Marvel revê estratégia e lançará menos filmes e séries. Saiba o que vem aí

Menos lançamentos e foco em projetos autônomos

Kevin Feige, presidente do Marvel Studios, abordou o futuro do estúdio em entrevista coletiva realizada neste domingo (20/7), na qual apareceu usando um moletom do “Quarteto Fantástico” e um boné de Magnum, o “Wonder Man”. O executivo confirmou que o principal objetivo agora é desacelerar o ritmo de produção, com menos filmes e séries a partir de 2025, focando em projetos mais independentes — sem obrigar o público a acompanhar todo o universo Marvel para entender cada estreia.

O primeiro exemplo desse novo modelo é “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, o estreia desses personagens no Marvel Studios, após três tentativas da Fox, que chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira (24/7). “A gente não queria ter o problema dos ‘Eternos’, do tipo ‘onde estavam, por que não ajudaram contra Thanos?’”, explicou. “Queríamos que eles ficassem à parte da nossa realidade, sem necessidade de justificar ausência. Não tem lição de casa.” Para Feige, o universo do Quarteto Fantástico tem vida própria, com estética inspirada nos anos 1960, e não exige pré-requisitos: “É libertador. O público aceita de imediato e pode curtir sem se preocupar com cronologia.”

Por que a Marvel reduziu o ritmo de lançamentos?

Feige admitiu que, depois de “Vingadores: Ultimato”, o estúdio exagerou: em seis anos, a Marvel saltou de cerca de 50 horas de conteúdo (de “Homem de Ferro” até 2019) para 127 horas, somando filmes, séries e animações. “É demais”, reconheceu. Ele definiu o período pós-“Ultimato” como fase de experimentação e expansão, destacando experiências bem-sucedidas como as séries “WandaVision” e “Loki”, mas apontou o excesso de lançamentos como responsável pela queda de impacto da marca.

Parte do impulso veio de uma pressão interna na Disney e na indústria, com o avanço da guerra dos streamings. Feige citou como exemplo a produção de títulos pedidos pelo público, como “Ms. Marvel” e “Cavaleiro da Lua”: “Havia um mandato, mas também era divertido trazer essas histórias à vida.”

Agora, a ordem é priorizar qualidade, reduzir custos — com filmes até um terço mais baratos que produções de 2022 e 2023 — e lançar até três filmes e, no máximo, uma série por ano. Os novos projetos de TV não precisarão mais se conectar diretamente aos filmes. “Estamos voltando a permitir que uma série seja só uma série”, afirmou. Como exemplo, garantiu que os eventos de “Thunderbolts*”, apesar de impactarem Nova York, não terão efeito direto em “Demolidor: Renascido”, estrelada por Charlie Cox.

O que muda nas séries e nos personagens?

Feige destacou que a integração total entre cinema e streaming gerou “sensação de lição de casa” entre o público. “As Marvels” foi o caso mais citado: “O público viu a Capitã Marvel em um filme bilionário, mas não reconheceu as outras duas personagens, que vieram das séries.” O mesmo aconteceu com “Thunderbolts*”, que reuniu personagens com origens dispersas em diferentes plataformas.

O estúdio decidiu, então, resgatar a autonomia das séries, como nos tempos de “Demolidor” e “Jessica Jones” da Netflix. Haverá menos sobreposição e não será mais necessário ver tudo para acompanhar o MCU.

Feige também confirmou que o ritmo menor de produção fará com que projetos fiquem prontos para irem imediatamente ao ar, evitando situações como as de “Coração de Ferro” e “Wonder Man”, que ficaram mais de um ano “na prateleira”. “Não gosto de produções paradas. É ruim para o criador e para a audiência”, afirmou. Segundo o produtor, a narrativa de “Wonder Man” agora será comparada com “A Franquia”, da HBO Max, e “O Estúdio”, da Apple TV+ por conta da demora em seu lançamento.

Apesar disso, personagens da TV ainda poderão aparecer no cinema. Feige confirmou que Jon Bernthal interpretará o Justiceiro tanto em uma nova produção especial para a Disney+ quanto no filme do “Homem-Aranha: Um Novo Dia”, com Tom Holland. O personagem terá abordagem adulta no especial, mas será mais contido nos cinemas. Segundo Feige, “quando o Justiceiro aparecer no filme do ‘Homem-Aranha’, o tom será diferente”.

Quais projetos seguem sem previsão?

Feige revelou que um filme live-action de Miles Morales no MCU não está em desenvolvimento, pois depende de liberação da Sony, que prioriza as animações do “Aranhaverso”. “A Sony tem essa franquia genial e nos pediu para esperar até terminar”, explicou.

Já “Blade” passou por quatro versões diferentes de roteiro, duas delas de época e duas contemporâneas, até que o estúdio definiu manter o personagem nos dias atuais, com Mahershala Ali ainda confirmado no papel. Feige, em tom descontraído, afirmou que chegou a “emprestar figurinos” para Ryan Coogler usar no longa “Pecadores”, brincando sobre uma das versões de época que foi descartada pelo estúdio. E por falar em Coogler, o presidente da Marvel disse que já existe um cronograma interno com o diretor para “Pantera Negra 3”.

O que esperar de participações e personagens do MCU?

Sobre a expectativa de ver outros personagens introduzidos no cinema, que não tiveram sequência como Clea (Charlize Theron), Hércules (Brett Goldstein), Starfox (Harry Styles) e até o recente Mefisto (Sacha Baron Cohen), Feige brincou com o tempo que alguns papéis demoram a retornar, citando o vilão Líder, que só voltou neste ano em “Capitão América: Admirável Mundo Novo” após aparecer em “O Incrível Hulk” (2008). “Isso é divertido. Então, vamos conversar de novo daqui 12 anos para ver quem mais volta”, provocou.