidiano, do dia a dia”, escreveu Verissimo na apresentação da coletânea “As Aventuras da Família Brasil”. Já “A Comédia da Vida Privada” se transformou em série na Globo em 1995, com textos originais do próprio autor a partir da 2ª temporada.
Romances e trajetória literária
Ao longo da carreira, Verissimo publicou mais de 70 livros, sendo seis romances, e vendeu mais de cinco milhões de exemplares em 15 países. Considerava “O Clube dos Anjos” (1998) sua obra mais bem acabada, romance que acompanhava um grupo de amigos da adolescência à maturidade enquanto o tempo corroía relações pessoais e profissionais. Em 2009, lançou “Os Espiões”, seu primeiro romance não encomendado por editoras.
Sobre o ofício, dizia não sentir prazer no ato de escrever: “Bom não é escrever, mas ter escrito”, costumava repetir, atribuindo a frase a Zuenir Ventura. “Encaro escrever como um ofício, um que deu certo para mim, mas não seria minha escolha natural se outras coisas não tivessem dado errado. Não escrevo com prazer. Já a música é sempre um prazer para mim”.
Problemas de saúde e últimos anos
Em 2020, retirou um câncer na mandíbula. No ano seguinte, sofreu um AVC isquêmico que lhe trouxe sequelas. O avanço do Parkinson agravou sua saúde e reduziu sua capacidade de comunicação. A esposa, Lucia Verissimo, relatou em entrevistas que nos últimos anos ele quase não falava, expressando-se apenas em poucas palavras em inglês.
Internado no início de agosto com pneumonia, não resistiu à evolução do quadro. Casado desde 1963 com Lucia, praticamente sua primeira namorada, deixou três filhos: Mariana, Fernanda e Pedro.